Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 4
Genes Quileutes




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― Onde ele está? – pergunta Lucian na manhã seguinte, dando pela falta do filho.

― Saiu cedo, antes mesmo que eu pudesse vê-lo, será que ele está bem?

― Relaxe e confie em mim, Leah – Beija a testa da esposa. – Apenas confie em mim!

Lucian ergue o rosto da quileute com o polegar e encara seus olhos com intensidade. Ele precisava fazer algo a respeito, "matar e morrer por ela" esse era o seu lema e não poderia desapontá-la, ainda mais agora, com um assunto que não precisaria envolver mortes. Uma leve aproximação e logo os seus lábios dançavam num ritmo apaixonado.

― Tem alguém chegando – pensa Leah no meio do beijo, tentando se concentrar em seus sentidos –, acho que é o Sam.

― Sério? Que droga – retruca Lucian, cessando o beijo e se concentrando na mente do quileute. – Ele quer falar sobre Harry.

Era assim que o casal supria as deficiências do cherokee. Ele não podia farejar, nem tampouco ouvir como um lobo, mas Leah o fazia em seu lugar e passava seus recados de maneira telepática, fazendo parecer que nada havia de errado com ele... O casal se dirige para fora da casa, onde encontram líder quileute a espera, para uma longa conversa.

Bem longe dali estava Harry, que deixará a casa logo cedo e, desde então, ficou a dirigir sem rumo pelas ruas de Forks, faltando propositalmente à escola. Depois de muito tempo dirigindo, ele estaciona em frente a um mercado e adentra o estabelecimento a procura de algo que pudesse fazê-lo se sentir melhor.

Harry para em frente às bebidas alcoólicas, mas logo desiste de levá-las, pois sabia que não lhe venderiam algo assim a menos que pudesse provar ser maior de idade.

― Nada aqui serve! – esbraveja.

Uma movimentação estranha começa a se fazer na porta do mercado e, quando ele se aproximou, surpreendeu-se ao ver que um homem forçava um encontro com a balconista. Até que ponto um ser humano precisaria se rebaixar, a ponto de ser considerado um superbabaca? Harry não sabia a resposta correta, mas identificava que aquele indivíduo certamente estava em algum lugar da escala de "babacas". E, diante disso, uma estranha necessidade ajudá-la floresce em seu interior, fazendo-o lembrar das histórias de sua mãe, sobre os protetores de La Push e o quanto eles eram disposto a ajudar o seu povo.

― Droga, isso não vai prestar! – Apanha um refrigerante qualquer e caminha até o balcão. – Com licença, se você não é um cliente pare de obstruir o caminho.

O homem se afasta por um momento, mantendo os olhos fixos na pobre atendente, que já não sabia o que fazer para se livrar dele e sentia-se bastante coagida. Harry paga sua pequena compra e recebe seu troco, observando atentamente as mãos trêmulas e o rosto receoso da mulher.

Malditos genes lupinos, àquela briga nem sequer era dele e, agora, estava sentindo vontade de ajudar aquela pessoa tão vulnerável.

Harry debruça sobre o balcão, aproximando seu rosto da atendente a fim de que só ela o escutasse. E, entendo que ele pretendia sussurrar-lhe algo, ela se aproximou timidamente.

― Uma mulher tão bonita e tão trabalhadora não merece tremer por causa de um cretino, não concorda?

Ela apenas assente com a cabeça, incitando o furor do homem que os observava.

― Ei você, fique longe da minha garota – ameaça ele.

― Chame a polícia – sussurra por fim, virando-se para o seu novo desafiante e assumindo um tom de deboche: – não me lembro de vê-la aceitar seu pedido para sair, então, tecnicamente, ela ainda está disponível!

Harry sabia muito bem onde aquilo iria dar e não se surpreendeu quando o estranho avançou em sua direção, agarrando o colarinho de sua camisa com força. Algumas ofensas foram disparadas por parte do agressor, cujo maior erro, foi o de ofender Leah.

O garoto sente o sangue ferver rapidamente, quem aquele estúpido pensava que era para falar de sua mãe naqueles termos? Seu corpo treme violentamente e um rosnado ecoa por entre os seus dentes fortemente trincados. Ele agarra os braços que ainda seguravam sua camisa e acerta-lhe uma joelhada no estômago, fazendo-o arcar com a falta de ar e o soltar instantaneamente.

