Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 19
Segredo Revelado




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― Você não pode ir a essa festa! – protesta Lucian, ao ouvir a novidade diretamente da boca do filho. – Harry, domingo será lua cheia...

― Não posso simplesmente desmarcar, pai, e a justificativa?

― Invente alguma coisa, mas você não pode ir... A transformação é inevitável.

Harry respira fundo, tentando pensar numa solução, mas não encontrando nenhuma. Contudo, os dias que se seguiram acabaram trazendo a esperança que ele precisava, afinal, o que poderia acontecer de ruim, se o tempo nublado e chuvoso continuasse até domingo? As nuvens cobririam a Lua e não dariam passagem para que ela o transformasse, e isso parecia genial em sua mente.

― Temos que ir, Harry! – chama Leah.

― Vão à frente, eu os alcanço depois – grita do banheiro, desligando o chuveiro.

Já era domingo e o casal Clearwater parte em direção à clareira, deixando o filho para trás. Harry abre a porta do banheiro cautelosamente, olhando para os lados a procura dos pais e, ao perceber que estava sozinho, salta porta afora com sua camisa social, jeans e sapatos pretos.

Ele nem sequer estava tomando banho de verdade, estava apenas simulando, jogando água fora e controlando seus pensamentos, para que sua fuga fosse bem-sucedida. Harry entra em seu carro apressadamente e pisa fundo em direção à casa de Elena, antes que sua ausência na floresta fosse notada, chegando ao seu destino às sete horas em ponto.

O mestiço toca a campainha com as mãos trêmulas, olhando para o céu uma última vez para averiguar a situação e sorrindo ao constatar que o tempo chuvoso realmente manteria a Lua muito bem escondida.

― Você está lindo! – diz Elena, o chamando para a realidade.

Harry volta seu olhar para a porta e seu queixo cai instantaneamente, ao ver o quão bonita Elena estava, com seus cabelos presos numa trança em raiz, que se tornavam soltos na altura da nuca. Seu vestido era de um azul-marinho clássico, cuja cor contrastava perfeitamente com sua pele branca, seu comprimento ia até os joelhos e seus pés estavam moldados com a sandália de salto baixo, já que sua perna ainda estava debilitada para o uso de saltos maiores.

Elena estava perfeita e Harry não tinha palavras para descrevê-la. Ela apanha seu casaco e sai da casa sem se despedir de ninguém.

― Você está incrível – diz Harry ao entrarem no carro, fazendo-a sorrir envergonhada.

Depois de um tempo de direção, Harry estaciona perto da casa da aniversariante, descendo rapidamente do carro a fim de abrir a porta para Elena.

― Madame...

―Obrigada, meu bom senhor! – diz ela entrando na brincadeira e segurando a mão que Harry lhe oferecia.

A festa estava bombando. O som alto e a gritaria provavelmente incomodariam os vizinhos, mas ninguém ali parecia se importar muito com a opinião alheia, pois tudo o que queriam era diversão. Harry entra na casa e logo é recebido por alguns colegas da escola, porém, Elena não ficava para trás, pois se tornara muito popular ao se envolver com ele. O mestiço aperta sua cintura cautelosamente, ao ver quantos garotos estavam dispostos a cumprimentá-la e a dançar com ela. Se não tomasse cuidado, com certeza algum deles a tiraria de perto dele, com segundas e até terceiras intenções.

― Tão linda e encantadora, mas tão mal acompanhada! Quer dançar comigo, Elena? – questiona Lucas, um garoto loiro que disputava a popularidade com ele. Toda garota que Harry achava bonita acabava sendo cortejada por ele, e o mestiço o odiava por isso.

― Me desculpe – responde Elena –, não fomos apresentados, não falo com estranhos e, ao contrário do que você diz, eu sou uma garota direita, não costumo andar mal acompanhada.

Soco certeiro! Elena agarra o braço de Harry com força e o puxa para os fundos da casa, demonstrando estar furiosa, apesar de seu acompanhante tentar conter o riso.

― Que garoto idiota!!! – esbraveja, assim que chega do lado de fora. – Como ele ousa chamá-lo de má companhia? Besta, besta, besta!!! Que vontade de apertar seu pescoço, dar socos em sua cabeça chata e oca, até seus olhos se esbugalharem! – desata a falar, enquanto gesticulava com as mãos.

― Eu te amo – diz Harry sorridente, puxando-a pela cintura. – Dança comigo?

