O Fantasma e a Mediadora: A terra das sombras escrita por RaySabrina


Capítulo 5
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Surpresa leitores. Hoje vim postar um capítulo de presente de natal atrasado e de ano adiantado, a vocês que lêem e comentam, que fazem essa pessoa aqui muito contente com o que ta fazendo. Sem mais delongas, o tão esperado encontro. Avisos no final.



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  Dizer que fiquei surpresa ao ouvir aquela pergunta, é pouco, estava pasmado. Havia só nós dois dentro daquele quarto e já lhes disse, nenhum humano podia me ver, só quando eu quisesse tornar minha presença notável, o que não estava fazendo. Olhei em volta para ver se havia outra pessoa ali, não tinha ninguém além de nós. Atrás de mim só estava à janela com vista para Baía de Carmel, eu podia jurar que não havia nenhuma pessoa no telhado. Voltei a olhar para a garota a minha frente, percebendo que estava com os olhos fixados em mim. Não parecia olhar através de mim e sim para mim, em meus olhos. Não podia crer, ela estava realmente me vendo, falando comigo, não era possível. Nunca conheci uma pessoa viva, que pudesse ver e falar com fantasma. Não existia! ¿Ya está? (Existia?) Ela estava mesmo falando comigo.

-Nombre de Dios! – deixei escapar, causando uma reação inesperada a moça a minha frente.

-Não adianta invocar seus espíritos superiores, - hermosa falava, enquanto ia até a cadeira de sua penteadeira, arrastando-a e sentando de uma maneira que a costa da cadeira ficou para frente. Olhava incisiva para mim. – Se ainda não notou, ele não está prestando muita atenção em você. Caso contrário, não o teria deixado por aqui apodrecendo todos estes anos...

  Havia mesmo me ouvido, aquilo era impressionante. Também falava rápido, não consegui entender muito do que dizia, “espíritos superiores”. O que queria dizer com aquilo? Notei que me observava da cabeça até as botas se retendo nelas. Voltando a fitar meus olhos. ¡Estaba aturdido todavía! (Ainda estava atordoado!)

-Quantos anos mesmo?... Uns cento e cinquenta anos? Já passou mesmo este tempo todo desde que você bateu as botas?

  Fixei o meu olhar nela, tentando entender o que dizia, as palavras saiam apressadas de seus lábios. O que queria dizer “bateu as botas”? Não sabendo do que falava, achei melhor perguntar. Ainda tentando acreditar que falava comigo. ¡Lo que parecía una locura! (O que parecia loucura!)

-Que quer dizer... bateu as botas? – Queria entende-la, saber o significado de sua pergunta.

  Ela revirou os olhos verdes, antes de responder avidamente.

-Esticou as canelas. Dobrou o Cabo da Boa Esperança. Foi desta para melhor. – disse, me deixando mais confuso e surpreso, realmente me via e falava comigo.

  Um sentimento estranho surgia, enquanto eu tentava entende-la, deixei para pensar nisso depois. Que tipo de linguagem era aquela que usava, não compreendia suas palavras. Acho que percebeu que não estava fazendo sentido, por que logo depois, disse irritada.

-Morreu.

-Ah! Morri. – Repeti surpreso.

  Então era sobre isso que falava, por que não disse de imediato, em vez de utilizar todas aquelas palavras incompreensíveis. Não consegui me ater a sua pergunta, não entendia como podia me ver, ouvir. Quem era essa garota? Nunca havia encontrado um humano, que pudesse ver um espírito nitidamente, só vislumbres, o que os deixava muito assustados. E ela não aparentava estar espantada, irritada talvez, mais não surpresa ou assombrada. Balancei a cabeça, gostaria de saber sobre ela, queria respostas.

-Não estou entendendo. – Afirmei sobressaltado e continuei. – Não entendo como você consegue me ver. Durante todos esses anos, ninguém nunca...

-Claro, - não me deixou terminar, parecendo estar aborrecida. – Olha só, os tempos mudaram um bocado, sabia? Então, qual é a sua?

  Não conseguia compreende-la, como uma moça podia não fazer sentindo, o que queria dizer com “qual é a sua”? Qual era a minha o que? Não a entendia, fazendo que o dialogo entre nós, não prosseguisse.

-A minha? – perguntei-lhe confuso.

