Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 2
Devia Ser Como Qualquer Outro Dia – Parte I




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Leah retorna para casa animada, estava quase na hora de seu filho retornar da escola e teria de preparar algo para o garoto comer. Cozinhar nunca fora um de seus maiores dotes, mas, depois que virou mãe, teve de aprender a fazer uma coisa ou outra para não matar o menino de fome...

A quileute entra na casa e estranha a mochila lançada sobre o sofá, por que Harry já estava em casa? Ela se dirige até a cozinha, surpreendendo-se com a pequena bagunça feita ali e, sem pensar muito, dirige-se para o quarto do filho, que ainda dormia profundamente.

― Harry – chama, acariciando-lhe a cabeça –, por que voltou cedo? Aconteceu algo?

― Não, mãe – resmunga ainda sonolento. – Não aconteceu nada, fiquei apenas com dor de cabeça depois da prova e decidi voltar.

― E aquela sujeira na cozinha? – pergunta desconfiada.

― Estava com muita fome e fiz um lanche.

― Está bem, continue a dormir!

Leah retorna para a cozinha com seus instintos dizendo-lhe que havia algo acontecendo. A sujeira na mesa indicava que muita coisa fora utilizada naquele lanche, o saquinho rasgado sobre a pia denunciava que dois litros de suco foram feitos, mas o jarro vazio mostrava que não restara nada dele... Harry ainda era um humano, não poderia comer tanto e nem beber dois litros de suco sozinho, numa única refeição. Aquilo só poderia indicar uma coisa!

― Céus, ele está se transformando. – Passa as mãos pelos cabelos.

Uma leve onda de tensão se apodera de seu corpo ao lembrar-se do que teria de fazer para que a mudança fosse concluída: provocá-lo. Essa era a única forma que conhecia para induzir uma transformação e, se não o fizesse, a mudança correria o risco de acontecer fora de La Push, onde, com certeza, as pessoas não estariam preparadas para ver aquele tipo de animal.

Ela não podia ficar ali, parada, e nem sequer conseguia tal feito, precisava correr e contatar Lucian o quanto antes, para que juntos pudessem resolver o que fazer. A quileute corre ao encontro do marido e, quando o encontra, puxa-o pelo braço até um lugar mais reservado.

― Visita surpresa! – Sorri. – Precisa de algo?

― Preciso de uma solução – desabafa sem muita alegria. – Harry está se transformando.

― Como sabe disso?

― Ele voltou da escola mais cedo, comeu bem mais do que de costume... E quando eu digo "bem mais", quero dizer "muito, muito mais". Eu sabia que esse dia chegaria, mas agora estou com medo!

― Os Filhos da Lua só se transformam quando a lua cheia aparece, não há nenhum tipo de sinal antes disso... Então, são os genes quileutes que o estão transformando. – Pensa. – Nosso filho é um metamorfo, isso é incrível. – Pensa mais um pouco. – Como os quileutes lidam com isso?

― Sempre que um garoto demonstrava ser um de nós, Sam o provocava até que sua forma lupina se manifestasse, para que o novato pudesse ser ensinado e a transformação não viesse a ocorrer em um local público – confessa com pesar.

― Não me parece tão difícil, por que está com medo?

― Cada garoto tinha uma reação diferente depois de transformado, uns adoravam a novidade, mas outros odiaram Sam durante muito tempo, culpando-o por tê-los transformado... Harry não quer se transformar.

― Eu faço isso – sussurra Lucian a abraçando, entendendo perfeitamente o que ela queria dizer.

― E se ele...

― Eu corro esse risco! – A interrompe. – Prefiro que ele odeie a mim, do que a você.

― Lucian, não é só isso que me perturba...

― O que é então?

― A transformação foi horrível pra mim, me traumatizou. – Pausa, colocando os pensamentos em ordem para que suas palavras fizessem sentido. – Tenho medo de que aconteça o mesmo com ele, de que Harry se machuque de alguma forma e fique como eu fiquei...

― Tente ser otimista, vai dar tudo certo!

Leah queria acreditar que tudo daria certo, mas seus instintos ainda lhe diziam que havia algo errado e que nada sairia como ela esperava. O casal se despede rapidamente e a quileute retorna para casa, onde encontra o filho já acordado.

Harry estava esparramado sobre o sofá, assistindo a um programa qualquer na televisão e mastigando o último cookie que encontrará na cozinha. A quileute se aproxima e beija o topo da cabeça do filho com carinho, percebendo rapidamente que a sua temperatura corpórea já estava a aumentar, era só uma questão de tempo até que as alterações de humor começassem a marcar presença.

