My fair lady escrita por Reira


Capítulo 1
I


Notas iniciais do capítulo

"Oh I could sail the world
Search through the darkest waters but
I'd never find
These golden eyes...
I held the stars to light where you are
When your unfeigned heart called to me through the dark
Soaked in the sound that rose from the ground
There I could feel
I felt, I felt you near..."
(To be with you, the honey trees)



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Londres, 1888





É inegável que uma nobre moça precisa se casar.

É isso que vai acontecer com Katherine Austen. A futura Duquesa de Londres, com sangue real. A mais bela, a mais desejada. Não só pela aparência suave e atraente, mas também pela posição que uma união com ela representava.

Mas Katherine não é bem a garota que deveria ser. Passa o dia lendo ou caminhando pelos jardins. Quase não socializa com a elite britânica, não é fresca e mimada, é sentimental e diz o que pensa, ás vezes deixando escapar a sensatez. Uma garota de “gênio forte”, como alguns homens definiam. Em outras palavras, fora dos padrões, o que tornava difícil um homem querer assumir o risco.

Poucos conheciam a menina á fundo. Entre eles estavam a empregada que arrumava sua cama e suas roupas, Anne Latreauc; e seu mordomo, Sebastian Rousseau .

Sebastian era um homem de nobres hábitos. Gostava de ler, de natureza, de arte, nos momentos livres tocava violino, o que encantava Katherine. Quando conseguiam uma brechinha, tocavam juntos, ela no piano e ele no violino. Era gentil nos gestos, porém firme em suas opiniões, e de olhar distante. Na presença da jovem Katherine, se tornava um pouco mais ansioso e parecia aumentar as formalidades. Ela ria e vivia dizendo para que ele parasse com isso. Se conheciam desde a infância, e se tem uma coisa que ela odeia é formalidades desnecessárias.

Além de tudo, era bonito. E sensível, um homem cortês e raro. Mas todo homem tem defeitos, e Sebastian era impaciente e um pouco ríspido quando contrariado. Também não se adequava aos padrões. E aprendia cada dia mais com Katherine, aprendia de sua humildade e simplicidade, encantava-se.


Os olhos cor-de-mel, da cor do pôr do sol, como dizia Katherine, - ou cor de café com leite – de Sebastian olhavam admirados para o reflexo da princesa no espelho, enquanto Anne arrumava os últimos detalhes de seu logo cabelo preto e cacheado. O vestido azul escuro contrastava com a pele branca, branca como a neve. Tinha os ombros á mostra, o corpete delineando sua silhueta perfeita, deixando Sebastian quase sem ar. Pobre mordomo e seus sentimentos reprimidos. Os olhos azuis da menina se viraram para ele, fazendo um arrepio percorrer o corpo do jovem mordomo.

–- Como estou ? - Ela perguntou. Ele balançou a cabeça, e depois de alguns segundos sem saber como dizer, respondeu:

–- Encantadora, senhorita – Ela o repreendeu com o olhar.

–- Kate, Sebastian. É Kate. - Anne revirou os olhos. Reconhecia os sentimentos que transbordavam daqueles olhos cor de mel e pairavam no ar, e dançavam com o mesmos sentimentos que transbordavam dos olhos de Kate. Aqueles dois se amavam, isso é certo; Anne consegue ver as coisas no ar, é dona de uma perspicácia afiada e uma sensibilidade admirável. Kate, dando uma última olhada para o espelho, suspirou fundo. Estava á caminho do jantar em que conheceria o Conde Raphael, seu futuro marido. Mas ela não queria isso. Doía-lhe o coração pensar que não poderia ficar com o homem que amava. Mas algo dentro dela ainda lhe dava alguma esperança... e essas emoções disfarçadas, por Deus, Katherine tinha um furacão dentro de si, uma mão apertando seu coração, mas transparecia uma calma invejável, e sorria. Estava para nascer uma menina que consegue disfarçar os sentimentos tão bem. Já Sebastian, apesar da formalidade, deixava transparecer no olhar a dor de saber que sua menina em breve irá se casar. Só ela não via. E só ele não percebeu o jeito que ela olhou para a figura do mordomo refletida no espelho antes de sair do quarto. Um amor bonito, mútuo, intenso, suave, uma antítese tão bonita e tão óbiva, e proibida. Mas nenhum dos dois percebia. Se amam, todo mundo sabe, menos eles.

