Amor Do Presente Ou Do Passado? escrita por Mary e Mimym


Capítulo 19
Consulta


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!! Primeiramente eu, Iasmym, queria pedir mil perdões pela demora... E avisar que tomamos vergonha na cara e criamos um padrão para postar essa fic... Vai continuar demorando um pouquinho, pois postaremos mensalmente. Agora a demora é avisada xD
Boa leitura ^ ^



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Jin colocou os dois pratos na copa. Ronan havia posto Elesis no sofá. Tentava reanima-la, mas ela continuava inconsciente.

Alado saiu do quarto e voltou para sala, latindo. Ele parou em frente à ruiva e sentou, com a língua para fora. Ronan e Jin observaram-no. Alado virou a cabeça para o lado. Latiu mais uma vez.

Pulou no sofá, em cima de Elesis, e lambeu seu rosto. Latiu.

— O que ele está fazendo? – Indagou Jin. Ronan apenas encolheu os ombros.

Elesis começou a abrir os olhos, ainda lentamente. Levou a mão até a cabeça e tentou se sentar. Ronan logo interviu.

— Permaneça em repouso. – Pediu.

Alado ficara quieto e apenas olhava para a ruiva e, assim que sentiu Elesis se mexendo, desceu do sofá. Ronan se aproximou dela e sentou-se na beirada do sofá.

Elesis voltou a fechar os olhos.

“Magia... Amor... Controvérsias... ‘Há quem o mate por querer, sem lhe tirar nunca a vida, pobre é todo o que o perder, e tem mais que uma medida.’”.

A ruiva abriu os olhos e estava ofegante, como se tivesse mergulhado profundamente e tentado voltar à superfície desesperadamente. A jovem se sentou.

— Aquela voz... – Murmurou Elesis.

— Que voz? Você sonhou enquanto estava desmaiada? – Perguntou Jin, voltando para a sala.

A ruiva assentiu.

— Mas não foi um sonho, porque tudo estava preto e eu só ouvia a voz...

— Que voz? – Ronan quis saber.

— Da minha ama, a Arme. – Ela olhou para os dois rapazes.

O telefone tocou e Ronan se levantou para atender.

— Alô?

— O Doutor Rodriguez disse que irá atendê-lo daqui a uma hora. – Disse a secretária do consultório.

— Ah, sim. Obrigado. Já estamos indo.

Ronan colocou o telefone no gancho.

— Elesis, iremos sair agora.

A ruiva ainda estava perdida em seus devaneios.

— Elesis? – Chamou Ronan.

— Perdão. – A ruiva se levantou e cambaleou um pouco.

— Está tudo bem, Elesis? – Jin ameaçou ajuda-la, mas a jovem conseguiu se recompor.

Alado voltou a latir e saiu da sala, indo para o quarto.

Ronan pegou as chaves que estavam na mesa da sala e segurou Elesis pelo braço.

— Aonde vamos? – Perguntou ela, já consciente.

— Você quer saber o que está acontecendo, não é?

Elesis assentiu.

— Ótimo.

Ronan olhou para Jin, que apenas balançou a cabeça. Eles tinham muito que conversar ainda. Ronan e Elesis saíram do apartamento.

— Eu sei que tivemos uma discussãozinha, mas não precisam me deixar para trás. – Reclamou o ruivo, apressando os passos até a porta.

Ronan tinha um sorriso cínico nos lábios e Jin apenas reprovou a ação do amigo. Trancou a porta.

— O Alado! – Interviu Elesis, o que surpreendeu Ronan – Não pode deixar o cachorro aí sozinho.

— Jin, entre e coloque água e ração para ele, estaremos te esperando lá embaixo no estacionamento.

— Por que você não faz isso? – O ruivo cruzou os braços. Ronan olhou para ele e Elesis.

— Jamais. – Ele não permitiria que os ruivos ficassem sozinhos.

Jin apenas riu, pediu as chaves e destrancou a porta. Ronan e Elesis caminharam até o elevador.

— Fica perto de mim e não precisa ter medo. Eu prometo que é só hoje que você usará o elevador, pois não tem condições de descer as escadas. – Ronan a olhou com afeto e Elesis não protestou.

Ele esperou um pouco até que a porta do elevador abriu. A ruiva apertou a mão do rapaz. Ele riu.

Os dois entraram e Elesis o abraçou. O jovem sentiu sua face esquentar um pouco e seus hormônios se agitarem. Ronan apertou o botão para descerem e, assim que o elevador começou seu movimento, Elesis fechou os olhos e apertou mais o abraço.

— Não vamos morrer, não vamos morrer, não vamos morrer. – Repetia a jovem.

—--

Elesis ficara maravilhada ao chegar ao shopping. Um prédio grande, largo e reluzente, com um pequeno e simples jardim na frente que dividia espaço com os carros, já que o estacionamento era a céu aberto. Infelizmente não pôde apreciar muito pois Ronan a puxava com pressa.

— O senhor poderia ser menos açodado? – Pediu Elesis a Ronan um pouco incomodada.

— Olha, Ronan, dessa vez eu concordo com a Elesis. Você podia ser menos apressado. – Disse o ruivo. - E menos irritado, estressado, impaciente também seria bom. – Completou num murmúrio.

— Jin! – O azulado parou e virou-se de frente para o ruivo, já que o mesmo estava atrás desde que saíram. – Olha pra essa garota!

— Mais respeito, por favor?