Somente então Elena se dá conta do ambiente que os cercava. Enquanto o interior da casa estava agitado com músicas rápidas e contagiantes, o quintal dos fundos estava cercado por uma música mais lenta e um ar mais romântico, para os convidados que buscassem um momento a dois. Ela abraça o pescoço de Harry, deixando a raiva se esvair e esquecendo-se de tudo ao seu redor, por ali, naquele momento, eram somente eles... E a lua.

― A Lua está tão bonita hoje, parece até que está se exibindo para nós – comenta ela de maneira despreocupada, parando a dança e olhando para o céu, esperando que ele fizesse o mesmo.

Harry estava sendo traído pelas forças da natureza. Quando mais precisou do tempo nublado de Forks, ele parecia jogar contra ele, deixando exposta toda a beleza da lua cheia. O mestiço eleva seus olhos lentamente e, quando enxerga a esfera brilhante no céu, sente como se ela chamasse o seu nome, como se a lua lhe cantasse a canção das sereias, atraindo o pobre homem para sua perdição.

― Confesse, é bonito, não é?

Elena se coloca à frente dele novamente e ele a abraça com força, impedindo que ela visse seus caninos ou seus olhos dourados, pois sabia que seu corpo estava prestes a sair do controle. Ele lança uma desculpa qualquer, sobre não estar se se sentindo bem e corre em direção à saída, não dando chance para conversas, correndo em meio às pessoas atordoado e com as mãos na cabeça, as vozes estavam misturadas e distantes, a música já não podia ser ouvida e as pessoas ao seu redor perguntavam-lhe se estava bêbado. Seu monstro pulsava em seu peito tirando os sentidos e o fazendo transpirar.

― Harry, espere!!! – grita Elena tentando segui-lo, mas o perdendo de vista completamente.

O mestiço corre para longe da casa, a um lugar onde julgou que ninguém o veria àquela hora da noite, e finalmente deixa sua fera irracional dominar-lhe os sentidos, libertando-o da dor que sentia, rasgando-lhe as roupas de maneira feroz e correndo... Correndo atrás daquele que Harry tinha ressentimentos.

O lobisomem cinza se esgueira pelas penumbras da noite, escalando casas e saltando de telhado em telhado. As pessoas saiam apressadas para averiguar o que era, visto que a cada pouso, um estrondo preenchia o interior de suas residências. As crianças, porém, torciam para que fosse o Papai Noel antes do tempo, mas o lupino era veloz demais e eles nada conseguiam ver...

A casa dos Noolan logo entra na vista da fera, fazendo saltar sobre o seu telhado bruscamente, assustando os dois moradores. O lobisomem rasteja para a parte dos fundos da casa, arrancando a porta sem fazer cerimônias e entrando na cozinha, atraindo também a atenção de Lyssa, que correu para averiguar o barulho.

― Temos um lobisomem aqui! – grita Lyssa de repente.

O lupino mostra suas presas num rosnado, descontente com o escândalo da mulher, porém, foi à imagem seguinte que lhe tirou completamente a passividade. Carlos aparecera correndo, com uma arma em mãos, e o lobisomem não pensara duas vezes em empurrar Lyssa contra a parede, fazendo-a desmaiar, pois era o Sr Noolan o alvo de sua raiva, decepção e frustração.

A fera se lança contra o humano rapidamente. Carlos corre para a sala, sendo seguido de perto pelo lobisomem que a tudo destruía, esquiva-se de um golpe de garras e corre escada acima para apanhar uma arma que causasse melhores danos.

O caçador havia notado o quão inexperiente o lobisomem era, suspeitando que houvesse se transformado a apenas algumas luas, pois, além de invadir o covil do inimigo de maneira descuidada, ainda conseguira deixar sua presa escapar, e isso não era o feitio de um lupino experiente...

No andar de baixo, a fera fareja o ar tentando encontrá-lo, porém, haviam cheiros por toda parte e ele não sabia para que lado seguir. O lobisomem cinzento retorna lentamente para a cozinha, onde Lyssa despertava de seu desmaio e tomava um susto ao vê-lo ali, a olhando intensamente. A mulher estende a mão vagarosamente em direção ao armário, em busca de algo que pudesse usar como defesa, qualquer movimento brusco de sua parte poderia ser fatal e por isso ela se movia cautelosamente.

Contudo, como se estivesse viva e ciente de todos os acontecimentos da terra, a lua muda todas as regras e desaparece no céu, fazendo o lobisomem se contorcer diante dos olhos de Lyssa, até que Harry fosse deixado em seu lugar, ofegante e cansado.

