Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 3
Devia Ser Como Qualquer Outro Dia – Parte II




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Já no estacionamento da escola, Harry desce do carro às pressas, correndo para se abrigar da chuva. E quando finalmente estava em segurança, um perfume familiar chega às suas narinas: doce e de rosas, o perfume de sua namorada.

― Daniele – chama.

― Como adivinhou que era eu? – Ri, revelando seu esconderijo.

― Seu perfume.

Daniele faz uma careta de confusão, cheirando suas roupas para averiguar a densidade de seu perfume, afinal, nunca fora de exagerar nele.

O casal caminha pelos corredores movimentados rumo à sala de aula, até que um de seus professores sussurra algo ao diretor. A distância entre eles era longa e local estava parcialmente barulhento, mas isso não impediu Harry de ouvir seus cochichos.

― Teremos prova surpresa de Biologia hoje – revela ele, olhando em direção ao professor.

― Se a prova é surpresa, como sabe disso?

― Eles estavam falando sobre isso, não ouviu?

― Não ouvi nada! – diz a menina de forma debochada. – Você anda ouvindo demais ultimamente, primeiro durante a prova de matemática e agora sobre a prova de biologia? Estranho...

Harry novamente dá de ombros, não dando a devida atenção à verdade oculta nas palavras de Daniele.

As aulas se iniciam normalmente e, como fora cogitado, a prova de Biologia foi aplicada. O Clearwater não sabia a matéria de qualquer forma e, por isso, preferiu observar o ambiente em vez de tentar responder algo que desconhecia.

Olhando ao redor, Harry observa algumas carteiras não ocupadas e o professor a ler uma revista sobre experiências científicas, mal se dando conta de que os alunos perto da janela estavam colando. Do lado de fora, ele podia ver uma pessoa em pé, a frente de banco de cimento, com um guarda-chuva em mãos. Mas, espere, aquele banco parecia tão distante na semana anterior, por que podia vê-lo tão facilmente agora? Ele fecha os olhos por alguns segundos e, quando os abre, ainda conseguia vê-lo com perfeição.

― Algum problema, Sr. Clearwater? A prova está difícil demais para você? – questiona o professor.

Aquilo passa pelos ouvidos de Harry como uma ofensa. Aquele professor magricela estava mesmo a dizer que ele era burro? Quem ele pensava que era, afinal? Se ele estava ali para ensinar, por que tentava acabar com seus alunos dando uma prova surpresa?

Algo se agita dentro de seu peito, uma raiva que crescia com velocidade surpreendente, fazendo seus braços tremerem visivelmente.

― Harry, você está bem? – pergunta Daniele. – Professor, ele não se sente bem, vou levá-lo a enfermaria.

― Não preciso de ajuda! – rosna de repente, batendo nas mãos da menina que só queria ajudá-lo.

Daniele o encara com semblante surpreso, afinal, ele nunca agira daquela forma antes, o que estaria o irritando tanto?

― Acho melhor eu sair, não vou conseguir fazer esta droga mesmo...

Harry entrega seu teste sem nenhuma questão respondida e sai da sala, indo rapidamente para o seu armário. Seus braços ainda tremiam muito e o suor já começava a escorrer pelo seu rosto, algo estava errado, ele podia sentir, mas não sabia o que era... Ele abre o armário, onde deposita seu livro de biologia e procura pelo da próxima matéria, porém, o livro não estava lá, e, ao constatar isso, outra onda de fúria se apodera de seu corpo, fazendo-o bater a porta do armário com violência.

A pequena porta de metal começa a se abrir novamente, mas, desta vez, sozinha. Ela estava quebrada e qual não foi o espanto de Harry ao notar que era a marca de sua mão que danificava a tranca do armário. O garoto levanta a mão direita vagarosamente, comparando e constatando que fora ele mesmo a fazer aquela marca.

― O que está acontecendo comigo? – pergunta assustado.

Harry recolhe seus pertences do armário já imprestável e corre de volta para o carro. Ele não entendia o porquê e nem do quê estava fugindo, mas algo dentro dele o mandava de volta para La Push, onde sentiu-se seguro assim que adentrou seus limites, pois aquela era a sua terra e o seu lar.

― Você anda matando muitas aulas, mocinho – retruca Leah com os braços cruzados.

― É que... – Pausa, não sabendo se deveria falar a verdade. – Prova surpresa de Biologia, fui muito mal.

Aquela poderia não ser toda a verdade, contudo, também não se transformava numa total mentira, afinal, ele não conseguira responder nada e realmente tiraria um zero.

― Estava pensando em caminhar na floresta, quer me acompanhar? Esfriar a cabeça? – sugere Leah.

― Esfriar a cabeça parece uma boa ideia para mim. – Sorri. – Vai ser legal, há muito tempo não damos um passeio juntos.

