Adorável Depressão escrita por Cristina Abreu


Capítulo 13
10. Beijo a la Cinderela


Notas iniciais do capítulo

Adivinha quem está aqui? Sim!!! A Cris mais velha (e cansada!). 15 aninhos hoje! (aceito presentes, ok?) Party Hard, people! - mentira que eu tô na minha casa depois de dez aulas na escola. Minha party vai ser na minha cama, dormindo, porque eu mereço um descanso.
Mas todos cantemos parabéns, vai:
"Parabéns pra você, nessa data querida. Muitas felicidades, muitos ano de vida!!! Aêeeeee Cris, Cris!" - esses são vocês, só que não.
Tá, agora chega de palhaçada sem graça.
O capítulo ficou grandinho, né? 4k de palavras. Mas eu gostei, o que é realmente raro! Espero que vocês gostem também!
Enjoy. A gente se vê lá embaixo, nas Notas Finais.



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10. Beijo a la Cinderela

Nem percebi quando uma semana se transformou em duas, que se multiplicou e virou um mês. Uau! Já se passara um mês. Hoje seria o último dia da escola. A última prova. Meu último dia no Fundamental. Ano que vem seria mais um desafio: o Ensino Médio.

Espreguicei-me e sorri. Estava de férias! E daí que elas seriam entediantes? Eu não teria que vir para essa escola por dois meses! Poderia dormir tarde e acordar mais tarde ainda. Esse sim era um presente divino.

Levantei-me e fui entregar minha prova à professora. Depois disso, estaria livre. Quando voltava para recolher meu material, vi que Rafael e Ana ainda estavam fazendo. Sorri com carinho, aqueles dois idiotas... Por que não estudavam? A matéria nem fora tão difícil assim.

— Vou esperar por vocês no portão, ok? – sussurrei para os dois, fugindo das vistas da professora de Português. – E, Ana, a resposta dessa daí é a.

Pisquei para minha amiga, que tentou não sorrir e joguei minha mochila nas costas, correndo até a porta. Estava feliz hoje. Muito feliz. Mais uma fase completa da minha vida. Também me sentia um pouco nostálgica, mas tinha esperanças de que o ano que vem seria melhor.

Certo, aquilo era realmente uma novidade. Eu tendo esperanças. Até parecia piada, mas... Acho que sempre a mantive perto de mim. Inconscientemente, claro, porém ela estava ali, sem nunca me deixar.

Meu sorriso ampliou-se e eu saí pelo portão, dando tchau para os funcionários que passavam por mim. Era óbvio que eu não ficaria de recuperação para vê-los novamente antes do próximo ano letivo. Nunca fui uma daquelas que não gosta de estudar. Hm... Quero dizer, gostar eu não gostava, mas era uma obrigação que eu sempre cumpria. Eu era uma pessoa fodida, mas com um senso de responsabilidade.

— Foi bem, nerd? – Alessandro me perguntou, assustando-me. Há quanto tempo ele estava ali, ao meu lado, sem que eu percebesse?

— Era Português. – dei de ombros, querendo parecer muito blasé. – Óbvio que fui.

Ale riu. Eu apenas sorri para ele, sentindo o clima ficar mais tenso a cada minuto que se passava. Nunca quis tanto ter um assunto para conversar, ou então, não ser uma pessoa sem graça.

— Ahn... Então, você já se decidiu sobre a fantasia que vai vestir? – ele perguntou, passando a mão em seus cabelos castanhos.

— Ainda não faço ideia... É na próxima semana, né? Preciso ver isso logo. – murmurei, mais para mim mesma. – E você? Já sabe do que vai?

— Acho que de pirata, ou sei lá. – falou, franzindo os cantos dos olhos. Sorri sarcasticamente.

— Você sabe que tem de ir com máscara, né, Jack Sparrow? – provoquei.

— Foda-se. É só colocar uma máscara preta, ou até um tapa olho, e “já é”. – respondeu, mal-humorado. Ri. – E é Capitão Jack Sparrow para você, sua pessoa sem fantasia.

— Ah, desculpa aí, Capitão. – ironizei. – Acho que vou de Chapeuzinho Vermelho.