― Você! – exclama Lyssa, com raiva no olhar.

― Sra Noolan! – Percebe a presença da mulher e o local onde estava, desesperando-se. – Eu posso explicar...

― Você é o monstro?

― Sim, mas... Não! – corrige. – Eu não sou um monstro, eu... Isso faz parte de mim entende? Está no meu sangue!

― Fique longe da minha filha!!! – grita.

A lua volta a surgir no céu antes que o lobo pudesse se defender e sua fera cinzenta pulsa em seu peito, o machucando cada vez mais, obrigando Harry a ceder a transformação diante dos olhos de Lyssa, causando-lhe repulsa com aquela cena tão grotesca. E antes que o processo de mudança terminasse, ela agarra o pote de pimenta em pó e lança sobre os pés do lobisomem.

Carlos reaparece com um arpão nas mãos, pronto para atravessar o corpo da fera, mas ele já havia partido. O cheiro da pimenta fora forte demais para suas narinas sensíveis e, como o lobisomem não sabia onde sua presa estava, fugiu rapidamente.

― Maldito monstro, já sabe onde moramos! Precisamos ir atrás dele – diz Carlos à esposa.

Três horas se passaram com idas e vindas de sua transformação, deixando Harry exausto de lutar com sua fera para voltar ao normal e incapacitado de retornar para ver Elena. Ele encara o céu nublado e pede, com todas as suas forças, que continuasse assim, pelo menos, para que pudesse voltar e levar seu imprinting para casa, já que a deixara largada naquela festa. E como se as nuvens consentissem com seu pedido, o céu se fecha e começa a chover.

Essa era a chance que Harry precisava, mas, para retornar à festa, o mestiço viu-se obrigado a invadir uma casa no silêncio da noite e roubar algumas roupas sociais do varal de um morador. Não era a melhor das vestimentas, pois estavam justas demais para o físico anormal de um lobisomem, contudo, era a única opção naquele momento e ele não podia se dar ao luxo de reclamar.

Harry corre desesperado em direção à casa de Catarina, mas, depois de percorrer metade do caminho, vê a imagem de Elena passar por ele, dentro de um ônibus. Ele muda seu trajeto subitamente e corre atrás do veículo, gritando desesperadamente por seu nome, pois ela era a única passageira do veículo e era impossível que não o estivesse ouvindo. Com algumas batidas na janela, Elena finalmente olha para o rosto de Harry, nitidamente magoada.

― Onde você estava? – pergunta sem imitir som.

― Desculpe! – grita ele do lado de fora, enquanto tentava manter-se paralelo ao ônibus.

― Quer que eu pare, Elena? – pergunta o motorista, que ficara com dó da aluna e se disponibilizara a levá-la para casa gratuitamente.

― Não precisa, pode seguir em frente.

― Elena, vamos conversar! – grita Harry já em desespero. – Eu posso explicar.

Elena o observa por alguns segundos, medindo suas palavras. O motorista para o veículo mesmo sem o comando da menina, esperando que eles se acertassem e todo aquele ar de tristeza fosse embora. Porém, sua atitude conciliadora acabou enfurecer o motorista de trás, que tentou uma ultrapassagem descuidada.

E foi assim que o mundo do mestiço começou a desabar!

A rua era estreita demais, o veículo tenta a ultrapassagem, mas, do outro lado, vinha outro carro, e Harry estava bem no meio deles, sem ter como fugir. Ele estava preso aos olhos tristonhos de Elena, dando-se conta de que estava encurralado somente quando os freios rangeram enfurecidamente sobre o asfalto. Harry olha para ambos os lados rapidamente e salta antes que os veículos lhe acertassem.

Os carros batem frontalmente e o mestiço pousa em cima deles, com um pé em cada capo, respirando de forma acelerada e sentindo o coração quase. Elena observa a cena boquiaberta, tudo acontecera tão depressa, que não tivera tempo nem de alertá-lo sobre os veículos, mas, por sorte, ele estava bem e a salvo.

Harry eleva seu rosto assustado e foi então que Elena viu os olhos dourados e os caninos salientes, provando que seu maior medo se tornara realidade: ele era um lobisomem!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Aqui damos o início ao nosso próximo evento e garanto que ele lhes trará muitas surpresas... No próximo capitulo teremos a reação de Elena com a descoberta do segredo de Harry, e a revelação de seu segredo... Fiquem ligados *--*
Próximo capitulo: Eu te odeio Harry Clearwater