— Fica quieta! – Ordenou de forma assustadora, o que fez com que a ruiva realmente ficasse quieta, e virou-se novamente para Jin. – Ela tem 20 anos, agindo como se fosse uma criança! Você pede para que eu não me irrite como se fosse fácil!

— Tudo bem que ela parou na vitrine daquela loja de brinquedos do outro lado do estacionamento pra ver o trenzinho, mas... – O ruivo parou um pouco e refletiu. - Tá, deixa.

Ronan bufou e voltou a caminhar. Elesis observou um casal e uma criança entrando no prédio. Assustou-se quando viu as portas de vidro escuras se fecharem depois de os três terem adentrado. Elesis soltou-se de Ronan e parou de andar, encarando a porta. Não disse nada, pois não queria mais um ataque do azulado, por isso escolheu bem as palavras para perguntar.

— Por acaso aquele portal é mais uma das tecnologias que mencionaste?

— É... – Disse Ronan entre os dentes. – Você não vai pedir uma explicação agora, né?

Temida pelas palavras do amigo, Elesis escolheu permanecer quieta. Respirou fundo tomando coragem e caminhou em direção às portas. O ruivo a observava atento e curiosamente. Elesis se aproximava com bastante cautela, de repente parou, pois levara um susto após a porta se abrir e sair duas meninas.

— Jin, você está vendo isso? – Ronan voltou-se para o ruivo completamente impaciente. – Parece que ela nunca viu um shopping!

— Ér... Ronan...

— O que ela tá fazendo? – Disse o azulado, fechando os olhos e inclinando a cabeça para cima, em direção ao céu como se estivesse orando. Como ele estava de costas para a Elesis, preferiu perguntar ao ruivo do que conferir de imediato.

— Hã... Bem... Nada de mais. – Jin observou o amigo suspirar. – Só acho que deveríamos acompanhar a Elesis.

Quando Ronan virou-se para a porta e não avistou a ruiva, o pânico tomou sua face. Como consequência, saiu correndo em busca de Elesis, deixando o amigo ruivo para trás. Avistou-a próximo a um palco com uma banda que estava prestes a cantar. Ela observava tudo não muito perto, de repente, ficou admirada com a educação do vocalista da banda ao desejar um “Boa Tarde” às pessoas que passeavam por ali e que nem mesmo se conheciam.

Observou, além da banda, um grande grupo de pessoas adentrando um estabelecimento. Era o cinema. Ela logo seguiu para aquela massa de pessoas.

—--

— Ronan! Espera! – Gritou Jin vendo o amigo se afastar. – Ótimo. Preciso conversar com ele e, mais uma vez, isso terá que esperar. – Resmungava para si mesmo enquanto se arrastava shopping adentro.

—--

Era claro que o desespero de Ronan aumentava a cada passo que a ruiva dava ficando mais distante. Logo perdeu-a de vista, mas sabia onde ela, com certeza, teria ido e já tentava imaginar as reações dela dentro do cinema.

Apenas quando estava cara a cara com a entrada do cinema, Ronan deu-se conta de que, para entrar a retirar Elesis de lá, talvez teria que pagar um ingresso, mas ela entrou sem... ninguém a impediu...

Talvez porque ela entrou no meio de uma massa de pessoas. Uma massa de pessoas...

Ronan entraria na próxima massa, mas demoraria muito. Ele precisava entrar imediatamente, por isso resolveu encarar mesmo sem ingresso.

Não deu...

— Amigo? – Chamou um rapaz que recebia os ingressos. – Onde pensa que está indo?

— Ér... – Ronan congelou. Não sabia o que dizer, como resultado... – Vou ao cinema... – Respondeu com um sorriso brincalhão.

— É, espertinho? Precisa me mostrar o ingresso.

Nesse caso, para Ronan, a saída fosse talvez tentar dizer o que estava acontecendo.

— Olha, uma amiga minha, que não está batendo muito bem da cabeça, entrou aí por engano, sabe...?

— Engano? – Perguntou o rapaz, desconfiado.

— É... Ela estava sem ingresso. Seguiu a massa que entrou.

— Os que vieram assistir a pré-estreia?

— Sim!

— Legal, gostei da história, da sua preocupação, mas ainda precisa de ingresso pra entrar.

Ronan colocou as mãos no rosto como sinal de desespero.

— Olha, acredite em mim! Vem comigo! Por favor! Ela tem uma consulta! – Ronan começou a falar desesperadamente.

Ele , de repente, avistou Elesis e apontou para que o rapaz a visse. Por sorte ele realmente não havia visto a ruiva adentrando. Quando começou a ir em direção da mesma, percebeu que o azulado o seguia, tentou impedi-lo, mas o mesmo não quis saber e saiu correndo para buscar a garota.

Elesis queria fazer algo ali no cinema e não queria que Ronan a impedisse, por isso, quando o avistou, saiu correndo para dentro de uma sala. Ficou encarando o pessoal se sentando nas cadeiras que aumentavam de nível. Achou o posicionamento dos acentos parecido com os mesmos das óperas que assistia com sua família. Basicamente, as diferenças eram que, nas óperas, o ambiente não era tão escuro e também não era tão pequeno.

Estranhou, também, não haver uma cortina para a apresentação. Logo deu-se conta de que havia umas 40 pessoas sentadas olhando para ela perto da entrada. Elesis caminhou até o centro a frente da parede branca – que era nada mais, nada menos, que a tela – posicionando-se com sua postura impecável.

Ronan chegara à sala no justo momento em que Elesis se posicionou na sala e a observou. Ela segurou uma ponta de cada lado de sua saia, posicionando um pé atrás do outro, dobrando levemente os joelhos.