— Tá de “zoação” comigo, né? Chapeuzinho Vermelho? Que bosta, mano. – Alessandro bufou. Murmurei alguma coisa e lhe dei às costas. O que havia de errado com a coitada da Chapeuzinho Vermelho? Bem, eu sempre podia ir de zumbi... Mas com máscara? Argh!

— Tinha que ser de máscaras? – gemi. – Droga, o que diabos eu vou vestir?

Ele riu e eu o fuzilei com o olhar.

— Não se preocupe, Katherine. Você vai achar alguma coisa... Ou a Ana vai. – deu de ombros, sorrindo. – Agora eu tenho que ir.

— Ei, não vai se despedir do povo? – franzi minha testa. Então para que ele ficara lá até agora? Mistérios da vida...

— Não. – piscou. – A gente se vê na festa.

— Certo. – sorri, um pouco confusa. Odiava ficar confusa, mas era um sentimento tão constante dentro de mim que à essa hora eu já deveria estar acostumada. – Eu serei a garota pirando com a máscara.

— E eu serei o garoto mais gostoso de toda a festa. – riu e eu revirei meus olhos para ele. Meu amigo saiu andando, mas virou-se novamente, olhando por sobre o ombro. – Ah, você sempre pode ir de Mulher Gato. Você faz o tipo mesmo.

Corei e arregalei os olhos, sem falar nada. Mas hein?! Quando minha voz retornou e quando meu coração desacelerou, ele já era um ponto bem longe do horizonte.

Garotos. Quando nós, mulheres, vamos entendê-los? E depois dizem que nós é que somos difíceis...

— Katie! – Ana gritou, abraçando-me. – Acabamos! Acabamos! Oba! Agora só vamos entrar nesse inferno no Ensino Médio... Ah! Seremos garotas colegiais, Katie!

Ri com sua animação e abracei-a de volta. Só reparei que Rafael estava lá quando ele passou os braços por nós duas. Beijei-o no rosto e ganhei seu sorriso de covinhas.

— Vamos, povo... – gemi. – Preciso de ajuda com a minha fantasia...

— Ah! Mas eu já sei do que você vai, Katie. – Ana deu uma risadinha. – Você vai gostar.

— Vou é? – desconfiei. O que ela aprontara dessa vez?

— Vai. E o melhor de tudo: se você não gostar, vai ter que usar mesmo assim! Já está lá em casa.

Ótimo. Agora eu tinha a absoluta certeza de que não gostaria. Nem um pouco.

— Então vamos até lá... Quero ver. – fiz biquinho. Ana balançou sua cabeça, seus cabelos loiros indo de um lado a outro. Alguns garotos mais novos pararam para vê-la sorrindo.

— Não mesmo. É uma surpresa. Só vai ver no dia. Aliás, logo depois da colação de grau, eu vou para sua casa, ok? – não esperou por uma resposta minha. – Perfeito. E você já sabe do que vai, Rafa?

— Ahn... Ainda não. – fez uma cara de culpado. – Não faço a mínima ideia.

— Pois então, comece a criá-la! Não vou deixar minha amiga sair com alguém vestido de preto e usando uma máscara. – Ana ralhou. Segurei minha vontade de revirar os olhos novamente. Minha melhor amiga estava ficando louca com essa festa medíocre.

— Ah, falando nisso, você vai com alguém? – Rafael rebateu. - Pelo menos, ela tem um cara vestido de preto para fazer companhia.

Percebi pelo olhar de Ana que ela iria matar meu namorado se ele não calasse a boca dele. Mordi meu lábio inferior e me meti entre os dois, antes que ela avançasse nele.

— Certo... Chega, vocês dois. – falei. – Vou começar a me despedir do resto dos nossos colegas, ok? Quero ir logo para minha casa e começar a ficar sem ter nada para fazer. A sensação é muito boa. Vocês podem vir comigo, ou então ficar aqui mesmo, mas só se não se matarem. Por favor.

Ana grunhiu e saiu andando na minha frente. Respirei fundo. O que estava acontecendo com ela? Por que tanto estresse? Meu Deus.