  Antes de responder, observou-me atentamente, ficando pensativa. Queria entende-la, saber sobre o que falava. O que estava havendo? Em todos esses anos, nunca encontrei alguém vivo, que pudesse me ver, falar comigo. Que tipo de moça era ela? A observei, seus olhos verdes estavam fora de foco, - eram realmente belos, - estava perdida em seus pensamentos. Olhou para mim, parecendo voltar a si. Mesmo no estado que me encontrava, surpreso, notava que era muy hermosa a moça.

-É! – disse somente, parecendo atordoada.

  Estava me confundindo, que no tenía sentido. (ela não fazia sentido.) Será que todas as moças dessa época eram como ela. Queria saber mais sobre ela. Quem era, de onde veio e por que podia me ver? Pesava em milhões de coisas, apoiei uma de minhas pernas no assento e a olhei, manias que não perdia mesmo com o passar dos anos e a morte.

-Sim, a sua – falou de repente. – Qual o seu problema? Por que ainda está aqui?

  Como assim? Meu problema? No que podia me recorda, não havia problema. Havia o fato de eu estar morto, já tinha me conformado com isso. E o por que deu estar aqui? Não havia idéia, já cogitei muitas coisas, mais nada que realmente pudesse me explicar do por que, eu estar preso ao mundo dos vivos. Até gostaria de saber. ¡Y cómo! (E como!)

-Por que você ainda não foi para o outro lado? – complementou, quando não respondi a suas perguntas.

  Como poderia responder? Não estava sendo compreensível a meu ver, não lhe entendia, por que não podia ser mais clara? E o que queria dizer com “outro lado”? Balancei a cabeça frustrado, não nos entediamos.

-Não sei o que você esta querendo dizer. – Afirmei, tentando buscar algum sentido.

-Como assim não sabe o que eu estou querendo dizer? – falou asperamente, tirando uma mexa de cabelo, - pude notar que eram castanhos, - que caiu sobre seus olhos. Parecia ficar mais irritada. – Você está morto. Não tem mais que ficar aqui. Deveria estar em algum outro lugar fazendo alguma coisa que as pessoas devem fazer depois que morrem. Cantando entre os anjinhos, ardendo no inferno, reencarnando, subindo para algum outro plano da consciência, ou o que seja. Você não devia... estar simplesmente andando por aí.

  Preciso dizer que às vezes, esperava que ela parasse para respirar quando falasse tanto, porém não, como possuía fôlego. Parei para tentar entender o que disse, ou as poucas palavras que consegui captar. Estava querendo saber por que eu estava aqui, ao invés de estar no lugar em que você vai depois que se morre? Achava ser uma ótima pergunta, que gostaria de sabe responder, só que não tinha resposta, era evidente que estava perguntando a pessoa errada. Equilibrei o cotovelo no joelho que estava erguido. Não sabia o que lhe responder, sinceramente, ela não se fazia entender. Para aliviar a tensão, que parecia existir entre nós, disse a primeira coisa que me veio à mente.

-E se por acaso eu gostar de andar por aí? – perguntei, contradizendo a afirmação dela, de que não devia estar andando por ai.

  Por que não podia? Se estava ali havia algum motivo, talvez fosse meu destino vagar por ai. Talvez houvesse pecado e essa era a forma de paga-los. A olhei, havia ficado pensativa, logo depois sua feição mudou, parecia mais aborrecida do que antes. Havia cometido um erro, não deveria ter comentado aquilo, estava tentando quebrar à tensão, acho que não a agradou. Seus belos olhos verdes, escureceram e sua mandíbula travou.

-Olha aqui, - disse ela, levantando de uma só vez, conseguindo passar a perna por cima da cadeira, o que me impressionou. – Você pode ficar andando por aí o quanto quiser, amigo. Vai fundo. Não estou dando à mínima. Mas aqui, não.

-Jesse, - disse automaticamente, quando ela parou de falar.

  Havia me chamado de amigo, achava que era por não saber meu nome, então o falei, apesar de ser meu apelido, ainda assim o preferia. ¡Me gustó! (Gostava dele!)

-O quê? – perguntou surpresa.

-Você me chamou de amigo. Achei que gostaria de ficar sabendo que eu tenho um nome. Eu me chamo Jesse. – disse calmamente.

