01: Saint Seiya - Guerra Galáctica escrita por Tarsis


Capítulo 2
02: Gêmeos - As duas Faces da mesma Moeda


Notas iniciais do capítulo

Esta história se passa paralela ao capítulo 01, com Saga, Kamus e Shura, enquanto Espectros de Hades, viajando entre as dimensões, com o intuito de chegar ao Santuário. Vimos que Saga e Kannon possuem uma irmã mais jovem, Ying, filha de Agamenon, pai de Saga e Kannon, com Hipollyta, Senhora das Amazonas. Eles estão no Makai, a dimensão dos 4 Deuses ancestrais: Suzaku, Byakko, Seiryuu e Genbuu. Ao final do capítulo, o leitor encontrará um breve histórico falando sobre os 4 deuses.



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Gêmeos – As duas Faces da mesma Moeda

Saga

“Vê-la ser arrastada daquela forma, como um animal para o abatedouro, cortava-me o coração. Ela é minha irmã querida, minha vida... Fiquei ali, imóvel, estático. Olhando tudo aquilo. Minha vontade era de ir lá e tirá-la daquela situação deplorável, toma-la nos braços e dar todo o meu carinho. Minha irmã, meu Solzinho... Mas tudo aquilo era necessário. Se Shinnosuke a queria, então ele irá tê-la, com tudo que Ying possa lhe dar... Sinto até um pouco de pena dele”.

Saga afastou-se daquele lugar, indo até o lado de fora. Chegando lá, deu uma boa olhada para aquela paisagem cinza e triste que um dia fora um reino glorioso. Respirou fundo e continuou caminhando pela estradinha que leva até a entrada da Torre de Raizen. Quando eu por si, perdido em seus próprios pensamentos, estava na porta de entrada da cidade, indo em direção ao vilarejo que circundava a Torre.

Seu peito estava apertado pela angústia de ter que fazer aquilo tudo, de conspirar novamente contra a Deusa que, um dia, defendeu. E ainda mais com sua irmã envolvida e entregue a Shinnosuke como uma ovelha para ser imolada. Saga chorava por dentro; um choro silencioso que só ele próprio era capaz de ouvir.

Talvez por estar por estar absorto em seus próprios pensamentos, Saga não percebeu que todos ali do vilarejo olhavam para ele. Por certo nunca haviam visto alguém como ele por ali antes, mesmo acostumados que estavam a ver onis com as mais variadas aparências. Aquilo para ele era inusitado, pois mesmo quando Saga era o Grande Mestre do Santuário e circulava pelas ruas de Rodórios, as atenções se voltavam inexoravelmente para ele, mas de uma outra forma, cheias de idolatria.

Agora era diferente: as pessoas olhavam para ele como se estivessem olhando para uma atração de circo, com um misto de medo e curiosidade. Alguns se afastavam assustados, outros não conseguiam nem se mover de tão amedrontados que estavam, mas com as crianças que estavam brincando na rua, isto não acontecia. Para elas, Saga era uma atração fascinante. Sua Armadura Negra como a noite reluzia ao sol e seu porte imponente inspirava-lhes respeito e admiração.

Alguns garotos se aproximaram. Estavam um pouco sujos, pois brincavam na rua que estava enlameada. Rodearam Saga e ficaram ali observando, com vontade de tocar em sua Sapuri, mas ainda receosos. Então, um deles, um garotinho, quebrou o silêncio:

- Tio, o senhor é um dos lutadores do Torneio das Trevas, não é? Puxa, o senhor deve ser muito forte! Quando eu crescer, quero ficar forte para ir competir no torneio também!

Saga olhou para o garotinho e viu o brilho nos olhos dele. Um brilho de esperança de alguém que tinha pouco ou quase nada em que acreditar. Então percebeu que este era um mundo sem ídolos, sem esperança, em que as pessoas eram nada mais que mercadorias, ou eram atrações para as massas.

Crianças como esta não tinham nada mais em que depositar suas esperanças para o futuro a não ser no sangue e suor derramados nas arenas para entreter as multidões. E ele próprio, que já fora o Mestre do Santuário no passado, que já fora considerado como um ser quase divino, que fora tido como exemplo de conduta e de pessoa para os jovens de Rodórios, também já fora um jovem como esse que o olhava com tanta admiração.

