Adorável Depressão escrita por Cristina Abreu


Capítulo 3
3. País das Maravilhas? Arrã, com certeza!


Notas iniciais do capítulo

Oi! Oi! Oi!
Mil perdões pela longa demora! Acontece que não escrevi e nem fiz nada do que deveria ter feito neste feriado! Só fiquei relendo pela bilionésima vez a trilogia dos 50 Tons... e aí, agora, to ferrada. 8 livros pra ler urgentemente, provas e 2 trabalhos para fazer!
Mas enfim... Aqui está o capítulo! E antes de vocês lerem, quero agradecer quem comentou e quem deixou recomendação! Muito obrigada my world, May Malfoy e Nyu Chan pelas outras três recomendações! Estou muito contente que vocês estejam gostando!
Agora... Vamos ao capítulo? Boa leitura!



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3. País das Maravilhas? Arrã, com certeza!

Os dias seguintes se passaram com uma tensão inimaginável. Eu não falava nem com minha mãe e nem com meu irmão. Passava o dia inteiro na cama fingindo que não existia nenhum mundo lá fora. Para que deixar meu quarto? Não esperava coisa melhor lá fora mesmo.

A escola tornara-se minha válvula de escape, além dos livros. Essas duas coisas que me mantinham sã e evitavam que eu cortasse meus pulsos (drama, ok?).

Mas enfim... O dia de hoje começou da mesma forma que os anteriores. Levantei, me arrumei e saí. Não troquei nenhuma palavra com os dois olhares que pareciam me fuzilar enquanto apanhava alguma coisa para comer no caminho. Não queria ficar ainda mais irritada.

Passando pelo portão de ferro batido do Colégio corri para o pátio, onde minha pequena turma de amigos estava tomando um pouco da luz do sol, revigorada com força total após a tempestade de cinco dias atrás. Caminhei em direção a eles, deixando um sorriso falso se abrir em meu rosto.

— Olá. – cumprimentei, sentando-me ao lado de Ana, que imediatamente colocou sua cabeça em meu colo.

— Oi, vadia! – ela está feliz, pude perceber.

— O que aconteceu? – perguntei, erguendo uma sobrancelha.

— Depois. – sussurrou e riu. – Cara, isso é muito legal.

— Isso o quê? – nossa, como ela conseguia me confundir!

— Levantar a sobrancelha. Eu não consigo. – e ela começa a tentar, fazendo diversas caretas que acabam por me divertir. Imediatamente senti-me mais leve.

Notei os demais ao nosso redor, grudando os olhos em Alessandro, primeiramente. Seus cabelos castanhos desgrenhados estavam sobre sua testa morena, quase chegando aos seus olhos, também escuros. Sua boca estava aberta em um sorriso, mostrando o aparelho fixo recentemente posto. Oh, e aí que acabei percebendo... Ele também estava muito ocupado sorrindo para a putinha da nossa sala.

Rapidamente, desviei o olhar. Rafael se aproximava, vendo a decepção e mágoa em meu rosto. Tentei dissipá-las, mas não consegui. Por que não poderia ser o bastante para alguém? Por que aquela garota pervertida e sem moral conseguia todos que queria e eu, que gostaria de ter apenas aquele garoto, não? O Universo não ia mesmo com a minha cara, mas também, deveria? Hm... Não.

— E aí? – Rafael sentou-se ao meu lado.

— Oi. – murmurei, inclinando-me para dar-lhe um beijo na bochecha. Ele sorriu e também deu um em Ana.

— Rafa, oi! – minha melhor amiga gritou e riu. Oh, aquele bom humor dela começava a me deixar irritada. Que porra havia acontecido? Rafael espelhou meus pensamentos.

— Por que está tão feliz? – questionou, sorrindo para ela.

Ana não lhe respondeu, apenas continuou sorrindo, tocando o indicador nos lábios em tom de eu-tenho-um-segredo. Oh, bem, foda-se. Eu tinha milhares. E um eu havia dito a ela...

