Amor Do Presente Ou Do Passado? escrita por Mary e Mimym


Capítulo 18
Shopping?


Notas iniciais do capítulo

De volta ao século XXI...



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Ronan voltou para o apartamento de Elesis, com o Poodle no colo. Passou direto pela portaria e apertou o botão para esperar o elevador. Havia dois. Ambos estavam em andares distantes.

Ronan olhou para a escada e suspirou. Lembrou-se de Elesis. Sorriu. Ajeitou Alado nos braços e o cachorrinho o olhou de forma angelical e passou a patinha no focinho. Ronan virou o rosto.

— Não irei subir aquilo.

Alado não parava de olhar para Ronan e virou a cabeça e ficou choramingando baixinho.

— Isso é golpe baixo, tá Alado?

O Poodle colocou a língua para fora e abanou o rabo. Ronan riu e seguiu para a entrada da escadaria.

— O que está acontecendo com você, Elesis? Queria tanto te entender... – Murmurou enquanto subia os degraus.

A ruiva havia saído do quarto. Estava com fome. Foi para a copa e viu a tal quentinha que Ronan comentara. Sua barriga roncou.

A porta abriu e Ronan entrou ofegante na sala, soltando o cachorrinho pelo apartamento, que correu até Elesis, parou a frente dela e começou a latir.

— Por que ele está agindo desta forma?

— Porque ele não te reconhece, Elesis, assim como eu não a reconheço...

— Mas não latistes para mim quando não me reconhecestes.

— Viu?! Você está completamente estranha!

A ruiva cruzou os braços e bufou.

— Continuarás com esta atitude?

Ronan fez um gesto com as mãos, passando a esquerda acima da direita no ar, indicando que havia encerrado aquele assunto.

— Pode ser que o Alado tenha ficado muito tempo longe de você, aliás, está com o odor do hospital. – Ronan jogou as chaves na mesa da sala.

— Mas eu já tomei banho no chaveiro.

— É CHUveiro. Lembra CHUva, sabe? – Ele se aproximou da copa – Aliás, cachorros têm um faro aguçado. A maioria dos animais é assim.

— O verdadeiro Alado é assim. – Comentou Elesis.

Ronan apenas lhe lançou um olhar e a ruiva ergueu os dois braços em forma de defesa. Elesis se agachou para tocar no Poodle, mas ele voltou a latir.

— Estais vendo? O meu Alado é mais obediente! - Observou a ruiva, se levantando.

— O seu Alado é um cachorro!

Elesis iria reclamar, talvez protestar e insistir sobre o fato de seu Alado ser um cavalo, mas sua barriga roncou novamente.

— Está com fome, né? – Ronan caminhou até onde estava a quentinha e a abriu. Lembrou-se do recado que o dono do Self-service lhe mandou e riu – Vou colocar no microondas para comermos o almoço quentinho, o.k.?

Elesis encolheu os ombros.

— O que seria um micro... micro... – A ruiva balbuciava a palavra desconhecida como se fosse uma criança tentando falar “paralelepípedo” quando ouve pela primeira vez.

— Microondas. – Corrigiu Ronan, com certa impaciência. – É esse eletrodoméstico. – Ele apontou com o queixo e levou a quentinha até a pia para colocar a comida no prato, separando para ele e para a ruiva.

Elesis continuou sem entender. Mas preferiu não aprofundar o assunto. Ficou observando o que o Ronan fazia.

— Não estou habituada a comer tais alimentos que vós colocais em meu prato. – A ruiva apontou para o recipiente.

— Você nem sabe o que é.

— Esta coisa amarela e fina não agrada meu paladar. Mesmo nunca tendo posto em minha boca. Sei que não é educado recusar comida, mas...

—Para de ser fresca! – Ronan se virou, com o rosto vermelho e com uma expressão nada paciente – É batata-frita! Você ama isso e vai comer!

Elesis resolveu não contrariar. Apenas sentou numa das cadeiras da copa.

O Poodle havia cessado os latidos, parecia ter se acostumado com a presença de Elesis. Ele saiu da cozinha, indo em direção ao quarto da ruiva. Subiu na cama, colocou as patinhas para frente e apoiou os focinhos entre elas.

Estava sentindo falta de algo. Falta da verdadeira dona.

