O Feiticeiro Parte I - O Livro de Magia escrita por André Tornado


Capítulo 40
VII.4 Os saiya-jin divertem-se.




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No relvado contíguo à Capsule Corporation, Vegeta treinava-se em solitário, suspenso no alto. Despejava múltiplos golpes na atmosfera, tão rápidos que era impossível de seguir com o olhar.

Por vezes, fartava-se do espaço limitado da Câmara de Gravidade. Então, ia para o ar livre exercitar-se. Escolhia um local deserto, onde arrasava o terreno com os seus ataques flamejantes, ou ficava-se pelo relvado da Capsule Corporation.

Bra não treinara com ele naquele dia. Bulma insistira em levá-la até ao centro comercial, para lhe comprar roupa nova. Apesar de Bra ter contestado, dizendo que preferia ficar a treinar com o pai, ele nem tentara tomar o partido da filha. Bulma olhara-o com um daqueles olhares demolidores que significava que não valia a pena contrariá-la e ele afastara-se.

Estava muito satisfeito com os progressos de Bra. Naqueles últimos dias em que tinham treinado juntos, ela desenvolvera muito as suas capacidades, a sua resistência e a sua técnica. Admirava particularmente a coragem da filha. Não recuava diante de nenhum exercício, de nenhum desafio. Mal se podia mexer quando ele regulara o controlo da gravidade para cinquenta atmosferas, mas não se queixara nem por um segundo.

Atingiu o ar com um potente pontapé, gritando a plenos pulmões. O choque provocou o ruído seco de uma explosão sonora. Ofegante, baixou lentamente até ao chão. Vestia umas calças largas cinzentas, estava descalço e o suor escorria pelo tronco nu. Estava quase a terminar os exercícios daquele dia. Não estava cansado, estava aborrecido.

- ’Tousan?

Voltou-se e descobriu o filho, ao lado de Goten. Abriu muito os olhos, admirado. Não por tê-los ali, mas por ver que estavam vestidos de uma forma prática. No caso de Goten, com um dogi semelhante ao de Kakaroto.

- O que queres, Trunks? – Perguntou disfarçando a surpresa.

Trunks pediu-lhe:

- Queremos treinar contigo.

- Já terminaram as aulas?

- Estamos de férias – explicou Goten. – Os exames acabaram e, agora, não temos aulas.

Recebeu uma cotovelada de Trunks.

- O que foi?

- Cala-te, Goten. Não lhe digas mais do que necessita saber.

- Mas porquê?

Vegeta cruzou os braços, parecendo contrariado.

- Vocês só se treinam quando não estudam?

Antes de responder, Goten olhou primeiro para Trunks.

- Quando temos aulas, não temos tempo…

- E eu também não tenho tempo para vocês.

Virou costas aos dois rapazes, apanhando uma toalha que estava no relvado. Colocou-a sobre os ombros. Trunks sussurrou:

- Baka! Deixa-me tratar disto. – Chamou: – ‘Tousan, escuta-me. Estivemos a treinar os dois, esta tarde. Foi agradável, mas gostaríamos de treinar a sério. Contigo. Tens razão, tenho dedicado demasiada atenção à universidade. Sinto-me enferrujado. Quero recuperar o tempo perdido.

Vegeta espreitou-os por cima do ombro.

- Querem mesmo treinar comigo?

- Hai! – Responderam os dois em coro, concordando com um aceno de cabeça.

- Muito bem.

Atirou a toalha para o chão, voltou-se para os rapazes. Colocou-se em posição de defesa, afastando os braços, dobrando-os pelos cotovelos e fechando os punhos. As pernas estavam também ligeiramente afastadas.

- Concordo em treinar convosco. Já estava a precisar de me divertir. 

Goten perguntou, escondendo a boca com uma mão:

- O que é que o teu pai quis dizer com aquilo?

- Vai utilizar-nos como sacos de pancada.

- Nani? Mas não podemos desatar todo o nosso poder aqui!