Saga sabe muito bem o que é não ter nada mais em que ou quem depositar a fé e a esperança a não ser em sua Deusa ou em si mesmo. Mesmo quando seu irmão Kannon o corrompeu para o mal, fazendo aflorar a sua personalidade maligna, o seu verdadeiro “eu” ainda acreditava que haveria esperança. Depois de alguns segundos olhando para o garotinho e para todos os outros que ali estavam, Saga se ajoelhou e olhou o jovenzinho naqueles olhos tão expressivos e falou em um sorriso sincero que há muito não esboçava:

- Sim, meu amiguinho, eu sou um dos lutadores. E tenho certeza que você será um grande lutador quando crescer. É só acreditar em si mesmo! Treine bastante e com muita dedicação e irá ficar muito forte, que sabe até mais forte que eu! Todos vocês podem ser lutadores muito fortes se acreditarem em si mesmos! – Saga afagou os cabelos do garotinho e se levantou.

- Puxa! Vou treinar bastante e ficar forte como o senhor, tio! Tchau! – Falou o garotinho, com o rosto iluminado pelas palavras de incentivo de Saga. Todos saíram correndo e sumiram rua abaixo.

- Obrigado, meu amiguinho, por devolver a esperança ao meu coração... – Falou Saga em um sussurro. – Já é hora de irmos, Shura?

- Sim, Saga, já é hora. Temos muito que fazer. – Falou Shura, vindo pelo mesmo caminho pelo qual Saga viera. – Tem certeza de que a Ying não irá precisar da nossa ajuda?

- Tenho, sim. – Respondeu Saga, sem se virar e ainda olhando para os garotinhos que corriam alegremente rua abaixo. – Minha irmã pode ser teimosa e espirituosa, mas não é uma tola. Saberá se cuidar contra aquele crápula engomado. Shinnosuke pode ser um homem perigoso, mas desta vez irá morder bem mais que do que é capaz de abocanhar! Vamos indo, ainda temos que localizar as Quatro Esferas Elementais para que o Portal para o Hades seja fechado aqui no Makai.

- Ying ainda poderá atrapalhar nossos planos, Saga! – Protestou Shura, visivelmente preocupado.

- Acalme-se, meu amigo. Eu tenho certeza que a Ying irá cruzar nosso caminho outra vez. Mas por ora ela irá ficar bem ocupada com Shinnosuke e isso irá nos dar o tempo de que precisamos. E tempo é um luxo o qual não temos. – Respondeu Saga

- Saga, você está sentindo isso? – Perguntou Shura.

- Sim, estou. Estamos sendo observados outra vez. – Respondeu Saga. – Foi dessa mesma forma quando entramos nessa cidadela pela primeira vez, não está lembrado?

- Tem razão, estou me lembrando agora! – Respondeu Shura. – Venha, Saga, vamos volta à Torre e pegar Kamus e os demais. Já é hora de irmos.

 Saga e Shura voltaram à Torre de Raizen. Mas a sensação de vigilância os perseguiram por todo o caminho. É como se um olho pairasse por sobre suas cabeças o tempo inteiro, observando cada movimento que fizessem. Já no Hall de entrada, quando ninguém estava por perto, Saga desabafa:

- Vamos, garotos, já chega desse joguete de gato e rato. Apareçam! Ou nós vamos arrancá-los das sombras e mandá-los de volta ao Shinnosuke dentro de um envelope!

- Nós desconfiávamos que vocês, forasteiros, estavam mesmo tramando alguma coisa! – Falou uma voz vinda de lugar nenhum.

 Saindo de dentro da sombra de uma coluna, o jovem Jin Chonshuu anda confiante em direção à dupla de ex-Cavaleiros, com passos suaves, mal tocando chão. No rosto um sorriso de puro deboche, seguro que estava de que nada de mal iria lhe acontecer. Shura rangia os dentes, demonstrando sua fúria. Aquele garoto, juntamente com sei irmão e Eji Amano, eram os olhos e ouvidos de Shinnosuke, ouvindo e vendo tudo o que se passava pelas ruas, becos, corredores e aposentos de todo o Makai e Nigenkai.

