Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 26
Lua Cheia




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Elena passa por Lyssa sem se deixar apanhar, não querendo ficar mais nem um minuto ali, correndo o risco de ser ferida. Ela corria de maneira estranha, manquejando com a perna direita, enquanto sua mão apertava a coxa ferida como se pudesse fazê-la parar de doer.

― O que você pensa que está fazendo com a minha filha? – grita Lyssa furiosa, ao se aproximar do marido.

― Ela não é mais minha filha! – declara Carlos, caminhando em direção à casa.

― Mas é a minha!

Carlos entra na residência sem responder. Lyssa olha ao redor, envergonhada, já sentindo a tristeza apertar-lhe a garganta e sair por seus olhos em forma de lágrimas, visto que todos os vizinhos pareciam espiá-los de suas janelas, chocados com os tiros que ouviram. Um barulho abafado a fez voltar sua atenção ao marido, que jogava os pertences de Elena da sacada, onde outrora era o seu quarto.

― O que está fazendo, Carlos? – pergunta com voz chorosa.

― Expulsando aquela menina da minha casa! – Joga os cobertores e o travesseiro pela sacada, deixando-os cair sobre a grama fria. – Não quero rastro daquela traidora aqui!

― Pare, por favor, são as coisas de Elena! – implora Lyssa, chorando e correndo para apanhar os pertences do chão.

Roupas começam a voar sacada afora, de forma violenta e furiosa, fazendo a mulher chorar ainda mais e apertar os tecidos contra o seu peito. Lyssa nunca se arrependera de se casar com Carlos, pois, apesar de ter sido forçada, aquela união havia lhe dado Elena, a sua filha, sua eterna princesinha, que estava sendo arrancada de sua vida sem a sua permissão.

Um pouco longe dali, a desgarrada da família Noolan corria sem trégua, porque apesar da dor latejante, a adrenalina em seu corpo lhe dava forças para continuar. Assim que avista a entrada da floresta, Elena se dirige a ela, pois uma única pessoa preenchia seus pensamentos naquele instante e ela precisava encontrá-lo: Harry.

Horas e mais horas de caminhada se passam, e com elas, as energias de Elena. Ela não sabia que horas eram ou para que direção estava seguindo, suas pernas doíam imensamente e, depois de uma pequena parada para recuperar o fôlego, seu corpo amoleceu e foi ao chão.

Elena estava cansada e com medo, pois, se não estivesse na direção certa para a reserva, provavelmente algum animal selvagem sentiria o cheiro de seu sangue e a atacaria. Sua pobre mente logo para de processar as informações ao seu redor, desligando-se devido ao cansaço e deixando-a inconsciente por algumas horas, ali mesmo, na terra fria da floresta, despertando somente a noite.

― Essa não, já é noite! – surpreende-se ela. – Como vou achá-lo agora? Não enxergo um palmo à frente de meu nariz...

Elena força a vista, tentando saber de onde tinha vindo e para onde deveria seguir, mas tudo que conseguia ver era o negro da noite. A floresta era assustadora ao anoitecer, seu corpo tremia com o frio que caíra bruscamente sobre a região e seus ouvidos captavam ruídos estranhos ao seu redor, aumentando o seu pavor.

Feixes de luz despontam em meio às árvores, finalmente a ajudando enxergar algo além de escuridão. Elena eleva seus olhos ao céu e fica deslumbrada com a enorme esfera branca que lá cintilava, linda, perfeita e imponente. As nuvens eram poucas e, por isso, sua luz abriria sua visão em meio à densa floresta.

Um ar quente sopra em direção à sua perna ferida e em seguida em seus cabelos, fazendo seu contato visual com a lua cessar. As árvores não estavam a balançar, então por que sentia o vento em seus cabelos? E numa temperatura tão quente?

A humana se vira lentamente, arregalando os olhos com o enorme focinho a centímetros de seu próprio nariz.

― Lobisomem – sussurra apavorada.

Elena, ainda sentada, gira seu corpo lentamente para ficar frente a frente com o lupino, e rasteja para trás. Sua perna estava péssima e, com o frio, mal conseguia senti-la, mas o medo estar cara a cara com um lobisomem era ainda pior.

― Harry, por favor, me diga que é você!