— Desejos a todos uma boa tarde. – Disse ela, naquela posição, sem retirar os olhos de todos.

Se antes todos conversavam entre si, mesmo que observando a garota, agora todos deixaram que o silencio dominasse o local. Ronan levou uma mão até o rosto esfregando metade dele. Como Elesis, provavelmente, ficaria esperando alguma reação, o azulado não perdeu tempo e a puxou para fora dali. Ao sair da sala de cinema, puderam ouvir algumas risadinhas e meia dúzia de aplausos lentos.

Quando já iria começar um sermão com Elesis, eles foram parados pelo mesmo rapaz que não queria deixar Ronan entrar no cinema.

— O.k. Se divertiram, mas ainda precisam pagar pelo ingresso.

Ronan ficou boquiaberto. Tentou argumentar que eles nem sequer assistiriam ao filme, mas de nada adiantou para o rapaz.

“Ele apenas segue ordens”, pensou Ronan que acabou cedendo. Felizmente conseguiu negociar para comprar os ingressos numa sessão mais tarde.

Os dois saíram da bilheteria do cinema. Jin os avistou e correu até eles.

— Onde vocês estavam?! Eu fiquei igual a um doido procurando por vocês!

Ronan encarou Elesis e bufou.

— Doido eu que fiquei com essa maluca aqui! – Resmungou Ronan.

— Olha a ofensa, inconveniente.

— Não me chame de inconveniente, sua louca!

— Ei, ei! – Jin percebeu que ambos brigariam e interviu – Ronan, eu ainda preciso conversar com você.

— Eu sei, eu sei... – O azulado passou a mão no rosto – É que a minha vida virou uma loucura por causa da Elesis.

— Eu sinto muito, não queria causar transtorno. – A ruiva abaixou o rosto.

— Pare de posar de coitadinha, o que você fez no cinema não tem perdão.

— Eu só queria mostrar educação naquela sala estranha. As pessoas me empurram para entrar naquele lugar, e, como uma nobre que sou, eu iniciaria um discurso sobre aquela falta de educação! – Elesis parecia ter mudado da água para o vinho. Seu rosto estava inconformado com as palavras grosseiras de Ronan.

— Ainda bem que eu te impedir de fazer essa loucura! O pessoal já riu do seu "boa tarde a todos". - A voz de Ronan era de deboche, imitando uma menina falando.

— Quanta insolência! Eu não usei este tom de voz inapropriado e constrangedor!

— Que seja, vamos logo que você tem consulta e já estamos atrasados.

— O que ela fez? – Perguntou o ruivo, mas Ronan já havia saído dali.

O rapaz puxou o braço de Elesis e começou a acelerar os passos. Viu o elevador a sua frente, mas desviou para as escadas rolantes.

Jin ergueu os braços. Fora abandonado.

chato isso de ficar para trás... – O ruivo correu para alcança-los.

Ronan subiu o primeiro degrau e Elesis ficou como pedra, parada no início da escadaria. Ronan foi subindo e a ruiva começou a gritar.

— Volta, Ronan! Volta! Uma força está te puxando para o céu, não me deixe aqui! - Elesis ainda conseguiu segurar a mão de Ronan.

Uma fila de comentários sobre o alvoroço da ruiva começou. Afinal, muitos queriam usar a escada rolante.

Para não se separar de Elesis, Ronan começou a descer as escadas que subiam, mas estava sendo complicado.

— Solta a minha mão e sobe logo! – Ronan estava ficando impaciente – Nenhuma força nos levará para o céu, só iremos subir de andar, como fazemos ao subir uma escada normal.

— Esta escada não é normal!

Ronan perdeu a cabeça. Estava sendo impossível de lhe dar com Elesis naquele estado.

— Bora aí, cara! – Reclamou um rapaz que estava na fila, já imensa.

Ronan esticou o outro braço e agarrou no livre de Elesis, agora segurava nos dois. Puxou-a sem medir esforços. A ruiva quase caiu.

— Ai!

— Não reclama. – Ronan desceu um degrau para ficar com ela.

— Não acredito que morrerei assim. – Elesis fechou os olhos e abraçou um braço de Ronan.

— Você não vai morrer, criatura. – Ronan nem ousou olhar para trás.

— Estamos subindo sem esforço para o andar de cima... – Elesis o olhou e falou tão séria, que causou risos nas pessoas que estavam atrás dos dois – Estamos morrendo. E eu nem confessei os meus pecados...

— Não estamos morrendo! – Ronan gritou. Já tinha ultrapassado seu limite.

Começou a subir as escadas sem usar o artifício da mesma. E puxava Elesis consigo. Ao chegar ao topo, a ruiva quase tropeçou de novo, se não fosse Ronan a segurá-la, pois ela havia parado de andar onde a escada fica plana.

— Se essa escada não queria me levar para o céu, ela quis, sim, me matar. Viu que ela quase me sugou?

Elesis parecia transtornada com aquilo, olhava para trás e, junto com risos de estranhos, encarava a escada rolante.

Ronan ignorou tudo aquilo e continuou seguindo o seu caminho. O consultório era naquele mesmo andar, mais a frente.

Seguiram num corredor pequeno e logo avistaram a entrada do consultório. Assim que entraram, Ronan soltou Elesis e foi falar com a secretária.

— Eu tenho uma consulta marcada, está no nome de Elesis Sieghart.

Uma moça, com o porte ereto e com um sorriso educado, olhou para Ronan e assentiu. Tinha um coque na cabeça e usava óculos.

