Faceless escrita por Carol M


Capítulo 2
Capítulo 2




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Quando finalmente estava trancada e acompanhada apenas por seus desenhos em seu quarto, Annabeth deu-se o direito de chorar. Por tudo. Por Percy ser um idiota e não ver o quão perdida ela estava, por sua mãe ser uma estúpida irresponsável e por Aaron por ter ido àquela corrida idiota. Ela só queria que tudo aquilo acabasse. Que tudo voltasse ao normal. Porém, infelizmente, isso não era possível.

Quando o último sino do dia soou, Annabeth já estava com sua mochila pendurada em um dos ombros, mantendo seus livros firmes em seus braços. Como sempre, a garota se escondeu em um canto próximo a escada que levava à saída, ficando, assim, longe de todo o burburinho e dos alunos apressados capazes de atropelar um elefante para chegar em casa mais rápido. Seus olhos não se desgrudavam da sala vizinha à sua, procurando pelo dono do sorriso premiado. A garota franziu o cenho. Percy nunca se atrasava para buscá-la ali para que, finalmente, pudessem começar sua rotina após as aulas, por isso a preocupação de Annabeth era até justificável.

Caminhando a passos rápidos, dirigiu-se até o cômodo onde Percy hipoteticamente estava e adentrou-o, encontrando nada mais que Rachel Elizabeth Dare. Annabeth só teve acesso inicialmente a suas costas e ao rosto radiante do melhor amigo que dava um de seus melhores sorrisos na direção da ruiva. Na verdade, aquele poderia ser considerado o melhor. Pelo menos, era o que Annie achava.

Rachel começou a remexer sua bolsa, provavelmente à procura de algo. A felicidade ainda transparecia no rosto do garoto, deixando Annie um pouco apreensiva. O que será que Rachel iria fazer? Ou melhor: O que será que ela havia feito? Após alguns segundos vasculhando o objeto, a ruiva acabou tirando do interior um envelope verde-claro. Annabeth não pôde saber ao certo o que havia lá dentro e franziu o cenho, tentando desvendar o mistério. Quando pegou o pedaço de papel das mãos da garota, Percy sorriu ainda mais, se é que isso era realmente possível. E, então, para finalizar a cena, Rachel Elizabeth Dare deu um rápido beijo na bochecha de Percy Jackson e saiu da sala, sorrindo satisfeita. Claro que ela não cumprimentou Annabeth. Ninguém o fazia.

Foi quando Rachel passou por Annie sorrindo que a loira percebeu que poderia ser um pouco estranho ela ficar bisbilhotando a conversa dos outros, mesmo que fosse de seu amigo. Portanto, aproveitando que ele não a vira em momento algum, deu alguns passos para trás e refez a parte do caminho até a porta da sala como geralmente o faria.

– Ei, Percy! Por que está demorando tanto? – perguntou com um tom de voz um pouco alterado, como se tivesse ficado horas esperando pelo garoto.

– Hun... Por nada. Vamos? – respondeu, mantendo o humor animado. Annabeth tentou reprimir a vontade de arrancar o envelope de suas mãos e se contentou apenas com uma pergunta rotineira.

– O que é esse pedaço de papel? Uma cartinha de amor? – indagou, tentando tirar o objeto dele, fazendo de tudo aquilo uma simples brincadeira.

– É só... Um convite para a festa da Rachel! – gritou Percy. Na verdade, sua animação não se dava apenas ao fato de ter sido convidado para uma festa pela garota da qual gostava. Abrangia também o fato de que a festa de aniversário de Rachel era uma das melhores de toda a região, sendo que apenas os populares – ou pessoas de quem ela gostasse muito – eram convidados. Era a primeira vez que alguém do grupo com que Annie andava recebia um convite, o que forçou a garota a parecer animada.

– Mentira! Deixe-me ver! – o envelope era comum, mas o convite era magnífico. Ela nunca vira nenhum de perto, já que Rachel fazia questão de que os populares nunca os mostrassem a ninguém, além de seus pais. Era feito de um material que lembrava e muito o utilizado em um convite de casamento e, para variar, era cheio de detalhes impecáveis. Annie leu os escritos rapidamente e parou quando se deparou com a 23 de fevereiro. Piscou os olhos com força e aumentou ainda mais o sorriso estampado no rosto. – Nossa, é lindo, Percy! Não acredito que você foi convidado!

– Nem eu! Agora, precisamos ir! – exclamou ele, puxando Annabeth pelo braço em direção ao estacionamento. Ambos entraram no carro e o único sorriso forçado presente naquele veículo deu lugar a uma carranca, mostrando uma prévia dos próprios sentimentos da garota.

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Percy parou o carro quando chegaram até a casa de Annie e se despediram rapidamente, ambos alegando ter uma fome descomunal. Bom, Percy tinha. O garoto manobrou o veículo e acelerou, indo na direção contrária à casa de Annabeth. Muitas vezes a garota lhe disse que não precisava trazê-la todos os dias e que ela poderia se virar completamente sozinha, porém, no fundo, gostava de saber que Percy negava todas as vezes. Mostrava o quanto ele se importava com ela.