  Ela não devia estar esperando por isso, no entanto achava educado me apresentar a ela. Assim como gostaria de saber seu nome, não achando que Suze, como sua mãe havia a chamado, fosse, pois também lhe chamou de Suzinha. Aturdida afirmou com a cabeça. ¡Extraño! (Estranhei!)

-Certo. Faz sentindo. Muito bem então, Jesse. Você não pode ficar aqui, Jesse. – disse.

  Parecia confusa com o assunto inusitado, repetindo o meu nome como se quisesse gravá-lo ou demonstrar que o apreendeu. Situação engraçado. Assim como também não desviava do ponto em que insistia, a minha partida. Contudo, queria muito saber seu nome, ou confirma se era Suze. Não dando atenção a sua afirmação, perguntei.

-E você? – tentei ser o mais cordial possível, até sorri.

  O que a pegou novamente de surpresa, parando para pensar.

-Eu o quê? – disse rudemente, parecia desconfiada.

-Como se chama? – continuei calmo.

  Estava interessado na resposta, ignorando sua irritação. Ela olhou fixamente para mim, ficando mais receosa. Não entendia o motivo, só queria saber seu nome.

-Olha aqui. Vai dizendo logo o que você quer e cai fora. Estou com calor e quero trocar de roupa. Não tenho tempo para...

-Aquela mulher, sua mãe, chamou-a de Suzinha – a interrompi, quando vi que não responderia, tentando ao máximo não ser ríspido. Interessava-me saber seu nome. – É apelido de Susan?

-Suzannah, - me corrigiu de imediato. – Como naquela canção, “Não chore por mim”.

  Sorri para ela, pela primeira vez, havíamos nos entendido. Seu nome era Suzannah... achava mais apropriado a uma dama, do que Suze, me parecia vulgar. Era um belo nome, assim como a dona, hermoso. E também conhecia a canção que citou.

-Eu conheço, - disse descontraído.

-Isso aí. Provavelmente estava entre as 40 mais tocadas no ano em que você nasceu certo?

  Continuava irritada. Não desfiz o sorriso, percebendo que ela não conseguia se aclamar. Não queria que se chateasse, gostaria que se acalmasse e pudéssemos conversar cordialmente. Havia décadas que não falava com alguém vivo, que não sentia necessidade de fugir, por estar ouvindo um espírito. Queria prolongar nosso dialogo um pouco mais, visto que estava ansiosa para me tirar dali.

-Quer dizer então que este agora é o seu quarto, Suzannah? – perguntei, tentando continuar a conversa.

-Isso mesmo, - respondeu ainda aborrecida. – Isso aí, este agora é o meu quarto. De modo que você vai ter que se mandar.

  Estava disposta a me mandar embora, não que eu tivesse intenção de dividir o quarto com uma dama, vai contra meus princípios, contudo não queria que soubesse ainda, desejava continuar a falar com ela.

-Eu vou ter que me mandar? – perguntei levantando uma sobrancelha, querendo saber do por que me queria longe dali. – Esta aqui é a minha casa há um século e meio. Por que eu teria de sair? – gostaria de saber sua resposta.

-Por que sim, - parecia mais irritada, acho que não gostava de ser confrontada. – Este quarto é meu. Não vou dividi-lo com um caubói morto.

  Assim que disse as últimas palavras, conseguiu fazer o que não estava conseguindo com sua rudez, me deixou amofinado. Levantei, batendo a bota no assoalho de madeira, me pondo de pé. Eu podia aguentar as coisas que já havia dito, ou o que eu entendia, no entanto me chamar de caubói, não. Eu e minha família sempre trabalhamos duro para ter nossas terras e as manter, nenhum de nós nunca foi uma raça desprezível como essa, que banalizava por onde passavam, gastando seu dinheiro com coisas desonrosas e importunando as pessoas. Era um insulto a honra dos de Silva. Apesar de estar em frente a uma dama, não consegui me controlar.

-Não sou nenhum caubói, - disse muito aborrecido. – Y ninguno de mi familia. ¡En absoluto! (E nenhum de minha família, foi. Não mesmo!)

  Estava tão irritado, que o espelho pendurado em um gancho na parede sobre a penteadeira, começou a balançar. Ela havia mexido com minha honra, não aprovaria isso.