Trunks disse:

- Goten tem razão. Devemos combinar algumas regras.

- Eu não combato com regras!

- ‘Tousan! Estamos em West City. Não vais querer transformar-te em super saiya-jin no relvado da nossa casa, pois não? Ainda destróis parte da casa e a mãe não vai ficar nada contente.

- Cala-te e ataquem de uma vez!

- Os dois ao mesmo tempo?

- Os dois ao mesmo tempo! Não são dois estudantes universitários que me metem medo.

Trunks concentrou o ki. Olhou para Goten e viu-o fazer o mesmo.

- Estás preparado, Goten-kun?

- Hai.

Os dois respiraram fundo.

- Agora!

Trunks e Goten gritaram em uníssono e depois investiram. Vegeta defendeu os dois golpes sem o menor esforço. Apesar da fraca introdução, percebeu que os rapazes estavam a empenhar-se e gostou.

Começou uma luta corpo-a-corpo renhida e violenta. Trunks e Goten atacavam Vegeta sem descanso, o primeiro pelo lado direito, o segundo pelo lado esquerdo.

- Vamos! – Exclamou o saiya-jin sem perder o fôlego. – Com mais ganas!

O filho tentou uma rasteira e ele saltou. O amigo do filho tentou golpeá-lo de cima, com ambas as mãos unidas, mas aproveitou o salto e desfechou um potente pontapé em Goten, que foi cair longe. Em seguida preparou um murro para afastar Trunks, mas este estava atento e fugiu do alcance da mão dele.

Perseguiu-o, atacando-o no mesmo impulso. Trunks não estava à espera daquela reação. Defendeu o primeiro soco, mas foi-se abaixo com o segundo que o atingiu no peito, derrubando-o.

Goten surgiu diante do companheiro, a protegê-lo de um novo ataque. Trunks sentou-se, atordoado, a tossir e a esfregar o peito. Vegeta aterrou a curta distância, apoiando as mãos nas ancas, meneando a cabeça. Goten cerrou os dentes. Trunks pôs-se de pé, mesmo a tempo de travar o amigo.

- Não entres no jogo dele. Não te deixes irritar. Se o fizeres, perdes a concentração e ele deixa-te inconsciente num instante.

Aceitando o conselho, Goten respirou fundo, descontraindo-se. Abriu e fechou as mãos.

- Pensava que eram apenas treinos. Que não eram a sério.

- Com o meu pai, é sempre a sério.

- Muito bem. – Elevou o ki, sorrindo. – Vamos tentar uma nova tática. Agora, um de cada vez, Trunks-kun. Começo eu.

Vegeta ouvira.

- Ótimo! Será ainda mais fácil desfazer-me de vocês, seus inúteis!

Goten avançou sem medo. Postou-se a curta distância, sorrindo levemente. Um punho rápido procurou a cara do adversário. Vegeta apanhou-o com uma das mãos. O joelho tentou atingir o abdómen, mas Vegeta, atento, desviou-se. Soltou o punho aprisionado. Lançou a cabeça para trás e a mão de Goten passou-lhe a milímetros do nariz.

- Agora, ataco eu – disse.

Entretanto, Trunks levantara-se e sacudia a relva das calças.

O ataque de Vegeta aconteceu com tanta fúria que surpreendeu Goten. Defendeu-se o melhor que conseguiu da chuva intensa de golpes, tantos que ficou com os braços dormentes. Quando tentou saltar, para refugiar-se no ar e preparar um contra-ataque condigno, abriu uma nesga na defesa. Vegeta aproveitou a oportunidade e Goten caiu desamparado, ao lado de Trunks, a esfregar o queixo.

- É a minha vez! – Exclamou Trunks.

- Boa sorte – soprou Goten, com a impressão que a boca iria desfazer-se.

Apesar da bravata dos dois rapazes, era ele que comandava a situação. Vegeta elevou-se nos ares, estabelecendo aí o próximo terreno de combate. Trunks seguiu-o. Soltou um grito, o cabelo agitou-se momentaneamente, aumentou o ki. Vegeta observou-o interessado e Trunks também ficou a observá-lo.

