Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 20
Eu te Odeio, Harry Clearwater




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Harry ainda era inexperiente e já estava se habituando com seus descontroles de vez em quando, mas, por que tinha que acontecer justo agora? Elena sussurra algo para o motorista e o ônibus logo começa a se mover, ele pensa em segui-la, porém, a última imagem que tivera dela o paralisara completamente: lágrimas rolando de seus olhos e uma expressão de decepção, de uma completa decepção em seu belo rosto...

O resto daquela noite pareceu se arrastar de maneira dolorosa, ele a havia feito chorar e seu lobo interior não conseguia se perdoar. Harry apanha seu carro na casa da aniversariante, evitando ser visto por qualquer um de seus amigos e afunda o pé no acelerador de volta para casa. Entretanto, no meio do trajeto, a lua reapareceu no céu, cintilando belamente e o obrigando a descer do veículo para se transformar.

Quando finalmente estava aceitando ser um lobo e um lobisomem, que estava feliz com todas as coisas que lhe aconteciam, as forças da natureza pareciam ter se juntado contra ele. Por que com ela? Por que justo com Elena? Ela havia se tornado o seu ar, a sua vida, o motivo de acordar todas as manhãs e, agora, o mestiço sentia que a estava perdendo.

Harry, finalmente apareceu, por onde andou?— pensa Leah ao ver o lobisomem cinzento.

A fera se aproxima da loba quileute e do lupino negro, com orelhas baixas, e se lança ao chão, choramingando como um filhote perdido. Leah não sabia o que se passava com ele, mas o lobisomem negro pareceu entendê-lo muito bem, mesmo em sua irracionalidade, levantando o focinho e uivando para a lua com uma tonalidade triste e melancólica, fazendo a fera cinzenta se levantar e repetir o seu gesto.

Já de manhã, apesar de cansado e sonolento pela longa noite de transformações, Harry decide ir à escola, pois necessitava ardentemente conversar com Elena. Ele apanha algumas roupas em casa e sai antes que os pais descobrissem seu objetivo e tentassem pará-lo, correndo até o seu carro, seja lá onde estivesse.

O tempo agora parecia ser o seu inimigo, visto que o carro estava distante e as aulas provavelmente já teriam começado quando conseguisse alcançar o veículo. Contudo, quando o alcança e gira a chave na ignição, o lobo corre em direção à escola torcendo para que nenhum policial o parasse pelo excesso de velocidade, estacionando o carro de qualquer maneira assim que alcança o seu objetivo.

― Não precisa me procurar, eu estou aqui! – diz Elena com voz firme, impedindo-o de sair dali.

Harry corre em sua direção ansiando abraçá-la, mas ela recua alguns passos, fugindo de seus braços, deixando a sensação de distância aumentar no peito do mestiço. O que estaria acontecendo?

― O que você é? – pergunta num sussurro, não demonstrando nada além de seriedade.

― Eu posso explicar, só...

― O que você é? – insisti num tom mais alto.

― Não é muito fácil de acreditar.

― Responda! – grita com um pouco de raiva.

― Um lobisomem, eu sou um lobisomem.

Elena leva as mãos à cabeça, soltando um grito angustiado e deixando que sua raiva se esvaísse como uma cachoeira de seus olhos. De todas as respostas possíveis e imagináveis, aquela era a única que ela não desejava ouvir.

― Elena, por favor, me ouça! – pede angustiado.

― Por que não me contou antes? Por que me escondeu?

― Não é algo fácil de contar para um humano – defende-se.

― Mas você não tem a tatuagem! – Chora. – Você não tem a maldita tatuagem da matilha!

― Eu não pertenço àquele bando, meu pai é um alfa e minha família formou sua própria matilha – Pausa, finalmente percebendo a situação. – Como sabia que a matilha era caracterizada pela tatuagem?

Elena respira fundo, tentando conter os soluços e enxugando o rosto já encharcado pelas lágrimas, ela descobrira seu segredo e agora, teria de revelar o seu próprio.

― Eu sou uma caçadora, Harry.

― Você já me contou – sussurra em resposta.

― Eu sou uma caçadora de lobisomens! – Choque. – Meu pai vem de uma família de alta linhagem de caçadores, minha mãe de um nível mais abaixo, mas também de caçadores, e eu... Nasci para caçar lobisomens.

― Elena, do que está falando, que brincadeira de mau gosto é essa? Por favor, pare, isso não tem graça! – diz incrédulo.