-Uaaau! – disse esticando os braços para cima com as palmas viradas em minha direção. – Menos! Calma aí, rapaz! – Tentou me acalmar, porém não conseguindo.

-Todos na minha família, - apontei o dedo para seu rosto, sendo grosseiro, admito. Estava tentando lhe explicar o quão honrado eram os de Silva, - trabalharam feito escravos para conseguirem alguma coisa neste país, mas nunca, nunca houve nele nenhum vaqueiro...

-Ei! - Falou ela, pegando com força no dedo que eu apontava a ela e me puxando mais próximo de si, conseguindo, devido a minha total surpresa.

  O que havia acontecido? Ela estava me tocando, era possível isso. Não, eu devia estar imaginando.

-Pare com o espelho agorinha. E tira este dedo do meu nariz. Se fizer de novo, será um dedo quebrado. – Ameaçou, empurrando minha mão para longe de seu rosto.

  Ainda sentindo o meu dedo formigar, olhei espantado para ela. Havia me tocado, pude sentir a quentura e a delicadeza de sua pele. Como aquilo podia ser possível, como podia me tocar, quem era ela, que tipo de pessoa era? Estava atordoado, não conseguia acreditar no ocorrido, será que estava imaginando? Sabia que não, aquilo era real, uma moça vinda de não sei onde, podia me ver, falar comigo e acima de tudo, podia me tocar sem atravessar meu corpo, como todos com quem esbarrei até hoje fizeram, não foram poucas as pessoas que passaram através de mim. Mais ela não. Me tocó como si estuviera vivo. (Tocou-me como se eu estivesse vivo.)  

  Não havia parado de encará-la nenhum momento, apesar das coisas se passavam em minha mente, das perguntas. Não conseguia acreditar, ela realmente podia fazer aquilo? Parecia loucura de minha parte, estava ficando insano, um fantasma enlouquecido. A observo, parecia estar com o pensamento longe e depois olho para onde me tocou, ainda sentia o calor de sua pele. Não conseguia falar, estava aturdido demais, tentava acreditar que era real. ¿Dios mío, realmente estaba pasando? (Meu Deus, realmente estava acontecendo?)

-Agora ouça bem Jesse. Este quarto é meu, entendido? Você não pode ficar aqui. Ou você me deixa ajudá-lo a ir para onde deve estar ou vai ter de achar outra casa para assombrar. Sinto muito, mas é assim.

  Disse após algum tempo de silêncio, fazendo-me parar de encarar o meu dedo e olhar para ela. Estava fazendo um grande esforço para entendê-la.

-Mas quem é você? – saiu baixo o que disse, ainda estava atordoado. – Que tipo de... – não sabia como me expressar, que palavra usar, falei a primeira palavra que me veio à mente, - garota é você?

  Fiquei a observando cogitar, presa em seus pensamentos. Queria saber o que pensava, mais sobre ela, conhecê-la. Voltou a olhar para mim.

-Pois vou dizer-lhe que tipo de garota eu não sou – estava chateada com aquela situação. – O que eu não sou é o tipo de garota disposta a compartilhar o quarto com um membro do sexo oposto. Deu para entender? De modo que ou você se arranca ou eu vou botá-lo daqui para fora. Você decide. Vou lhe dar algum tempo para pensar. Mas quando voltar aqui, Jesse, não quero vê-lo mais.

  Terminado de falar, sem me dar tempo para argumentar, virou e foi em direção a porta, saindo e a fechando. Ouço seus passos na escada, estava descendo. Ainda tonto com todas essas descobertas, acho que fiquei olhando para porta por minutos. Tentando acreditar no que vi ou esperando que voltasse, o que não aconteceu. Respirei fundo, passando a mão pelo cabelo. Ainda não dava para crer no acontecido. Nombre de Dios, quem era ela, que tipo de garota era Suzannah, como conseguia me ver, falar comigo e... me tocar? Tinha muito no que pensar. ¡Muchísimo! (Muito mesmo!)


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Notas finais do capítulo

Pessoal, espero que tenham gostado do presente e continua o que combinei, um capítulo no sábado ou domingo.
Agradecimento a Linee Evans por favoritar a história.
Alguns capítulos, como esse, não serão divididos em partes.
Comentem e digam o que acharam. Gostaram!!!
Algum erro avisem!
Até o próximo fim de semana.