— Nunca imaginei que veria uma dama com esses trajes num ambiente como esse. – Disse Elesis, enquanto olhava o uniforme da secretária.

— Você fala do ambiente, como se soubesse onde estamos, ora. – Ronan murmurou.

A moça estava checando algo no computador.

— Independente de onde estejamos, ela não está adequadamente vestida. Usar saia colada ao corpo é para tomar chá e não é para ser mostrada a homens. É para um encontro mais cordial entre mulheres. – Elesis olhou ao redor – E aqui não parece ser um encontro cordial com mulheres, por mais que tenha muitas mulheres. – A ruiva se aproximou mais de Ronan – E eu não me lembro de ter marcado de me encontrar com ela.

Ronan não se limitou a responder.

— Está tudo bem com você, Senhorita Elesis?

— Pelo menos é comportada. – Murmurou novamente e Ronan, já com a cabeça fervendo, empurrou a ruiva para o lado.

— Cala a boca e vai sentar! – O rapaz apontou para onde estavam as cadeiras.

Elesis abriu a boca.

— Estou estupefata com sua arrogância.

— E eu estou pu... – Ronan respirou fundo – Pé da vida com a sua ladainha sem nexo.

A secretária se calou e resolveu não intervir na conversa. Elesis se deu por vencida e foi para o local de espera. Como havia outro consultório, de Dentista, havia uma mistura de cadeiras: para criança e para adultos.

Elesis viu que só tinha uma cadeira para adulto e resolveu deixar para Ronan. Olhou a sua volta e viu que tinham várias cadeiras de criança. Havia também uma mesa com papéis e lápis de cor em cima.

A ruiva viu uma cadeira vermelha com desenhos de coroa dourada. Achou perfeita para se acomodar, mesmo sendo pequena e já tendo gente sentada.

Tinham duas crianças brincando. Uma menina havia se levantado para pegar o lápis de colorir que caiu no chão.

Elesis aproveitou a deixa e correu para sentar na cadeirinha.

— Ei! – A pequena colocou as mãos na cintura e encarou a ruiva – Eu estava sentada aí.

— Mas deixastes o lugar. Logo, não pertence mais à vossa pessoa.

— Pertence, sim! – A criança bateu com o lápis na mesa e cruzou os braços – Eu vou contar para a minha mãe que você pegou o meu lugar.

— Conte. – Elesis desafiou.

A menina deu língua e saiu dali chorando.

Ronan já havia resolvido e confirmado a consulta e estava olhando para Elesis boquiaberto. Ele foi até a jovem.

— Você discutiu com uma criança, foi isso mesmo? – Ronan nem respirou e já saiu cuspindo as palavras.

— Ela queria tomar o lugar que, por direito, é meu. – Elesis cruzou os braços, como se estivesse com razão.

— Esse lugar não é seu, tem cadeira para você, essas são para crianças.

— Não são, não. – Elesis virou um pouco o corpo para dar visão ao Ronan do design da cadeira – Tem coroas, como se fosse um pequeno trono.

Ronan não sabia o que falar.

— Você é louca. – As palavras saíram de sua boca quase que automaticamente.

— Mãe, pegaram o meu lugar. – A menina, que saiu choramingando, voltara do mesmo jeito, sendo que com a responsável ao lado.

— Quem foi que pegou o seu lugar, meu amor?

A criança, uma menina moreninha, com rabo-de-cavalo e olhos vingativos, olhou para Ronan e apontou.

A mãe, como uma leoa, encarou o rapaz como se fosse devorá-lo.

— Não tem vergonha, não? – A mãe se aproximou de Ronan – Fica tirando o lugar de uma criança – E depois olhou para Elesis sentada – para dar para uma marmanja desse tamanho?

— Eu fiz o quê?! – Ronan apertou a palma da mão sobre o próprio peito, surpreso com a acusação.

Elesis se levantou, deveria defender Ronan, afinal, a criança havia mentido. Com um pouco de dificuldade, a ruiva conseguiu sair da cadeira.

— Não foi bem isso que aconteceu. – Disse Elesis, de forma educada – Sua filha é uma mentirosa.

A criança novamente deu língua para a ruiva.

— E mal educada. – Acrescentou Elesis.

— Mal educado é o seu namorado, que tirou a minha filha do lugar dela para dar a você.

— Eu não sou o namorado dessa louca. – Rebateu Ronan.

— Esse descortês jamais seria meu namorado. – Disse Elesis.

Os dois se olharam de cima a baixo e depois viraram os rostos. A pequena, que arrumara toda aquela confusão, se divertia com o que estava acontecendo.

— De qualquer forma, - A mãe retomou o assunto – quero que se desculpe com a minha filha e lhe devolva o lugar.

— Eu não farei nada, não fui eu quem discutiu com uma criança. – Ronan cruzou os braços e encarou a mulher a sua frente, que não ficara nada satisfeita com a resposta que recebeu do rapaz.

— Mas está discutindo com a mãe da mesma!

Ronan deu um passo para trás.

— Ronan! – Chamou Jin, entrando no consultório.

O azulado queria sair daquela confusão. Mas só sairia se pedisse desculpas à pequena, já que a mãe não parecia que iria deixa-lo resolver qualquer problema que tivesse. E Ronan tinha muitos.

Ronan suspirou e encarou Elesis com muita raiva.

— É a última vez que sou acusado por uma coisa que você fez, ouviu bem? Eu já sofri muito com isso! – Ronan olhou com ódio para a menininha, que se encolheu atrás da mãe – Desculpa, pirralha.