― Sabe por que meu pai quer que eu seja como minhas primas, Harry? – desata a falar, sem esperar realmente pela resposta. – Porque elas são excelentes caçadoras e cada uma matou seu primeiro lobisomem aos 10 anos... Sabe qual era a minha missão, ao visitar La Push? Identificar e contar quantos lobisomens eu pudesse encontrar. E sabe por que eu vim morar neste maldito lugar, Harry? – Pausa para tomar fôlego. – Para matar meu primeiro lobisomem e ser reconhecida como uma caçadora de verdade, e não como a vergonha que sou hoje! – termina aos berros, chorando novamente.

― Elena, isso não tem graça! – diz num tom mais alto.

― Nada disso tem graça, Harry. Você ser um lobisomem não tem graça, você ter me iludido não tem graça. Nós somos inimigos e nada do que eu descobri sobre você teve graça até agora.

― Tudo bem, eu tinha esse segredo, queria lhe contar na hora certa, mas...

― E quando seria a hora certa? Eu já sei de tudo sobre lobisomens, até o mais novo membro de minha família sabe sobre vocês... O ódio por esta espécie de monstro é passado de pai para filho, sabia?

― Você me amou como humano, não pode me amar agora? Eu te amo, Elena.

― Cale-se, não diga mais nada! – Tampa os ouvidos. – Nunca mais se aproxime de mim, nunca mais me dirija à palavra, acabou tudo entre nós!

― Por favor, não faça isso comigo, você prometeu que nunca me deixaria – implora, sentindo a respiração ficar mais difícil.

― E você prometeu nunca me esconder nada... Eu estive ao lado de um lobisomem o tempo todo, beijei e abracei um animal o tempo todo, comi ao lado do meu inimigo o tempo todo, e você ainda espera que eu cumpra com aquela promessa?

― Você não entende, existe algo em nós, um tipo de magia... Acontece quando encontramos nossa parceira e...

― Não quero saber! Fique longe de mim, a partir de hoje somos inimigos declarados e você... – Aponta para o peito de Harry. – Será meu alvo a partir de agora! Meus pais me deram essa missão e eu não pretendo desapontá-los.

― E tudo o que aconteceu entre nós? Não significou nada pra você?

― Não! – menti. – Foi apagado a partir do momento em que virou meu inimigo!

― Eu te amo!!! – enfatiza, segurando suas mãos.

― Eu rejeito este amor! Eu te odeio, Harry Clearwater.

Elena puxa suas mãos do aperto de Harry e se vira para sair. Ele, porém, sente algo se quebrar em seu peito, pois fora nitidamente rejeitado. A respiração que outrora estava difícil, transformou-se numa gigantesca falta de ar, e o mestiço pôde sentir as cordas do imprinting se afrouxando a cada segundo, mostrando que a estava perdendo!

Todos os lobos sabiam como era fatal a dor de um imprinting rejeitado, mas não faziam ideia de como era a dor de um imprinting intensificado. Subitamente, as mesmas cordas que se afrouxaram, se apertam ao redor do pescoço de Harry com força, fazendo-o tossir e puxar ar de maneira desesperada, enquanto outra parte delas se apertam em seu coração com a mesma intensidade, como se quisessem fazê-lo parar de bater.

Doía, doía muito, contudo, ele não sabia como fazer para parar, nem tão pouco conseguia pedir ajuda. Elena ouve alguns gemidos, olha para trás e sente seu próprio peito doer. O que estaria acontecendo com ele? Por um momento ela pensa em voltar, mas se conteve. Ela o amava muito, mais que a si própria, mas por que ele tinha que ser um lobisomem? Por que justo um lobisomem? Um monstro assassino e inimigo declarado de sua família de caçadores?

Elena respira fundo, sentindo seu coração se quebrar em pedaços minúsculos dentro de seu corpo, e corre para dentro da escola, tentando fugir de todo o amor que sentia por ele. Aquele amor agora doía em seu peito, fazia-a querer chorar eternamente. Se pudesse, certamente o arrancaria e o jogaria fora, para nunca mais ter de lembrar-se daquele que roubou seu coração.

No estacionamento, Harry continuava em sua angústia. Suas mãos agarravam o pescoço de maneira desesperada, tateando em busco do que o sufocava... Uma viatura policial para na rua no exato momento em que seu corpo vai ao chão, e Charlie desce do veículo às pressas, se desesperando ao ver o estado do garoto Clearwater.