— E Vitor? – perguntou inocentemente. Ataquei-a com meu olhar.

— Não o vi mais... Não voltei na pista de skate. – respondi, pegando um fio invisível da minha calça do uniforme.

— Que Vitor? – Rafa guinchou e olhou atentamente para mim. O que ele estava procurando? Sinais de paixão? Controlei-me para não bufar da sua cara de babaca.

— Um moleque que ela conheceu no parque, semana passada. – A vaca da minha amiga explicou. – Ciúmes?

Rafael corou furiosamente e não respondeu. Fingindo desinteresse, peguei meu celular no bolso de trás da calça e olhei a hora. Soltei um profundo suspiro e afastei a cabeça dela do meu colo. O sinal tocaria em breve.

— Aonde vai? – perguntou Ana.

— Só estou me levantando, daqui a pouco temos aula. – expliquei, dando de ombros.

Sua cara feliz transformou-se em uma carranca triste em um segundo. Ri dela e segurei sua mão, puxando-a para cima. Fizemos o mesmo com Rafael, que segurou minha mão na sua um pouco mais do que o necessário. Corei, subitamente desconfortável.

Felizmente, o sinal tocou, fazendo com que eu pulasse de susto. Ana riu e puxou-me pelo braço.

— Bem, vamos lá. – revirou os olhos. – O que uma aula terrivelmente chata de Português pode fazer, além de alguns suicídios?

— Não seja tão dramática... Não até a aula de História! – gemi. Ah, eu odiava ter de fazer aquelas anotações. A matéria era um saco total.

Minha amiga concordou, sua expressão caindo ainda mais.

— Ah, mas é claro que durante essas torturas você irá me contar o que aconteceu para ter ficado feliz mais cedo, não é mesmo? – pisquei para ela. Atrás de nós, Rafael bufou. Olhei por sobre o ombro e sorri.

— Kate, vadia do meu coração, a curiosidade matou o gato. – seu sorriso voltou, permanecendo até depois de termos entrado na sala. Por sorte, a professora não se encontrava na sala.

— Eu também quero saber. – Rafael murmurou para Kate. – Está muito feliz para uma pessoa em constante mau humor.

— Vai se foder.

Sorri para os dois e fui para meu lugar. Logo após de me sentar, a professora chegou e começou a aula. Fiquei contente que já sabia a matéria e que poderia me dispor a ler um livro.

Discretamente, apanhei o exemplar surrado de Alice no País das Maravilhas que já fora da minha mãe e comecei a relê-lo. Parece que há séculos que não dedicava algum tempo a ele. Óbvio que reler um livro não era tão interessante quanto descobrir os segredos de um novo, mas eu gostava. A cada vez eu lia, podia firmar minhas certezas ou então mudá-las.

Coloquei o livro em meu colo e virei a primeira página.

Alice já se perguntava para que servia um livro sem figuras ou diálogos...

***

Pobre Alice. Caíra no buraco e estava naquele mundo louco. Dei um pequeno sorriso enquanto fechava o livro e levantava de minha cadeira. Li durante as três primeiras aulas e agora já estava no final. Hm... Hora do intervalo...

Andei penosamente até meus dois melhores amigos, que me aguardavam na entrada. Tomei o braço de Ana e peguei a mão de Rafael, puxando-o junto a mim. Seu sorriso de covinhas apareceu e ele passou o braço em minha cintura. Minha nossa, não era para tanto! Porém, não o afastei.

— Ei, Rafael! – ouvi a voz do Alessandro e me virei para ele, sorrindo. O bastardo me ignorou.

— Oi, Ale. – Rafa sorriu e bateu na mão de seu amigo. – E então...?

Alessandro olhou para mim e ergueu a sobrancelha, porém não disse nada, além de me lançar um meio sorriso.

— Então, sobre aquele novo jogo...

Revirei meus olhos e me desvencilhei de Rafael, voltando a andar de braços dados com minha amiga. Fiz beicinho e ela notou.

