Adorável Depressão escrita por Cristina Abreu


Capítulo 5
5. Cantinho das Estrelas


Notas iniciais do capítulo

Oi!!!! Duas da manhã e eu aqui postando o capítulo! Sinceramente, só eu mesma.
Desculpem pela demora e desculpem caso o capítulo tenha ficado uma bosta. Eu gostei... Do meu final. Da minha última linha, na verdade *risos*
E awn, gente... Estou muito contente! Sabem por quê? Mais de 100 reviews! Muito obrigada a quem está acompanhando e comentando. Não sabem o quanto isso me alegra!
E quanto aos reviews... Eu li e adorei todos! Só não consegui respondê-los ainda, mas o farei amanhã à noite. Prometo. Pelo menos, responderei o máximo que eu conseguir. Agora nem há mais condições. Estou precária e preciso acordar às sete amanhã.
Enfim... Caso vejam algum erro, me avisem! Como sempre, o titio Word me ajudou e meus olhinhos também... Mas eles andam cansados ultimamente e não sei se estão funcionando direito (eu digo meus olhos, não o Word. Se ele não estivesse funcionando eu não estaria postando... Mentira, estaria. Não é ele quem parar-me-ia... E essa mesóclise é culpa do meu querido companheiro de esquina. Não sei se a usei corretamente, mas se não, me perdoem) Então... Eu revisei, mas pode ter escapado algo.
Boa leitura e espero que gostem!



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5. Cantinho das estrelas


Belisquei meu bagel de gergelim e coloquei o pedaço na boca. Não estava com fome, porém minha cabeça já começava a reclamar. Tudo o que eu menos precisava era de uma enxaqueca.

Gemi e me atirei na cama, mal me importando com os farelos que caíam na colcha de retalhos em patchwork. Eu adorava essa colcha feita com minhas roupinhas de bebê, presente de minha avó quando eu tinha uns, sei lá, dez anos. Abracei meu travesseiro e deixei que meus cabelos negros tampassem meu rosto.

Logo eu teria que sair. Marcara de ir com Rafael ao cinema. Meu primeiro encontro com ele desde aquele beijo que demos... Hm... Ontem! Bem, parecera há mais tempo para mim.

Com isso, retornou à minha memória que Ana também irá a um encontro hoje. Sorri calidamente e torci meus dedos mentalmente para que tudo desse certo. Tipo, a garota estava mesmo a fim desse moleque e tudo o que eu menos queria era ter de aguentar o chororô dela se não desse certo.

Não que seria para sempre. Eu não tenho esperanças de que meu recente namoro com Rafael ou que o dela com esse garoto durasse pelo resto de nossas vidas. Nunca é infinito. Mas também não se espera que acabe. Quando acontece... Ahn, só acontece. E é o fim.

Fiquei na cama por algumas horas, até não poder adiar mais o momento de começar a me arrumar. Como era um programa casual... Bem, eu que não iria de vestido! Abri meu guarda-roupas e apanhei uma calça jeans justa e uma regata com estampa de caveira. Está mais do que perfeito, pensei enquanto calçava meus All Star Converse.

Alisei meu cabelo com as pontas dos dedos e passei um pouco de gloss e lápis de olho. Dei um sorrisinho nervoso para meu reflexo no espelho e sai, colocando meu celular no bolso antes de deixar o quarto.

— Aonde você vai? – perguntou minha mãe da cozinha. Merda.

— Sair. – respondi pateticamente. – Com Rafael.

Virei-me e encontrei seu olhar, que amoleceu um pouco mais. Sério, mãe, o que você esperava? Que eu fosse fumar com meus amigos, igual meu irmão retardado? Revirei meus olhos para ela e mordi o lábio, cruzando meus braços em meu peito em uma posição de defesa. Cara, eu estaria atrasada se ela não me deixasse sair logo.

— Posso ir agora? – questionei por fim.

— Sim, pode. Só não chegue tarde, querida. – como se ela se importasse. Bufei e saí batendo a porta com força.

Encontrei com Rafael já no shopping, subitamente tímida. O que acontecia comigo? Ainda bem que não era de todo ruim. Na verdade, era até uma sensação gostosa e que estava se tornando familiar. Sorri com meu pensamento e andei até ele, que mexia no celular.

