Depois de entrarmos no prédio Ethan me disse que iríamos para o quinto andar e tivermos que subir novamente pelas escadas, apesar de minhas costelas reclamarem durante todo o caminho não reclamei, isso era bem melhor do que ter que entrar novamente em um elevador.

– Quanto falta? – perguntei tentando ignorar a dor.

– Três andares.

Eu me agarrei fortemente ao corrimão quando a dor piorou, mas continuei subindo, degrau por degrau.

Só mais um pouco.

– Infernos – olhei para cima surpresa por ver que Ethan tinha parado e agora me olhava com cara feia – Por que não disse que ainda estava dolorida? – falou descendo os dois degraus de distancia entre nós.

– Não estou com dor – falei soltando o corrimão e me endireitando.

Ethan me ignorou e voltou a botar seus braços ao redor da minha cintura.

Porque em nome de Deus ele insistia em me tocar?

– Eu disse que estou bem! – falei tentando me afastar de seus braços fortes.

–Cala a boca, Evie - ele disse me botando nos braços contra minha vontade – Se não for desse jeito vamos pelo elevador.

Semisserrei meus olhos e cruzei os braços, me recusando a me agarrar a ele enquanto ele subia os degraus comigo no colo como se eu não pesasse nada.

– Quer fazer o favor de me segurar? – perguntou com a voz fria e irritada – Se continuar desse jeito posso deixar você cair!

– Não pedi que me levasse! – falei irritada.

– Evie! – disse parando de subir e me olhando com o rosto sério e implacável – Agora.

Encarei aqueles olhos azuis por um momento antes olhar novamente para o machucado roxo na sua bochecha e me obrigar a passar meus braços em volta de seu pescoço.

– Não pedi me levasse – murmurei novamente quando ele começou a subir as escadas.

– Não já mandei você calar a boca? – resmungou Ethan.

Mordi a língua com força, me forçando a não responde-lo. Maldito fosse por me fazer sentir todas essas emoções irritantes!

Quando finalmente chegamos ao quinto andar sem cruzar com ninguém e Ethan me colocou novamente no chão eu ainda estava muito irritada, irritada comigo mesmo por ter gostado de sentir seus braços ao meu redor. Recriminei-me por isso e me obriguei a lembrar de o que aconteceu da última vez que ele me carregou e cada uma de suas palavras quando ele deixou o quarto.

– Agente Ross? – perguntou uma voz feminina me tirando das minhas reflexões.

– Sim?- perguntou Ethan encarnando o agente.

A mulher sorria demais para meu gosto, ela vestia um vestido social preto e ligeiramente curto, seus cabelos castanhos eram curtos e ondulados, a pele bronzeada como se tivesse passado o final de semana na praia, seus peitos eram grandes e preenchia muito bem o vestido, suas pernas longas terminavam em um escarpin preto e alto.

– Sou Clary a nova secretaria da Dra. Jocelyn – se apresentou estendendo a mão cheia de anéis em um gesto sensual.

Ethan apertou a mão dela antes de falar.

– Ocorreu algum problema? – perguntou finalmente soltando a mão dela.

– Oh não, estou aqui apenas para leva-los até a sala da Dra. – falou ainda sorrindo e avaliando a estrutura de Ethan como se ele fosse um pedaço de carne.

– Podemos ir? – perguntei irritada com a demora.

Clary finalmente desviou seu olhar de Ethan para me avaliar, vi ela franzir levemente o cenho antes de acenar e nos guiar pelos corredores, e durando todo o curto percurso ela esbarrou levemente em Ethan apenas para se desculpar e sorri quando ele a segurava.

Fuzilei as costas dos dois me sentindo furiosa. Quem se importa se em todo canto que esse homem vai tem mulheres caindo aos pés dele? Eu certamente não me importo!

– Aqui está – disse abrindo uma porta e nos deixando entrar – Quer um pouco de café? – ofereceu a Ethan com um sorriso pícaro no rosto.

Ethan negou com a cabeça e voltou sua atenção para a mulher que estava sentada no centro da sala em frente a uma mesa muito semelhante a aquelas usadas em interrogatórios.

– Dra.Jocelyn, obrigada por me receber – disse sorrindo.

A mulher se pós de pé, e ela me lembrou levemente de Lara apesar de seus cabelos serem levemente acinzentados ainda podia ver algumas mechas pretas, sua alta estatura, a pele clara e limpa era quase como ver Lara aos quarenta e poucos anos, ela vestia um terninho preto e caro.

– Não seja bobo, Ethan! Vamos começar? – perguntou sorrindo para mim – Você deve ser a Evie.

Jocelyn diferente da sua secretaria estendeu a mão para me cumprimentar.

– Se não se importar eu irei obversar todo o processo – informou Ethan se sentando um sofá confortável ao lado da janela, sua posição o dava uma boa linha de visão para a mesa e as duas cadeiras postas em lugares opostos.

– Claro que não me importo, apenas fique calado e não atrapalhe – disse indicando-me a cadeira e voltando a sentar na cadeira oposta.

Sentei na cadeira surpresa por ela ser tão confortável e olhei ao redor da sala, além do sofá onde Ethan estava e a mesa, tinha uma estante encostada na parede, um armário com fechadura e uma pequena geladeira em um canto.

– Irei começar fazendo algumas perguntas, tudo bem? – disse Dr. Jocelyn simpática.

– Sim.

– Qual seu nome?

– Evie.

– Idade?

