Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 18
Minha Doce Porcelana




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Na manhã seguinte, Harry aguardava a chegava de Elena na entrada da escola, pois, depois que a deixara na noite anterior, não pôde parar de pensar em como ela estava, se havia dormido bem e em como estaria se sentindo depois da cena tensa que seu pai fizera. Ele olha para a esquerda e depois para a direita, sempre a procura daquela que se tornara o centro de sua vida, mas não a encontrando em lugar nenhum.

O ônibus de um amarelo extravagante, utilizado para trazer alguns alunos à escola, estaciona próximo à calçada, abrindo suas portas e permitindo que os alunos começam a saltar rapidamente de dentro dele. A última passageira, porém, era bastante familiar aos olhos mestiço, era Elena, que descia de forma lenta e precisa, prestando total atenção em cada passo que dava.

Harry franzi a testa assim que a ela se coloca de pé na calçada, porque nunca pegava a condução escolar, já que morava aos arredores. Por que faria isso agora? Ela percorre o ambiente com o olhar e assim que o avista, lhe dá um sorriso fraco e um leve aceno com a mão.

Ele se aproxima lentamente. Elena pensa em encurtar a distância entre eles, ansiosa por sentir o calor do seu abraço, mas, ao tentar firmar a perna direita para um mísero passo, a sente vacilar e rapidamente joga o peso de seu corpo para a outra perna. Ela estava mancando e, ao perceber isso, Harry corre em sua direção.

― Elena...

― Não foi nada, vamos para a aula – interrompe ela, sem se atrever a olhar para o seu rosto.

Elena começa a andar com dificuldade, passo após passo, e, numa tentativa de ajudá-la, Harry segura seu ombro com uma mão, enquanto lhe rodeava a cintura com outra, fazendo-a gemer baixo.

― Aí não, Harry, por favor – pede de cabeça baixa.

― O que aconteceu com você? – pergunta com evidente preocupação.

― Não foi nada.

― Não minta para mim, por favor, o que aconteceu?

― Meu pai, ele... – Engole o nó que se formava em sua garganta. – Me acordou no meio da noite para me repreender por tê-lo levado para casa.

― Ele bateu em você? – pergunta incrédulo, sentindo uma revolta dominar-lhe o peito.

Elena permanece muda, não querendo mais tocar naquele assunto. Entretanto, Harry não parecia disposto a simplesmente se esquecer. Ela estava de legging naquela manhã, pois fora a única roupa que conseguira colocar sem sentir tanta dor, e, aproveitando-se disso, o mestiço agacha-se ao lado da perna ferida e tenta levar a barra de sua calça, da forma mais delicada possível.

E antes que o tecido atingisse a altura dos joelhos, Harry pôde ver, horrorizado, o vergão avermelhado na panturrilha de Elena. Sua veia estava saltada e arroxeada, a marca perfeita de um espancamento. Aquilo certamente estava doendo muito.

― Como ele fez isso? – pergunta cauteloso, sem tirar o olhar daquela contusão.

― Cinta... – Suspira, envergonhada. – A fivela da cinta.

Harry se levanta num salto, sentindo a raiva consumi-lo por completo. Como aquele homem arrogante tinha coragem de fazer isso com a própria filha? Como ele tivera coragem de deixá-la naquele estado? Ele levanta o rosto da garota com o polegar, e seu próprio rosto se contorce em angústia, ao ver seus olhos inchados pelo choro e olheiras profundas o rodearem, indicando claramente que ela não dormira direito.

― Aquele desgraçado, eu vou matá-lo! – explode de repente, virando-se para sair.

Elena estende as mãos em sua direção, apressadamente, mas tudo o que conseguira agarrar foram apenas os dois últimos dedos de sua mão, fazendo-o paralisar no mesmo instante. Harry poderia escapar de seu aperto com facilidade, todavia, ele sentia a menina tão frágil e machucada naquele momento, que qualquer esforço que fizesse parecia poder quebrá-la como se fosse uma porcelana rara.

Ele retorna com a mesma rapidez que pretendia sair e a abraça com certa força, afrouxando os braços em seguida, devido aos gemidos que arrancara de sua boca. Harry se sentia culpado por tudo aquilo, por que ele não ficou ao seu lado? Por que a deixou sozinha? Que belo protetor ele estava se saindo, tinha tanto poder para nada, visto que não conseguira proteger nem mesmo a sua doce Elena, que, no momento, parecia uma doce porcelana.

