Silêncio.

Era isso? Então quando você morre de fato não escuta mais nada?

Quando eu abri os olhos, Thalia ainda se escondia em meus braços. E Perséfone estava na minha frente e diante dela tulipas roxas caídas no chão.

Ártemis estava parada em choque há poucos metros de minha madrasta.

–- Acho que você está perdendo o jeito, Ártemis -- minha madrasta estava com uma... lixa nas mãos? Sim ela estava lixando as unhas. Ela admirou as unhas e assoprou -- Seus reflexos estão horríveis.

–- Como ousa interfirir novamente em meus assuntos? -- Ártemis esbravejou.

Perséfone suspirou e revirou os olhos.

–- Não gostou me dê outra flechada -- ela continuou -- posso transformá-las em tulipas a tarde toda.

Ártemis preparou outra flecha.

–- Já chega -- dessa vez a voz de Zeus saiu como um trovão -- minha filha só volta para a caçada se ela quiser. E pelo que eu vejo ela não quer isso. Você já ultrapassou todos os limites, Ártemis.

–- Mas...

–- Sem mas! -- Zeus a interrompeu -- Acho que já resolvemos tudo por aqui.

–- Tem mais uma coisa -- Perséfone fez desaparecer a lixa de suas mãos e encarou Calypso -- a jovem filha de Atlas, pode voltar para o acampamento como diretora. E antes que Dionisio reclame, os dois irão direcionar o acampamento. Poderes iguais.

Zeus assentiu. E Dionisio deu de ombros.

–- Os negócios dessa assembléia estão encerrados -- todos bateram suas armas em aprovação.

O conselho acabou. Atena foi conversar novamente com Annabeth e Poseidon com Percy. Calypso e Perséfone conversavam como amigas que não se viam à anos. Eu e Thalia fomos para o canto mais isolado da sala.

–- Tive medo -- ela admitiu.

–- Teve medo quando Ártemis queria tirá-la de mim ou teve medo quando ela tentou nos matar?

–- Dos dois -- ela me deu um empurrão.

Tudo estava bem. Até que uma voz nos chamou.

–- Thalia, minha filha -- era Zeus.

–- Ah, oi pai -- Thalia disse meio sem graça.

–- Será que eu e seu... hã... -- Zeus gaguejou.

–- Namorado? -- Thalia tentou completar.

–- Isso! Hã, podemos conversar à sós? -- Thalia segurou a minha mão como se quizesse dizer não -- Fique tranquila, não vou tentar matá-lo.

–- Tudo bem, então -- Thalia saiu na direção de Annabeth e Atena. Ela me olhou e falou algo sem emitir som -- Qualquer coisa grite –- acho que foi isso que ela disse.

É nessas horas que Apolo e suas poesias fazem falta. Zeus estava em forma humana, mas isso não o impedia de me eletrocutar à qualquer momento.

–- Você sabe que você e Thalia são primos, certo? -- Zeus me olhava com uma certa curiosidade.

–- Certo -- concordei.

–- E que esse namoro de vocês dois pode ser considerado um incesto, certo? -- Ser encarado por Zeus não é legal, acredite.

–- Quem é você pra falar de incesto? Você e Hera são irmãos e estão casados -- Ótimo. Foi um prazer conhecer vocês. O mundo inferior me espera.

–- Eu poderia matá-lo por tal insolência -- os olhos de Zeus começaram à faíscar.

–- O que eu quis dizer, senhor Zeus -- tentei corrigir a minha burrada -- Os deuses não tem DNA, ou seja, nossa metade divina não conta genéticamente. Por isso eu e Thalia não somos primos.

–- Eu não aprovo a sua relação com a minha filha de qualquer forma. Vocês não deveriam estar juntos. Coisas ruins vão acontecer.

–- Não precisamos da sua aprovação -- eu deveria ficar calado.

–- Não tem medo da morte por ser filho do meu irmão, mas deveria sim, ter medo de morrer -- era impressão minha ou Zeus estava aumentando de tamanho?

–- Deveria. Mas não tenho -- respondi.

–- Você é bem insolente -- Zeus voltou ao tamanho normal -- Gosto de pessoas insolentes como você. Eu aprovo o seu namoro com Thalia. Mas saiba bem, um deslize seu e eu o mando para Tártaro com passagem só de ida -- E para enfatizar sua ameaça, Zeus sumiu em uma explosão de luz. Quando eu me virei me deparo com o causador de tudo isso. Ou melhor, causadora.

–- Você acha que acabou? -- Ártemis estava em forma humana. Com a aparência de uma garota de onze anos. Eu seria ameaçado por uma pirralha.

–- Admita. Você perdeu essa -- respondi.

–- Perdi a batalha meu querido. Não perdi a guerra. Sua vida com Thalia nunca mais será a mesma -- ela rosnou. Perséfone e Percy chegou na mesma hora.

–- Algum problema aqui? -- Perséfone começou à encarar a deusa. Ártemis desapareceu em fumaça azul -- Vou deixá-los à sós.

–- Perséfone! -- a chamei -- Obrigada.

Ela sorriu e foi ao encontro de meu pai.

–- Você está horrível, cara -- Percy olhou minha roupa chamuscada -- a conversa com Zeus foi ruim?