– Dezoito anos, eu acho – falei olhando nos seus olhos castanhos que brilhavam por trás de seus óculos.

– Sabe ler e escrever?

– Sim.

– Já frequentou a escola?

– Não.

– Se importaria de ler esse texto para mim? – disse me passando uma folha.

Peguei a folha que ela me passou e comecei a ler perfeitamente um texto que falava sobre um garoto apaixonado por uma líder de torcida.

– Ótimo, pode parar – disse pegando a folha novamente de mim – Você consegue me dizer o que tinha escrito na linha doze?

– “Senti-me caindo de amores pela belezoca de cabelos loiros e cacheados que sempre balançava os quadris levemente-” – falei parando exatamente na parte onde a linha acabava.

–Muito bom – disse Jocelyn deixando a folha de lado e me dando outro.

Depois de repetir o processo com mais dois textos Jocelyn ficou satisfeita e pegou um baralho. – Agora preste atenção na ordem das cartas.

Jocelyn me mostrou cada uma das cartas as empilhando em cima da mesa de acordo com que ela me mostrava, depois de todas as cartas acabarem ela juntou novamente as cartas na mão.

– Consegue me dizer a ordem das dez primeiras cartas?

– As de paus, três de ouro, cinco de paus, seis de copas, sete de paus, dez de ouro, valete de copas, oito de espadas, dois de copas, rei de paus – Jocelyn ia descartando as cartas de acordo com o que eu ia dizendo.

– Muito bom – disse parecendo impressionada – Consegue me dizer a ordem do resto do baralho?

Sorri suavemente antes de dizer exatamente a ordem do baralho.

– Isso foi realmente bom, agora quero que resolva essa equação para mim – disse me passando uma folha e um lápis.

Olhei a equação apenas por um segundo antes de começar a resolver. O pai de Lara era professor de álgebra e ela sempre teve a mesma paixão do pai, vários dos livros que ela me deu eram álgebra e física quântica. Resolvi rapidamente da equação.

– Impressionante! – exclamou ao avaliar minha folha com outra – Tem certeza que nunca frequentou a escola?

– Sim.

– Onde foi que aprendeu a fazer cálculos assim? – perguntou ainda olhando a folha.

– Lara gostava de me dar livros e eu não tinha muita coisa para fazer... – falei dando de ombros.

– Quem é Lara?- perguntou soltando as folhas sobre a mesa.

– Minha progenitora, ela gostava particularmente de álgebra – vi algo brilhar nos olhos de Jocelyn pouco antes dela se por em pé e andar até a estante.

– Tudo bem, vamos ver em quanto tempo consegue montar esse quebra-cabeça – disse voltando para mesa com uma caixa.

Ela abriu a caixa para mim espalhando as pequenas peças sobre a mesa.

– Pode demorar o tempo que quiser – me disse pegando um cronometro.

Peguei a tampa da caixa e observei a imagem, era de salão de festas do século 18, de 400 peças. Prestei atenção à imagem antes de descartar a tampa e começar a juntar as peças.

Descobri que gostava de quebra-cabeças, era tão fácil localizar as peças e encaixa-las e logo ver uma imagem se formar. Fui juntando a peça por peça até só faltar uma. Coloquei a ultima peça e vi a imagem do salão de festas completa em cima da mesa.

– Realmente impressionante! Conseguiu montar um quebra cabeças de 400 peças em apenas 23 minutos sem sequer olhar para a imagem novamente – disse Jocelyn parando o cronometro e se pondo em pé – Não tenho nenhuma duvida de que você tenha memória fotográfica e mais algumas habilidades, vamos precisar fazer alguns exames no centro medico, mas isso é o suficiente para provar que você é realmente uma garota habilidosa, Evie.

–Obrigada –agradeci – É apenas isso?

– Poderia me citar a vigésima linha do segundo texto que te mostrei?

– “Pois a vida do planeta pode chegar ao fim caso os nossos excepcionais cientistas não consigam apoio para esse projeto de - ” – citei a parte do texto que ela pediu.

Jocelyn sorriu satisfeita e olhou para Ethan.

– Ela é impressionante, gostaria que a trouxesse aqui novamente – pediu estendendo a mão para Ethan que agora estava em pé.

– Irei fazer o possível – afirmou Ethan soltando a mão de Jocelyn – Acredita que ela poderia nos fazer copias das formulas?

– Basta me pedir – falei irritada por ele está falando como se eu fosse uma incapaz ou não estivesse na sala.

Ethan ergueu levemente a sobrancelha antes de assenti.

– Poderia me fazer copias das formulas? – perguntou suavemente.

– É claro que sim – falei desviando o olhar para Jocelyn novamente.

Ela sorriu e apertou minha mão antes de nos liberar de sua sala e para minha surpresa Clary não estava nos esperando do lado de fora, então Ethan me guiou pelos corredores em silencio.

– Para onde vamos agora? – perguntei seguindo seu passo.

– Vamos para a sala de interrogatórios, depois vamos comer alguma coisa.

Mordi o lábio com força antes de forçar a perguntar.

– Não podemos comer algo antes? – perguntei hesitante.

Apenas alguns dias comendo regularmente e meu estomago já estava acostumado com a rotina.

Ethan parou de andar e me avaliou antes de assenti.

–Sim, podemos. Há um restaurante na esquina, vamos comer lá – falou nos guiando novamente para as escadas.

Não sei o que eu odeio mais, se são escadas ou elevadores!