A fera cor de areia levanta os lábios num rosnado, fazendo com que Seth entrasse em sua frente para lhe chamar a atenção. Era Hana quem estava ali, mas, estranhamente, a lobisomem não queria desviar o olhar da garota humana.

O cheiro de seu sangue a atraia, como fazia com qualquer outro ser selvagem. Seus instintos de predadora estavam sendo atiçados e nem mesmo Seth conseguia fazê-la sair dali... A lupina afasta o lobo tentando um arranhão e, no momento em que decide atacar, é jogada longe pelo mestiço, que também fora atraído pelo cheiro de sangue.

A lobisomem se levanta rapidamente para um ataque, mas desiste após um momento de oscilação... O peito estufado e a postura de líder que o lobisomem cinzento carregava, demonstravam claramente seu poder de alfa e nem mesmo a fera irracional da cherokee se atreveria a lutar com ele.

― Sim, você é o Harry – conclui Elena, lembrando-se do momento em que o vira transformado. – Cinza e com manchinhas pretas, é você mesmo!

O lupino vira-se para encará-la rapidamente, como se entendesse cada palavra sua, porém, aquele não era o Harry racional e ele não a compreendia de fato. Seth se retira atrás de Hana, contatando Leah mentalmente para fosse ao socorro da garota, pois não sabia o que poderia acontecer a ela.

A fera de Harry se aproxima lentamente, farejando o cheiro de seu sangue. Ele, frágil e ferida, era como um coelho aos seus olhos, e, sem pestanejar, ele assume sua posição de ataque.

― Harry, sou eu, você me conhece. – Houve um rosnado. – Por favor, lembre-se de mim, você tem que lembrar! – implora, tremendo de medo e frio.

Seus dentes ferozes e pontiagudos a assustavam grandemente, o rosnado que ecoava de sua garganta fazia sua pele se arrepiar, Elena podia sentir mais uma vez como se a morte passeasse ao seu redor, não achando aquilo legal. E foi em meio as suas súplicas, que ele a atacou.

― Harry, não!!! – grita Elena, cobrindo o próprio rosto com as mãos e esperando que as presas de seu caçador a perfurassem e lhe retirassem a vida.

Então houve o silêncio!

Nenhum grito, nenhum uivo, nenhuma dor, nada... Elena afasta as mãos do rosto lentamente, sentindo a lufada de ar em sua face. Ela abre os olhos e o contato visual com o lobisomem é imediato.

Suas garras afiadas estavam afundadas na terra ao lado do corpo de Elena, pois, no último segundo, ele as desviara de sua cabeça. As pernas, também uma de cada lado do corpo feminino, içavam o imenso lupino por cima dela, enquanto ele a encarava de maneira interrogativa, como se a reconhecesse e a quisesse ignorar ao mesmo tempo. Harry sempre esteve muito confuso com relação a ela e seus sentimentos deixavam sua fera desorientada.

E como se os céus conspirassem em favor daquele encontro, um vento frio começa a soprar, fazendo a lua se esconder timidamente atrás de algumas nuvens, dando ao mestiço a oportunidade de voltar à forma humana.

O corpo estupidamente grande começa a desaparecer diante dos olhos de Elena, sendo levado pelo vento em forma de poeira e deixando Harry em seu lugar, visivelmente fatigado e com sono. As pernas masculinas cedem, permitindo que seu corpo seminu desabasse sobre o dela, fazendo-o finalmente perceber sua presença.

― Harry – sussurra Elena, antes dele levantar o olhar.

― Você... – responde no mesmo tom, sentindo a dor deformar seu semblante. – Por que está aqui? Por quê?

― Eu queria te ver, eu preciso de você. – confessa, tocando o rosto do mestiço com a ponta dos dedos.

― Mentira, mentira, mentira! – rebate. – O que mais quer de mim? Quanto mais quer me fazer sofrer? Você foi clara ao dizer que me rejeita.

Não era aquilo que ele queria dizer, já que cada parte de si ansiava por aquele contato e seus lábios queriam provar os dela novamente, mas aquelas perguntas estavam entaladas em sua garganta há tanto tempo, que Harry não conseguiu impedi-las de sair.