― Vamos para a minha casa, não haverá aula para mim e para você hoje...

Ambos caminham lentamente para o carro dele, onde Elena se ajeita no banco pouco de lado, já que suas costas também estavam machucadas e marcadas. O caminho para La Push fora feito silenciosamente, Harry estava focado no trajeto para a sua casa e Elena apenas observava o seu rosto abatido, tentando-lhe mostrar que estava bem com um carinho ou outro em seu braço.

― Quer ajuda? – oferece ele, ao chegaram à casa dos Clearwater.

― Não precisa, Harry, eu disse que estou bem, posso descer do carro sozinha. – Tenta se mostrar forte, fazendo a careta de tristeza do mestiço se intensificar.

― Pare de fazer de conta que está bem, eu sei que não está e me culpo cada vez mais por não ter ficado ao seu lado.

Elena segura o rosto de Harry com ambas as mãos e o puxa para mais perto, mas, antes que seus lábios se unissem num beijo, duas batidas puderam ser ouvidas no vidro do carro, do lado do motorista. Harry vira-se para a janela ao seu lado e vê seu pai, a olhá-lo de maneira confusa.

― Ela precisa de ajuda, pai – pensa ele, não ousando pronunciar palavra alguma. – Por favor!

Lucian analisa as feições de Harry por alguns segundos e faz um sinal para que ambos entrassem na casa. E quando Leah os vê dentro da residência, pensa em questioná-los do por que não estavam na escola, mas desiste, decidindo deixá-los explicar.

― O que aconteceu? – pergunta Lucian sentando-se num local onde poderia olhar para ambos ao mesmo tempo.

Elena respira profundamente e conta-lhes o ocorrido, escondendo-lhes os detalhes para que não parecesse tão monstruoso, não se dando conta de que o cherokee já estava infiltrado em sua cabeça e podia ver, com certo horror, as cenas que aconteceram na noite anterior.

Depois de explicado, mesmo que superficialmente, Leah guia a garota para o quarto de Harry, pois queria averiguar seu estado e tratar de seu corpo ferido.

― Está com as costas machucadas também, não é? Acha que consegue retirar a blusa?

― Acho que não! – responde num sussurro.

― Muito bem. – Pensa, buscando uma solução alternativa. – Deite-se de bruços, vou ter de cortar sua blusa... Depois de terminado lhe daria outra em troca, ok?

Elena assente com a cabeça e obedece, deixando que Leah cortasse o tecido com uma tesoura. Seria muito fácil para ela, rasgar a peça de uma só vez, mas não o fazia por dois motivos: primeiro, porque poderia assustá-la grandemente e, segundo, porque poderia machucar as suas costas já feridas.

― Céus, o que ele fez com você! – exclama Leah horrorizada.

Enormes marcas vermelhas se estendiam por toda a região das costas da humana, tão fortes e grandes, que algumas mostravam ter sangrado. Elena apanhara de cinta, mais precisamente com a fivela da cinta de seu pai, que, por ser batida com toda a força do homem, ardiam e cortavam sua pele branca como uma navalha.

Leah deposita uma compressa gelada nos ferimentos da perna e, com um pano úmido, começa a limpar-lhe as costas, que ainda possuíam marcas do sangue que lhe escorrera. Em seguida vieram alguns comprimidos para aliviar sua dor, spray para desinfetar a região e pomadas que poderiam melhorar o aspecto dos vergões que lhe cobriam o corpo.

Durante o último procedimento, Elena pegara no sono, pensando em quão sortudo Harry era de ter uma família como aquela, tão boa e carinhosa. E, após a saída de Leah, o mestiço adentra o quarto e senta-se no chão, ao lado da cama, donde fica a observar o rosto cansado de seu imprinting.

― Pai – sussurra ele, sabendo que seus pais estavam à porta, assistindo-o –, por que me sinto tão inútil, mesmo tendo tanto poder?

― O imprinting faz isso conosco – explica, envolve a cintura de Leah, a abraçando por trás –, mesmo que seja poderoso e experiente, acaba sentindo-se um nada ao ver sua parceira sofrer... Ter nascido varão não faz de você um homem, Harry. E ter tanto poder não faz de você um super-herói, se não souber usá-los.