— Acho que essa cara de “cão chupando manga” não é por ter de se separar de seu amado Rafael... – ela bufou. – Vamos lá, Katherine. Ajude-se e dê uma chance pro moleque. Você viu como ele ficou quando falei sobre o Vitor?

— Vi. – resmunguei.

— E?

— E nada, Ana. – falei, nervosa. – Eu não posso gostar dele como... Algo a mais. Não dá. Curto o Ale.

— Só que ele não te curte, sua idiota. – ela quase gritou. – E você nem sequer tentou gostar do pobre Rafa... Ele a faria feliz. Olhe, até mesmo aquele Vitor, que eu nunca vi na minha vida, parece melhor do que o corno do Alessandro.

Fiz uma careta para ela. Eu não achava que poderia gostar do Vitor, tampouco. Qualquer outro que não fosse o Alessandro... Estava desclassificado da lista.

— Por favor, me dê ouvidos! – Ana implorou, fincando suas unhas no meu braço.

— Ai! Solta! – gritei. – Você tá louca?

— Desculpe, desculpe! – rapidamente fala, sorrindo. – Mas você mereceu, só pra ver se deixa de ser anta.

— Você não entende, Ana. – suspirei. – Eu já tentei gostar de outras pessoas, sim, só não encontro ninguém...

— Ninguém que o quê?

— Que me toque do jeito que o Ale faz...

— Toque? Só se for na sua imaginação! O garoto nem fala com você direito. E me desculpe, mas ele sabe que tem você caidinha aos seus pés, mas ao invés de levantá-la, ele decidiu pisar nesse seu coração estúpido! – seus olhos demonstram raiva. Tomara que não seja direcionada a mim.

— Eu não disse “toque” de contato físico. – corei. – Quis dizer que ele mexe comigo de uma forma que ninguém mais fez.

— Katie, querida, posso lhe dizer uma coisa? – perguntou-me.

Dei de ombros, concordando. E ela já não estava me azucrinando?

— Você. Não. É. A. Sua. Mãe! – Ana disse cada palavra lentamente, destacando cada uma delas. – Então pare de querer foder com a sua vida e deixe de ser besta!

Pisquei fortemente, dominando minhas lágrimas. Então era isso que ela pensava? Que eu me esforçava para ser igual à pessoa que ferrava com tudo? Mordi meu lábio e virei-lhe às costas, andando e passando por todos com raiva.

— Kate? – ouvi Rafael me chamar. Preocupação dominava sua voz. Bem, eu já estava longe demais para voltar.

Como o campus não tinha portão ou coisa parecida, dava-me a liberdade de ir embora e foi o que fiz. Quando já estava na metade do caminho para o parque, apanhei meu celular e mandei uma mensagem a Rafael.

“Por favor, pegue minhas coisas e depois deixe em casa, ok? Xoxo.”

A resposta veio quase que imediatamente.

“Claro. Vc tá bem?!”

Balancei a cabeça e ignorei sua mensagem, voltando a guardar o aparelho no bolso de trás. Recomecei a andar. Agora não faltava muito para chegar à pista de skate... Será que Vitor estava lá?

Kate, Kate... Ele deve estar na escola! Ou então, pior, “catando” alguém por aí... E isso seria embaraçoso de se ver!

Torci minhas mãos e caminhei mais depressa, esquadrinhando ao meu redor, tentando ver um garoto alto de piercing na sobrancelha. Havia milhares desse tipo, mas nenhum era quem eu queria.

Suspirei e sentei-me num banco perto das pistas mortais, ao menos para mim. Quem sabe ele não apareceria? Certamente, ele havia me surpreendido antes, perto da lagoa.

Esperançosa, comecei a me encaminhar para lá, mas ninguém além de crianças e pais ocupados estavam próximos aos gansos. Fiz careta para eles, me arrependendo logo em seguida. Cara, os olhares daqueles bichos eram intimidadores!