― Aconteceu alguma coisa? – pergunta preocupado, percebendo o estranho semblante da mãe. – O papai está bem?

― Sim, ele está bem. – Força um sorriso. – E você, como se sente?

― Bem melhor, mas não fuja do assunto, dona Leah, o que aconteceu? Vovó está bem? Tio Seth? Tia Hana?

― Todos estão bem, Harry, deixe de ser tão paranoico.

― Sei...

― Seu desconfiado. Vamos, me dê um abraço. – Pede, abrindo os braços.

Harry atende ao pedido e fica de joelhos no sofá, envolvendo a cintura da mãe e sentindo-a abraçá-lo com força. Ele corresponde na mesma intensidade e logo sente o corpo da mulher relaxar. Era a primeira vez que conseguia decifrar as mudanças de humor dela tão facilmente, e, por um momento, ele se perguntou se aquilo queria dizer algo importante...

As horas passam lentamente, Leah retoma seus afazeres, enquanto Harry se divertia em frente à televisão. E quando Lucian retorna para casa, bagunça os cabelos do filho como sempre fazia, podendo sentir perfeitamente a mudança de temperatura.

― Soube que voltou mais cedo, como se sente?

― Dona Leah te contou, é? – debocha. – Relaxem, os dois, foi só uma dor de cabeça, não é como se estivesse morrendo...

O cherokee sorri com a inocência do garoto e caminha para a cozinha, onde começa a ajudar Leah na preparação do jantar.

― Está mesmo acontecendo – confirma ele, num tom quase inaudível.

― Eu lhe disse. Os sinais são muito óbvios, só estou pasma com a velocidade com que apareceram, ontem ele era apenas um humano e hoje já é um quase lobo – reponde no mesmo tom de voz.

― Harry é mestiço, talvez isso o influencie de alguma forma. Será que ele terá algum dom especial? – pergunta, tentando descontrair a esposa.

― Não sei, por que pergunta?

― Ele já é um metamorfo, pelo menos alguma coisa ele tem que puxar de mim.

Leah gargalha com a ansiedade do cherokee. Se ele queria acabar com sua tensão, certamente estava conseguindo. O casal conversa por mais alguns minutos, até que Harry adentra o cômodo, os interrompendo.

― Sinto um cheirinho bom, o jantar já está pronto?

― Coloquei no fogo há dez minutos – diz Leah, estranhando a pergunta do filho.

― Ow! – Faz uma leve careta. – Isso quer dizer que vai demorar?

― Um pouco...

Harry dá de ombros e retorna para a televisão, enquanto Leah e Lucian se entreolham com cumplicidade, o garoto estava desenvolvendo um olfato apurado e nem se dera conta da mudança.

Na manhã seguinte, foi a vez do cherokee estranhar o comportamento do filho, que andava pela casa sem camisa, mesmo com o tempo frio e a chuva do lado de fora. Ele sabia que era uma reação comum à temperatura febril, mas tinha de admitir, era realmente estranho vê-lo agir de forma diferente duma hora para outra.

― Vista uma camisa ou vai se resfriar – retruca.

― Acho que você está ficando velho, pai, só sabe reclamar.

― Se comparar ao dia em que conheci sua mãe, sim, eu fiquei mais velho – revela, fazendo o garoto prestar mais atenção à conversa.

― O que quer dizer com isso? Você não envelhece, é um lobisomem...

― Sim, eu sou... Foi apenas maneira de dizer – desconversa.

Lucian nunca revelara ao filho sobre suas deficiências lupinas, pois, quando pequeno, Harry desejou, do fundo de seu coração infantil, ser igual ao pai quando crescesse. Depois disso, o cherokee passou a ter medo de tornar-se a decepção do garoto, não conseguindo encontrar uma forma de conta-lhe que ele não era tão perfeito assim, pelo contrário, que ele era um lobisomem defeituoso.

Sua deficiência o impedia de localizar vampiros e, por acreditar que estava sempre seguro, seu organismo passou a envelhecer depois de certo tempo. Leah ainda permanecia com sua aparência jovial de vinte anos, mas Lucian já aparentava seus trinta e poucos anos de idade.

Harry veste uma camisa de mangas curtas, coloca sua mochila nas costas, apanha as chaves do carro e se despede, saindo sob a chuva para mais um dia de aula, sequer dando-se conta de que aquele dia não lhe seria tão agradável.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... Aproveitem enquanto as "surpresas" não começaram ainda, rs, a escritora má logo entrará em ação para abalar as estruturas da vida de Harry Clearwater [*---*]
Próximo capitulo: Devia Ser Como Qualquer Outro Dia Parte II