Já passava das nove da noite, quando Jacob me levara para a fogueira. Billy – que passara a tarde pescando com Charlie – já estava lá com Sue ao seu lado.

Passamos pela floresta que rodeava os penhascos. Havia uma espécie de roda com várias pessoas e no centro uma fogueira, que era a única fonte de iluminação.

–Jacob. – segurei seu braço. O medo que antes fora dissipado voltara com toda a força.

–Tá tudo bem. – ele me tranqüilizou. – Anda, vem. – ele pegou minha mão e de repente eu senti um medo totalmente diferente de segundos atrás.

Nas raras vezes em que tive contato com a pele de Jacob, sua pele sempre me pareceu quente demais, agora estava morna. Da mesma temperatura que a minha.

Seth nos recebeu antes de chegarmos à roda.

–Oi gente. – ele sorriu.

–Oi Seth. – dissemos Jacob e eu ao mesmo tempo. Seth olhou para nossas mãos e depois desviou rapidamente.

–Vamos lá gente. – ele chamou e eu soltei a mão de Jacob. Sem deslizes.

Estavam todos lá. Cumprimentei Quil, Embry, Sam e Emily. E conheci Jared. Finalmente, sentei-me perto de Sue, Billy e Leah. Arrisquei cumprimentar a última e, surpresa, vi-a responder com um aceno da cabeça.

Primeiro, nós apenas comemos. Bom, eles comeram, eu estava nervosa demais para isso. Era incrível a quantidade de cachorros quente que Jacob e os demais garotos ingeriam.

Com o passar do tempo, comecei a ficar mais nervosa. Quanto tempo ia passar até eles começarem a falar?

Finalmente, Billy pigarreou e todos ficaram quietos. Meu estômago revirou.

–Hoje, temos mais uma pessoa entre nós, a Agatha. – ele disse cheio de autoridade. Corei na luz das chamas quando todos olharam para mim. – Coisas assim não acontecem todos os dias e certamente tem uma razão importante por trás.

“Talvez seja obra do destino devolver uma garota para nós, quando há muito tempo, uma guerreira Quileute nos deixou. Seu nome era Soyala. Ela era linda, corajosa, boa e tinha um espírito livre. Ela prezava muito sua liberdade".

"Um dia, ela foi caminhar na floresta e voltou para casa dizendo ter encontrado um homem sem memória. Nunca descobrimos sua origem e nem como fora parar aqui, mas sabemos que ela se apaixonara por ele. Seu pai, muito rígido, não queria que sua filha casasse com um forasteiro qualquer e a proibiu de vê-lo, prometendo-a casar com um outro guerreiro da tribo.”

Eu não entendia o que essa história tinha a ver comigo, mas continuei ouvindo atentamente. Jacob estava do meu lado e olhava para meu rosto parecendo ler nele minha reação à história.

–Soyala não gostou disso. Brigou com o pai, com a família e todos na tribo para ficar com seu verdadeiro amor.

"Certa manhã, seus pais encontraram a cabana de Soyala vazia. Ela havia cumprido a promessa de fugir com o forasteiro. Aquela foi uma manhã muito fria e cheia de neve. A partida de Soyala marcou o Solstício de Inverno".

"A irmã de Soyala revelou a seu pai, depois da partida, que Soyala esperava um filho do forasteiro. Ele ficou conhecido como o filho perdido dos Quileutes.”

Olhei para Billy, meu olhar cheio de perguntas.

–Agatha, é descendente do filho perdido. Veio parar aqui do mesmo modo que o forasteiro. A magia dos Quileutes reclamou o que fora perdido há tanto tempo.

–O quê? – minha voz era um sussurro. Todos olhavam para mim espantados menos Billy, Jacob, Sue e o Velho Quil.

–Você pertence aos Quileutes, Agatha. E a magia está lentamente se manifestando em você.

–Mas, como você sabe? O descendente do filho perdido poderia ser qualquer um! – me esganicei.

–É você. – Billy foi absoluto.

–Mas e as provas? – insisti.

–Admito que não haja uma evidência concreta. Mas também não há provas do contrário. E você deve ter percebido que o forasteiro veio parar aqui sem se lembrar do ocorrido, não é? Assim como você.

Não tive resposta para isso.

•••

Eu não podia acreditar. Era essa a explicação, afinal? Eu era mesmo descendente dos Quileutes?

Minha mente se recusava a acreditar, e meu coração queria muito que tudo isso fosse real. Por que eles nunca estavam de acordo?

Tive uma despedida muda com Jacob. Ele sorriu para mim de um jeito que faria meu coração explodir se eu não estivesse tão entorpecida. Eu mal sentia minhas pernas se movendo quando fui para o carro com Sue, Seth e Leah.

A reunião acabou numa atmosfera silenciosa, todos exceto os mais velhos estavam atônitos com a nova informação.

Eu continuava muda, precisava de um tempo para processar tudo e organizar meus pensamentos.

Até Seth – que sempre enchia um ambiente com seu bom humor – ficara anormalmente quieto.

Dei boa noite a todos e fui para cama. Eu precisava mesmo dormir, mas não conseguia. Eu ficava repassando a história de Billy em minha cabeça.

Então Soyala fez de tudo – até deixar sua família para trás – para ficar com seu verdadeiro amor. Não era mais ou menos o que eu estava fazendo agora?

Quer dizer, não a parte do verdadeiro amor. Mas deixar a família para trás. Era certo ou errado?

Eu não sabia dizer. Era um fato que eu iria me transformar em breve. Mas isso queria dizer que eu não poderia voltar para casa?

Eu gostava muito daqui. Sentia-me confortável de uma maneira que não sentia em nenhum outro lugar. Mas, eu sabia – apesar de odiar admitir – que Jacob era a única razão que pudesse me fazer ficar.

Suspirei. Eu precisava tomar uma decisão, e rápido. Não sabia quanto tempo iria levar até eu me transformar, mas eu tenho até lá para ficar por aqui.

Está decidido, eu me transformo, aprendo a controlar e dou o fora daqui antes de me envolver demais. Mas... Como eu vou embora? Não é como se eu pudesse pegar um avião. Eu sabia que era mais do que isso.

Ok, eu tenho alguns dias para pensar nisso. Até lá eu posso continuar normalmente ou o mais próximo possível do normal.

Eu tinha um prazo de alguns dias para ir embora, mas sabia que nesse prazo também poderiam acontecer mais coisas... Coisas sobre as quais eu não queria pensar muito menos enfrentar.