Balancei minha cabeça e comecei minha sequência de despedida. Seria rápido, não tinha muitos amigos nesse colégio mesmo. Não pude deixar de suspirar. Se fosse no outro... Naquele do qual Rafael, Alessandro, Ana e eu viemos... Hm. Agora que eu pensava nisso, era engraçado. Nós quatro sempre estivemos juntos.

Aqueci-me por dentro. E esse agradável calor aumentou quando peguei meu celular e notei que havia uma mensagem.

***

Corri pelos caminhos de terra, já arfando. Viera rapidamente para cá logo depois de ter largado minha mochila em casa, dando uma desculpa esfarrapada para Ana e Rafael, que ainda queriam matar um ao outro. Parei na pista de skate. Hoje o parque estava cheio.

Li novamente a mensagem:

“Pode vir aqui no parque? E repare: o Sol está brilhando. Bjs, V.”

Segurei a jaqueta, dando uma última fungada nela. Quando Vitor desceu da pista, ainda em seu skate, sorri e lhe entreguei a roupa, odiando-me por ter feito isso. Ele pegou, sua mão esbarrando na minha. Corei.

— Oi. – falei timidamente.

— Olá. – sorriu, inclinando-se para beijar minha bochecha.

Meu rubor se intensificou. Pigarreei e dei um passo para trás.

— Você parece feliz. – reparei. Vitor deu de ombros. – Seus problemas familiares foram resolvidos?

Merda. Do que eu estava falando?! Ele provavelmente não gostaria de relembrar isso. Mas, para a minha grande surpresa, Vitor não ligou. Continuou sorrindo, como se estivesse satisfeito.

— Foi. – fez uma pequena hesitação. – Meu pai finalmente foi preso.

Engasguei.

— Como assim? – tive dificuldade em falar alguma coisa.

Vitor segurou minha mão, me puxando em direção aos velhos balanços. Dei um pequeno sorriso.

— Ele tem problemas com álcool e com drogas, muito provavelmente. – começou. Senti-me ficar gelada. O que aquele garoto passava dentro de casa? – Não trabalhava, só ficava dentro de casa, assistindo à televisão. E...

Balançou a cabeça, aparentando raiva. Eu também ficaria, se estivesse no lugar dele.

— E...? – incitei. Se eu pudesse confortá-lo... Sem dúvida alguma de que o faria.

— E batia na minha mãe. – ele respirou profundamente, fechando os olhos. – Costumava bater em mim também, mas aí eu cresci e acho que ele ficou com medo de mim.

“Enfim, semana passada ele deu uma surra e tanto na minha mãe, quando eu não estava com ela. Machucou bastante, mas ela não queria falar com a polícia. Não queria de jeito nenhum... Parecia que ela gostava de apanhar!

“Mas bem, eu não podia mais deixar, podia? Fiquei com vergonha de mim mesmo vendo seu rosto arrebentado e fui à polícia. Depois de uma hora, meu pai foi levado para longe da gente. Sei que ele não vai ficar por muito tempo preso, mas agora tem uma ordem judicial proibindo de se aproximar da minha mãe e de mim. Já é alguma coisa.”

— Você fez o certo. – sussurrei, recostando-me nele. Eu bem sabia o poder que um abraço tinha. – Ele não vai mais poder importunar vocês dois.

— Não mesmo. Se ele voltar, eu mato o desgraçado. – sua voz foi carregada de ódio. – Minha mãe não gostou muito no começo, mas está se acostumando. Ela sempre trabalhou, nunca precisou dele, era o contrário, então estamos nos dando bem.

Impressionei-me em saber que as nossas vidas eram tão parecidas. Tão... Fodidas. Nós dois tínhamos desgraças acumuladas, e, aos poucos, nos livrávamos dela. Finalmente, as coisas iam bem para nós dois.

— Mas não vamos falar dessas coisas... Vamos, me conte. Quais são as suas novidades? – apertou minha mão.

Sorri e me afastei um pouco, desfazendo meu abraço. Quem passasse por lá teria uma imagem errônea de nós dois. Se continuássemos daquele jeito, pareceríamos namorados.

E a ideia não soa ruim...

Repreendi meu subconsciente. Olha no que eu própria pensava!

— Minhas aulas acabaram hoje. – falei, sorrindo. – E na próxima semana vai ter um baile de máscara.