— Oi. – murmurei, corando. Imediatamente Rafa sorriu e me puxou para um beijo que foi de tirar o fôlego.

Quando me desvencilhei dele estava igual a um pimentão. Segurei sua mão, que se encaixava perfeitamente na minha e que me dava uma estranha sensação de segurança e conforto.

— Oi. – ele respondeu após todo aquele tempo.

Olhei para baixo e depois o puxei para mim novamente. Era bom ter meus lábios colados aos dele. Eu conseguia me sentir feliz como não me sentia há um bom tempo. Enrosquei minha língua a sua e abri meus olhos. Os de Rafael estavam fechados e suas mãos passeavam por minhas costas, descendo até sua base e subindo novamente.

Ergui-me nas pontas dos pés para que ele não tivesse de abaixar-se e continuamos nos beijando por mais alguns instantes que poderiam ser segundos ou minutos, pouco me importava. Eu só queria ficar daquele jeito com ele para sempre. Ou o máximo possível.

— Vamos? – ele me perguntou, sorrindo. Ah, aquelas covinhas...

— Claro. – sorri também e deixei ser-me puxada.

— Que filme quer ver? – Rafael estreitou os olhos para os filmes em cartaz. Não tinha nenhum que me agradasse também.

— Tanto faz. Qualquer um está bom. – respondi. Eu não tinha nenhum plano para assistir mesmo.

Meu estômago se revirou de ansiedade. Oh, eu agia como uma garota boba. Será que elas eram felizes do mesmo jeito que eu estava agora? Talvez a idiotice, essa idiotice pelo menos, fosse algo bom. Sendo assim, eu queria continuar sendo idiota.

Rafael foi comprar os ingressos enquanto eu ficava esperando. Puxei meu celular do bolso para ver se teria algo para mim. Como esperado, Ana já me mandara uma mensagem. Ela fora com o pretendente a namorado, e com o amigo dele – o garoto podia ser ainda mais marica? -, a outro shopping, mais perto da casa dele.

“Tô aqui com ele”

Sorri para meu celular, mas depois franzi a testa. Qual era o problema? Ela não parecia muito animada. E isso porque ela ficou me enchendo a manhã inteira...

“O q foi?”

Antes que eu visse a sua resposta, Rafael chegou, sorrindo como uma criança em um parque de diversões.

— Comprei para algum filme de terror. – ele anunciou. Quis rolar meus olhos. Se ele esperava que eu ficasse com medo e me aconchegasse nele... Bem, isso não aconteceria. Terror era como comédia para mim.

Mas você sempre pode fingir, meu subconsciente assinalou. Era um bom ponto. Eu iria parecer-me como uma garotinha, mas poderia desfrutar disso. Quem é que ligava? Não ele e aparentemente, não eu.

— Tudo bem. – pisquei, tentando parecer nervosa. Óbvio que sem sucesso e eu quis me socar. Ai, tudo para o bem do romance no escurinho do cinema.

— Era a Ana? – Rafa questionou, apontando para o celular que ainda estava em minhas mãos.

— Sim, quem mais seria? – minha testa se encrespou. Ciúmes não era algo que eu suportaria. Não mesmo. Mas não queria brigar, então... – Ela não parece estar se divertindo muito em seu encontro.

— Ela deve ter assustado o cara. – eu ri. Era bem possível. Ela era muito intensa e não sabia esconder. E foi isso que me fizera ser sua melhor amiga. Enquanto eu tentava ser outra pessoa – claro, depois que minha mãe se divorciou – ela gostava de ser quem era. Minha concha vazia ficava completa com as emoções que ela passava a mim. Era e ainda é bom.

— Vamos torcer para que melhore... Mas agora... Nós, hum, temos um encontro, eu acho. – coloquei meu cabelo atrás da orelha, nunca olhando para ele, que sabia que, ao contrário de mim, me encarava. Sorri para mim mesma em pensamento, me congratulando por estar dando pequenos passos para que isso desse certo.

