O Sol marcava o meio-dia quando Harry despertou de seu sono pesado, o dia estava muito bom e uma fragrância gostosa invadia suas narinas, lembrando-o do que lhe acontecera nas últimas horas. Elena ressonava tranquilamente ao seu lado e gotículas de suor escorriam pela lateral de seu rosto, que estava recostado em seu peito, demonstrando que ele a aquecera demais.

Ele se mexe lentamente tentando aconchegá-la em seu travesseiro, mas ela logo desperta, abrindo um imenso sorriso ao ver o rosto sereno de Harry. Consequentemente, ele também sorri, Elena era linda e qualquer movimento vindo dela fazia seu coração disparar enlouquecidamente.

Harry aproximasse de seu ouvido e ela instintivamente fecha os olhos, as três palavrinhas mais encantadoras do mundo foram ditas pela sua voz grave, fazendo o corpo da humana amortecer.

― Eu também te amo! – sussurra ela em resposta.

― Nosso café já está na mesa – comenta ele, notando o barulho vindo da cozinha.

Ambos saem da cama simultaneamente. Harry troca seus farrapos por roupas de verdade e, enquanto fazia sua higiene matinal, percebe que Elena não se sentia a vontade. Ela até tinha uma escova de dentes novinha à sua disposição, mas, era só isso, a humana não tinha mais nada e deveria começar do zero.

Harry corre em direção à cozinha puxando-a consigo, tentando afastar os pensamentos estranhos que ele sabia que estavam em sua cabeça.

― Bom dia! – cumprimenta Harry, sorridente.

― Bom dia – repete Elena sem jeito.

― Oi, Elena – cumprimenta o cherokee.

― Vamos deixar algumas coisas bem claras por aqui – dispara Leah, preferindo ser objetiva à falsa. – Não estou contente, você nos traiu e estou com muita vontade de fatiá-la nesse momento – esclarece, apontando a faca coberta de manteiga para ela. – Se quiser minha confiança de volta, vai ter que trabalhar duro... Ou fazer algo que realmente me surpreenda – completa baixinho. – Enfim... Bom dia, Elena!

Harry estava boquiaberto e Elena, pálida. É claro que ela esperava uma resistência por parte da família Clearwater, mas não uma explosão tão repentina. A campainha toca de repente, impedindo que qualquer outra palavra pudesse ser dita e Leah caminha firmemente em direção a ela, abrindo-a e revelando a pele avermelhada e o largo sorriso de seu velho amigo:

― Jake!!! – grita de repente, pulando para um abraço. – Quando retornou? Por que não disse que viria?

― Oi, Leah, você realmente não parece mais a rabugenta de anos atrás. – Ri, desfazendo o abraço. – Eu retornei nessa madrugada, com Nessie, Bella e Edward... Apesar de você ter cancelado a vinda de Carlisle, eles quiseram rever os amigos e visitar Charlie!

― E a que devo a honra de sua visita em minha casa? – pergunta, sinalizando com a mão para que entrasse. – Você nunca teve o hábito de visitar a casa dos Clearwater, seriam saudades? – brinca.

― Queria poder lhe dizer que é apenas saudade, mas vim para tratar de outro assunto – comenta, sentando-se no sofá. – Poderia vir para cá, Lucian? – pede num sussurro.

O cherokee se levanta da mesa e, em questão de segundos, se senta ao lado da esposa, com semblante sério, pois já sabia do que a conversa se tratava. Harry permanecia na cozinha, fazendo companhia à Elena e ingerindo sua quinta torrada, mas não deixando de prestar atenção ao que ocorria no outro cômodo.

― Estive conversando com o bando a manhã inteira, soube de todas as novidades da reserva e vi as lembranças de todos eles... Por que esconderam a transformação do garoto de mim? – pergunta, indo direto ao ponto.

― Isso não diz respeito a você, Jake. – explica Lucian rispidamente. – É a minha família, não a sua...

Leah não entendia o motivo da rispidez, mas desconfiava que Lucian sabia muito bem o que se passava nos pensamentos de Jacob. O cherokee podia ler com perfeição a raiva que o consumia por dentro, bastando apenas um passo em falso para que a bomba de sua fúria explodisse ali mesmo, naquela sala.

― E quanto aos caçadores, isso também não é um problema meu? – pergunta mais sério, assumindo a mesma postura de rispidez de Lucian. – Eles conhecem nossas terras, sabem o caminho até nossas casas... – narra, aumentando o tom de voz. – E tudo isso aconteceu por causa daquele garoto... Ainda acham que não é problema meu?

― Em primeiro lugar, Jacob Black, abaixe seu tom de voz dentro da minha casa! – explode Leah, cujo humor já não era dos melhores naquela manhã. – Em segundo lugar, este garoto a quem se refere tem nome e se chama Harry! E por último, esse assunto já foi resolvido, Jacob, a menina está conosco agora.

― Está maluca? – grita inconformado. – Como pôde trazer uma caçadora para cá?

― Jacob...

― E se ela estiver os enganando? E se ela atrair os outros para cá? Um dia iremos acordar e dar de cara com o cano de uma arma? Não a quero aqui, ela coloca a reserva em risco!

― As coisas mudaram! – Leah tenta explicar.

― Eles mataram seu bebê, Leah – grita descontrolado. – Como pode abrigar a assassina de seu filho?