— De máscara? Isso é bem mais legal do que a minha. Só vai ter uma festa idiota. Nem vou. – Vitor bufou. – E você passou de ano?

— Mas é claro! – gritei, ultrajada. Quem ele pensava que eu fosse?

— Ah, eu lá vou saber? – rebateu. – Você é bem bestinha. Podia ter ficado de recuperação. Estou impressionado que não tenha.

— Enfia essa sua surpresa no seu... – sua mão tapou minha boca antes que eu pudesse concluir. Vitor riu.

— Besta e mal-educada. Cadê a educação que sua mãe lhe deu? – brigou, franzindo a testa. Mordi sua mão. – Ai!

— Escolhi não usar com você! – respondi, petulante. Garoto imbecil...

— Ei, não fica brava! E você tem uns dentinhos bem pontudos, né? Aquilo doeu. – gemeu.

— Que bom! Era pra ter doído.

No fim, quando minha raiva abaixou, ri junto a ele, e Vitor voltou a me aconchegar em seus braços. Mordi meu lábio.

— Quando vai ser sua festa?

Informei o dia, que seria dali a uma semana. Vitor ficou pensativo por um instante e depois disse, do nada:

— E seu namorado? – Exato, Katherine! E seu namorado?

— O que tem ele? – perguntei, já na defensiva. Eu não estava sendo uma namorada muito legal. Franzi meu nariz. O que mais eu podia fazer?

— Como vocês estão?

— Ahn... Bem? – soou como uma pergunta. Ah, eu era mesmo uma idiota.

— Não sei, isso quem me diz é você. – olhei para cima e Vitor estava franzindo a sobrancelha. Seus olhos cinza me perfuravam.

— Estamos bem. Rafael é legal, eu já disse isso pra você... Acho. – fiquei brincando com um fio inexistente em minha calça jeans.

— Hm... E “legal” é o suficiente?

— Não. – fiquei chocada com a minha sinceridade. – Quero dizer, não vai ser por muito tempo.

— E quando isso acontecer... O que você vai fazer? – notei que ele estava curioso. Mas até eu estava curiosa para saber a resposta daquela pergunta.

— Não sei. Espero que, até lá, ele tenha se transformado em algo... Mais. – falei. – É como dizem, a esperança é a última que morre.

Vitor ficou em silêncio, e eu o segui nele. Não queria mais falar de Rafael. Não queria mais ter que pensar no futuro. Eu faria alguma coisa quando percebesse que aquilo já não bastava para mim. Eu sei que faria.

— Vamos nos balançar? – perguntei, por fim.

O garoto sorriu e se levantou da grama ao lado dos balanços, onde ambos acabamos sentando antes.

— Sempre uma criança, não é? – suspirou, continuando a sorrir. – Vamos, sim.

Dessa vez, eu mantive meus olhos bem abertos.

***

— O que você acha, Ana? – perguntei, mantendo meus olhos fechados, como ela mandara. Ana estava me arrumando para o baile antes mesmo de arrumar-se. Estava trabalhando em mim desde que chegamos da nossa colação.

— Não sei, Kate. Eu nunca nem vi esse garoto. – falou. – Não sei nem se ele existe.

— Você pensa que ele é fruto da minha imaginação? Tipo um amigo imaginário? – fui sarcástica, porém, pelo seu silêncio, ela levou a sério. – Ana! Eu tenho uma boa noção da realidade, não tenho?

— Você estava vivendo momentos complicados... E ainda está. Com o Rafael. – suspirou. – Eu pensei que você pudesse amá-lo... Mas você não pode. Está na cara. Acho que ele também sabe, só não quer admitir...

— O que isso tudo tem a ver com o Vitor? – minha voz tinha uma pontada de irritação.

— Talvez você tenha o criado para ser seu garoto perfeito... Sei lá. Não sei como isso funciona. Nunca tive um amigo imaginário. – eu sabia que ela dava de ombros.

— Deixe-me te contar uma coisa então... Nem eu! – gritei. – Nunca tive. Não tem porque criar um. Mesmo com meus problemas...

— Ok, ok. Eu só não sei o que pensar desse tal Vitor. – ela fez uma pausa, enquanto passava gloss em minha boca. – Você gosta dele?