Contudo, Harry sentia que aquilo não era o suficiente para o tamanho de sua raiva e, com dois golpes de punho fechado, arranca três dentes de seu atacante, fazendo-o cair ao chão desorientado.

As sirenes da polícia preenchem o ambiente de repente, fazendo-o se afastar do homem caído. Os policiais adentram o estabelecimento rapidamente, rendendo o acusado, enquanto Charlie já ouvia e coletava o testemunho da atendente.

― Você é Harry? Harry Clearwater? – pergunta Charlie logo em seguida, se aproximando.

― Sim – responde receoso. – Como sabe?

― Cidade pequena, todo mundo conhece todo mundo. Eu sou Charlie Swan, conhecido de sua família. – Olha ao redor. – Foi uma briga e tanto por aqui, hein?

― Acho... Acho que sim – gagueja.

― Não deveria estar na escola?

Bang! Tiro certeiro! Não era a toa que o velho Charlie era tão conhecido na cidade, ele realmente era um bom policial.

Harry sorri sem muito ânimo. A essa altura, já estava mais calmo, mas, o que falaria agora? Como explicar o porquê de não ter ido à aula e de ter saído de casa fazendo os pais pensarem que iria à escola?

"Ah, olá, seu guarda, eu faltei à escola porque estou me transformando num lobisomem", não, ele simplesmente não poderia dizer tal frase de maneira tão deslavada.

― Bem, eu...

― Não precisa explicar, garoto... Até porque, se for para mentir, prefiro que não diga nada! Tenho que ir, mas espero não vê-lo mais a perambular por aí, e, muito menos, a se meter em confusões.

Instinto paterno a flor da pele, isso definia o policial Charlie Swan, que sempre procurava manter os jovens na escola para que não se tornassem marginais e futuros criminosos.

Obviamente, ele desconfiava de algo a respeito de Harry, ainda mais depois de encontrá-lo tão trêmulo e furioso... Charlie lembrava-se muito bem do dia em que Jacob lhe revelara o segredo do povo quileute, e não estava sendo difícil para ele, ligar aquele fato ao garoto à sua frente.

Harry apanha seu refrigerante e corre para o carro antes que o policial resolvesse fazer novas e difíceis perguntas. E, enquanto dirigia para casa, o tempo nublado logo transformou-se em chuvoso, enchendo o céu com estrondos que anunciavam o início de uma tempestade. "Dirigir com cautela e devagar", esses eram os conselhos de seu pai para os dias de chuva, mas ele nunca os obedecia.

Com o velocímetro disparado, ele entra em La Push, e, depois de percorrido alguns metros de reserva, percebe que algo o estava seguindo na floresta, algo grande e peludo.

Seu humor já não estava dos melhores e ser seguido o deixava ainda pior. Harry freia o carro bruscamente, sentindo-o patinar por alguns instantes, até finalmente parar no acostamento.

― Quem está aí? – desce do carro irritado.

― Sou eu, Harry – diz Hana, voltando à forma humana.

― Por que está me seguindo?

― Sua mãe estava um pouco preocupada, depois do que aconteceu ontem...

― Deixe-me adivinhar: meu pai pediu para que me seguisse?

― Bem, sim, mas...

Hana não conseguira terminar sua frase, pois o sobrinho a interrompera com um grito enfurecido. Não fora a intenção de Lucian invadir a privacidade do filho ou retirar sua liberdade, ele somente tentava tranquilizar Leah, colocando alguém para zelar por ele. Porém, Harry não entendia e não via a situação daquela forma.

Ele retorna para o carro e dirige de volta para casa, onde encontra os pais e a avó na varanda da casa, conversando com o bando quileute, que aguardavam na chuva. Assim que avista o filho, Lucian desce a pequena varanda e fica ao lado de Sam, esperando sua aproximação.

― Por que pediu à tia Hana para me seguir, o que deu em você pai? – esbraveja, aproximando-se visivelmente transtornado. – Vai tirar minha liberdade, agora?

― Sim – responde somente, com semblante fechado.

― O que? – grita incrédulo. – Está falando sério?

Leah faz menção se ir até eles, mas é impedida pela mãe, que a segura pelo braço e esconde o rosto no ombro da filha, pois já não suportava ver aquele "teste".

― Você também vai ser transferido – continua Lucian –, vou trazê-lo de volta para a escola da reserva. Não namorará mais com Daniele e estará proibido de conversar com seus conhecidos da cidade.