— Opa! Mais respeito com a minha filha.

— Ah! – Ronan abanou a mão no ar e se virou para Jin – Você disse para eu pedir desculpas. Mas fiz do meu jeito, não reclame.

A mulher ficou horrorizada, xingou Ronan e tirou a filha dali, voltando a se sentar com a menina em seu colo.

Elesis nada disse, mas ficou bem surpresa com tudo aquilo. E até achou que Ronan foi bem cavalheiro em “tomar” a responsabilidade – sem querer – para si, apesar da atitude grosseira.

— Por que demorou tanto, Jin? Não consigo tomar conta da Elesis nesse estado sozinho.

— Olha que legal, - O ruivo resolveu por para fora sua indignação – vocês me deixaram sozinho lá embaixo, sendo que eu não fazia a mais remota ideia de onde era esse consultório, senhor-com-toda-razão-de-reclamar!

— Não me chame de senhor-com-toda... – Ronan estava muito irritado para se lembrar do que foi chamado, então apenas encarou o ruivo e balançou a cabeça – Eu terei um enfarto antes de me tornar médico. – Reclamou.

— Elesis Sieghart. – Avisou a secretária – O doutor já está aguardando-a.

Ronan olhou para Jin, que assentiu. O ruivo foi até Elesis, mas a menina se desviou dele e foi para perto de Ronan.

— Não quero entrar com ele.

— Não sou nenhum bicho-papão, Elesis. – Jin se sentiu ofendido.

— Não é um bicho-papão, seja lá o que isso for. – A ruiva o encarou – É bem pior.

Puxou Ronan e, mesmo sem saber para onde iria, queria sair de perto de Jin.

— Pensei que já tínhamos conversado sobre isso também... – O ruivo abaixou a cabeça e se sentou na primeira cadeirinha que viu, que porventura causara muito disse me disse.

— Ei! – A menina morena que arrumara tanta confusão apareceu na frente dele – Essa cadeira é minha.

— Está escrito seu nome nela, por acaso? – Jin estava tão impaciente quanto Ronan, só não sabia o que o aguardava discutindo com aquela criança.

— Eu vou contar para a minha mãe! – A menina começou a choramingar e olhou para a mãe. Jin fez o mesmo e olhou na direção que a criança olhou.

A visão que teve de uma mãe bem mal humorada fê-lo levantar imediatamente da cadeirinha vermelha.

A menina deu língua para ele e voltou a se sentar no seu tão querido lugar.

Nisso, Ronan e Elesis adentraram a sala do médico.

O médico já estava sentado aguardando o próximo paciente. Sorriu ao ver Ronan. Era um moço com quarenta anos ou um pouco mais. Tinha o cabelo preto com alguns fios grisalhos. Estava com o cabelo para trás, engomado. Tinha a postura firma e os ombros largos. Provavelmente tinha um físico forte. Usava óculos e os ajeitou.

— Já está para se formar, não é? – Indagou Dr. Rodriguez, que se levantou e esticou o braço para cumprimentar o rapaz, que fez o mesmo gesto.

— Formar-se-á em Direito, Ronan? – Perguntou Elesis.

— Não, - Respondeu ele – estou terminando Medicina.

— No meu tempo, muitos são privilegiados pelo cargo de Direito em seu diploma. Sinceramente, invejo todos os homens que conseguem tal proeza. Queria muito estudar para me tornar tão nomeada quanto eles. Ou talvez até uma grande guerreira em batalha, ou autora de grandes composições como Heitor Villa-Lobos, quiçá Ludwig van Beethoven. - Elesis sorriu encantada por se lembrar de seus sonhos e desejos, jamais ditos para outrem.

O médico encarou Ronan.

— Essa não é a sua amiga que está fazendo Nutrição? Acho que você já chegou a comentar sobre ela.

— Pois é... Mas depois do acidente que ela teve...

—  Onde eu caí do Alado.

Ronan a fuzilou com os olhos pela interrupção.

— Onde bateu com o carro, – corrigiu Ronan e Elesis cruzou os braços – acordou com a memória falha. Pensei que fosse algum tipo de Traumatismo, mas acho que esses lapsos de memórias que a fazem pensar que é de outro século pode ser sequela do que aconteceu.

— Ou loucura, já pensou nisso? - O médico brincou.

Ronan abriu a boca, mas só ar saiu.

— Não estou louca! – Elesis protestou – Se soubesse que me traria para conversar com esse estranho insultador, teria ficado em casa. – Ela olhou para Ronan e balançava a cabeça.

O rapaz se sentou e puxou o braço da ruiva para fazer o mesmo na cadeira vaga.

— Já começou a grosseria? – Elesis o olhou, já sentada. Cruzou as pernas e olhou para o médico, que estava examinando-a.

— Ronan, o que quer que eu faça? Afinal, eu sou ginecologista.

Elesis estreitou os olhos.

— O que seria isso? – Perguntou, surpreendendo os homens por não saber a definição.

O doutor a olhou espantado.

— Viu? Ela não assimila que está no século XXI. Age como se estivesse, sei lá, no século dezoito.

— Início do século dezenove, para a sua informação. Estamos passando por tempos um pouco difíceis agora que o povo de minha cidade está com a idealização da Revolução Francesa e da Revolução Industrial. Como na Inglaterra, com a Revolução Industrial, os operários lutaram pelos seus direitos, o povo do meu Estado* também acham que tem o direito de lutar pelo mesmo, porém isso tiraria todo o poder que minha família e outras têm. Sem contar que a República governaria tudo e os burgueses... Ah! Tenho repulsa só de pensar neles!