Suas habilidades de se mesclar às sombras, bem como de se teletransportarem por curtas distâncias, fruto do constante aperfeiçoamento de sua doutrina “Teio Ken”, fazem dos irmãos excelentes espiões. E Amano, um crápula dos piores, possui o dom da palavra e da persuasão, um verdadeiro mestre das escaramuças sociais. Há quem especule que quem controla o Reino de Raizen seja, na verdade, Amano, pois este manipula Shinnosuke como um titeriteiro controla o fantoche através dos fios.

- Finalmente se revelou, leva-e-traz! – Falou Shura, num tom de puro desprezo. – Se está aqui, então seu irmão não deve estar longe.

- Suas palavras não me ofendem, ex-Cavaleiro! E o paradeiro de meu irmão não lhes concerne. Ao menos eu sirvo a um mestre que não dispõe da vida de seus servos como se ela não valesse coisa alguma. - Debochou Chonshu. - Pelo que eu pude ouvir e, se entendi bem, vocês possuem pouco tempo de vida, não é mesmo? He, he, he! Que peninha! E ainda querem encontrar as Quatro Esferas nessas condições? Vocês são realmente patéticos! Não sei por que Mestre Kagami os estão utilizando como soldados!

- Ora, seu...  – Shura já iria partir pra cima do jovem quando foi detido por Saga.

- Calma, Shura, não caia na armadilha dele! – Alertou Saga. – Kagami tem um propósito maior em mente para este mundo, o qual envolve as Esferas Elementais. Ele nos confiou essa missão por que, embora “descartáveis”, como você bem salientou, meu jovem afetado, ele nos julgou mais eficientes que você, seu irmão ou mesmo o Amano. Agora, acho que ele não iria gostar de saber que você discorda das decisões que ele toma. Deveríamos levar isso ao conhecimento dele, só para provar que somos dignos de sua confiança, não acha, Shura?

- É verdade, Saga. Acho que o Kamus e os outros estão no mesmo andar do gabinete do Kagami. Vamos aproveitar que estamos indo pegá-los e passar no gabinete para termos uma conversa séria com ele a respeito da insubordinação dos jovens de hoje em dia! – Respondeu Shura, apoiando-se no ombro de Saga e olhando nos olhos de Chonshu com uma expressão maliciosa no rosto.

O jovem garoto, vendo sua artimanha ir por água abaixo, engoliu em seco. Um suor frio desceu por sua fronte, denotando o temor que sentia por aquele homem que, embora tenha uma fachada plácida e polida, é um dos seres mais terríveis deste mundo. Jin Chonshu bem sabe que o que os ex-Cavaleiros almejam irá de encontro às Forças primordiais do Makai, o que envolverá Lorde Kagami diretamente e, conseqüentemente, a toda a base de poder e interesses vigentes no Mundo das Trevas, atualmente. Mas, se o que disseram é verdade? Lorde Kagami não lhes confiou uma tão simples missão por achar que Chonshu e Chonrei são incapazes de cumpri-la?

- Vocês não irão envenenar Lorde Kagami contra mim e meu irmão e safar tão facilmente, Espectros! Se há alguém que envenena as pessoas por aqui, sou eu! Não irão falar com ele e distorcer os fatos, não se eu chegar lá primeiro! Afinal, distorcer os fatos é a minha função! TEIO SHIGAN KEN! – Invocando o poder de sua Doutrina, Chonshu desaparece em pleno ar.

Ying

O aposento de Kagami era confortável e muito bem decorado. A mobília era disposta a fim de que o espaço fosse aproveitado eficientemente, de modo que o quarto aparentava ser maior do que era na realidade. Novamente, os móveis eram da época da Inglaterra Vitoriana, estando bem conservados. O solado das botas dos  Espectros faziam barulho ao pisar o chão de pedra polida. Ying mal podia se mover, sendo carregada pelos braços tal qual uma bêbada, seus pés se arrastando pelo chão.

