”I Will never say never (8)”

O despertador tocou 15 minutos mais cedo.

Dei um pulo da cama, e olhei pros dois lados, passando a mão no cabelo.

Ah, hoje tem aula.

Ainda bem que já é quinta, senão eu morreria.

Me levantei e fui pro banheiro correndo, antes da Rafa acordar. Tomei um banho correndo, e sai. Não estava mais com febre.

– Rafa! Vai tomar banho? – perguntei sacudindo ela.

– Oi oi, mãe, to passando mal, me deixa em casa, - ela resmungou e puxou o cobertor cobrindo a cara.

– Poxa, eu tenho cara de ser sua mãe? – disse mais alto arrancando sua coberta.

– Ah, Julia! – ela se sentou na cama – vou tomar banho, mas vai ter que me emprestar uma roupa...

– Fique a vontade – apontei pro armário.

Ela se levantou, e entrou no banheiro. Fui até o banheiro da minha mãe, e peguei a nécessaire dela.

Fiquei fuçando umas coisas com o nécessaire debaixo do braço, e depois resolvi voltar pro quarto. Rafaela estava com a mesma calça, alguma blusa e um casaco por cima.

– Frio?

– É pra não ser barrada na escola amorzinho – ela piscou pra mim, e olhou pra bolsinha – oque é isso?

– Me ajuda?

– Em... ?

– Em, sei lá... – pausa – passar isso – abri a nécessaire, e ela ficou de boca aberta.

– Cara, que maquiagem, até eu vou querer passar – pausa – da sua mãe?

– É, ela gasta o dinheiro com essas besteiras.

– Vou te provar que não é uma besteira – ela me puxou pra dentro do banheiro, e me sentou em cima do vaso. Abriu a bolsinha, e tirou algumas coisas de lá. Primeiro passou alguma coisa na minha cara, depois alguma coisa na minha bochecha, e depois alguma coisa no canto do meu olho. Depois mais alguma coisa nos meus cílios, e um pincelzinho gelado na pálpebra do meu olho. Depois alguma coisa no canto da minha boca, e alguma coisa que eu acho que é batom na minha boca.

– Agora se olha no espelho e fala que eu não sou foda – ela puxou minha mão.

Me olhei no espelho, cara, eu estava diferente. Muito diferente. Meus olhos estavam mais azuis, meu rosto mais vivo, minha boca com uma coisa transparente que brilha de leve, mais desenhada. Sei lá, a maquiagem transforma mesmo.

– Cadê a Julia? – perguntei olhando pra Rafaela.

– Ela foi ser a mais gata – ela apontou pra mim e piscou.

– Não acredito.

– Acredite meu bem, é você – ela se aproximou do espelho e passou sua maquiagem.

Sai do banheiro, e desci as escadas.

– Pera, pera – ela me segurou, e desceu na frente.

Colocou a cabeça pra dentro da cozinha, e voltou até mim.

– Hum, já sei porque essa maquiagem ne... ? – ela levantou uma sobrancelha.

– An?

– O Emilio... tá aí. – ela disse, fazendo cara de poderosa para mim.

Ah é, esqueci dessa porcaria desse garoto. Vontade de voltar lá em cima e tirar tudo.

– Vamos devagar – ela me puxou e entramos na cozinha.

Minha mãe se virou ao nos escutar e me olhou assustada, deve ser pela calça apertada e a maquiagem. Veio até mim e segurou no meu queixo.

– Que isso Julia? – ela abriu a boca, mas fez uma cara feliz.

– Isso o que? – perguntei.

– Você... Tá linda! – ela sorriu.

– Ah mãe, vergonha... – respondi e levantei os ombros.

– Vergonha de que garota? – Rafaela se intrometeu – já disse que você tá linda! – ela sorriu.

Emilio esticou o olho pra ver, mas minha mãe estava na minha frente, toda empolgadinha e feliz.

– Ah mãe, para, isso me da vergonha – falei, resmunguei.

– Mas você tá tão linda filha – ela me virou – não é Emi? – ela segurou minha cara e me virou pra ele. Rafaela deu uma risadinha baixa que aparentemente só eu ouvi.

Ok, o que ele vai falar agora?

– É...

– E nem pense em roubar ele de mim tá filha gatinha?! – ela me deu um tapa na bunda e foi se sentar ao lado do “Emi”.

Até parece.

Me sentei na outra cadeira da bancada, e peguei uma maçã. Rafaela comeu um caminhão, dois copos de suco, um pão com requeijão e quase um pacote de biscoito de chocolate. Eu fiquei só com minha misera maçãzinha.

Fui correndo até o banheiro escovar os dentes de novo, e Rafaela veio atrás. Ela escovou os dentes, e me entregou um brilho.

– Aprenda a passar sozinha... – ela disse e sorriu.

– Eu sei passar ok? Quando eu era pequena eu maquiava minhas Barbies! – disse e ri. Ela também.

Passei um pouco e devolvi pra Rafa, e saímos do banheiro.

Emilio estava esperando no portão agarrando minha mãe.

Cara, isso é meloso, ele e minha mãe se pegando assim, sei lá, minha mãe tá parecendo uma garotinha de 15 anos pegando um menino, eles se agarram, ele agarra a bunda dela, puxa o cabelo dela, morde os lábios dela, morde a bochecha dela...

E eu aqui me imaginando no lugar dela.

Calma Julia, porque tá pensando nisso sua idiota? Você odeia o Emilio, se não odiava passou a odiar a partir de agora, você não pode manter relações com ele, não pode.

Saímos pelo portão de braços dados e eles pararam de se agarrar.

– Tchau filha – minha mãe gritou quando se deu conta que eu e Rafa já estávamos lá na frente.

– Tchau mãe! – berrei

– Tchau tia! – Rafaela berrou mais alto.

– Também to indo amor, to atrasado – ouvi Emilio dizer e olhei pra trás, ele estava beijando minha mãe.

Bosta, eu não posso ver isso.

Me virei rápido e continuei andando com a Rafa. Viramos a esquina, depois estávamos seguindo reto.

Meu celular tocou.

Telefone on

– Ju?

– Oi Emilio Eric.

– Nossa... Vai querer ir comigo sua insensível? Nem me esperou.

– Você que estava se agarrando. Não, vamos a pé – Rafaela me cutucou - Na verdade, calma – segurei no telefone para ele não ouvir.

– O que foi? ?

– Eric? Xi, tá feio... Mas enfim, eu quero ir de carro - ela resmungou.

– Af...

– Quero, por favor, to morta hoje – ela resmungou.

– Nós vamos com você Emilio, a Rafaela tá me obrigando.

– Então parem ai que eu já to passando – Desligou;

Telefone off