Ronan não se espantou muito com a história, estava até acostumado, mas o médico estava com a boca entreaberta e os olhos arregalados.

— Ela ensaiou isso tudo para tentar me convencer que o seu pensamento é totalmente longínquo do século em que vivemos?

— Antes fosse isso, mas ela, definitivamente, pensa que vive esse século.

— Eu vivo! – Elesis foi se levantar da cadeira para mostrar sua indignação, mas Ronan a prendeu na cadeira, puxando seu braço para baixo, impedindo-a de se erguer.

— Já pensou em contatar ao médico dela? – Sugeriu Rodriguez.

— Sim, mas ele está numa cirurgia importante hoje. Ela saiu do hospital ontem e, nesse meio tempo, eu não consegui entender o motivo desse comportamento.

— Desde que ela acordou tem estado dessa maneira?

— Sim. Ela não me reconhece... Sendo que somos amigos. Eu realmente não sei muito que fazer.

— Hum... – O médico colocou a mão debaixo do queixo e ficou olhando para a ruiva.

— Eu conheço você, sim, Ronan. Salvastes minha vida quando caí do Alado. – Elesis sentiu que a voz do azulado estava triste.

— Como você poderia ter caída do cachorro? De um Poodle, melhor dizendo? – Ronan já mostrava certa impaciência – E, mesmo que tenha caído, eu não estava com você. Até porque bateu com um carro. – Ele mesmo se confundiu com os fatos.

Elesis bufou.

— Já disse que meu Alado é um cavalo puro-sangue.

— Esse cavalo é muito bonito. – Observou o médico, ajeitando os óculos – Eu já cavalguei em um quando passei o final de semana na casa do meu cunhado.

— Doutor! – Ronan o olhou de forma cética. Passou a mão no rosto e percebeu que aquela consulta só custaria dinheiro e não resolveria nada.

O médico voltou ao seu posto.

— Mesmo eu não podendo ajudar muito com esses mistérios da consciência, vamos dar uma de investigadores do caso. É como olhar o interior de uma mulher.

Elesis fez uma careta.

— Você olha o interior de uma mulher? – Perguntou ela, receosa.

— Sim.

Elesis se levantou, mas Ronan não foi tão rápido para impedi-la.

— Como ousa?! Isso é contra todos os princípios! Casou-se com elas para poder ter tal relação? Que atrocidade! – Olhou para Ronan – Quero sair desta sala imediatamente!

O doutor se levantou.

— É a minha profissão. Cuido da saúde interna de mulheres.

— Isso é impossível! E nojento.

O médico negou com a cabeça.

— Ela está louca. – Diagnosticou – Ou bateu muito forte a cabeça e perdeu os sentidos de tudo.

— Ela sofreu um acidente de carro, por isso também pensei nessa hipótese.

— Eu sofri um acidente de queda. Caí de um cavalo. – Elesis falou de forma cômica, mesmo sem ter a intenção.

— E por que é apenas uma hipótese? – Rodriguez voltou ao assunto mais calmo e se sentou, dando atenção ao que Ronan dissera. A ruiva permaneceu em pé, até Ronan puxa-la novamente.

— Se fizer isso de novo eu...

— Você o quê? – Ronan encarou Elesis com bastante raiva e autoridade.

— Assentar-me-ei, é claro. – E assim fez, cruzando as pernas e ficando ereta na cadeira, evitando olhar para a feição irada de Ronan.

Ronan tossiu, por causa do frio que estava fazendo no consultório, pois o ar condicionado estava gelando bastante a sala.

— Bem, não segui com a hipótese, pois ela reconhece os amigos, tirando a mim, é claro. Só o seu pensamento que está ultrapassado. Por exemplo, ela pensa que tudo que é tecnológico é mágica. Isso irrita.

— E por que você pensa isso, Elesis? – Perguntou o médico.

— Porque, no meu tempo, não existe isso.

— Exato, se ela for do século dezenove, no início, como ela disse, a tecnologia ainda não era algo inovador; aparece um pouco mais tarde do tempo em que ela diz que vive. E ainda mais se tratando do Estado em que ela habita. Onde nem a República está no poder. Onde a democracia ainda não faz parte do governo.

— Por que o senhor fala como se estivesse estudando para uma prova de História? – Perguntou Ronan, nada interessado naquilo.

— Estou tentando me colocar no pensamento de Elesis. O porquê de ela achar que tudo é mágica. É por isso. Ainda não faz parte do contexto histórico dela.

— Então o senhor concorda que ela não é desse século?

— Não concordo nem discordo. Trabalho com possibilidades. Médicos precisam ter certeza das situações. Mas a dúvida surge antes e temos que lidar com isso. Buscar entender e ter a razão junto com a ciência, conscientes de que estamos tratando de mistérios da vida. Da vida humana. 

— Ciência é uma palavra que assusta no meu tempo. O Marquês, uma vez que foi a minha casa, sem ter levado aquele imprudente do meu futuro noivo, que está aqui comigo, acredita? – Elesis estava incrédula – Enfim, o Marquês ofendeu de todas as formas os burgueses, como ele os chamou, por falarem que a ciência iria restringir as verdades da Igreja.

— E como você sabe disso? – Perguntou o médico – Pelo que sei, as mulheres desse tempo não participam de reuniões em escritórios.