Shinnosuke apontou para cama de dossel alto que ficava ao centro do quarto e ordenou que a deixassem ali e se retirassem, e fechassem a porta quando saíssem. Os ex-Cavaleiros obedeceram, largando Ying lá. A macia colcha de lã  bordada que forrava a cama tinha um perfume suave de calêndola que a convidava a desfalecer ali mesmo, mas Ying sabia que não poderia desmaiar agora, ou seria uma presa fácil para Shinnosuke. Tinha que lutar contra aquele torpor maldito que teimava em se apoderar de seu corpo e sua mente. Maldito Afrodite e suas Rosas Diabólicas!

Uma brisa fresca entrava por uma janela ogival aberta. Cortinas de seda branca se enfunavam ao sabor do vento. À esquerda da cama, no extremo oposto do quarto, há um biombo, atrás do qual Kagami se trocava. Momentos depois, ele saiu trajando um robe de seda branca, com gola, barra e punhos em preto. A faixa que amarrava o robe também era preta.

- Você deveria se sentir honrada, minha querida. Poucas foram as mulheres que tiveram o privilégio estar comigo em meu quarto, e menos ainda de deitar-se em minha cama. – Começou Shinnosuke, deitando ao lado de Ying. – Essa técnica que o tal Afrodite utilizou em você é mesmo eficiente. Talvez eu o faça me ensinar antes de mata-lo, ou mesmo antes que ele morra, visto que Hades nunca dá nada de graça, e essa “vida” que ele e os demais possuem certamente não irá durar muito...

Um calafrio percorreu a espinha de Ying. Então quer dizer que Saga e os outros não irão viver muito tempo? Será que ele irá ser novamente arrancado dela como antes e jogado para as garras frias da morte? Não! Aquilo era demais para ela suportar! Saga era seu irmão querido e não um peão que seria movido pelo tabuleiro ao bel prazer de Hades. Mas, afinal, era isso mesmo que todos vinham sendo no fim das contas...

- Fique tranqüila, Ying. Não irei me aproveitar de você no estado em eu se encontra. Não haveria graça nenhuma nisso! – Falou Kagami, acariciando o rosto de Ying com as costas da mão. – Se bem que seria infinitamente mais fácil subverter sua vontade e seu espírito dessa forma. Eu gosto de um desafio, portanto, aguardarei enquanto se recupera.

- Você... é... um porco, Kagami! – Balbuciou Ying, com dificuldade. – Vou... fazê-lo pagar... por tudo o que....está fazendo... comigo e... com meu... irmão!

- Oh, não é educado para jovens damas como você ameaçar as pessoas desta maneira, minha querida! – Retrucou Kagami, servindo-se de um pouco de conhaque. – Enquanto descansa, irei lhe dizer o que tanto deseja saber: por que seu irmão e os demais Cavaleiros de Ouro estão aqui, no Makai.

Ying ia xingar Kagami outra vez, mas ao ouvir aquela declaração, mudou de idéia, ficando calada. Recostou-se, com muito esforço, no espelho da cama, pondo-se a escutar atentamente.

- Ah, eu consegui sua atenção agora? Que bom! – Exclamou, Shinnosuke, tomando um gole do conhaque. – Mas só que eu não dou informações de graça, Ying! Vamos entrar em um acordo? Você me ajuda e eu ajudo você e seu irmão. Ajudar-me com o que, você deve estar perguntando? Muito simples: não quero Hades e seus exércitos mandando e desmandando no meu mundo! Por isso eu firmei um pacto com os ex-Cavaleiros de Ouro que quiseram me ouvir: Seu irmão, Shura e o tal Kamus. Os outros dois estão achando muito bom e divertido serem capachos de Hades para dar ouvidos a mim!

- O que... quer dizer com... acordo? E ajuda-lo... a fazer... o que? – Perguntou Ying, sentindo a cabeça rodar toda vez que tentava se por sentada.