— Sim, nós temos. O filme começa daqui a pouco, vamos indo? – percebi que ele estava corado. Meu sorriso interno se ampliou.

— Uhum, lógico. – peguei sua mão estendida e subimos à escada rolante, indo comprar um refrigerante grande para nós pouco antes de entrar na sala.

Como era dia de semana, o lugar estava praticamente vazio. Não eram muitas pessoas que gostavam de chegar cansadas do serviço e sujeitarem-se a um filme. A maioria dos que estavam no shopping ia somente para jantar e dar uma olhada em alguma loja.

Escolhemos um bom lugar para nós, afastados das longas fileiras do meio. Acho que a ele também não interessava a maldita longa-metragem. Esse pensamento me agradou.

Desliguei meu celular para que as mensagens de Ana não me atrapalhassem e recostei minha cabeça em seu ombro forte, inalando o cheiro de sua água de colônia e seu aroma de... Bem, de Rafael, que era um frenesi delicioso para minha fome dele.

Rafa me beijou na testa e cheirou meu cabelo. Mordi o lábio e fiquei feliz que a sala já começava a ficar ainda mais escura e confortável. Desse modo ele não conseguiria ver o rubor que se espalhou por meu rosto pálido.

Tomei um longo gole do copo de Coca e voltei a recostar-me nele, suspirando como uma colegial apaixonada... Ops. Tire a parte da paixão. Isso não poderia acontecer comigo, não agora. Cedo demais, embora achasse que, no fundo, eu a desejasse mais do que qualquer outra coisa.

O filme começou e reprimi um bocejo. Todo filme de terror é uma merda na primeira meia hora. A vida desinteressante daqueles adolescentes que iam passar a noite numa mansão abandonada pelo carro ter parado no meio da estrada não me era interessante. De chato eu já tinha minha própria vida.

Sei que estava enchendo o saco de Rafael e que ele provavelmente não me aguentaria mais após uma semana de namoro (e quem era o chiclete agora, hein? E... Epa, espera, eu pensei em namoro?), mas me alonguei até que encontrasse seu rosto. Em sua bochecha comecei meu caminho de beijos até chegar a sua boca, que encontrei com a sua ajuda. Céus, eu queria vomitar do tanto de meiguice que eu deixava transparecer. Fofura me dava nojo, mas o olha o que eu estava fazendo? O que anos de espera pelo primeiro beijo não fazia?

Sabia que nós dois estávamos mais do que satisfeitos com minhas demonstrações de carinho. Mas isso era tão estranho! Rafael e eu desse jeito... Nunca teria imaginado isso há uma semana.

Agora... Simplesmente parei de pensar. Pra quê? Não era mais necessário e eu não achava justo querer voltar no tempo. Nem com ele e nem comigo. Ambos já estávamos muito envolvidos e tudo o que eu menos desejava era perder sua amizade preciosa.

Ah, e eu tinha de encarar os malditos fatos. Eu gostava dele. Ponto final. Será que agora minha mente podia calar a boca?

Sim, ela... Ahn, eu pude.

Pisquei desenfreadamente quando saímos da sala do cinema. Como esperado, não prestamos atenção alguma no filme, mas isso também é culpa de seus produtores. Quem mandava fazer uma merda daquelas? Até a Ana que é cagona não ficaria com medo daqueles demônios feitos em photoshop.

— Quer comer alguma coisa? – perguntou. Sorri e assenti, apanhando sua mão na minha.

— Só preciso saber se a Ana está bem... Você vai pedindo? – olhei em seus olhos castanhos e eles brilharam para mim.

— Claro, o que quer?

— Hambúrguer. – ri. – Você vai acabar tendo de beijar uma gorda...

— Acho que vou ser é esmagado por ela. – Rafael bufou, brincando.

Fingi-me de ofendida, batendo delicadamente em seu braço.

— Ei! Era pra você falar que me aceitaria de qualquer jeito! – acusei, divertida.

— Ata. Quer que eu diga essa mentira da próxima vez que você comer um hambúrguer ou agora?

— Idiota! – fiz beicinho. Ele segurou meu queixo e o ergueu, sorrindo com suas covinhas para mim. Corei com a intensidade de seu olhar e ganhei um selinho. Sorri, revirando os olhos.

