Faceless escrita por Carol M


Capítulo 1
Capítulo 1




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Ele a amava. Explicações não eram precisas para tal sentimento tão puramente expresso no gigante sorriso do garoto. Quando digo gigante, me refiro àqueles cheios de dentes brancos e reluzentes que fariam qualquer um parar e observar apenas para possuir a experiência de ter apreciado tal fenômeno humano. O sorriso encantador foi seguido de outro, em retorno imediato ao primeiro. E este partiu de Annabeth Chase.

A garota ria da incrível infantilidade brotada temporariamente em Percy Jackson, o menino que, em uma tese hipotética, pararia multidões apenas por mostrar suas armas para triturar alimentos. Bom, hipoteticamente, é claro. Ele ria por outro motivo, na verdade.

Não era por uma notícia boa como uma nova viagem ou a falta de algum professor entediante; também não era por alguma novidade na vida de seus amigos, tão importantes quanto qualquer membro de sua família. O motivo de tamanha felicidade sutilmente se encontrava em suas mãos, encadernado e sem nenhum amassado. Isso por que Annabeth o fizera e não ele.

– Você realmente fez um trabalho de cinco páginas sobre a Revolução Francesa para mim sem ganhar nada em troca? – questionou Percy, assombrado. Geralmente, quando sugeria a algum amigo que fizesse seu trabalho, era brincadeira. Aparentemente, Annabeth gostava de escrever.

– A parte do “nada em troca” pode ter outro contexto, mas... Sim, fiz. – respondeu a garota, sorrindo mais um pouco. Percy franziu as sobrancelhas e se aproximou, dando-lhe um abraço carinhoso. Não era o tipo de abraço que Annie precisava, na verdade, mas, bastaria. Pelo menos, para ela.

– Obrigado.

– Não precisa agradecer, Percy. Não foi nada.

– Ah, não, claro que não. Apenas demoraria alguns dias para que eu conseguisse pensar em fazer algo desse tipo. Sério, Annie, você salvou minha vida. E, não se preocupe, o retorno está por vir. – disse, piscando um de seus olhos verdes.

– Não sou pidona, mas até que uma recompensa cairia bem, sabe?

– É, sei como é.

O sino estridente e ensurdecedor do colégio tocou, anunciando, mesmo que sem palavras, que todos deveriam manter-se sentados em suas salas até que os professores decidissem levantar seus traseiros das cadeiras e começassem a lecionar apropriadamente.

– Bom... É aqui que nos despedimos. Foi um prazer conhecê-la, madame. – disse Percy, pegando a mão de Annabeth e dando um beijo rápido. Ela gargalhou diante de tal gesto. – Porém, o dever me chama. Literalmente.

– De jeito nenhum, meu senhor, o prazer foi todo meu. Espero que possamos nos encontrar novamente em breve. – participou Annabeth. A atuação realmente era péssima, mas valera a pena só por ver um certo sorriso faceiro que poderia não atrair multidões, mas a ela, com certeza.

–--*-*---

Rir é o melhor remédio, eles dizem. Bom... Vamos dizer que Annabeth nunca foi chegada em qualquer tipo de droga medicinal. Assim que as risadas se transformaram em um “nada”, Annabeth sentou-se em sua carteira habitual e abriu os livros, pronta para se enfiar em um mar de conhecimento e, consequentemente, em um de esquecimentos. Talvez fosse por isso que suas notas sempre eram altas e satisfatórias, não deixando nenhuma brecha no quesito de “reclamações” por parte dos professores. Afinal, todos temos uma fuga da realidade.

Na verdade, o mundo do conhecimento sempre fora o refúgio de Annabeth. Quando pequena, migrava livros e mais livros para seu quarto, pronta para devorá-los durante o dia todo. Porém, nunca lia mais do que 10. Crianças se cansam muito rápido, afinal. Logo, estava escorada em sua janela, apreciando a vista do parque aonde seus pais a levavam sempre e fazendo desenhos em um caderno qualquer. Desenhar também era bom, mesmo que ela não soubesse nem por onde começar. E mesmo que não tivesse talento.