Afastei-me um pouco e procurei outro banco para voltar a me sentar, mais afastado da margem e de onde havia sido nosso encontro semana passada. O sol batia em meu rosto e esquentava minha pele. Fechei os olhos e fiquei sorvendo sua luz e calor.

Comigo mesma pensei como Lewis Carroll havia tido a imaginação de escrever Alice. Aquele mundo era tão, mas tão diferente do nosso! Até mesmo a Rainha de Copas não poderia ser pior do que nossos ladrões. Sua frase “Arranque-lhe a cabeça” é inofensiva se comparada aos tanques de guerra, que não dão uma morte justa, mas sim um esquartejamento.

Desde que li esse livro, muito tempo atrás, tivera a vontade de cair num buraco e ficar às vezes pequena, às vezes grande. Parecia muito mais fácil do que aguentar esse mundo real tão idiota e preconceituoso. Odiava ser uma humana porque odiava humanos. Eles são terríveis, e é essa a temível verdade.

Piores são os que tentam mudar o mundo. Pequenos idiotas iludidos. Essa porra nunca mudaria realmente, por nossa causa. Nós acabamos com tudo que havia de maravilhoso nele e não existia volta.

Ninguém aprende com os seus erros, ninguém pode ser o que não é. E todos são um bando de fodidos. Agora, diga-me, como mudar isto?

Abri meus olhos com raiva e chutei o cascalho aos meus pés. Por que eu ficava tão revoltada como a vida? Acho que é por isso que a minha é difícil e ferrada. Porque eu ligo demais quando devia deixar para lá. Fingir que nada disso é real, que nada me afeta. Exceto... Que eu não conseguia fazer isso. Parecia errado e... Perigoso. Como eu ficaria quando minhas barreiras desmoronassem? Quando as bases sólidas que havia construída se partirem e me permitirem cair? De certo que eu não pararia no País das Maravilhas.

Suspirei e cruzei os tornozelos, escorregando pelo banco até que meu pescoço estivesse apoiado em sua madeira desconfortável. Doía, mas era a menor das minhas preocupações.

Decidi esperar Vitor um pouco mais, o que era ridículo. Eu nunca marquei um encontro com o garoto novamente e nem sabia por que ansiava vê-lo. Quem era ele, afinal? Apenas mais um garoto de piercings e que andava de skate. Provavelmente não fazia mais nada da vida. Melhor do que o Alessandro que me ignorava? Definitivamente, não.

Quando o sol estava desaparecendo na infinidade do horizonte, levantei-me e me espreguicei. Meu corpo latejava em algumas partes por ter ficado muito tempo em uma má posição e estremeci. Comecei meu caminho de volta, até ouvir uma voz arfante me chamar.

Virei-me, esperançosa.

— Kate! Kate! Espera! – gritou.

— Oh, Rafa. – murmurei e meu sorriso se fechou um pouco. – Como me achou?

Sua boca se contorceu em reprovação. Quis ler a mente dele para obter uma explicação, mas logo ele a deu.

— Imaginei que estivesse aqui depois que a Ana... Você sabe, falou daquele moleque... – falou. Ri e sorri com ternura, me aproximando dele. Rafael estava com ciúmes? Eu não sabia se achava fofo ou se me desesperava.

— Ah, tudo bem. – disse. – Desculpe por não te responder mais cedo.

— O que aconteceu? Você saiu do nada do colégio e a Ana estava preocupada com você... Muito mesmo. – soltei um ruído de indignação. Ela devia ter se preocupado antes de me comparar a minha mãe.

— Brigamos. – respondi simplesmente. Ah, eu não daria detalhes.

— Brigaram? Vocês, tipo, nunca brigam. O que ela disse? – Rafael insistiu. Respirei fundo e cruzei os braços.

— Não quero falar disso, tá? Vamos embora? Logo vai escurecer e tenho certeza que sua mãe se preocupa contigo. – peguei na sua mão, sem esperar uma resposta. Confuso, ele meneou que sim com a cabeça e começamos a andar, contornando o lago para sairmos do parque.