Com o coração acelerado, Annie entrou em sua casa. A porta estava aberta como de costume e ela não disse ou fez qualquer coisa para caracterizar sua presença no local. Não que sua mãe fosse se importar, é claro. Subiu as escadas e foi em direção a seu quarto, parando ao escutar seu nome. Virou-se e caminhou até o cômodo no fim do corredor. Aquele que ela tentava ao máximo não chegar perto.

– Sim? – perguntou a garota, dando pequenos passos até seu destino – Aaron? Você está bem?

Quando avistou o irmão, arfou tão alto que teve certeza de que sua mãe a escutara. Ou, pelo menos, achava que sim. Correu até onde Aaron estava e tentou controlar a própria respiração.

– Ai meu Deus, Aaron! Como você foi parar no chão? – disse Annabeth, tentando segurar as lágrimas para não assustar o garoto.

– Eu... Eu simplesmente caí. Acho que rolei na cama – respondeu ele, rindo. Annabeth passou os braços pesados do irmão mais velho ao redor de seu pescoço e o levantou, juntando toda a força que ainda tinha. Deitou-o na cama e sentou-se ao seu lado, com a respiração acelerada.

– Está melhor?

– Acho que sim. – respondeu Aaron, assentindo de leve e sorrindo. Uma lágrima rolou pela bochecha da garota, mas logo Annie a limpou, com medo de que ele a visse em um momento de fraqueza. Ela só se deixava levar pelas lágrimas em seu quarto, trancada e sozinha. Aaron apertou sua mão, transmitindo um calor reconfortante. Um calor que ela pensava que nunca mais sentiria quando pegou a mão de Aaron e a única coisa que sentiu foi o frio. O frio que lhe diziam que significava a Morte.

Annabeth se lembrava bem daquela época. Aaron havia saído com alguns amigos para uma corrida e acabaram atingindo um enorme ônibus que destruiu o carro por completo. Naquela noite, seu irmão perdeu três importantes amigos e o movimento de suas pernas. Por dias a fio, Annie entrava no quarto de Aaron e encarava o nada, apenas deixando as lágrimas escorrerem. Com a porta trancada, afinal não queria ouvir seus pais brigando ou o choro alto da mãe. Aquilo simplesmente era demais para ela, fazendo com que criasse algum tipo de aversão ao quarto no final do corredor. Porém, ela sabia que precisava superar aquele medo, aquela angústia. Por Aaron. Por ela.

– Ei, Annie?

– Sim? – Annie piscou os olhos com força e se virou na direção do irmão.

– Como está a mamãe? Você a viu?

Annabeth suspirou e balançou a cabeça. Não, não a vira. E, de certo modo, nem queria.

–--*-*---

Um já fora, agora faltava o outro. Annabeth deixou Aaron deitado em seu quarto, prometendo que ajudaria sua mãe no que fosse preciso. Sabia que só assim o irmão poderia descansar apropriadamente. A garota desceu as escadas de leve, olhando sempre para os lados, à procura de sua mãe. Geralmente, ela estava desmaiada em algum sofá da casa ou bebendo na mesa da cozinha. Não estava em nenhum dos dois lugares. O carro estava na garagem. Como sempre.

Annabeth escorou-se à geladeira e fechou os olhos, torcendo para que encontrasse Atena o mais rápido possível. Foi então que ouviu barulhos um pouco estranhos. Eram baixos e a garota começou a segui-los, chegando ao quarto de hóspedes no andar de baixo. Ela se lembrava muito daquele quarto. Lembrava que, quando era pequena, sua mãe trazia muitos “amigos” para sua casa e eles ficavam naquele quarto com ela. Faziam barulhos engraçados e a pequena Annabeth Chase ficava rindo horas seguidas da mãe que, aparentemente, também gostava do que estava fazendo, afinal não parava de gritar e mexer a cama. Provavelmente, eles pulavam e davam cambalhotas. “Mente inocente”, é só o que posso comentar.

Franzindo o cenho, Annabeth abriu a porta, encontrando nada mais nada menos que sua mãe. Em uma cama. Com um estranho. Fazendo só Deus sabe o quê.

Boquiaberta, Annie arregalou os olhos e deu um grito. Sua mãe se assustou tanto que acabou caindo da cama, dando outro grito. Já o homem que a acompanhava, apenas encarou as duas enquanto pegava suas roupas e as vestia o mais rápido que podia. Nem se despediu, apenas saiu correndo. Provavelmente, doido para se livrar daquela família estranha. Nenhuma palavra saiu da boca de Annabeth. Apenas deu de ombros e se virou para voltar ao quarto.

– Annabeth? – chamou Atena.

– Sim?

– Não conte a Aaron. – disse simplesmente. Annabeth colocou sua melhor expressão de desprezo.

– Que você está transando com qualquer cara que você vê por aí? Pode deixar, não sou tão doida assim.

– Estou falando sério, ele pode não aceitar muito bem a idéia.

– Que idéia? – indagou Annabeth, cruzando os braços.

– De que... que...

– De que você é uma puta? – sugeriu, virando-se novamente. A garota começou a caminhar na direção da escada, porém parou mais uma vez quando ouviu Atena falar novamente.

– É, pode ser.

– Não se preocupe. Seu segredinho sujo está bem guardado. Apenas use proteção para que não morra de algum tipo de doença antes que um de seus filhos tenha uma renda própria, tudo bem?

E subiu os degraus correndo.


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