Inconscientemente, Annabeth começou a se lembrar de outras imagens que geralmente via através de sua janela embaçada. Uma das mais freqüentes era uma certa garotinha ruiva cheia de sardas no rostinho delicado. Seu nome era Rachel e, desde que Annie se dava a denominação de gente, era sua vizinha. Do lado esquerdo. Sempre foram melhores amigas, criando um laço tão forte que todos duvidavam que um dia se separariam tão bruscamente como o ocorrido. Annabeth tentava ao máximo não se lembrar da ex-amiga por motivos óbvios: Assuntos mal resolvidos. As justificativas do fim da amizade nunca foram esclarecidas por nenhuma das partes, portanto o Destino fez seu papel, cortando o único fio que as unia.

– Srta. Chase? – perguntou o professor pela quinta vez, fazendo com que Annabeth acordasse do transe em que se mantinha durante toda a aula.

– Sim? – respondeu a garota com os olhos instintivamente arregalados.

– Parece dispersa. Que tal lavar o rosto? – A garota assentiu de leve e levantou-se, fazendo o mínimo de barulho possível. Infelizmente, de nada adiantou e Annabeth se viu sendo seguida por centenas de olhares curiosos enquanto saía da sala, abraçando a si mesma.

Caminhou até o banheiro feminino e se segurou na pia, respirando fundo. Ser “dispersa” não era algo do feitio de Annabeth que, na verdade, recebia elogios por não o ser. Piscou os olhos com força e pressionou-se a colocar uma expressão de felicidade no rosto. Fingir era uma das coisas que mais exigia da garota e ela, com certeza, o fazia mais do que jamais gostaria.

–--*-*---

O sino tocou pela terceira vez no dia, causando um alvoroço em todas as salas de aula. Hora do almoço. Nesse momento, geralmente, todos os alunos se agrupavam com seus amigos e desciam até o refeitório, gritando e rindo dos comentários dos mesmos. E não foi diferente com Annie.

Encontrou-se com Percy e com o resto de seus colegas, prontos para engolir a comida toda de uma só vez. Logo, as risadas se tornaram presentes, transformando aquele momento em algo revigorante para a loira. Afinal, rir não era realmente algo normal em sua perspectiva. Correram para pegar alguma mesa e, quando todos já estavam sentados, Annabeth sentiu um odor familiar. E, quase como inconscientemente, a cabeça de Percy Jackson se virou na direção de onde a fragrância vinha ao mesmo tempo em que Annie abaixava a sua.

– Olá, Percy. – cumprimentou Rachel Elizabeth Dare, abrindo seu maior sorriso para o garoto.

– Oi. – respondeu. Annabeth mordeu o lábio, franzindo o cenho. Até o tom de voz dele mudava quando falava com ela.

– Ei, Annie! O que houve? – sussurrou Thalia, apertando a mão da melhor amiga. – Está se sentindo bem?

A voz preocupada de Thalia fez com que Annabeth desse um pequeno sorriso. Forçado, obviamente. Porém, foi o suficiente para que a outra parasse de fazer perguntas desconcertantes. Na realidade, havia sido apenas uma pergunta rotineira, casual, porém Annabeth teria que respondê-la em um determinado momento e por “respondê-la”, refiro-me a algo mais complexo do que “sim” ou “não”. Thalia era muito curiosa.

Rachel se afastou da mesa depois de alguns minutos papeando com os meninos e correu para a sua habitual, que incluía meninas populares como ela e os famosos jogadores burros e patetas encontrados em qualquer escola de Ensino Médio. Bom, estereótipos foram feitos para serem seguidos. Percy continuou encarando a ruiva enquanto ela caminhava até seu destino, mantendo um sorriso abobalhado no rosto. Annabeth nada fez além de remexer em sua comida e dar constantes sorrisos falsos para manter a fachada e não atrair qualquer tipo de desconfiança. Também tentou não prestar atenção a seu amigo olhando regularmente para Rachel e nem em nenhuma piscadela ou sorrisinho que ela lhe mandava.