— Vai logo, tô morrendo de fome. Sabe, seus beijos não são alimentos...

Desta vez foi ele quem rolou seus olhos para mim, mas partiu. Sorri satisfeita e puxei meu celular. Ela não tinha respondido minha mensagem de texto... Será que o encontro melhorara? Esperava que sim, mas do mesmo modo acabei ligando.

— Ei! – falei assim que ouvi o ruído do outro lado. – Como vai aí?

Ahn... Sei lá. – respondeu desanimada.

— Pega um ônibus e volta, então. Ele não era como você esperava? – questionei. Ela parecia triste e eu não gostava de vê-la assim.

Definitivamente não. – bufou. – Mas agora não dá, né...

Ouvi um “quem é?” do outro lado da linha e quis rir. Pobre Ana!

Minha... Ahn... Mãe. – ouvi-a murmurar. Lutei contra o riso.

— Certo, filha, você deve vir para casa. – falei com a voz mais séria que consegui. Um casal que estava passando me olhou de olhos arregalados. Disfarçadamente, levantei meu dedo do meio para eles quando estavam de costas.

Ah, mãe... – ela também lutava para não rir, percebi.

— Já está de noite, Ana Paula. Quero você em casa. – continuei e depois parei. – Sério, Ana, se não está gostando fale que eu, quero dizer, sua mãe, lhe mandou ir para a casa.

Não posso sair agora! Tipo, é o que eu mais quero, juro, mas não consigo ser indelicada. – sussurrou. Desconfiei que eles estivessem um pouco mais longe dela agora.

— Ah, isso você restringe a mim, né? – zombei. – Que horas você vai sair daí?

Vamos só tomar uma casquinha... Se eu não vomitá-la, vou logo após isso. – continuou dizendo em voz baixa.

— E o amigo dele? Troque-o por ele. – incentivei.

Ah, tá... Muito fechado. Parece triste, ou algo assim. – falou e suspirou. – Vou desligar, Ka... Mãe. Estarei logo em casa.

— Quero saber de todo esse desastre amanhã, viu? – ri.

Não ria de mim! – gemeu. Fez uma pausa e eu pensaria que havia desligado se não fosse o barulho do movimento a sua volta que chegava até mim. – Tá com o Rafa?

— Sim... – sorri calidamente para mim mesma.

Ah, isso sim é digno de detalhes. – resmungou. – Agora... Tchau.

— Tchau... “Me dá” um toque quando chegar.

Sim, mamãe. – riu e desligou.

Nesse momento percebi que Rafa já estava com nossos lanches. Fui até ele e escolhemos uma mesa. Eu amava hambúrguer. Era uma droga de tão gorduroso, mas era impossível de não comê-lo até o fim. Que se fodam os quilinhos extras!

— Como a Ana tá? – Rafael me perguntou. Mastiguei, engoli e limpei minha boca, como se fosse um ser humano normal. Se estivesse em casa, aquele hambúrguer já haveria ido “pro saco”.

— Mal. – ri. – O carinha que a convidou é um mala e o amigo dele não é melhor. Também, ficar de vela é uma droga.

Eu sabia por experiência própria. Quantas vezes não fiquei de vela enquanto minha melhor amiga estava pegando alguém? Fiz uma careta com a lembrança. Preferia muito mais estar aqui com Rafael, mas isso não era segredo.

— É, é mesmo.

Arqueei minha sobrancelha para ele e estreitei meus olhos. Rafael era gato demais para ficar sobrando. Agora mesmo eu via duas meninas, futuras prostitutas a meu ver, o encarando fixamente e cochichando entre si.

— Você? De vela? Aham, por favor! – desviei meu olhar do seu e terminei com meu jantar.

— É sério... O Ale... – pigarreou. – Em todo lugar que ele vai ele fica com alguém, então...

Deu de ombros, mas percebi que reparava em minha reação. Antes eu teria ficado com raiva e me perguntado se eu não era boa para ele. E de fato, não era. Eu era muito melhor do que ele. Então, agora, não liguei. No meio do meu turbilhão de sentimentos consegui encontrar um pouco do meu amor próprio.