- Ora, sua tolinha, não é simples e claro para você? Para chegar ao seu mundo, Hades terá que passar antes pelo meu! – Continuou Kagami, após um outro gole de conhaque. – Mas ele não irá apenas passar por aqui: ele irá conquistar todo ele, assim como irá dominar o Nigenkai assim que esmigalhar toda a resistência que houver por lá! E com dois lugares conquistados, será mais fácil ter poder pra se chegar ao domínio dos deuses e ter aos seus pés toda a existência! Toda a realidade como a conhecemos deixará de existir! Os nossos mundos serão apenas mais uma extensão do Mundo dos Mortos de Hades, seremos todos tragados para o Meikai! E isso eu não irei tolerar!

- E... o que faz... você... pensar que... eu... irei ajuda-lo? – Perguntou Ying, já sentindo os efeitos do torpor passarem lentamente. – Apenas estará se... trocando... um tirano.. por outro!

- Tirano? Eu? Hah! Em outros tempos eu a castigaria por tal insolência, mas estou mais benevolente atualmente. – Respondeu Kagami, com um sorriso. – Hades já tentou antes, 250 anos atrás, e eu o ajudei. Como resultado, o Makai tornou-se uma terra de ninguém, um verdadeiro prostíbulo para os Espectros daquele maldito deus! Mas não desta vez! Eu não irei permitir!

- 250 anos... atrás? Então, você... estava vivo durante... a última Guerra Santa contra... Hades? – Perguntou Ying, atônita. – Como isso é possível? Só conheço uma... única pessoa... que viveu... por tanto tempo...

Ying não pôde nem terminar a frase, pois alguém batia freneticamente à porta do quarto. Do lado de fora, ouvia-se alguém chamando por Shinnosuke. A contragosto, Kagami levantou-se e foi até a porta, resmungando muito “Quem, em nome das penas flamejantes da Phoenix, iria me incomodar nesse momento?”, o que Ying conseguiu entreouvir com certa dificuldade e a fez rir baixinho.

Ao abrir a porta, Kagami se depara com um esbaforido Chonshu, arfando e tentando falar. Kagami o olhou com desaprovação, o que fez Chonshu ter ainda mais dificuldade de falar, ao encarar aquele olhar frio que poderia dobrar até mesmo o aço. Finalmente Kagami falou:

- Você quer falar logo a que veio, Chonshu, ou eu terei que ser drástico? Acho que você não veio aqui apenas pra ficar arfando e bufando na minha porta, não é mesmo? FALE DE UMA VEZ!

- Se... Senhor, aqueles estranhos acabaram de sair à procura das Quatro Esferas Elementais! O senhor sabe o que isso significa, não é mesmo? Arf... Arf... Isso o afeta diretamente, milorde! – Respondeu Chonshu, apoiando-se na porta. – E essa era uma tarefa que nós, seus leais servos, deveríamos desempenhar, meu senhor! Por que eles e não nós?

- Eles são dispensáveis, seu grande idiota! Você veio aqui, interrompeu-me enquanto “entrevistava” uma prisioneira, apenas para me avisar de algo que já sei? SAIA JÁ DAQUI! DESAPAREÇA DA MINHA FRENTE, OU EU ESQUECEREI QUE VOCÊ É APENAS UM MENINO E O EXECUTAREI COMO A UM CÃO RAIVOSO! – Esbravejou Kagami, levantando uma das mãos como se fosse esbofetear o pobre Chonshu.

Como um raio, o jovem garoto saiu correndo. No rosto, uma expressão de profundo medo e pavor podia ser divisada por entre as lágrimas que rolavam. A voz de Kagami ainda trovejava pelos corredores quando ele fechou a porta atrás de si e retornou à cama, rindo ruidosamente. Finalmente, falou:

- Ah, essas crianças, sempre inconvenientes! A melhor parte é que, sempre quando as aterrorizamos um pouco, conseguimos sua obediência e respeito incondicional!

- Você é insensível... e frio como uma pedra de mármore... – Falou Ying, já quase refeita dos efeitos da Rosa Diabólica. – Você zomba e desdenha da lealdade de seus subordinados. Devia se orgulhar... daquele jovem rapaz ter vindo lhe avisar tão prontamente!