― Como posso me tornar um homem de verdade?

― Não existe formula mágica para isso, nem uma receita pronta. Se quiser tornar-se um homem honrado terá de descobrir seu próprio caminho, fazer suas próprias escolhas e arcar com a consequência de cada uma delas...

Lucian e Leah se retiram por alguns instantes, preferindo deixá-lo sozinho. Harry deita-se sobre a cama, ao lado de Elena, observando de perto o estado em que o monstro, que se denominava pai dela, a deixara. E depois de um tempo, ele também sente o sono pesar sobre os olhos e adormece.

― Harry! – Ele ouve uma voz chamá-lo de longe. – Harry, acorde...

O lobo abre os olhos devagar, finalmente sendo puxado de volta para o mundo real. Elena o olhava curiosa, ainda de bruços e com o lençol a cobrir-lhe o busto desnudo, mas com o semblante restabelecido, apesar das marcas da violência ainda existirem.

― Bom dia – resmunga ele.

― Boa noite, Harry, nós dormimos praticamente o dia todo... Preciso ir para casa.

― Não se preocupe com isso – diz Leah no batente da porta. – Tomei a liberdade de ligar para a sua casa, sua mãe atendeu e eu expliquei a situação... Ela pareceu bastante aliviada por você estar aqui e disse que poderia retornar quando se sentisse melhor.

Elena agradece e, após a saída da dona da casa, volta a encarar o rosto sonolento e amassado de seu namorado.

― Você tem uma família e tanto...

― Eu sei. – Sorri ele.

― Queria que a minha fosse assim – confessa.

― Eu te amo e não pretendo enrolá-la com um namoro eterno, sendo assim, minha família é a sua família.

― O quer dizer com isso?

― Quero dizer que namorar é pouco pra mim, quando se trata de você, Elena. E se você me aceitar de verdade, pretendo me casar com você!

Elena abre a boca, com a surpresa estampada em seu rosto. Mal haviam começado a namorar e ele já pensava em casamento? Ela belisca seu próprio braço às escondidas, mas logo constata de que não estava sonhando, que aquele homem realmente existia...

― É meio idiota pensar nisso tão cedo, eu sei, mas...

― Eu adoraria! – O interrompe. – Se me pedisse em noivado agora, eu prontamente o aceitaria!

Harry abre um imenso sorriso, sentindo o coração se encher de felicidade e bater freneticamente.

― Elena. – Passa o polegar pelo rosto da menina. – Assim que terminarmos nossos estudos, você se casa comigo?

― Sim! – reponde, sem pensar duas vezes. – Mil vezes sim.

― E você levou um tempão para me pedir em casamento – retruca Leah para o marido, na cozinha, fazendo o filho rir.

Harry a beija de maneira apaixonada. Ela se sentia como nova, apesar de ainda se incomodar com a perna e as costas, mas dedicava a Leah toda a sua gratidão, porque se não fosse por ela, nunca teria melhorado. Depois de um tempo para que se trocasse e de um lanche delicioso, na companhia agradável da família Clearwater, o mestiço a leva de volta para casa.

― Catarina me convidou para sua festa de aniversário neste domingo, quer ir comigo? – convida ela, antes de descer do carro.

― Adoraria! Te pego às sete?

Elena concorda sorridente, despedindo-se com um beijo e entrando em sua casa, em seu inferno particular. Mas, apesar de tudo, ela estava feliz, crente de que, em pouco tempo, estaria fora daquela residência definitivamente, casada e morando com Harry, seu amor!

 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem do capitulo... Ele funcionou mais como uma ponte, pois nosso próximo evento começa já no próximo capitulo... Desculpe a demora em postar, estou desidratando aqui, misericórdia, kkk. E o calor sempre me deixa irritada, aí não consigo pensar direito D:
No próximo capitulo teremos a festa de aniversário de Catarina, que coincidentemente será numa Lua Cheia.... Será que Harry conseguira tempo para a transformação e ao mesmo tempo acompanhar Elena a tal festa? Até quando ele conseguirá manter seu segredo?
Próximo capitulo: Segredo Revelado