Mãe e filho caminham de mãos dadas até a floresta, enquanto conversavam sobre a escola e o namoro com Daniele. Leah e Lucian não aprovavam tal relacionamento, pois o imprinting poderia acontecer a qualquer momento... E se não fosse com ela? Com certeza mais um coração ficaria partido devido à magia do imprinting.

― Que tal uma corrida? – sugere a loba.

― Eu aceito! – Pensa por alguns instantes. – Valendo a arrumação do meu quarto, mas não vale se transformar.

― De acordo. – Sorri maliciosa. – Tenho que lembrá-lo de que sou a mais rápida de La Push?

― Talvez seja diferente na forma humana – sugere.

Ambos já estavam bem adentro na floresta, quando se posicionam e deram a largada. Eles correm paralelamente por alguns metros, sendo que Leah sequer estava se esforçando, pois seu lado competitivo queria mostrar ao filho que era a mais rápida, mesmo estando na forma humana.

― Estou apenas aquecendo – comenta ela.

― Eu também – provoca o garoto, tentando controlar a respiração e fazendo-a rir.

― Chega de papo, prepare-se para faxinar o seu quarto! – exclama Leah acelerando e disparando na frente do filho, achando fácil ganhar de um humano, com o físico lupino a seu favor.

Harry solta alguns resmungos de descontentamento e tenta forçar seu corpo a algo que ele sabia ser impossível. Entretanto, para sua ser presa, a distância entre eles estava diminuindo. Talvez as aulas de Educação Física tenham lhe rendido alguma força adicional nas pernas, afinal...

Ele alcançava a mãe depois de longos metros e, ao que parecia, poderia passá-la e livrar-se da tal faxina. E com mais um pouco de esforço Harry a ultrapassa, deixando a loba boquiaberta para trás.

Alguns lobos se juntam a eles durante a corrida, na expectativa de vê-lo ganhar, e, ao que tudo indicava, tratavam-se de Seth e Quil, que faziam a patrulha naquela tarde. O grupo perde a noção do tempo, não sabendo ao certo a quanto tempo permaneceram naquela brincadeira, nem tampouco em que parte da floresta estavam.

Leah já estava ofegante, seu corpo era potente devido ao seu lado mítico e, se estava ficando cansada, significava que estavam a correr por tempo demais. Ela olha ao redor tentando se localizar e quando se dá conta de onde estavam, para subitamente.

― Harry, o rio! – grita.

O garoto ouve o alerta, mas já era tarde demais para frear. A floresta termina diante de seus olhos rapidamente, revelando o riacho que separava as terras quileutes do território Cullen. Seu corpo parecia se mover sozinho quando, em sua última pisada, bem perto da margem, ele saltou para o outro lado de uma forma incrível.

Leah pôde apenas acompanhar o corpo de Harry voar e pousar de mau jeito na outra margem, fazendo-o rolar por alguns metros. Quil e Seth estavam embasbacados e, com certeza, passariam todo o acontecido para Sam, mais tarde.

― Filho, você está bem?

― Mãe! – chama do outro lado, levantando-se em desespero e ofegante. – O que está acontecendo comigo?

― Fique calmo, Harry, Seth irá buscá-lo...

― Por que estou te ouvindo tão bem a essa distância? Mãe, o que está acontecendo?

A quileute leva as mãos à boca, tentando conter o nó que se formava em sua garganta. Ver a angústia, o medo e o desespero no rosto de seu pequeno filhote era algo que ela torcia para nunca presenciar, e era exatamente o que ela via naquele instante. Seu peito se apertava a cada palavra confusa que ele lhe pronunciava, e, com a voz embargada, lhe revela:

― Você está se transformando, Harry.

Aquela frase atinge o mestiço como um punhal. Tudo o que ele menos queria, tudo o que tentou esconder e até mesmo esquecer, estava emergindo e se manifestando através de seu corpo. Ele estava se transformando e não podia fazer nada quanto a isso.

Harry aceita a ajuda do tio para voltar ao outro lado e retorna para casa em silêncio, deixando Leah ainda mais arrasada. Ela pensa em dizer algo em diversos momentos, mas desiste, achando melhor deixá-lo sozinho.

― Vou me deitar mais cedo – comenta ele num sussurro, dirigindo-se rapidamente para o seu quarto e trancando a porta. – Isso não está acontecendo, é mentira, não posso estar me transformando – repetia para si mesmo, confuso e aflito.

A noite cai lentamente enquanto Harry tentava organizar a bagunça em sua cabeça. Ele se aconchega em sua cama e fecha os olhos, pois tudo o que lhe restava a fazer era dormir e torcer para que tudo não passasse de um sonho.


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Notas finais do capítulo

Tcharam!! E ai, o que acham, será que tudo isso foi mesmo um sonho? Ou Harry terá mesmo de enfrentar o fato que esta se transformando?
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Próximo capitulo: Genes Quileutes