A garota machucada não pensou duas vezes antes de sair da escola e pegar seu carro no estacionamento, sumiria dali o mais rápido possível.

Seus olhos cheios de lagrimas lhe impediam de enxergar a estrada perfeitamente, mas ela não parou o carro, pelo contrario, pisou ainda mais no acelerador e sentiu o automóvel deslizar pela estrada. Pensava que o quanto mais longe estivesse dali, menor seria a dor. Mas estava totalmente errada.

Em todos os km que percorria chorava ainda mais, os seus soluços eram abafados apenas pela musica pesada que tocava nos alto-falantes do carro.

No breve momento que se olhou no espelho retrovisor e viu rosto inchado e borrado pela maquiagem, foi quando tudo aconteceu...

O brilho branco e forte lhe cegou os olhos e depois de alguns instantes foi a escuridão que lhe engoliu.

*****

Um grupo de meninas frequentava diariamente aquele hospital, sempre a espera da mesma garota, que permanecia em um coma profundo. Havia escapado por pouco da morte, teve sorte de ser atendida depressa e no melhor hospital da região.

A pele parda da morena deitada na cama agora era pálida, seu corpo bem definido se tornou magro e o mesmo parecia acontecer com a loira que dormia segurando sua mão.

Ela não aceitava o fato da sua amada esta em uma cama de hospital quase morta, ter o seu corpo presente, mas sua essência havia lhe escapado há tempos atrás.

A garota que dormia sempre sentada naquela cadeira ao lado da cama começava a ter pesadelos, e só se deixava dormir quando o seu corpo não aguentava mais.

Com um impulso irreal vindo de seus sonhos a garota acorda assustada e reconhece o lugar, que agora lhe é familiar, em que se encontrava. Olhou novamente pra morena que parecia dormir, era isso que ela fazia desde que a mesma saiu da cirurgia que lhe salvou a vida, passava o dia inteiro olhando-a. Ás vezes conversava com ela, mesmo que soubesse que não era ouvida.

-Minha pequena, por favor, acorde. Eu preciso de você na minha vida -a loira dizia- você talvez não entenda, mas eu não tenho forças sem você, é a sua energia que me dá esperança e agora que você esta ai, sem... -ela queria dizer ''vida'' mas sabia que ela ainda estava viva.

E chorou mais uma vez, antes duvidava que seu corpo fosse capaz de produzir tantas lagrimas. Tinha perdido tudo que amava, sua irmã, seu pai, sua mãe que nunca lhe amou e agora se sentia-se perdendo a garota que mais amou.

Semanas se passaram, e o caso nem avançava e nem regredia. O Dr. dizia que ela provavelmente não iria acordar, mas seus amigos e família não deixavam de acreditar .

Numa tarde qualquer houve uma pequena modificação, os dedos da mão esquerda se mexeram, mas foi só isso . E assim passou vários dias .

******

O barulho dos aparelhinhos que a mantinha viva faziam um barulho estranho do normal, o bipe parecia mais rápido. E nenhum som parecia alegra Ashley mais do que aqueles, ela levantou e começou a falar :

- Amor , acorda! Estou aqui te esperando, consegue me ouvir ?

A garota deitada não conseguia responder, tentava abri os olhos mas eles estavam tão pesados . Ela ouviu novamente aquela voz tão admirada.

-Jenny, se consegue me ouvir me dê um sinal.

Tentou abrir os olhos novamente mas de nada adiantou, tentava levantar, falar, se mexer mas parecia impossível . Então sentiu o toque macio e quente em suas mãos, fez uma força maior que pode e apertou a mão que tiveram entrelaçadas as suas durante esses dias. Depois disso ela sentiu o toque se soltar e alguns segundos depois vozes diferentes lhe encheram os ouvidos. Conseguia ouvir a voz do seu amigo alvoroçada e aguda do seu amigo dizendo algo que ela não compreendeu.

A loira deixou que os médicos entrassem no quarto e tentou acalmar os amigos que estavam lá fora .

Parecia tão feliz, seu coração começava bater novamente e seus pulmões enfim respiravam em paz. Esperou alguns minutos, que pareceram décadas, até receber a noticia de que a paciente havia saído do coma mas não podia receber visitas no momento por que o seu corpo tentava se adaptar novamente. Mas ela não se importou, estava tão aliviada que os seus olhos brilhavam como nunca, abraçou cada conhecido ali presente e agradeceu muito a Deus por ter cuidado da sua menina .

******

Ash finalmente podia ver a sua garota, passava da meia noite mas desde que entrou naquele hospital o relógio não era mais visto por ela.

Entrou no quarto meio acanhada, mas estava animada por poder falar com ela depois de tanto tempo.

Sentou-se na cadeira que já era sua e segurou a mão de Jenny .

A morena abriu os olhos, ainda sonolentos.

-Bom dia -ela diz rindo fraca.

-Não sei que horas são mas acho que ainda não é dia - ria também, sentiu tanta falta daquela risada.

-Não importa, é bom ver você. Parece que não te vejo há tanto tempo, oque aconteceu?

-Você não lembra ?-Ash quis saber.

-Lembro só oque eu queria esquecer, mas depois de sair do colégio não lembro muita coisa.

-Você sofreu um acidente de carro, bateu de frente com um caminhão. É um milagre está viva.

-Vaso ruim não quebra - ela ri novamente mas fica cansada.

-Eu pensei que ia perder você, não sei se aguentaria - as lagrimas de Ash ameaçam transbordar.

-Então por que fez aquilo comigo? - Jenny agora falava seria.

-Aquilo oque? Se for o caso do baile, me desculpa. Eu não sei oque houve, eu...-Ash é cortada.

-Você dizia que me amava - agora Jenny que chorava - eu acreditei em você.

-Mas isso não quer dizer que eu não te amo, você sabe oque eu sinto - ela diz desesperada.

-Não, eu não sei. Como alguém pode dizer que existe amor se dorme com outra pessoa?!

Ash pareceu perder o foco, não estava entendo oque aquilo queria dizer .

-Oque você tá dizendo Jenny?

-Que eu vi vocês, deitadas juntas na sua cama. Meu Deus, por quanto tempo eu estava fazendo papel de idiota? Isso foi antes ou depois dela volta pra escola ? Você podia ter me contado, ver aquilo não foi...-Jenny não conseguia mais falar, suas lagrimas não paravam de cair e ela começava ter dificuldade de respirar.

-Vocês quem Jennyfer ? Isso oque ? Oque eu fiz ? -ela perguntava apavorada.

-Ashley... chama... um medico - a garota tentava dizer mas o ar não entrava em seus pulmões - eu não... consigo... respirar.

 A loira saiu da sala as pressas e segundos depois o medico voltou a sala e pões uma bomba de oxigênio na maior. Ash foi tirada da sala por dois enfermeiro que quase tiveram que dopa-la por não querer sair de perto da paciente.

Quando Ash se acalmou, tentava pensar sobre oque Jenny dizia sobre vê-la deitada com outra na sua cama. Mas não vinha nada em sua mente , talvez aquilo fosse efeito dos remédio que Jenny estava tomando, ela podia ter tido alguma alucinação e achou que era real . Mas os olhos de Jenny pareciam dizer a verdade e no fundo Ash sabia que essa historia tinha algo verdadeiro.

Tentou falar com Kat, Jessie e Collin mas ele não souberam dizer nada e avisaram que Jenny queria que ela não fosse mais visita-la, que ela devia ir embora . E isso só fez Ash sofrer ainda mais .

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Ashley