Seu corpo trêmulo e rosto já arroxeado indicavam claramente sua falta de respiração, o velho Swan inicia uma massagem cardíaca no tórax de Harry, revezando com a respiração boca a boca, obrigando seus pulmões respirar.

― Vamos, Harry, respire! Respire, por favor! – Sopra o ar para os pulmões de Harry. – O que aconteceu com você? Vamos, respire.

Seu rosto começa a retornar a coloração normal, mas, devido a pouca oxigenação no cérebro, Harry desmaia, finalmente fugindo dos apertos que seu próprio imprinting estava a lhe fazer. Charlie grita desesperadamente por ajuda, não querendo parar com o procedimento até que tivesse certeza de que o garoto estava bem. Alguns funcionários atendem ao chamado, ligando imediatamente para uma ambulância, que o leva as presas para o hospital...

Toda a escola fora anunciada sobre a hospitalização de Harry Clearwater. Elena sentia seu coração estilhaçado doer, como se, além de quebrado, alguém o estivesse pisando naquele momento, mas ela não podia fraquejar agora. Ele era seu inimigo e aquele amor certamente acabaria com o tempo, não acabaria? Com este pensamento em mente, ela se manteve forte e nenhuma lágrima fora derramada.

Tempos depois, no hospital, Harry desperta. Ele estava ligado a cilindros de oxigênio devido à má respiração e, ao seu lado, estava Charlie, que insistira por ficar ali até que ele estivesse acordado e bem.

― Por que está aqui? – pergunta o mestiço com voz arrastada.

― Queria ter certeza de que está bem. – Dá de ombros.

― Por que está me ajudando?

― Não sei. – Suspira. – Só senti vontade... Estou sozinho, Harry, velho e sozinho. Minha filha não mora mais aqui, minha neta também não, tentei seguir minha vida construindo uma nova família, mas não deu certo, eu não estava realmente pronto para isso... – Suspira, lembrando-se de Sue. – Nem sei porque estou a lhe contar estas coisas... – Ri de si mesmo. – Sobre a vontade que senti em ajudá-lo, foi como se precisasse ajudar alguém de minha própria família.

― Obrigado, eu pensei que fosse morrer.

― O que aconteceu com você, garoto? – pergunta Charlie, lembrando-se de como o encontrara.

― Não é algo fácil de explicar...

― Eu sei que você é um animal ou algo assim – sussurra, para que só ele escutasse. – Jacob me contou sobre este segredinho há muito tempo... Qualquer coisa que tenha a me dizer, tenho certeza de que acreditarei.

Harry sorri. Ter um humano comum para conversar sobre assuntos míticos era realmente algo novo e o policial Swan parecia-se muito com um avô, devido aos seus cabelos grisalhos e bigode grande. Ele gostava daquela aparência e sentia como se pudesse lhe contar tudo. E assim ele o faz: revela tudo sobre o imprinting e a dor da rejeição.

― Vamos mudar de assunto agora, Harry – pede Charlie. – Já entendi a sua situação, não precisa entrar em detalhes... Tenho medo que lembrar sobre o assunto faça tudo aquilo acontecer de novo.

O mestiço concorda com a cabeça, mas, antes que pudesse falar sobre qualquer outra coisa, o médico aparece. Charlie assina alguns papéis e sorri para o doutor, recebendo as orientações e uma receita médica para curar a suposta febre de Harry.

― Venha, vou levá-lo para casa. Eu me responsabilizo pelo seu carro, suas aulas terminaram faz um tempo e tenho que levá-lo de volta antes que sua mãe resolva farejar seu você, se é que me entende...

Harry ri. Aquela era a primeira piada que o policial fazia sobre o assunto e estava feliz por ter sido bem-sucedido, por finalmente ter colocado um sorriso no rosto do garoto Clearwater.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo!
Muitas coisas passam a ter sentido depois deste capitulo: porque Elena estava a contar as tatuagens em La Push, porque sua mãe não se surpreendeu ao ver um lobisomem, porque seu pai guarda "garras enormes" como recordação e o porque de Elena ficar aliviada por Harry não ter a tatuagem, pois pensava que ele não era um lobisomem...
Um imprinting poderoso, mas também letal. O que acontecerá com nosso lobinho a partir de agora? Próximo Capitulo: Muito mais que rejeição