― O quê? – grita novamente já sentindo os tremores dominarem seu corpo, conforme a raiva só fazia crescer. – Eu não quero voltar a estudar aqui... Mãe, isso é injusto! – Olha para a mulher, voltando à atenção ao pai em seguida.

― Eu sou o alfa e você nada pode fazer quanto a isso!

Aquela havia sido a gota d'água e Lucian sabia disso. Os espasmos tomam conta do corpo do garoto, que leva as mãos à cabeça e grita, num misto de raiva e dor, explodindo subitamente num imenso lobo...

O bando quileute estava impressionado, o lobo em que Harry se transformara era lindo e de pelagem inusitada. A cor predominante de seus pelos era cinza claro, contudo, suas patas e a ponta da cauda eram pretas, uma mancha também negra cobria-lhe o olho e a orelha direita, e seus olhos eram dourados como os dos Cullens.

Leah não conseguia pronunciar palavra, os garotos quileutes soltavam interjeições de surpresa e alguns pequenos elogios, e até mesmo Sam mostrava-se nitidamente admirado. Somente Nicolas o olhava com desdém, pois já estava transformado há muito mais tempo e não se lembrava de ninguém ter feito aquele "show" de elogios quando virara um lobo, por que agora o faziam com Harry? Por que bajulavam o mesticinho sem raça definida, que por sorte puxara os genes quileutes?

As coisas pareciam confusas na mente do novo lobo. O calor descomunal que outrora dominara seu corpo, parecendo incendiá-lo por dentro, sumira rapidamente e, agora, as pessoas pareciam estranhamente menores. O lobo baixou os olhos por impulso, olhando para as próprias patas e finalmente tomando ciência do que lhe havia acontecido.

Naquele momento de pura compreensão, Lucian apenas baixou a cabeça, preparando-se para o que viria a seguir.

Por quê?— Rosna. – Por que você fez isso, pai? Por que me transformou? Você sabia que eu não queria... Eu poderia muito bem conviver com os sintomas sem ter que me transformar de verdade!

― Era preciso – responde, ainda de cabeça baixa, não tendo coragem de encará-lo.

Você sabia que eu não queria— choraminga. – Eu te odeio!

Lucian ergue a cabeça repentinamente, pois, dentre todas as palavras furiosas que o garoto poderia lhe dizer, ele não esperava que por aquela sentença.

Harry foge, correndo floresta adentro e chocando-se contra algumas árvores, por não estar acostumado às quatro patas e ao novo tamanho de seu corpo, enquanto o cherokee desabava sobre seus próprios joelhos, em meio a chuva e a lama.

― Ele me odeia! – Sorri sem humor. – É melhor você ir atrás dele – sussurra para Leah, que assente com a cabeça e corre para a floresta atrás do filho.

― Sinto muito, Lucian – lamenta Sam. – Eu deveria ter feito isso, afinal, estou mais acostumado com a rejeição à transformação.

― Eu fiz questão disso, não se culpe por nada. Volte para sua família, lhe aviso se algo acontecer...

― Está bem. – Pensa. – Aguente firme, essa revolta passará logo.

― Assim espero – desabafa o cherokee.

O bando quileute parti sem mais comentários, mas com as mentes fervilhando e emoção por tudo o que presenciaram. Lucian se desliga de todas eles, preferindo ouvir apenas os próprios pensamentos e interrogações: ele fizera o certo, não fizera? O transformar antes que isso acontecesse em outro lugar, provocando-o até que o fogo da transformação o dominasse e mudasse seu corpo, isso era o certo, não era? Então por que ele se sentia tão mal?

Harry mal tivera tempo de se acostumar com os sintomas e a ideia de estar se transformando, e, de repente, viu-se no corpo de um imenso lobo. Tudo estava acontecendo rápido demais, refletindo-se em sua rejeição foi imediata, mas, e agora? Como serão os dias da família Clearwater?


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Notas finais do capítulo

Oooh, espero que tenham gostado :3
Este capitulo foi um tanto complexo para mim, demorou a sair...
.
Quantos acontecimentos hein? Como será daqui para frente? Será que Daniele será o imprinting do novo lobo? Ou será que não?
Muitas perguntas e poucas respostas, eu sei de todas, mas vocês terão de esperar os próximos capítulos para descobrir, rsrsrsrs.