— E ninguém ficava com você? – pressionei. Ops. Não. Ciúmes não, Katherine!

Ele apenas corou e eu soube que sua resposta seria “sim”. Tudo bem... Tudo bem.

— Hm... Certo. – murmurei, fingindo coçar o braço. De repente estava muito desconfortável. – E você fez as pazes com ele?

— Ainda não. – balançou a cabeça. Puxa, o clima estava tenso agora. Percebi que ele estava triste. Afinal, era seu melhor amigo.

Ninguém mais falou por algum tempo e eu me odiei por ter começado o assunto. Logo quando tudo ia tão bem! Engoli o lanche, mas não sentia mais tanta fome. Nem ele, pelo que eu podia ver. Mesmo assim, comemos nossos hambúrgueres e tomamos nossos refrigerantes até o fim.

— Devemos ir? – Rafael deixou transparecer a ansiedade na voz. Ele queria, tanto quanto eu, deixar o assunto “Alessandro” para trás.

— Sim.

Levantamo-nos e ele enlaçou o braço em minha cintura. Sorri e ouvi o suspiro das garotas promíscuas quando passamos por elas.

Isso mesmo, babem. Ele é... Meu?

Assustei-me com o pensamento, mesmo que já o tivesse tido ontem à noite. Agora parecia mais real, mais palpável. Hm... Isso deveria ser bom, não?

Rafael se desvencilhou de mim quando chegamos à porta principal do shopping. Fiquei decepcionada e me abracei. Só então percebi que ele tirava sua jaqueta e a passava por meus ombros. Tinha seu cheiro. Inspirei, maravilhada.

— Obrigada. – falei carinhosamente. Aposto que se fosse Alessandro não teria feito isso. Mas também é uma covardia compará-lo a Rafael. Por Deus, como pude gostar daquele idiota? Ainda bem que estava acabado.

O céu estava cheio de estrelas e a lua era grande e prata. Era raro poder ver tantas luzes naturais meio a tanta poluição, mas estavam lá. Milhares e milhares de estrelas sob a minha cabeça.

— Katie...

Voltei-me para Rafael com um grande sorriso na boca. Sempre gostara da noite. Ela sabia de todos os meus segredos. Desde os meus risos até meus choros. Era parte de mim. Lembro-me que, quando pequena, meu pai deu meu nome a um daqueles pontinhos brilhantes. Não era a maior de todas. Nem a mais lustrosa. Ela apenas estava lá, querendo ter seu cantinho naquele céu tão imenso que só a encobria. Era perfeita para ser minha.

— Fala, Rafa. – fiquei de bom humor, embora a memória fosse um pouco nostálgica. Dias mais fáceis e mais felizes.

— Você... Hm... Você...

Ri e beijei-o na bochecha. Ele corou.

— Respire fundo e diga de uma vez só. – aconselhei.

— Hm... Certo... Lá vai. – fez uma pausa e então soltou: — Quer namorar comigo?

Ah, cara... Aquilo foi... Uau. Chocante. Arregalei meus olhos e o encarei por vários segundos. Talvez até por minutos. Mas que diabos...?

— Sim. – sussurrei quando reencontrei minha voz. Ele expirou, aliviado. E então se precipitou para mim e me beijou profundamente.

Meio a tanta confusão, consegui retribuir seu beijo, mas não fechei os olhos. Voltei meu olhar para cima, para o céu, e em meio às estrelas encontrei a minha. Não sei como eu a reconheci. No entanto era a minha, eu soube.

Agora eu era de Rafael? Não consegui dizer como a ideia me soou.

***

Cheguei em casa estática. Rafael me trouxera até lá, sorrindo o caminho inteiro que nem um idiota. Fechei meus olhos e suspirei. Meu idiota agora, não é mesmo? Eu devia ser mais bondosa com ele.

— Katie, é você? – minha mãe perguntou da sala.

— S...sim. – gritei, minha voz falhando.

— Está tudo bem? – era preocupação o que eu ouvia em suas palavras?