Mesmo com todas as tentativas que estabelecia funcionando, Annabeth sabia que não agüentaria por muito tempo. Portanto, ainda sorrindo, levantou-se e começou a caminhar até o banheiro. Não olhou para trás com medo de encontrar alguma cena ainda pior como Rachel e Percy apertando as mãos ou se abraçando. Já sentindo o rosto molhado, a garota acelerou ainda mais e acabou correndo o restante do trajeto. Trancou-se em uma das cabines do cômodo e escorou-se à porta. Chorando silenciosamente, deslizou pelo objeto até sentar-se no chão frio.

Ouviu o sino tocando, porém não se levantou e nem moveu um músculo sequer, continuando a abraçar os joelhos e a se balançar. Sentia-se traída por Percy. Claro que não era culpa dele se gostava de Rachel, afinal ela tinha tudo o que os meninos procuravam em uma garota: era bonita, inteligente e engraçada. Além disso, Annabeth nunca movera um dedo para se aproximar de Percy do jeito que queria. Porém, não o fizera com medo de perdê-lo de vez. Preferia tê-lo como amigo do que como nada.

Annabeth limpou o rosto e enxaguou-o várias vezes, tentando tirar qualquer sinal de que chorara por alguém. Tinha que parecer feliz perto dos amigos para que não desconfiassem de nada. Tudo bem, talvez isso pareça falsidade da parte da garota, mas, acredite, todos já fizeram ou fazem isso. Fingir. Pode ser tido como uma arma de defesa humana e era assim que ela a via. Era uma batalha diária. E difícil.

–--*-*---

Quando o segundo sinal tocou, Annabeth começou a caminhar na direção de sua sala, torcendo para que nenhum de seus amigos a encontrasse no corredor. Infelizmente, Percy irrompeu da sala vizinha, a qual Annie estava quase ultrapassando, assustando a garota. Quando a viu, ele se aproximou e logo perguntou:

– O que houve? Não te vimos subir...

– Eu só estava com dor de cabeça... Já melhorei. – respondeu Annie, sorrindo levemente. Percy deu de ombros e começou a divagar sobre o quão chata havia sido sua aula de Geografia com o Sr. Quick, o professor pré-histórico do colégio. É, o nome foi feito sob medida, afinal o Sr. Quick não parava de falar em suas aulas, sempre colocando no quadro milhares de coisas para copiar e apagando rapidamente, deixando os alunos inconsoláveis. Ainda mais aqueles que estavam no meio do trajeto.

– Certo, Percy... Olha, eu tenho que ir pra aula agora, se você não se importa.

– Ah, claro, foi mal. Aproveite a aula, madame! – e beijou a mão de Annabeth novamente. E a garota sorriu larga e verdadeiramente, como apenas fazia quando estava com Percy. Ainda sorrindo, virou-se e correu para sua sala, pronta para mais um gostinho do Inferno.

–--*-*---

Muitos devem achar que Annabeth Chase é uma idiota completa por passar horas e mais horas em banheiros se debulhando em lágrimas por seu melhor amigo apaixonado por outra. Bom, não vou contradizer ninguém, afinal, isso é verdade. A mais pura.

Porém, o que ela poderia fazer além de ficar olhando o garoto se aproximar lentamente de Rachel? Dizer seus sentimentos? Isso acabaria com qualquer relacionamento entre eles, afinal Annie era uma irmã para Percy, apesar de não haver um “vice-versa” nessa história.

De certo modo, o sentimento que a garota mantinha por ele fez com que ficasse mais forte, mais resistente. Mas de jeito nenhum ela estava preparada para o que veio a seguir. Nem um milhão de anos.



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Notas finais do capítulo

Oie :) Pois é, eu já tinha postado essa história antes, então se alguém ainda se lembrar, NÃO É PLÁGIO! Eu tive que excluir minha outra conta, mas estou de volta ;)