— Talvez. – sussurrei.

Uau. – ela falou, em completa surpresa. Eu entendia. Também me sentia daquela mesma forma.

— Eu sei. – suspirei. – Mas estou com o Rafael...

— Não acho que você vá estar com ele por muito mais, amore. – o pincel me fez cosquinhas. – Você o ama muito como amigo, mas...

— Eu sei. – repeti. – Eu sei.

Não falamos mais nada por um longo tempo, ambas pensando em alguma coisa. Será que eu tinha medo de ficar sem o Rafa? Isso era certo, mas... Será que também era certo eu ficar com ele apenas por... Ficar?

— Abra seus olhos, Kate. – abri, querendo ver meu reflexo no espelho. O que não foi possível. – Eu quero que você se veja depois de trocada.

— Ok. – ri. O que quer que eu fizesse... Não o faria naquele momento, então eu tinha que aproveitá-lo ao máximo. Não adiantaria nada ficar pensando naquelas coisas. – Cadê a maldita da fantasia?

— Em cima da sua cama. – indicou um saco preto. Suspirei e o abri.

— Fala sério... Cabaré antigo?! – gritei, ainda observando as lantejoulas do vestido.

— Fica bom com uma máscara preta e... Combina com você. – Ana riu, esperando que eu a acompanhasse. Não o fiz. – Não gostou?

Franzi os lábios e cerrei os olhos, brincando com a minha amiga. Depois, soltei uma risada.

— Eu amei! Você sabe como eu sempre quis usar uma dessas, né? Acho tão legal! – minha voz era a de uma criança pequena.

— Ufa. – ela respirou. – Não disse que você ia gostar? Agora vai se trocar, quero te ver pronta. E eu vou me arrumar.

— Tudo bem! – corri para o banheiro e me troquei, tirando meu robe e vestindo o vestido preto. Não coloquei a máscara ainda. Queria ver-me primeiro sem ela.

Voltei rapidamente para o quarto, onde Ana já estava pronta. Como ela fazia isso? Claro, ela já era linda de natureza. Não precisava do mesmo tratamento que eu para ficar, no máximo, apresentável.

— Ana, você está linda! – exclamei. Ela estava vestida de Julieta, com um vestido vermelho de corpete. – Quem é o Romeu?

— Espero arrumar lá. – suspirou dramaticamente. – Você também está maravilhosa, Katie! Vem ver.

Ela destapou o espelho de corpo inteiro e eu me vi. Realmente, estava bonita. Meus cabelos pretos caíam suavemente em cachos, e meus olhos estavam adornados com uma sombra escura, dando um ar de malícia em mim. Ah, como eu gostaria de não ter que colocar a maldita máscara!

— E tudo graças a você! – assobiei. Virei-me para Ana e sorri. – Obrigada, minha vadia!

— Imagina. Mas vê se divide seu lucro da noite comigo, ok? – riu, passando seu braço pelo meu. Ouvimos uma buzina lá embaixo. – Acho que seu namorado chegou. Vamos?

— Vamos. – pus a máscara preta, ajeitando-a. Olhei uma última vez no espelho e descemos as escadas.

Por que sentia uma certa agitação dentro de mim? Como se pressentisse que a noite seria diferente?

Antes de entrar no carro, olhei para as estrelas. Uma delas brilhou mais fortemente. Era a minha estrela. Mas o que ela queria me dizer?

Também pressenti que logo descobriria.

***

O lugar já tinha sido transformado numa balada e fortes luzes brilhavam, nos cegando, quando entramos. A música era eletrônica e tocava a plenos pulmões. Julieta, melhor dizendo, Ana, me deixou ali com Rafael, que estava vestido de Zorro – quanta criatividade, não? - e foi se juntar às pessoas que dançavam.

— Você quer beber alguma coisa? – gritou por cima da música.

Sorri para ele e assenti. Minha boca já estava seca. Rafa me deu um selinho antes de seguir para onde se encontravam as bebidas. Soltei minha respiração, que nem percebi que prendia, e andei para longe da pista de dança.

Algumas pessoas logo seriam censuradas pelos professores pelo modo como dançavam com seus parceiros. Franzi meu nariz para um casal que estava praticamente se comendo no meio do salão.