Ronan nem percebera que o cachorro havia se retirado da cozinha. Estava entretido em arrumar os pratos para colocar no microondas, afinal, também estava com fome.

Assim que terminou, levou um dos pratos até o microondas. A ruiva o acompanhou com os olhos e ficou surpresa ao vê-lo abrir o eletrodoméstico.

— Outra caixa mágica! – Elesis se remexeu na cadeira e percebeu que a mesma girava – Uau! Então não são boatos e nem falsos ditos de que o homem é sábio o bastante para inventar objetos tão magníficos! – Por ser do século dezenove, Elesis conhecia bem os impactos iluministas em sua região. Pois estava havendo um conflito entre as verdades da igreja e as verdades da ciência. Isso incluía as invenções crescendo em grande número e causando polêmica e admiração naquela época. Mas, por sua família ser devota ao Clero, Elesis tinha uma visão antiquada do que via e pensava que tudo acima do conhecimento que tinha era algum tipo de magia – O que vocês usaram para fazer com que essa cadeira movesse sem ao menos eu me esforçar para isso? Há algum bruxo ou alguma bruxa que cria essas coisas? – A ruiva se mostrava interessadíssima em seus questionamentos.

Ronan apenas reprovava tudo o que ouvia. Colocou o prato no microondas e fechou a porta com força.

— Isso não é magia! Entenda de uma vez que tudo faz parte do tempo Contemporâneo que estamos! Tecnologia que você está cansada de ver todo santo dia! – Ronan se aproximou de Elesis, como um tigre avança em sua presa. Colocou as palmas das mãos no espaço vago na cadeira onde as pernas da ruiva estavam e pressionou as mãos – Isso é só uma cadeira giratória! Feita por um engenheiro, uma fábrica e o escambau!

Elesis olhava para Ronan com os olhos inundados. Ela o abraçou e desceu da cadeira, obrigando Ronan a dar uns passos para trás. Estava indefesa e sentia que, mesmo o rapaz agindo daquela maneira brutal, era o único que poderia confiar.

— Estou com medo... – Murmurou a ruiva – Eu só tenho a ti, minhas amas não são mais como antes, não sei onde está minha família e Bernard... Mas vós só sabeis elevar a voz e não entendeis o quão difícil és para eu entender o que está se passando.

Ronan compreendeu o desespero da ruiva e a apertou em seus braços.

— Eu sinto muito... – Pediu num sussurro – Mas eu também não sei mais o que fazer...

Ronan se afastou e se virou, caminhou até o microondas e colocou o tempo de um minuto. Voltou para Elesis e a puxou pelo pulso.

— Quando eu apertar esse botão, – Ele indicou que era o de “iniciar” – você verá a verdadeira mágica.

Elesis colocou as mãos nos joelhos e inclinou o corpo para frente para ver o ambiente interior do microondas.

Ronan pensou que cedendo às “loucuras” da ruiva, poderia entendê-la melhor. Afinal, não conseguia explicar sua mudança mental. E não sabia dizer se isso era comum acontecer em acidentes do tipo que Elesis sofreu. Ele apertou o botão, uma luz acendeu e o prato começou a girar.

— Que efeito... – Murmurou a ruiva – Estupendo!

Elesis estava vidrada naquilo. Era de se esperar uma reação assim, ainda mais quando se sabe que ela não pertence a esse século. A ruiva se mostrava tão entusiasmada e encantada, que resultou num sorriso humorado de Ronan, admirando a jovem ao seu lado.

O microondas apitou, anunciando que a contagem havia se encerrado, e Elesis deu uns passos para trás, encostando-se a copa.

— O que acontecestes? – Ela quis saber, sem tirar a expressão de surpresa e deslumbre da face.

— Isso é um aviso para sabermos que o almoço está pronto. – Ronan cancelou a contagem já zerada e abriu o microondas, retirando o prato e colocando-o na copa – Sente-se e aprecie a refeição.

A ruiva olhou para a cadeira com receio e hesitação. Ronan percebeu de imediato que havia traumatizado a jovem e retirou o prato de onde havia deixado e pegou os talheres. Levou-os até a mesinha de centro da sala e afastou o sofá para trás com a perna.