― Cale-se, Jake, pare de dizer asneiras. Elena não teve culpa do que aconteceu ao nosso bebê, ela é imprinting de Harry e não sairá dessa casa a não ser que nós queiramos!!! – grita Lucian, acabando de imediato com a histeria do quileute.

Os barulhos de talheres cessam de repente, pois, a partir daquele momento, Elena sabia muito bem sobre o que conversavam. Harry segura a mão sua mão com carinho e a encaminha para a sala, afinal, se estavam a falar deles, queria, pelo menos, ter a chance de se defender.

Enquanto isso, Doritos latia freneticamente devido ao surto do visitante, porque, apesar de irracional, o cachorro sabia que a situação não era boa e que ele não era bem-vindo naquele momento.

― Você é o Harry? – pergunta Jacob assim que o vê, já sentindo os ouvidos se irritarem com o animal a latir.

― Sim, sou eu – responde de maneira firme.

― E essa deve ser a caçadora, a maldição que recaiu sobre o meu bando por sua causa – ataca.

― Isso não foi uma pergunta, então não preciso lhe responder... Mas exijo que modere suas palavras ao se referir a Elena, ou encurtarei sua língua para impedi-lo de dizer besteiras.

― Harry, esta não é uma boa hora para ser protetor – alerta Lucian. – Saia, Jacob, você está de cabeça quente, soube de muitos acontecimentos ao mesmo tempo e, se pensar melhor, verá que eles não representam perigo nenhum à reserva.

― Como assim "eles"? – questiona Leah. – Você está achando que meu filho é uma ameaça?

― Soube de algumas coisas sobre ele e isso me deixou preocupado. Ele é diferente, pode perder o controle e machucar alguém... Alguém faça esse maldito cachorro se calar? – esbraveja subitamente, já não aguentando tantos latidos.

Harry estala os dedos, chamando a atenção do animal e, com uma piscadela, seus olhos mudam de cor. Bastou apenas uma ordem para que o cachorro permanecesse quieto durante toda a conversa e apenas um minuto para que Jacob visse de perto tudo o que haviam lhe contado.

O mestiço se aproxima do lobo quileute e segura sua camisa pelo colarinho, com força, pois sentia sua fera gritando dentro de si, clamando para que ele colocasse aquele lobo medíocre em seu devido lugar.

― Não fale de mim como se não estivesse aqui, se o assunto sou eu, olhe nos meus olhos e diga-me o que tem contra mim!

Jacob encara a íris dourada do lobisomem e bufa com sua petulância. Com quem ele achava que estava falando afinal? O quileute era maior que seu oponente, mas, ainda assim sentiu-se ameaçado por ele, como se aquele projétil de lobisomem realmente pudesse enfrentá-lo de igual para igual.

― Não gostei das novidades que recebi a seu respeito: lobo e lobisomem, dom especial, uma caçadora como parceira. Você é um perigo para o nosso povo, um ser como você não pode ficar perto de humanos...

― Já chega, Jacob, se não veio para rever seus velhos amigos, então retire-se da minha casa! Não preciso de ninguém para acusar ou ofender minha família.

― Leah, não sabemos do que ele é capaz, é como uma bomba relógio – justifica.

― Igual à sua híbrida – rebate Lucian, pronunciando em palavras os pensamentos de Leah. – Nessie também é uma mestiça, tudo nela é imprevisível e não vejo ninguém contra ela.

― Quero que você vá embora! – ordena à Harry, que ainda o segurava pela camisa.

― O quê? – grita Leah, não acreditando no descaramento com que o amigo lhe dizia tal coisa.

― Eu sou o alfa quileute, eu dou as cartas por aqui e não você, Leah. – Volta o rosto para o mestiço. – Apanhe suas coisas e suma desta reserva, Harry.

― Acho apenas que você está se esquecendo de uma coisa, Jacob – sussurra Harry com ar despreocupado. – Tenho sangue quileute correndo nas veias, essa também é minha terra. E meu sangue cherokee faz de mim o meu próprio alfa... Em outras palavras, não preciso obedecê-lo! – afirma, soltando a camisa do lobo e abraçando a humana que os observava, calada.

Há muito tempo Jake não lidava com um lobo tão insolente e teimoso, Harry era de longe e de perto como os pais, e isso estava custando sua paciência. As feições tranquilas do mestiço e a maneira como ele abraçava a caçadora o deixava ainda mais furioso, como se o estivesse provocando.

Jake sabia que o garoto tinha sangue de alfa, mas de onde vinha tanta força de vontade para afrontá-lo daquela forma? Por que ele próprio se sentia estranho e acuado diante da decisão do mestiço? Nem mesmo Lucian ou Leah sabiam responder àquelas perguntas. Se fosse com qualquer outro lobo, com certeza já os teria expulsado de Lá Push, mas, com Harry, cada passo era um avanço no desconhecido.

Vendo que nada mais seria dito naquela infeliz visita, Leah caminha até a porta e a abre, convidando indiretamente o amigo a se retirar. E assim ele o faz... Não era intenção de Jacob ser chato ou maldoso, o fato dos caçadores saberem o caminho até La Push realmente o irritou, mas o que mais o preocupava, era o lobo mestiço e o perigo que achava que ele representava.