- Minha cara, como eu bem disse a ele, eu já sabia que seu irmão adorado e os outros Espectros saíram à caça das Esferas Elementais. E como eu também salientei, eles são dis-pen-sá-veis! Meus leais servos, por outro lado, não o são! – Respondeu Kagami, voltando a sentar-se ao lado de Ying e acariciando suavemente a sua face. – Ah, e vejo que já está melhorando e já pode se mover e falar melhor. Excelente!

- Você não se agüenta em si de ansiedade, não é mesmo? – Perguntou Ying com um leve ar e sarcasmo na voz. – Acredite em mim, “Lorde” Kagami, não irá perder por esperar!

- Hah, Hah, Hah! Você é mesmo uma mulher fantástica! Quero mesmo ver do que você é capaz, mas antes, sei que você quer saber de tudo o que está acontecendo, não é mesmo? Enquanto explico tudo, você terá mais tempo para se recuperar bem e me mostrar tudo o que sabe! – Respondeu Shinnosuke, indo se servir de mais um pouco de conhaque.

- Mal posso esperar pra ouvir... – Respondeu Ying, debochada.

- Eu não zombaria do que vou dizer se fosse você, minha querida, pois será de seu interesse. - Começou Kagami. – Afinal, depois o que vou lhe contar, eu a terei para mim, em todos os sentidos!

- Mesmo? – Perguntou Ying, com um leve levantar de sobrancelha.

Levantando-se, Kagami começou a andar pelo quarto enquanto falava. Sorveu o conhaque em um único gole, pigarreou para limpar a garganta e iniciou sua narrativa. Ele começou seu relato retornando 250 anos atrás, quando da última Guerra Santa contra Hades, à época em que o deus abriu um portal do Tártaro para o Makai a fim de ter acesso ao Mundo dos Mortais e, finalmente, ao Santuário.

Kagami seguiu contando como um portal que permaneceu fechado por mais de mil anos se viu aberto e escancarado, dando acesso do seu Reino ao Makai. Isso não seria possível se não houvesse uma certa colaboração de alguém no Makai. Esse alguém traiu, assassinou, roubou e lutou contra seus pares. Tudo isso porque nutria um grande ressentimento pelos humanos, criaturas imperfeitas que só serviam para destruir aos poucos um mundo perfeito que lhes foi presenteado pelos deuses.

O portal chegou a ser aberto, na ocasião, por tempo suficiente para que apenas vinte por cento do exército total de Hades passasse por ele, o que foi suficiente para mudar toda a ordem existente no Makai, pois eles entraram lá e arrasaram toda a resistência e, não satisfeitos, seguiram para o Nigenkai e devastaram o Santuário e os Cavaleiros de Athena.

O traidor, Suzaku, a Phoenix, Deus Guardião do Sul e do Verão, um dos Quatro Deuses Guardiões que são responsáveis pela guarda das passagens entre os mundos, foi combatido pelos outros três Deuses, Byakko, o Tigre Branco, Deus Guardião do Oeste e do Outono, Genbu, a Tartaruga Negra, Deus Guardião do Norte e do Inverno, e Seiryuu, o Dragão Azul, Deus Guardião do Leste e da Primavera, bem como pelos guerreiros subordinados a Enma Daioh, visto que o Makai faz parte de sua jurisdição.

Derrotado e humilhado, o Guardião traidor foi destituído de seu Status de divindade e vagou imerso em ruína e ressentimento por mais de 200 anos. Então, um dia, 10 anos atrás, ele soube que o portal não havia sido completamente selado. Não se sabe com exatidão quantos já passaram de um mundo para o outro nos dois sentidos desde a última Guerra Santa. É possível que Hades já tenha enviado seus Espectros para o Makai e para o Nigenkai por diversas vezes e já tenha obtido as informações necessárias para conquistar e exercer seu nefasto domínio sobre ambos os mundos.

- E isto está exemplificado na a presença de seu irmão aqui no Makai, minha cara. – Falou Kagami, virando-se e olhando Ying nos olhos. – Eu o encontrei juntamente com os outros ex-Cavaleiros às portas de Gandara, o Reino de Yomi. Eles planejavam um ataque contra o próprio Yomi, regente daquele reino.

- E por que você os dissuadiu da idéia? – Perguntou Ying, já se pondo de pé.