— Sente-se, então, neste humilde tapete. Que tem a nobreza de um veludo vermelho como suas madeixas. – Ronan acabou rindo do que dissera. Queria prestar atenção em como Elesis reagiria se fosse tratada como estava tratando tudo ao seu redor.

— Desde quando tornou-se tão cordial? – Elesis caminhou até a sala e se aconchegou no chão – Nunca almocei desta forma tão...

— Normal?

Normal é uma palavra que não se encaixa no meu cotidiano. – Elesis suspirou e abaixou o rosto, fitando as mãos.

Ronan chegou a pensar, por um momento, que era realmente a sua amiga ali, pois a ruiva, mesmo sendo forte, tinha seus momentos de cansaço da vida que levava. Mas ele preferiu não aprofundar mais naquele momento desanimado.

— Eu comecei a te tratar assim, milady... – Elesis logo levantou o rosto e seus olhos estavam mergulhados em lembranças.

“Um senhor subia as escadas que davam para um corredor com vários quartos. Passou pelo primeiro e, ao chegar ao segundo, bateu na porta e entrou.

— Milady, seu pai está lhe esperando, acho que será hoje o comunicado.

— Não me chame assim, Bernard. E eu não irei descer.

— Como sempre, teimosa! Mas terá que ir até lá, até Sieghart está aí.

— Todos estão felizes, não é?

— Sim, menos você.”

— Ronan... – A ruiva não conseguiu se controlar e um fio de lágrima escorreu.

— Iremos descobrir tudo o que está acontecendo, eu prometo. – O rapaz se agachou e ficou de joelhos de frente para Elesis, levou seu polegar até o rosto da ruiva e deslizou sobre a lágrima – Eu agi de forma equivocada com uma dama e queria me redimir... Peço perdão se a magoei de alguma forma. Eu só...

Elesis o abraçou.

— Vós salvastes minha vida àquela noite. – Ela se afastou um pouco. Seus rostos estavam próximos e era possível sentir a respiração um do outro – Não precisa se desculpar, tudo está confuso.

— Mas encontrarei as respostas que tanto nos afligem.

Elesis sorriu e fez com que Ronan revitalizasse o sentimento que nutria pela ruiva, o que o faz levantar, sem dizer mais nada e nem esperou que Elesis dissesse. A ruiva não percebeu a mudança de comportamento de Ronan, por isso também não protestou.

O jovem voltou para a cozinha e preparou seu prato. Assim que ficou pronto, juntou-se à ruiva na sala. Surpreendeu-se ao ver Elesis colocando as batatas fritas na mesa e em fileira.

— O que você está fazendo? – Perguntou ele, com as sobrancelhas erguidas e a testa enrugada.

— Vós tendes algum costume em comer isto? – Perguntou Elesis, tirando mais uma batata com o garfo.

— Sim. – Ronan colocou seu prato na mesa, a frente da ruiva – Temos o costume de pegar – Retirou uma porção de batata frita e levou até a boca – e comer.

Elesis ficou estupefata.

—Tu... Tu comestes com as mãos?! – Elesis quase deu um grito.

Ronan iria se estressar, mas respirou fundo e pegou a mão da ruiva que, subitamente, soltou o garfo. Levou-a até as batatas na mesa e a fez tocar.

—Pegue uma e coma ou irei te forçar a fazer isso.

Elesis ficou com medo do tom de voz que Ronan usou e puxou sua mão para baixo, para soltar-se de Ronan. Hesitou, mas, por fim, pegou uma batata.

—Anda. Come logo isso.

Elesis provou a batata e seus olhos chegaram a brilhar.

—Isso é tão... Deleitoso... – Não perdendo mais tempo, pegou todas que estavam na mesa e comeu uma por uma que estava em sua mão.

—Eu disse que você amava. – Ronan começou a comer seu almoço.

—Eu... Não tinha... Noção... – Elesis falava de boca cheia – De como isso... Era magnífico!

—Mastiga primeiro, depois você fala, mal educada.

—Perdoe-me, mas não dá para esperar deleitar-me com esta exuberância de sabor para falar.

—Depois se diz uma dama, hunf.

—Seu cavalheirismo foi comprado em alguma alfandegária, porque eu tenho certeza que não tivestea a educação adequada para lidar com uma dama. – Disse a ruiva, pegando o garfo de volta.