— Deixei seus livros na sua casa, antes de vir pra cá. – falou, puxando-me para mais perto. Aceitei de bom grado seu abraço.

— Hm... Valeu. – sorri, beijando-lhe o rosto. Ele corou. É, Rafa era mesmo um fofo.

— Por nada. – olhou para baixo. – Estava esperando ver aquele garoto?

— Não. – menti. – Por que estaria? Eu nem o conheço e não costumo procurar por encrenca.

Ele pareceu satisfeito com minha resposta, sorrindo timidamente. Ah, Rafa, mas isso não muda nada, eu queria lhe dizer, porém, preferi o silêncio. Por que magoá-lo? Desde que conseguisse manter a linha de amizade e namoro bem esclarecida, não havia necessidade de ter uma conversa constrangedora dessas.

— Bom. – disse apenas. Apertei meu braço em torno de sua cintura.

— Ahn, Kate, não brigue comigo também, mas você deveria falar com aquela idiota. – Rafael perfurou meu rosto com seus olhos castanhos profundos. – Não sei o que ela disse, mas perdoe a coitada. Ela só se preocupa com você.

— Eu sei. – suspirei. – Vou falar com ela assim que chegar, tudo bem?

— Essa é a minha garota! – exclamou, feliz, e eu rolei meus olhos para ele.

— Venha, Rafa, me leve pra casa. – encerrei o assunto e começamos a andar mais depressa. Logo, o sol se poria.

***

— Kate, desculpa, desculpa, desculpa! – minha melhor amiga implorava no telefone. Senti um sorriso se espalhar em meu rosto tenso.

— Tudo bem, Ana. Nós duas estávamos bravas... Acontece. – falei e deitei na cama, de bruços. Peguei o controle da TV e comecei a zapear pelos canais, sem encontrar nenhum programa legalzinho. Merda.

Oba! Amanhã, então, temos que sair pra comemorar! – ela gritou ao telefone. Percebi que ela estava mais aliviada e me senti culpada. Não devia ter ido embora daquele jeito da escola.

— Comemorar o quê? – perguntei, confusa.

Ora, somos amigas de novo! – será que ela estava pulando? Quis rir com a imagem, mas me segurei.

— E quando deixamos de ser? – revirei meus olhos. – Você não vai conseguir se livrar de mim assim tão rápido. Desculpa por acabar com estas suas ilusões, vadiazinha de esquina.

Coitada de mim! – exclamou, rindo. Ri também. – Ah, mas o que você ficou fazendo enquanto matava aula? Dando em qual dos seus pontos?

— Nem te conto! – falei. – Fui ao parque, tentar achar o Vitor...

E aí? E aí?! – interrompeu-me. – Encontrou o garoto?

— Mano, cala a boca e me deixa falar! – desliguei a TV. Nada de bom estava no ar, mesmo. – Não, não encontrei... Quem sabe ele realmente não quebrou a perna?

Deixa de ser idiota. – eu tinha certeza de que Ana revirava os olhos. – E olhe, se você não me apresentar esse garoto, vou achar que você tem amigos imaginários e que está maluquinha. Aí, meu amor, seu lugar vai ser no manicômio e não na esquina.

— Vai roubar meu ponto? – continuei sua piada.

Uhum... Claro que vou... Mas falando sério, quero conhecer esse menino!

— Então vai procurar! – exclamei, exasperada. – Ele não estava em lugar nenhum no parque hoje. E eu esperei até a tarde quando...

Quando...?

— Caralho, vai parar de me interromper, ou não? – eu já ficava irritada.

Nossa, calma, nervosinha. Desculpa, fala logo. – Ana esperou pacientemente. Dei uma risadinha e prossegui.

— Quando vi o Rafa. Ele foi até lá, me procurar. – finalizei.

Ai, que fofo!!! – gritou. – Ele devia estar preocupado com você.

— É, ele estava. – murmurei. – Só não sei se posso gostar disso.