- Porque eles seriam mais úteis a mim e ao que tenho planejado do que iniciando uma guerra que não traria proveito nenhum pra ninguém daqui. – Respondeu Kagami, dirigindo-se até Ying e a tomando pela cintura. – Eu não sabia quem eles eram e a que vieram até quando enviei os jovens irmãos para espioná-los meses antes, quando tomei conhecimento do recente tráfego entre os mundos. Então julguei que eles seriam guerreiros perfeitos!

- Então você planeja lutar contra Hades se valendo do meu irmão e dos outros que vieram com ele? – Perguntou Ying, afagando o rosto e os cabelos de Shinnosuke.

- Exatamente! Fecharei o Portal para sempre e aqueles que foram revividos por Hades poderão finalmente descansar em paz. O maldito que encontre um outro meio de chegar ao Nigenkai e resolver as diferenças pessoais que venha a ter com Athena! O Makai será meu, como deveria ter sido no passado! – Respondeu Kagami, aproximando o rosto do de Ying.

- Porque será que eu acho o Makai estaria melhor nas mãos de Hades? – Respondeu Ying, pondo os dedos indicador e médio nos lábios de Kagami que já estavam procurando avidamente os dela.

- Eu não preciso de seu sarcasmo, Ying! Eu preciso, sim, de sua lealdade! Alie-se a mim e conquistaremos o Makai, juntos! – Falou Kagami, pegando a mão de Ying entre as suas. – Não vê que o melhor para esse mundo dominado por onis decadentes é ser governado por mim? O que houve no passado não deve obscurecer as realizações do presente!

- Eu até poderia lhe ajudar, Shinnosuke, pois nossos objetivos são semelhantes. Mas não quero que você se torne um segundo Suzaku! – Respondeu Ying, retirando a mão das e Kagami. – O que há com você, Shinnosuke? O que fizeram com você? É como você quisesse se vingar de todos aqui no Makai, submetendo-o ao seu domínio!

- Ah, a vingança! Doce palavra, principalmente quando proferida pela boca de uma dos seres mais vingativos que existe: a mulher! Sim, há um pouco de vingança em meus intentos! – Falou Shinnosuke, afastando-se de Ying e cerrando os punhos à frente do rosto, nos olhos um brilho momentâneo de insanidade e nos lábios um ricto de cólera. – Eles deveriam ter me compreendido, 250 anos atrás! Mas, não! Preferiram me julgar e me acusar e me banir! Por séculos vivi às margens das outras divindades, à sombra delas!

- O que está dizendo? – Ying afastou-se, pondo-se em guarda. O Cosmo começa a pulsar e crepitar ao redor de seu corpo. – Você contou toda essa história para mim apenas pra me dizer que você é...

- Sim! Sim! – Respondeu Kagami. Seus olhos emitindo um brilho vermelho e chamas amarelas e avermelhadas irrompendo de seu corpo. – Você está certa, Ying! Este mundo está corrompido e envenenado desde que Hades e seus Espectros puseram os pés nele! Mas não vai ocorrer uma outra vez PORQUE ESTE É O MEU MUNDO! Faça sua escolha, mulher: ou está comigo ou contra mim! Ou será Hades ou EU! Uma divindade sabe reconhecer uma outra quando estão frente a frente! Sim, eu sei quem você é, NIKE, A DEUSA DA VITÓRIA! E EU... SOU... SUZAKO, A PHOENIX! HAH, HAH, HAH, HAH!

Com os braços estendidos ao lado corpo, a face voltada para o alto, Kagami invoca chamas que envolvem o completamente, como se fossem as asas de um gigantesco pássaro. Ying, ao ver aquilo, recuou um passo, pois o calor que emanava era infernal lembrando muito os efeitos da “Ave Phoenix”, de Ikki. O Cosmo que aquele homem emanava era superior a qualquer um que ela houvesse sentido antes, chegando a rivalizar com o da própria Athena! Realmente, desta vez, não se tratava de um louco com delírios de grandeza e arroubos de dominação e destruição. Ali, a sua frente, estava um ser ancestral, antigo como o próprio tempo. E Ying bem sabe que despertar a ira e o ressentimento de um Deus não era nada bom...

