O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 41
Choque




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Finalmente o fim de semana. Não que eu estivesse esperando por ele pelo mesmo motivo de tantos outros adolescentes da minha idade. Eu não tinha uma vida social muito agitada. Se é que eu tinha uma vida social. Então foi uma surpresa receber um convite para sair de Ane e Kevin. Íamos ao cinema e apesar de parecer meio estranho sair “de vela” aceitei ir. Seria bom ter uma distração.

-Vai sair filha? – mamãe perguntou ao entrar em meu quarto e me ver procurando uma roupa.

-Vou sim. Ane me convidou para ir ao cinema com o Kevin. – respondi.

-Hmm, tudo bem. Mas não volte tarde. – ela tentou parecer rígida, mas sem sucesso. Sabia que ela ficaria feliz por me ver sair com amigos.

Às sete horas eles vieram me buscar, pegaríamos a sessão das oito.

-Oi gente! – sorri ao entrar no carro no banco de trás. Ane estava na frente e Kevin dirigia.

-Oi Agatha!

-Oi, que bom que veio. Tínhamos convidado mais pessoas, mas todos furaram. – disse Kevin ligando o carro.

-Hmm, que pena. Então já sabem o que vamos assistir? – perguntei.

-Ahh, eu quero ver aquele romance que saiu na semana passada! – disse Ane. Tentei não revirar os olhos, ela era tão romântica...

-Ah, tudo bem meu amor. Mas devemos deixar a Agatha escolher também... – Kevin me olhou pelo espelho praticamente implorando. Ri.

-Hã... Eu sei lá. Eu não sei o que está passando. Podemos escolher vendo os cartazes. – sugeri. Eu também não estava muito a fim de ver um romance.

No fim quem venceu foi Ane. O único filme que tinha horário para as oito era o romancezinho. Que legal.

Compramos pipoca e escolhemos nossos lugares. Um casal à nossa frente nem mesmo esperara as luzes se apagarem para começar a se agarrar. Dei um chute na cadeira deles. A garota olhou para trás com cara feia e eu sorri ironicamente. Ane me olhou como se eu fosse louca.

-O que? – sussurrei em defesa. Ela entortou a boca e balançou a cabeça.

O filme começou e eu tentei prestar atenção, mas o enredo parecia fraco e o cabelo da protagonista era excessivamente louro. Depois de mais ou menos uma hora e meia o filme acabou. O final fora ridiculamente feliz.

-Ai, o final foi tão legal. Nem acreditei quando o mocinho foi buscar ela no aeroporto! – disse Ane.

-Ah sim. Nem foi previsível. – comentei sem ânimo.

-Vocês querem comer alguma coisa? Tem uma lanchonete muito boa aqui perto. – disse Kevin enquanto caminhávamos.

-Eu estou com fome. Você precisa ir para casa agora Agatha? – perguntou Ane.

-Não, ainda está cedo.

Fomos até o estacionamento e adiante estava o carro de Kevin. Por perto havia alguém encostado num carro – pensei ser um Comet – meio escondido nas sombras de modo que não consegui ver o rosto da pessoa.

-Quem é aquele? – indagou Ane com um leve tremor na voz.

Fui à frente tentando ver quem era só para me arrepender depois.

-Por que você sempre aparece assim? – perguntei com certo escárnio na voz.

Bernardo sorriu ironicamente.

-Faz parte do meu show.

Kevin e Ane chegaram perto de mim me ladeando. Os olhos azuis de Bernardo faiscaram. Ele recompôs a expressão educada rapidamente.

-Olá Ariane, e você é...?

-Kevin. – eu não sabia o que Ane havia contado de Bernardo a Kevin, mas ela não deveria ter exaltado suas qualidades senão Kevin não estaria o olhando assim.

Deu-se um momento de silêncio no qual nenhum de nós sabia o que dizer. Eu segurei a vontade de rir. Aquilo era patético.

-O que você quer aqui? – perguntei.

-Vim aqui com o meu tio e vi vocês saindo do cinema. Achei que seria legal dar um oi.

Ane cutucou meu braço.

-Temos que ir andando não é?

-É... Nós temos. Tchau Bernardo. – estava indo na direção do carro e ele interrompeu nosso caminho.

-Eu tive uma ideia. – ele estava com aquela expressão de quando aprontava algo. – Por que você não deixa eu te levar para casa?

-Eu vim com a Ane e com o Kevin. – ergui as sobrancelhas.

-É eles tiveram a vez deles. Qual é? É só uma conversa.

-Nem pensar, Agatha. – disse Kevin sério.

-Quem tem que dizer isso é ela.  – de novo Bernardo mudara de humor rapidamente.

Kevin ia responder, mas resolvi cortá-lo antes que as coisas ficassem feias.

-Bernardo, deixa para depois tá bem? Eu prometo que a gente pode conversar outro dia.

Ele ponderou por um momento e disse ainda encarando Kevin:

-Vou confiar em você.

Ele deu uma olhada fugaz para Kevin e Ane, e deu a volta para entrar em seu carro. Entramos no caro e Kevin deu partida parecendo meio mal humorado.

-Desculpa por isso gente. O Bernardo exagera às vezes. – disse me sentindo meio mal por ter estragado o final da noite.

-É, deu para perceber. – disse Kevin.

-Não se preocupe Agatha. Não é sua culpa. – Ane disse entre dentes ao beliscar o braço de Kevin.

-Eu sei, é só que...

Uma buzina me fez parar de falar, e um clarão me cegou por um momento. O barulho de metal se estraçalhando e pneus freando se misturaram ao grito de Ane. Tudo pareceu acontecer muito rápido e lento ao mesmo tempo.

Só o que consegui registrar foi um baque forte e meu corpo girou assim como todo o carro. O barulho ensurdecedor ficou mais alto e diminuiu gradativamente até parar.

Tudo era muito confuso. Estava escuro, e eu não fazia ideia do que havia acontecido.

Eu estava de cabeça para baixo. Sabia disso porque sentia a pressão em minha cabeça. Um líquido quente escorria pela minha testa. Todo o meu corpo doía.

-Ane... – sussurrei. Ela não respondeu, e eu não podia ver seu rosto. Tentei falar mais alto. – Kevin, você está me ouvindo?

O medo tomou conta de mim quando nenhum deles respondeu. Eu quis gritar, ou conseguir sair do carro, só que não tive forças.

Minha visão escureceu. Senti uma mão agarrando meu braço, fiquei com medo, mas logo não pude sentir mais nada.


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Notas finais do capítulo

Sério, às vezes até eu me surpreendo com as inúmeras vezes que eu faço a a Agatha se machucar, eu devo ter algum tipo de espírito assassino, ou sei lá kkkk