E seus pais e a aristocracia inteira, que julgavam Sebastian um tanto impertinente por olhá-la com mais afeto do que deveria, mas ignoravam e pensavam ser paixonite passageira; afinal todas as plebeias da cidade se derretiam pelo mordomo da filha do Arquiduque de Londres.



• • •



São Paulo, 2012



Enfim, as tão esperadas férias.

Jane Austen mal se continha por finalmente poder descansar. Estava no segundo ano do ensino médio, é realmente cansativo, tantos anos seguidos estudando...

Ao chegar em casa, se esparramou na cama ao lado de Cheshire, seu gato – que de vez em quando parece que sorri, daí a razão do nome - , que ao perceber a dona pular do seu lado, apenas entreabriu os olhos, miou e voltou a dormir.

Mas ainda havia um objetivo não cumprido esse ano: convencer sua mãe de deixá-la fazer um intercâmbio para Londres. Sonha com isso desde criança. Estava quase lá, mas ainda precisava arrumar uma casa para ficar. A escola onde aprende inglês se encarregou disso, e não via a hora de conseguir.

Passado a tarde, resolveu sair. O horário de verão lhe permitia sair mais tarde, sozinha, e voltar antes de escurecer. Ia dar uma volta no parque, tomar um café na sua cafeteria preferida e ler um livro, um programa que gostava de fazer á tarde, mas devido aos estudos e pouco tempo, fazia tempo que não ia.

Nessa época faz calor no país tropical chamado Brasil, o que não a agrada, mas fazer o quê. Colocou um vestido florido, chapéu de palha e rasteirinhas, e foi. Ah, e não podia esquecer os óculos. Saiu de casa enquanto se despedia da mãe e os colocava, eram bonitos, de aro grosso, pretos, um tanto vintage, como ela gosta.

Estava caminhando, livro e bolsa na mão, quando percebeu que um mesmo garoto andava atrás dela á umas cinco quadras. A acompanhou descer até o metrô, e entrou no mesmo que o dela. Estava ficando corada e nervosa. Estaria sendo seguida ? Pegou o livro e colocou na frente do rosto, tentando ler, mas sempre desviava a atenção para o moço, os olhos azuis saltando para fora do livro, espiando o moço, aparentemente novo, que vez ou outra olhava para ela, fazendo-a voltar a atenção para a leitura. Mas não conseguia passar de uma linha, estava agitada demais com a suposta perseguição. Nunca fora seguida, e sempre teve receio disso. Olhou novamente. Era um moço bonito, alto, de olhos pretos e cabelos castanhos. Eram olhos um tanto frios, deixando-a ainda mais receosa. Era forte e arrancava cochichos das garotas próximas. Como diram suas amigas, um “gatinho”, mas não chamava muito sua atenção. Não parecia ser sensível, nem ter charme ou gostar de coisas velhas como ela, então tanto faz. O que a fazia olhar tanto era o medo de estar mesmo sendo seguida. Mas porque ? Não era rica, não tinha fórmulas mirabolantes nem nunca fez teorias da conspiração ou jogou bombas nos prédios do governo. Apesar de que vive escrevendo e expressando críticas á sociedade em geral, mas não é motivo, é ? Riu de sua paranoia e quando chegou na sua estação, fechou o livro e desceu. Sentiu um alívio ao olhar para trás e ver que o garoto misterioso não estava mais ali... mas ainda estava um pouco receosa, e passar por uma rua deserta que era necessária para chegar onde queria aumentou ainda mais seu medo. E começou a tremer ao perceber que atrás dela não havia um garoto, e sim um carro, e o motorista a olhava fixamente. Aumentou o passo, quase correndo. Um pouco mais e chegaria á uma rua movimentada, onde ficava a cafeteria. Mas carros são bem mais rápidos, e quando deu por si, o carro parou ao seu lado e dois homens saíram dele, a agarrando e silenciando com uma das mãos e a colocando dentro do carro.



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Notas finais do capítulo

Esse foi uma espécie de prólogo. O que acharam ? *-*



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