–- Nem queira saber -- reclamei.

–- Eu já tive essa mesma conversa com Atena. Sei como você se sente -- Percy riu da minha situação -- Vamos chamar as garotas. Perséfone disse pra nós irmos embora logo. Antes que seu pai se lembre quem é Thalia Grace.

Lembrei o que meu pai e minha madrasta fizeram por mim. E acabei rindo. Thalia me perguntou sobre a conversa com Zeus. Menti, quando falei que não foi nada de mais. Sei como Thalia fica quando se metem na vida dela. Não sei se ela acreditou ou não. Ela me deu um soco no braço e riu. Essa era uma das manias carinhosas que ela tinha comigo. Percy chamou Annabeth, Drew e Calypso e saímos do Olimpo. Pegamos um táxi de volta. E logo estavamos no acampamento. Já na entrada Will Solace veio correndo até nós.

–- Percy, Nico! -- ele estava ofegante -- Piper está de volta ao acampamento.

–- Hã... que legal, Will -- Percy disse em uma falsa alegria.

–- Não! Não é legal -- ele continuou -- Drew havia prometido se vingar depois que ela deixou de ser líder do chalé de Afrodite. Sabe-se lá o que ela vai fazer com aquela lança em mãos.

–- Nico? -- Percy me olhou.

–- Droga, vamos lá Percy.

Corremos em desparada. Se fosse há algum tempo atrás eu não me preocuparia. Mas Drew estava muito boa em manejar armas. Principalmete aquela lança.

Logo vimos uma roda de campistas, e é claro que Drew e Piper estavam lá. O estranho é que Piper empunhava a adaga, e Drew apenas pedia calma.

–- Piper, calma. Eu não quero fazer nada contra você -- Drew parecia surpresa com a situação.

–- Não chega perto de mim -- Piper gritou -- você acha que eu não lembro das suas ameaças?

Enquanto isso Travis e Connor Stoll faziam apostas com os campistas.

–- E aí? Eu aposto na Drew, ela ficou diferente depois de Gaia -- comentou Travis -- vinte dracmas na mão.

–- Pois eu aposto que não haverá briga alguma -- Clarisse interrompeu -- e se eu ganhar, você lava os banheiros do chalé de Ares por um mês.

–- E se você perder, vai lavar os banheiros do chalé de Hermes por um mês -- Travis arriscou -- Feito, Clarisse?

–- Feito -- os dois derão um aperto de mãos.

Olhei para Calypso assim que ela chegou.

–- E então, você é a diretora daqui.

Ela revirou os olhos e se interpôs entre Drew e Piper.

–- Parem com isso -- a voz de Calypso saiu baixa.

–- Eu não fiz nada -- Drew argumentou.

–- Você está tentando me matar com essa lança, Drew -- Piper rebateu.

Calypso parecia que iria explodir. Olhou para Drew e Piper. E depois pra mim. Não sei porque assenti.

–- CALADAS -- a voz de Calypso soôu diferente. Saiu em um tom realmete grave, fazendo tudo estremecer. Muitos correram por medo -- Odeio elevar o tom de minha voz. Drew, explique-se. E você senhorita escandalosa espere a explicação da sua colega.

–- Eu admito. Jurei me vingar dela -- continuou Drew -- Mas isso foi antes.

–- Então... você não quer se vingar mais? -- Piper guardou a adaga.

–- Não! Olha, Mitchel lhe dará um relatório completo sobre os últimos acontecimentos. Agora tenho que ir para a arena, tenho esgrima daqui à dois minutos.

–- Arena? Esgrima? -- Piper quase riu.

–- Eu desiti de me vingar, mas posso mudar de idéia -- Drew respirou fundo e continuou -- Sim. Esgrima. Normalmente Percy é o professor de esgrima. Mas acho que ele já tem muito à fazer -- Drew olhou Percy de mãos dadas com Annabeth -- Bom, eu me candidatei e agora estou atrasada. Seja bem-vinda, Piper.

E nisso Drew saiu correndo.

–- Ah galera, nenhuma briguinha? Puxão de cabelo, unhada, nada? -- Travis reclamou -- não acredito nisso!

–- Parece que você tem muito à fazer nos banheiros do meu chalé, Travis -- Clarisse sorria e lhe entregou uma escova de dentes -- Você perdeu a aposta.

–- Não vou limpar o banheiro com essa coisa né? -- Clarisse sorriu -- Né Clarisse?

–- Claro que vai -- a filha de Ares o arrastou até o chalé.

A multidão se dispersou.

–- Você se saiu bem -- Thalia disse à Calypso.

–- Obrigada. Tenho muito à fazer por aqui -- Calypso foi na direção da casa grande e sumiu.

–- O que foi aquilo? -- perguntei.

–- Aquilo o que? -- Thalia sorriu.

–- Você elogiou a loirinha azeda -- respondi.

–- Ora, não fale assim dela, Nico. A Calypso é uma pessoa legal -- ela argumentou.

–- Você sabe que pra mim você será sempre enigmática. Nunca conseguirei entendê-la -- respondi.

–- Enigmática não. Misteriosa, é um adjetivo bem melhor. Não se preocupe, as vezes nem eu me entendo -- ela sorriu e meu deu um abraço.