Meus pés me levaram para uma escada. Lá em cima não estava ocupado e nem tinha aquelas luzes estrobóticas. Agradeci mentalmente por isso e corri para cima. Só queria ficar um pouco em paz, sem os elogios e olhares constantes de Rafael. Mas tampouco queria pensar nele.

Sentei-me num dos cantos, me embrenhando em meio à escuridão e fechei meus olhos. Mal percebi quando alguém se juntou a mim. E nem teria feito, se a pessoa não tivesse tocado meus lábios com os seus.

Rapidamente, abri meus olhos, mas não tive coragem de afastar-me da pessoa. Claro que não era Rafael. Rafael não poderia me beijar daquela forma tão... Necessitada?

O beijoqueiro estava vestido de Fantasma da Ópera, o que me fez sorrir em meio ao beijo. Suas mãos seguraram fortemente minha cintura, e as minhas foram para o seu pescoço.

Não sabia quem era, mas tampouco me importava. Tudo o que eu queria era esquecer, e aquele garoto estava fazendo com que isso acontecesse. Voltei a fechar meus olhos, e me entreguei ao beijo.

Sentia-me como a Cinderela. Podia não ser meia-noite ainda, mas eu estava dando um verdadeiro beijo de amor. E então percebi que com Rafael não foi nada disso. E nunca seria. Ele era meu amigo, e para sempre seria assim. Somente isso. Por que fui tão idiota para tentar alguma coisa?

Não sei quem, mas já havia me sido dito que escolhas nunca deveriam ser feitas quando você está triste ou feliz. E eu fizera a pior escolha no pior momento da minha vida.

Rafael nunca seria meu tudo, infelizmente.

O Fantasma se afastou de mim e sorriu. Estava escuro demais para notar algo além da fantasia, mas gostaria de tê-lo feito. Tentei, então, falar:

— Quem... – pigarreei. – Quem é você?

O garoto apenas sorriu e se levantou. Não me içou para cima com ele, mas deixou-me lá, enquanto saía. Apressei-me para segui-lo, porém, uma vez que se misturou com a multidão, perdi-o de vista.

— Kate! – Rafael agarrou meu braço. – Onde você estava? Fiquei preocupado...

— Rafa... – quis chorar. – Podemos conversar?

— Agora? – seus olhos esfriaram. Acho que ele sabia o que eu diria.

Apenas assenti e o puxei em direção a área que tinha lá fora, para quando os casais se cansassem de dançar e quisessem um pouco de ar frio.

Derramei uma única lágrima antes de começar a falar.

***

Quando voltei, deixando um Rafael atônito para trás, tentei vasculhar o local em busca do garoto que beijara. Estava quase desistindo quando o encontrei. Meu Fantasma da Ópera estava recostado em uma parede, olhando pensativamente para onde eu tinha acabado de sair.

Sorri e corri para ele, que não percebeu minha presença, assim como eu também não havia percebido a sua há pouco. Sem muito pensar, puxei o laço que segurava sua máscara e arfei quando vi quem era.

— Você? – gritei.

Dei alguns passos para trás, corada e nervosa. Ele havia me beijado? Logo ele?!

— Katherine? – Alessandro chamou, andando até mim e me puxando pela cintura. Era ele? Não consegui falar nada, apenas o olhava. – Kate, o que foi? Vi você com o Rafael e...

Sorri.

— Por que está sorrindo? – seu rosto era pura confusão e preocupação, mas quando ele me olhou por um momento a mais, transformou-se. Alessandro se aproximou mais de mim e me beijou. Nosso segundo beijo, mas agora eu sabia quem estava beijando e, de certa forma, esse foi ainda mais especial que o primeiro.

Agarrei seu cabelo, colando-me mais a ele. Sua língua abriu espaço e se encontrou com a minha. Estremeci de amor e... E então eu fiz minha segunda descoberta da noite: estava amando.

Aliás, sempre amei. Nunca deixei de amá-lo. Meu coração sempre fora de Alessandro, mesmo que ele não o quisesse. Vitor, Rafael... Eu estava apenas me enganando com eles. Vitor era sim especial, mas assim como Rafael... Nunca poderíamos ser mais do que amigos.