E naquele momento eu queria contar-lhe tudo. Tudo o que havia feito hoje, toda a confusão que se abatera sobre mim assim que murmurei aquele “sim”, afirmando que queria ser a namorada de alguém. Oh, eu estava namorando agora!

— Sim. – respondi, hesitante. Eu não poderia falar com ela. Talvez Ana... Ela já teria chegado em casa? Reparei que não havia nenhuma mensagem nova em meu celular.

— Querida, o que foi? Sua voz está... Diferente. – ouvi um barulho e corri para a escada, subitamente com lágrimas nos olhos. Oh, porra!

— Está tudo bem, mãe. – consegui gritar. Entrei em meu quarto e tranquei a porta, escorregando pela mesma e deixando minhas lágrimas fluírem enquanto eu tentava abafar o som que meu peito fazia.

Namorar era bom, não era? Representava que eu pertencia a alguém. Então porque diabos me sentia desolada? Porque minhas lágrimas estavam escapando de meus olhos e escorrendo pelas minhas bochechas? Eu tinha de estar feliz e não chorando feito uma estúpida.

E minha resolução no cinema? A de não me afastar? Eu estava tão feliz poucas horas antes! O que se passava na porra da minha mente? Às vezes não tenho dúvida alguma de que tenho problema. Quando estou a um ponto de ficar feliz, derrubo a mim mesma. Sou eu que me impeço de ter tudo aquilo que mais almejo. Sou eu a culpada pela minha desgraça.

Levantei-me do chão frio e duro, pulando em minha cama. Chutei meus tênis para longe e me aconcheguei na jaqueta de Rafa, que ficara comigo, me embolando na posição fetal, querendo voltar a ser um bebê.

Pelo menos ele não disse que te amava, aí sim você estaria surtando de verdade, pensei. Ah, eu continuava sendo cínica mesmo em um momento desses.

Deus sabia o quão estúpido era aquilo. Eu acabava me forçando a ser infeliz pelo simples medo de me apaixonar. Por que amar me causava tanta repulsa? Não sou de seguir exemplos, como o da minha mãe. Mas ali estava eu, chorando pateticamente e com medo! Medo de algo mais bobo do que eu. Como eu tinha esse dom?

Será que era aquele pensamento de ser posse de alguém que me deixava assim... Tão insegura? Aliás, eu lá estava insegura? Acho que era simplesmente o fato de não ser mais dona de mim. Ou o fato de todos me verem desse modo. Porque eu era livre... Não era? Assim como o vento...?

Ou a partir de agora eu me tornara outra estrela? Outra ainda pequenininha, onde Rafael já declara ser dele?

Merda! Por que eu sou tão confusa? Qual é a porra do problema de não estar mais sozinha? De ter alguém ao meu lado?

E ele era a pessoa certa... Não era? Ao menos, por agora. Para esse meu começo.

Enxuguei minhas lágrimas e fechei minha janela, querendo tampar a lua e as estrelas que brilhavam em um canto só delas, sem ao menos estarem perto umas das outras.

Ser uma estrela não podia ser tão ruim. Bem, não até que sua luz se transforme em um buraco negro.

Infelizmente, buracos negros nunca voltavam a terem seu brilho de volta. Só ficam lá... Sugando tudo a sua volta, entristecido, sumidos no meio do Universo.

As estrelas teriam sido extinguidas por um amor? Eu desapareceria caso amasse?

Nada é para sempre, lembrei-me. Nada. E por incrível que me pareça... Era por isso que eu chorava.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Particularmente eu estaria no céu e não chorando como aquela bestinha... Isso, quero dizer, se fosse com o Vitor. Rafael é grudento demais... Meu Deus! Eu mesma falando mal do meu personagem, como pode? *risos*
Deixa eu parar por aqui... Até porque daqui a pouco estarei digitando com minha testa, tamanho é meu sono.
Muito obrigada por terem lido e não esqueçam seus reviews mega legais! *-* Adoro recebê-los e adoro respondê-los!
É isso aí, apple pies! Até o próximo que será postado dia 21/12 às 23:59! Se o mundo acabar à meia-noite... Bem, aí ferrou, né? Mas pelo menos terei postado.
Beijinhos e até a temida (puff) sexta-feira.