― Eu errei! Tudo que fiz foi errado, tudo o que disse foi errado...

― Você...

― Eu gosto de você! – O interrompe. – Não importa o quanto eu tente não gostar de você, ou quanto faço pra te esquecer, meus esforços são em vão e chego ao ponto de me zangar com isso! Eu te amo e não quero mais tentar ludibriar meu coração...

― E você acha que pode chegar aqui e desfazer tudo? Desmentir tudo como se nada tivesse acontecido? Acha mesmo que fazendo isso eu vá voltar para você como um cachorro que procura pelo dono? – grita furioso.

Elena aperta os olhos, deixando escapar algumas lágrimas. Em sua mente borbulhavam pensamentos dolorosos de que ele não a queria mais, de que a magia teria se rompido ou algo assim. E, para Harry, cada lágrima daquela era um novo corte que se fazia em seu coração.

― Você acha isso mesmo? – pergunta novamente, um pouco mais calmo. - Pois se acha... Esta totalmente certa! Eu sempre voltarei como um cachorrinho, porque eu sou o seu cachorrinho... Ou melhor, lobo...

Antes que ela pudesse pronunciar qualquer coisa, ele a beija, num toque de lábios urgente e cheio de saudade. Há quanto tempo ele não sentia o doce sabor de sua boca? Seu corpo inteiro parecia reagir quanto a isso e Elena não ficava para trás, pois o contato quente de Harry fazia todo o frio ir embora, seu cheiro parecia um calmante natural e suas mãos logo deslizam pelo pescoço do lobo, em busca de seus cabelos, para impedi-lo de parar.

Harry interrompe o beijo para retomar o fôlego e morde o lábio inferior de Elena, fazendo-a sorrir. Ele podia sentir a alegria o inundando novamente e também podia ouvir o coração acelerado de sua parceira, que transbordava com a mesma alegria.

Uma pontada acerta o seu peito subitamente, fazendo um urro dolorido escapar de sua boca, deixando-a preocupada.

― O que aconteceu, fiz algo de errado?

― Xiiiii – chia pedindo silêncio, roçando os lábios nos dela. – Não fez nada de errado, é apenas o meu bichinho que está querendo dar uma volta. – Solta outro gemido dolorido. - Me promete uma coisa?

― Qualquer coisa!

― Promete ficar comigo para sempre?

― Prometo! Sem pedir nada em troca, eu prometo. Mil vezes eu prometo.

― Bom. – Sorri. – Isso é bom... Quero que feche os olhos, porque isso não é uma coisa muito bonita de se ver.

Elena assente com a cabeça e fecha os olhos, permitindo que Harry se levantasse para mais uma transformação. Ele vê a perna ferida de sua companheira, perguntando-se o que haviam feito com ela, quando outro pulsar atinge o seu peito, como se sua fera tentasse rasgá-lo de dentro pra fora. Harry olha para o céu, admirando a beleza da lua e sendo banhado por sua luz. Seu corpo cresce de maneira monstruosa, os pelos logo se tornam evidentes e o focinho se alongava em sua face, aprisionando sua consciência na parte mais funda de sua mente.

A caçadora não ousava abrir os olhos, por mais que o silêncio já tivesse predominado. Ela sabia que o lobisomem estava ali, e, mesmo sabendo que aquele era o seu Harry, a fera ainda a assustava. Ele a amava, suas duas partes a amavam, mas ela amava somente a parte humana e sabia que, para fazê-lo feliz, teria que amar sua outra metade.

Lentamente seus olhos se abrem, encontrando o lobisomem cinzento em pé, estático, observando-a de maneira diferente da anterior. Nada mais o confundia, ele a reconhecia como sua companheira e a venerava com a mesma intensidade com que Lucian venerava Leah.


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Notas finais do capítulo

Demorou mais ficou pronto, dificil escrever esse... Espero que tenham gostadoo ^^
.
Mais uma promoção da fanfic: a autora do melhor comentário neste capítulo terá seu nome dado a uma personagem *-* (só não vou revelar qual é, rs).
—- Esta promoção ficará valida até dia 14, os comentários postados depois deste dia não serão avaliados.
—- Entrarão na disputa SOMENTE os comentários deste capitulo, então caprichem e boa sorte!! :D