— Sim, eu sei. – Elesis ficou sem graça, afinal, o médico estava certo – Não gosto do tempo que vivo. Sinto-me limitada a buscar por mais. Saber mais. Então, de vez em quando, ouço as conversas.

— Que feio... – Ronan a reprovou.

A ruiva o olhou de cima a baixo e depois virou o rosto, balançando o pé que estava no ar, pois a perna estava cruzada.

— De fato, a limitação feminina ainda é bastante crítica nessa época. Exceto nas fábricas, onde os donos das indústrias achavam que as mulheres, até mesmo crianças, deveriam trabalhar incansavelmente. Aí elas se tornavam tão fortes quanto os homens.

— Isso é verdade! Como eu nunca parei para perceber isso? – Elesis se sentia bem em conversar com aquele médico – É bastante produtivo dialogar com o senhor. Apesar de saber o que faz profissionalmente...

Ronan não estava acreditando naquilo. Iria questionar; contudo, num olhar rápido do médico, ele entendeu o que o doutor pretendia. Ronan mesmo já tentara usar essa tática: fazer com que Elesis se sentisse a vontade para reagir conforme seu tempo. Mas como não era muito paciente, não concluiu o exercício. Talvez, assim, ela revelasse alguma coisa.

— As mulheres do meu tempo não são muito confiáveis, visto que ainda há indícios de umas e outras que fazem bruxarias. Houve tempos, contou-me Bernard, que as bruxas eram queimadas. Mas agora só enforcam em praça pública. – A ruiva falou como se não fosse tão empolgante quanto ser enforcado.

O médico apenas soltou um risinho. Lembrara-se das aulas de história que teve e que dormia na maioria.

— Eu tenho uma criada. Ama, melhor dizendo. Uma amiga, confesso. – Elesis fez menção de se lembrar de quem falava – Agora ela não age como se fosse minha ama, está estranha. – Ronan não sabia a quem ela se referia: Lire ou Arme, então esperou que ela terminasse de falar – A família dela tem histórico de bruxaria. Meus pais nem desconfiam disso. Ela é da família Glestid, mas Arme jurou que não conhecia nada disso. Eu confio nela.

Ronan ficou pensativo. Lembrou que Jin queria falar algo importante sobre o caso de Elesis. Será que...? O rapaz silenciou seus pensamentos e voltou para a ruiva.

— Bem... – O médico resolveu voltar ao assunto. Percebeu que Ronan havia ficado pensativo. Ambos não eram nenhum Sherlock, mas a situação era interessante e única – Eu não sei muito o que fazer para resolvermos isso. Como já disse, sou um ginecologista. Não sei muito sobre a região cerebral. Porém, não sei se você percebeu, – O médico tirou os óculos e olhou para Ronan – mas a sua amiga Elesis e essa nova... Ou antiga Elesis, em base no que me contaram, sofreram acidentes, mesmo que distintos. Isso pode ter a ver com o que aconteceu ou não. Mas, como eu disse, trabalhar com possibilidades nos leva a ter certeza e dúvidas.

O doutor se levantou, fazendo com que Ronan e Elesis fizessem o mesmo.

— Elesis conta que caiu de um cavalo. - Continuou o médico - Você, - Apontou para Ronan - alega que ela sofreu um acidente de carro. O fato é que o cavalo tem o nome do poodle de vocês, Alado, não é? As suas histórias se encaixam em tempos diferentes. Se formos olhar para o núcleo da memória da mente de uma pessoas, podemos dizer que muitas coisas ficam armazenas. Pode ser que Elesis tenha feito pesquisas, ouvido histórias sobre sua genealogia passada antecedente ao acidente e, ao sofrer o ato e bater a cabeça, as memórias ficaram embaralhadas. Sem percursor. Entende?

— Sim, doutor... Mas e o fato de ela falar com tanta certeza?

— Acredito que deveriam procurar um psicólogo para irem mais a fundo, minha sabedoria só me traz até essas hipóteses. 

A ruiva estava perdida nesse último assunto. Sabia que era sobre ela. Afinal, tudo era sobre ela. Se Elesis soubesse o que era, poderia até se comparar a uma estrela de Hollywood, pois toda a atenção era focada para a ruiva.

— Eu vou pensar mais sobre isso. Agradeço muito. Sabia que seria de grande ajuda vir aqui. – Disse Ronan, apertando novamente a mão do médico – Como o senhor já mencionou, mulheres são mistérios que precisamos resolver.

O médico assentiu com um sorriso.

— Não sei se poderá fazer alguma coisa, mas a Elesis também teve um súbito desmaio enquanto almoçávamos. – Acrescentou Ronan, lembrando-se do ocorrido.

— Ela sofreu algum tipo de estresse? Aliás, ela está se medicando devidamente? Afinal, só faz dois dias que recebeu alta.

— Eu pensei nisso de imediato, mas ela está tomando a medicação correta. E... Sobre o estresse...

— Eu posso responder essa, Ronan? – Ela olhou para o médico – Venho me estressando em demasia.

— Isso afeta até seu sistema imunológico e as regiões cerebrais afetadas. – Analisou o médico – Irei receitar um comprimido que te deixará relaxada. Ele dá um pouco de sono, mas é normal. Aconselho que tome antes de dormir, assim não sentirá o efeito forte.

O médico prescreveu a receita com o nome e as doses do medicamento. Entregou a Ronan. Elesis estreitou os olhos e viu o que estava escrito.

— Como irão entender o que está escrito? Eu não tenho muito conhecimento, confesso, mas isso está impossível de compreender. – Observou a ruiva.

