O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 40
À flor da pele




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Eu sequer consegui prestar atenção ao restante das aulas e quando me dei de conta já estava em meu quarto trocando de roupa para o estúpido castigo.

Meu pequeno surto mais cedo me trouxera inconvenientes que eu teria de aguentar. Além de passar um tempo de qualidade com Giovana, eu teria que fazer exercícios... Ok, talvez eu merecesse isso, mas eu acabara de sofrer um acidente, será que eu não podia ter uma folga?

Então, de qualquer maneira eu já estava atrasada já que a professora deixara explícito que cada minuto de atraso seria uma hora acrescentada ao castigo. Depois de vestir o moletom, desci até o saguão e saí para a rua. Ventava muito e eu ansiei por chegar ao ginásio por mais que o que me esperava lá fosse extremamente desagradável. Ao chegar vi que Giovana já estava lá. Ela continuava com a mesma expressão assassina e o pior é que eu nem podia revidar já que eu tinha minha parcela de culpa. Talvez eu devesse acabar com aquela briguinha idiota de uma vez por todas.

-Olha Giovana, eu só queria dizer que já é hora de acabar com isso. Por causa de nossa discussão estamos ambas de castigo, então podemos ser ao menos cordiais?

Sua expressão permaneceu a mesma.

-Se não fosse por você não estaríamos aqui.

Franzi a testa.

-Tá eu sei que eu me excedi com a diretora, mas você começou.

Ela gargalhou.

-Você nunca assume o que você faz, não é?

-Olha quem fala! – respondi gritando.

-Chega vocês duas. – Carla havia chegado ao ginásio. – Ou devo acrescentar mais uma semana ao castigo de vocês?

-Não senhora. – respondemos as duas.

A professora pegou dois colchonetes empoeirados e jogou aos nossos pés.

-Deitem-se, vamos começar com trinta flexões.

 Giovana se deitou imediatamente. Eu não me mexi.

-Começar? – minha voz saiu aguda. Ela apenas ergueu uma sobrancelha e riu. Deitei de cara fechada.

Pelo visto seriam duas semanas longas.

Eu mal conseguia me mover de tanta dor. Eu nunca, jamais mesmo fazia exercícios. Devia ser por isso que cada músculo do meu corpo estivesse gritando em protesto. Não quis descer para jantar, fiquei deitada no quarto de luz apagada me amaldiçoando mentalmente por brigar com Giovana.

-É a última vez que você faz isso, Agatha. – disse para mim mesma.

Já passava das onze horas quando as meninas haviam chegado ao quarto. Fingi que estava dormindo para não ter de explicar nada. Eu não conseguia dormir, mas também não conseguia levantar.

Alguns minutos se passaram e eu não sabia se era um sonho começando a se formar ou apenas loucura da minha cabeça. O fato é que imagens de uma praia surgiram e eu quase pude sentir a brisa dela tocando meu rosto. As imagens mudavam e quase sempre eram os mesmo lugares: praia, floresta, um quarto mal iluminado...

De repente um calor anormal tomou conta do meu corpo. Era como se alguém estivesse me abraçando, sentia um perfume amadeirado. Eu não sabia quem era, porém desejei que a sensação nunca passasse.

Na manhã seguinte abri meus olhos me lembrando imediatamente do sonho que tivera. Não eram lembranças exatamente, mas a recordação da sensação de que havia alguém comigo. Não me mexi esperando que aquilo voltasse. Quando não voltou, uma dor estranha atingiu meu coração. Um vazio.

Era estranho. Eu estava com saudades de algo que eu não sabia o que era. Mas era real e sufocante. Levantei sentindo umidade em meus olhos. Eu queria o sonho de volta.

-Você está bem Agatha? – perguntou Carolina. Eu não a havia visto ali, ela estava parada perto da porta do banheiro. Levei alguns segundos para responder.

-Estou. – sussurrei.

-Tem certeza? Está sentindo alguma coisa? Posso chamar alguém...

-Não Carolina, está tudo bem. – levantei-me sentindo a mesma dor nos músculos. – Eu só dormi mal. Obrigada por se preocupar.

Lavei o rosto esperando aquilo tudo passar. Mesmo que eu não soubesse o que aquilo era.

Olhei-me no espelho, havia algo ali que eu não reconheci. Uma dor que não havia explicação. Ela apenas existia.

Duas horas depois, no almoço, Ane me observava atentamente.

-O que aconteceu com você? – perguntou ela.

-Nada. – respondi com a voz monótona. Fora uma manhã longa e chata. E eu estava com sono. Ela não acreditou.

-Você andou chorando?

-Não. – murmurei.

-Aconteceu alguma coisa, Agatha? Quer dizer, toda aquela briga com a Giovana... Tem algo te aborrecendo? – ela insistia.

-Não... Só que, eu sei lá, acordei hoje assim e não faço ideia do por que. – minha voz saiu fraca e cansada. Era como eu me sentia. Ane pareceu querer dizer alguma coisa, mas foi interrompida por Kevin que havia chegado à mesa. Ela me deu aquele olhar de “conversamos depois”.

Tentei evitar Ane no restante das aulas. Em meu último período, a professora Carla avisou a mim e Giovana que estávamos dispensadas do castigo, pois teríamos uma palestra depois da aula. Todos deveriam ir até o auditório, e eu estava me arrastando a caminho de lá.

Eu devia estar atrasada por que os corredores estavam vazios. Comecei a andar mais rápido, mas parei abruptamente quando ouvi meu nome.

-Oi? – chamei. Olhei para os lados. Não havia ninguém. Recomecei a andar novamente, mas um farfalhar à esquerda me fez parar. Parecia ter vindo da sala ao lado. Entrei lentamente na sala. Estava vazia.

De repente o medo de estar enlouquecendo me atingiu.

O que estava acontecendo comigo?


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