—Então eu comprei no mesmo lugar que você comprou o seu probleminha mental. – Ronan ficou apontando o indicador na cabeça.

Elesis ergueu o corpo, ainda sentada, e ficou boquiaberta.

—Como ousas insultar-me desta forma tão... Parvo!?

—Parvo?! Que diabo de palavra é essa? – Ronan não se deteve em retrucar – Não tinha um dicionário melhor para loucos como você?

Nesse momento, Jin chegava ao andar de Elesis e pediu que o porteiro não avisasse. Ele precisava falar com Ronan. Andando pelo corredor, viu que a porta do apartamento da ruiva estava entreaberto.

—Não me chame de louca! Não sabes ser um nobre nem quando estás comendo!

—Pelo menos eu não finjo ser algo que não sou, ora! Aliás, estou pouco me lixando para essa coisa de nobreza.

—Claro, esdrúxulo do jeito que és, não tem o porquê de se comportar devidamente perante a alguém do meu nível. – Elesis empinou o nariz.

—Que nível? – Ronan caiu na gargalhada – Vai me dizer agora que é do socialite?

—Eu não sei o que é isso, mas vindo de você não deve ser coisa boa! – Elesis pegou uma batata e jogou em Ronan.

—Um alimento desse não me atinge, idiota.

—Do que me chamaste?! – Elesis se levantou.

—Vou falar separando as sílabas para você entender melhor: I-DI-O-TA. – Ronan se levantou também.

—E tu és um... Um... Um crasso!

—Estamos no planeta Terra, então, pelo menos, me insulte com palavras que eu entenda. – Ronan cruzou os braços na altura do peito.

—Burro!

—O quê?!

—Não queria que eu me rebaixasse até seu nível de inferioridade, então pronto. – Elesis também cruzou os braços – És um burro!

—Burro?! Eu?! – Ronan desfez os braços e respirava de forma anelante – Você é uma desvairada mesmo!

—Tu és...

—Opa! – Jin adentrou a sala – Não se cansam de insultos, não? – O ruivo rui.

—O que você faz aqui?! – Perguntaram os dois.

Jin levantou os dois braços, em modo de defesa.

—Eu acho que já conversamos sobre isso... – Ele entrou e fechou a porta – Eu vim aqui, porque preciso muito falar com você, Ronan. – Ele fez um jogo de palavras com o azulado – É importante.

Era sobre a Elesis.

Ronan rapidamente voltou a se sentar, fazendo Elesis a seguir o mesmo ato.

—Espera um pouco e, assim que eu terminar de almoçar, iremos conversar.

—O.k. – Jin ficou em pé e riu.

—O que foi? – Perguntou Ronan, que voltara a encher o garfo e levar a comida até a boca.

—Tem uma batata – O ruivo apontou para a sua própria camiseta – na sua blusa.

Ronan abaixou o rosto.

—Essa louca me tacou batata, pensando que fosse me ofender. – Ronan retirou a batata da blusa e comeu.

Elesis apenas bufou e ficou balançando a cabeça. De repente, lhe bateu uma tontura forte. A ruiva levou as mãos até a cabeça.

—Está sentindo alguma coisa, Elesis? – Observou Jin.

—Não... Eu... – A jovem caiu no tapete.

Ronan levantou rapidamente e foi até a ruiva antes mesmo de Jin.

—Elesis! – Tentou reanima-la.

Tocou em seu pulso. Para ver se os batimentos estavam em ordem.

—Não dá para esperar o Dr. William. Ligarei para um médico conhecido que tem um consultório no Shopping.

Ronan ergueu o braço e esticou até alcançar o telefone residencial.

—Você está querendo levar essa Elesis para o Shopping? – Indagou Jin, com receio do que poderia acontecer.

—O que você quer que eu faça?! Ela está desacordada.

—Você está fazendo medicina, então...

—Não, Jin, nesse momento eu não posso interferir na saúde dela. Não da Elesis... – Ronan discou o número e esperou o sinal.

—Shopping...? – Jin olhou para a Elesis e não poderia nem imaginar o que estava por vir.


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Notas finais do capítulo

Agora que as revelações irão aparecer... Se o Jin conseguir falar com o Ronan o que quer, porque com essa Elesis por perto e num Shopping, tudo pode acontecer.



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