Quando nos separamos, Alessandro encostou sua testa na minha, sorrindo, sem fôlego.

— Ah, Katherine... Eu sempre te amei. – meus olhos se encheram de lágrimas e eu as segurei. – Desculpa por tudo, eu só... Só nunca pensei que te merecia e...

Beijei-o novamente, fazendo com que ficasse calado.

— Venha, dance comigo. – Alessandro pegou minha mão. As músicas tinham ficado mais lentas agora, e a multidão se desfazia. Vi Ana saindo da pista, correndo. Franzi minha testa, mas deixei para lá. Minha amiga sabia como cuidar de si. E eu tinha certeza de que ela ficaria feliz por mim.

No fim da noite, não sabia quantas músicas eu havia dançado com ele. E também não sabia como meu coração ainda não tivesse explodido dentro do meu peito.

Amar... Eu estava amando!

Olhei nos olhos castanhos de Ale e notei como eram doces. Sorri. Nada seria para sempre, mas aquele momento bem que poderia ter sido eternizado.

***

Cheguei à minha casa sorrindo igual a uma boba. Não tinha me encontrado com Ana nem com Rafael, mas talvez fosse melhor assim. Eu falaria com os dois amanhã. Principalmente com Rafa. Queria saber se, de fato, ficaria mesmo tudo bem entre nós. Eu o amava como amigo, e precisaria deste amigo. De jeito nenhum poderia perdê-lo.

— Mãe? – gritei, animada. Pela primeira vez em muito tempo, quis contar tudo a ela. – Mamãe?!

Ela apareceu na sala. Seu rosto foi um banho de água fria na minha alegria.

— Mamãe! – corri até ela, abraçando-a. – O que aconteceu?

Paula estava chorando e tremendo. Será que Jorge havia entrado aqui...? Espere. Onde estava Tiago?

— Mãe, o que foi?! Está me assustando, por favor, me fala! – retirei sua cabeça de meu peito. De saltos altos, eu acabava ficando maior do que ela. Paula tentou controlar sua respiração e suas lágrimas.

— Ele... – murmurou.

— Ele quem? Jorge?! – fiquei com raiva. – Ele voltou aqui? O que ele fez?

Mamãe apenas balançou a cabeça negativamente. Franzi minha testa. Se não fora Jorge... Quem fora?

— Foi o Tiago? – questionei. Ela assentiu.

— O que aquele imbecil fez dessa vez? Se drogou e...?

— Não... Ele... Não estava drogado. – chorou ruidosamente.

— Mamãe! O que foi? Por favor, me fala... Se você ficar calada, o que eu vou poder fazer? – choraminguei, sentindo um aperto dentro do peito.

— Ele... Meu filho... – balbuciou.

Gelei. Paula não precisaria dizer mais nada. Eu já sabia o que tinha acontecido. Meus joelhos tremeram e eu afundei no chão. As lágrimas rolaram silenciosamente enquanto meu sonho retornava a minha mente em claros detalhes.

Tiago.

Morto.


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Vocês tão querendo me matar, né? rsrs Eu sei. Eu tenho certeza de que vocês querem, mas não façam isso! Por favorzinho. Poxa, só tenho 15 anos.
Mas apesar do sentimento assassino que vocês devem estar guardando dentro de si, gostaram? Ao menos um pouquinho? Não? T-T OK.
Mentira. "Ok", nada. Comentem por favor!!! E se quiserem mandar recomendações como presente de aniversário... Eu aceito! Na verdade, eu imploro. Se vocês gostam da fic, comentem, mandem recomendação. Vocês não tem ideia do quão radiante eu fico quando recebo reviews e recomendações. Deem-me esse presente de aniversário!
Agora eu vou tomar meu banho (vim direto postar esse capítulo) e dormir.
Aniversário animado, hein, Cris? Pois é, Apple Pie. Tá bombando. Pelo menos não ganhei ovo na cara LOL
Sexta-feira eu volto com um bônus, tá? E de quem será que vai ser o POV? Alguma ideia? xD
Bem, beijos e boa noite, pequenas tortas de maçã da Cris gordinha :*