— Está bem nítido, vendo que há letras piores por aí. – Disse Ronan, quase repreendendo Elesis pela falta de educação. Ele riu para descontrair e o médico levou na brincadeira também.

A ruiva abriu a boca para falar algo, mas viu que o médico tinha mais o que fazer. Ou melhor, pacientes para atender.

— Bem, espero que você se recupere logo. – Disse o médico, caminhando até a porta junto com os dois.

— Agradeço a preocupação. Eu só queria voltar para o meu tempo. – A ruiva estava com a voz mais triste, porém só Ronan percebeu. E sentiu-se mais ainda na obrigação de ajudar a amiga.

— Obrigado pela ajuda. Eu já não sabia mais a quem recorrer. - Agradeceu Ronan.

— Tenta um psicólogo. Eu sei que pode parecer estranho, mas será uma forma de entender mais a Elesis. Eu recomendo até uma. A psicóloga Lin.

— Lin... – Repetiu, como se aquele nome não fosse estranho – Pode deixar, só me passa o telefone dela. – Pediu Ronan.

O médico pegou o celular do bolso de trás da calça e procurou na lista de contatos.

— Ronan, – Chamou a ruiva – não foi um desse que caiu da janela?

— Caiu, Elesis? Caiu, foi? Sozinho? – O azulado mandava indiretas.

O médico não sabia do que se tratava, mas estava achando engraçado.

— Não foi sozinho, mas caiu mesmo assim.

— É... – Ronan suspirou – Vou aproveitar que estamos aqui e comprarei um novo.

— Vendem mais dessa coisa estranha que suga as pessoas?

— Não começa! – Ronan aumentou o tom de voz e cortou logo a ruiva.

— Vocês parecem até um casal. – Comentou o médico, que ainda ria dos dois.

Ronan olhou para Elesis e a ruiva o olhou.

— Não. – Disseram os dois, demorando no som do “ã”, fazendo com que a palavra monossílaba fosse mais longa.

O médico riu e tirou um bloquinho do bolso do jaleco e depois uma caneta que ficava pendurada para o lado de fora. Anotou o número e entregou a Ronan.

— Entra em contato com ela. Acho que Lin conseguirá esclarecer algumas coisas que ainda não conseguiu.

— Obrigado novamente. – Ronan guardou o papelzinho na carteira.

Elesis apenas acenou em despedida e o médico acenou de volta.

Jin estava em pé na porta esperando pelos dois.

— Finalmente, pensei que demorariam mais. – Disse o ruivo, já impaciente.

— Está parecendo o Ronan. – Comentou Elesis, ao lado do mesmo, que apenas respirou fundo.

— Vocês me deixaram sozinhos, esqueceram totalmente da minha existência e nem me avisaram que tem uma menina encapetada aqui nesse consultório dona de uma cadeirinha vermelha. – Jin virou o rosto para o ambiente do Shopping – Ela me assustou.

Ronan não pôde deixar de rir.

— Vamos dar uma passada em qualquer loja que venda um celular, enquanto isso, você me conta o que queria.

— Seria muito bom, pois estou tentando fazer isso faz tempo, mas você não me dá atenção.

— Está carente, Jin? Está na TPM? Tá igual mulherzinha. – Ronan resolveu brincar, tratando o ruivo como se fosse sua esposa – Quando chegarmos em casa eu faço aquela massagem que você gosta e depois te dou até dinheiro para fazer o cabelo.

— Para de graça, idiota. Estou tentando ajudar e você fica de zoação...

Elesis via tudo, mas pouco entendia. Ronan preferiu encerrar o assunto. Saiu dali e foi acompanhado pelos ruivos. Elesis ao seu lado, pois ainda tinha receio de Jin.

Ronan parou de andar. Olhou para a escada rolante, para o elevador e para a saída de emergência – que era a escada normal. Suspirou. Seguiu para a saída de emergência.

— Por que estamos indo por aqui?

— Quer mesmo ter uma Elesis histérica ao seu lado? – Ronan encarou Jin, como se não esperasse ele responder. O ruivo não respondeu.

— Eu não sou histérica! – Elesis se defendeu.

— Não começa! – Ronan a olhou do mesmo jeito que olhou para o ruivo.

— Vai ficar falando isso toda hora? - Perguntou Elesis, cruzando os braços e ficando emburrada.

— Se te mantém calada, será minha frase de praxe.

Jin riu e Elesis o encarou, fechando o semblante. O ruivo acabou desviando o olhar.

Ronan entrou no corredor que daria nas escadas, começou a descer. Elesis foi à frente e Jin ao lado do azulado. Quando o ruivo achou que a distância estava razoável, resolveu falar.

— Lire acha que é possível que a Elesis não seja a nossa Elesis.

— Jura? – Perguntou Ronan com sarcasmo.

— Posso terminar? – Jin o encarou.

— Vai falando.

— Ela me mandou uma mensagem falando que havia achado um livro de cura, pois estava no intervalo da aula e passou na biblioteca. O livro contava um pouco de história sobre bruxas e curandeiras. E achou o sobrenome da Arme.

Ronan parou.

— Achou o sobrenome da Arme como curandeira, não é? – Ronan torcia pela resposta positiva de Jin, pois se lembrara do que Elesis havia comentado sobre a Arme de seu tempo ter alguma relação com bruxaria. Será que houve realmente uma troca? Pensou Ronan, ainda esperando a resposta – Então?


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Notas finais do capítulo

Estado* - Classe social (clero, nobreza, povo), nos antigos regimes monárquico-absolutistas.