Breve história sobre os quatro Deuses Ancestrais

                Os quatro Deuses Ancestrais são criaturas que pertencem à mitologia chinesa e foram, ao longo dos séculos, sendo incorporada à mitologia japonesa, dada ao intenso tráfego de pessoas e documentos entre o Japão e a China. Segundo a lenda, quatro animais sagrados foram incumbidos de guardar a entrada para o inferno (não o Inferno Católico, por favor!), impedindo assim que as almas de lá saíssem.

                Cada uma das divindades representa um ponto cardeal, uma estação do ano e um conjunto diferente de constelações no céu.

São eles:

Genbu: A Tartaruga Negra (às vezes retratada como uma tartaruga ao lado de uma serpente marinha), representando o Norte e o Inverno;

Byakko: O Tigre Branco, representando o Oeste e o Outono;

Seiryuu: O Dragão Azul, representando o Leste e a Primavera;

Suzaku: O Pássaro Vermelho (geralmente retratada como a lendária Phoenix), representando o Sul e o Verão.

Há, na verdade, cinco direções, sendo a quinta, o “centro”, representando a Terra. Se formos pesquisar mais a fundo a cultura japonesa, veremos que estas divindades aparecerão muitas vezes em diversas histórias do folclore nipônico. Em nossa história, já vimos que Shinnosuke Kagami é apenas uma forma humana adotada por Suzaku. Na verdade, o kanji para Shinnosuke significa algo como “homem modesto”, e o que representa Kagami quer dizer algo como “deus dos deleites”.

A cada 250 anos, os Deuses permutam entre si a vigilância do portal, resultando, desta forma, que um dos quatro se reveze na função de Guardião a cada milênio. Os outros três encarnam em um mortal, escolhidos no momento em que estiverem nascendo,  a fim de que levem uma vida pacata e se inteirem mais dos costumes e da vida dos humanos, permanecendo assim até que sejam convocados ao dever.

Quando não estão em suas formas divinas e estão em suas formas humanas, os Deuses depositam parte de sua essência no que chamam de “Esferas Elementais”, que os representam em seus templos. As esferas abrigam parte da vida dos Deuses, a outra parte sendo completada pela vida do corpo que estiverem habitando no momento. Na prática, uma espécie de simbiose: A divindade, sendo imortal, prolongará a vida de seu hospedeiro, e este proporcionará um corpo para que a divindade viva no mundo dos mortais enquanto estiver “adormecido”. Enquanto a esfera existir e estiver intacta, o hospedeiro compartilhará dos poderes e da sabedoria da divindade que estiver habitando seu corpo, sem mencionar o fato de ter sua vida imensamente prolongada.

Mas tudo isso não virá sem um preço: conforme o tempo passa, a personalidade do hospedeiro vai cada vez mais sendo sobrepujada pela personalidade do deus, até que desaparece completamente e a divindade assume o controle definitivo do corpo, da mente e absorve para si o espírito do hospedeiro. Isso tudo ocorre no período de tempo o qual compreenderia a vida “normal” da pessoa a qual serve de abrigo à divindade. Assim, quando o tempo de vida normal da pessoa passasse e ela estivesse para “morrer de velhice”, a sua essência vital será absorvida pela essência do deus, passando a integrar a sua própria, assim como todas as memórias e conhecimentos daquela pessoa.

Portanto, a pessoa que estiver de posse uma das Esferas Elementais e conseguir acessar a essência da divindade a qual a Esfera representa, terá acesso a um grande conhecimento, talvez maior que sua mente seja capaz de lidar. Muitos tentaram e poucos conseguiram dominar uma esfera dessas sem que ficassem loucos no processo. Mas talvez a grande vantagem de se ter uma esfera é ter o poder de fazer com que a divindade “migre” do corpo em que estiver no momento para o corpo da pessoa que encontrou a esfera. Porém, para isso ocorrer, a pessoa terá que conseguir sobreviver à loucura que é entrar em comunhão com a essência divina contida ali e terá, também, de saber o nome da divindade e, por fim, terá que convencê-la a fazer a “migração”! 


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