Claro que pode! E deve! – falou-me. Ana ficava exasperada com a minha não retribuição de sentimentos. – Ele é o melhor pra você, eu já disse. Esquece o seu amigo imaginário, esquece o Alessandro... Manda o mundo se foder e fica com o Rafa!

— Meu, você não sabe o que quer, né? – balancei minha cabeça. – Primeiro me diz para procurar o Vitor, depois me diz para ficar com o Rafa...

Mas enfatizo: Não fique com o Ale.

— Ui, a vadia aprendeu uma nova palavra? – perguntei, brincando, referindo-me a “enfatizar”.

Desculpa, sou uma menina muito intelectual.

— Ah, é... Arrã. – ironizei. Ana Paula não estava na lista das garotas mais inteligentes da escola.

Mas para de desviar do assunto! Fica logo com o Rafa e acabou.

— Se fosse tão fácil assim... Eu faria. – falei. Vire-me de costas e subi minhas pernas na cabeceira da cama, encarando minha meia colorida.

Mas é assim tão fácil... Olha, não faz nada agora, só se aproxima do menino e tenta gostar dele. Tentar não custa nada, custa?

— Não... Só não quero que ele se iluda. – suspirei. Hm... Será que eu conseguiria gostar dele? A ideia não me parecia mais tão inconcebível.

Ele já é, e escolheu ser assim. Não se culpe, apenas tenta retribuir. Aí, tenho certeza, ele ficaria muito feliz e todos os seus sonhos se tornarão realidade... Você não quer acabar com a fantasia do moleque, não é?

Revirei meus olhos. Ana conseguia ser mais dramática do que eu. E olhe que isso era difícil de conseguir.

— Tá, vou fazer do seu jeito. Mas se não der certo, a culpada é você!

Isso, isso, isso! – Jesus!

— Você não está fazendo uma dancinha da vitória, está? – senti vergonha por ela.

Óbvio que estou! – ela riu e escutei um baque do outro lado da linha.

— O que você derrubou?

Ahn... Nada... Ai. – desatei a rir.

— Sua retardada! – ri ainda mais. – Machucou?

Não muito... Ai, minha bunda! – exclamou e gemeu. Tentei para de rir. Sem sucesso.

Ai... Olhe, venha pra cá amanhã e durma aqui? Pode ficar o final de semana inteiro!

— Vou, sim... Só preciso avisar minha mãe, mas tudo bem. – disse, resignada.

Ótimo! Agora vou desligar... Ninguém manda você ser de uma operadora diferente! Meus créditos foram todos pro buraco nessa ligação.

— Sua pobre. – ri. – Tudo bem... Mas, ei, espere!

O quê? – perguntou com pressa.

— Por que estava toda risonha hoje? Você ainda não me contou!

Lembra daquele garoto que eu te falei e que estava trocando mensagens?

— Ahn... Sim, claro. – puxei da memória.

Então... Ele quer sair comigo! Comigo! – falou, encantada.

— Como se isso fosse surpresa... Ele seria um idiota se não te chamasse pra sair!

Ana riu e eu sabia que ela estava constrangida. Éramos muito parecidas nisso. Nenhuma de nós sabia como receber um elogio.

Bem, mas agora eu estou desligando, ok? Beijos, minha puta!

— Detalhes amanhã?

Com certeza!

— Beijos, vadia! – sorri e desliguei.

Hm... O que eu fizera?

Decidira dar uma chance. Meu tudo, que tanto queria? Teria de torcer os dedos para que fosse “Rafael” o nome dele, ou então, continuaria perdida. Caindo, caindo e caindo num buraco sem fim, sem nunca encontrar meu País das Maravilhas e meu final feliz.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não gostaram? Críticas? Sugestões? Elogios? Deixem um review!!!
Novamente... Desculpas pela demora! Não sei quando voltarei a postar, porque na terça começam minhas provas e eu realmente tenho que ler. Mas, farei de tudo pra poder postar o mais rápido possível!
Beijos e nos vemos nos reviews, hein? Por favorzinho? :3