- Do que é que estás à espera? – Perguntou Vegeta.

- Primeiro os mais velhos.

O sorriso desfez-se. O olhar ficou mais duro.

- Já vais ver o que é que o velho te vai fazer.

O combate principiou com um ataque frouxo de Vegeta e Trunks mordeu o engodo. À medida que ganhava confiança, Goten viu como Vegeta fechava todos os caminhos e aumentava a potência dos golpes. Nem um, nem outro, pai e filho, queria fazer concessões ao adversário e entregavam-se de corpo e alma ao embate, que se desenrolava sem pausas.

A luz do entardecer pincelava o edifício da Capsule Corporation e os seus jardins de vermelho e de laranja. Ao fundo escutava-se o ruído característico do tráfego citadino. O cenário daquele treino era único.

Goten cruzou os braços, enquanto movimentava o maxilar à medida que recuperava a sensibilidade nessa parte da cara. Trunks estatelou-se no relvado e rebolou por alguns metros. Vegeta, ofegante, também baixou ao chão. Tinha restos de sangue nos nós dos dedos da mão direita. Era a sua deixa. Goten fechou os punhos, dobrou o pescoço para ambos os lados.

- É a minha vez.

Atrás dele, subitamente, o ki de Trunks disparou. Goten travou os passos. Sentiu raiva e sentiu força, tudo misturado numa amálgama perigosa. Voltou-se e ficou boquiaberto ao ver que o amigo, já de pé, fungando como um touro, se tinha transformado em super saiya-jin.

Sério e compenetrado, Vegeta aguardava pelo filho.

- Espera – pediu Goten. – É a minha vez de…

Trunks atirou-se numa corrida desenfreada na direção do pai, pronto para uma desforra. O sangue escorria-lhe do canto da boca. Vegeta viu-o aproximar-se. Calmamente calculou as distâncias e os próximos movimentos. Quando tinha Trunks a escassos centímetros dele, saltou. Também se transformou em super saiya-jin.

O filho era demasiado previsível e Vegeta semicerrou os olhos, vendo como ele saltava, insistindo na perseguição. Moveu-se rapidamente, surgiu de repente nas costas de Trunks, apanhou-o passando-lhe um braço pelo pescoço, o outro caçou-lhe o punho esquerdo, travando qualquer movimento. Apertou o garrote e Trunks engasgou-se. Deixou-o estrebuchar um pouco mais.

- Já te tinha dito que quando treinamos cá fora não devemos transformar-nos em super saiya-jin para não dar nas vistas – avisou Vegeta.

Goten observava a cena sem saber se deveria, ou não, intervir. Cerrou os dentes, dominando a tensão latente.

- Não te devias ter irritado. Perdeste a concentração, transformaste-te em super saiya-jin. Só asneiras! Não seguiste as tuas próprias palavras… Baka!

Trunks esperneou. Aos poucos foi perdendo força e a aura brilhante que o envolvia desapareceu, abandonando o estado de super saiya-jin. Vegeta também baixou o nível e deixou de ser super saiya-jin. Em seguida, afrouxou o braço, soltando o pescoço do filho e este caiu no chão, meio inanimado. Goten ajoelhou-se na relva, deu-lhe algumas palmadas na cara.

- Trunks-kun! Estás bem?

Trunks tossiu ao inspirar uma grande quantidade de ar. Pestanejou várias vezes. Estava tonto e deixou-se ficar deitado.

- Sentes-te melhor?

Vegeta aterrou ao lado deles, cruzou os braços.

- Ele está bem. Não te preocupes – disse.

Goten olhou-o e pareceu-lhe que estava zangado. Trunks sentou-se, a sacudir a cabeça. À cautela, Goten levantou-se e colocou-se à defensiva. Ele e o príncipe encararam-se durante um longo minuto, sustendo o olhar. Depois, inesperadamente, Vegeta mostrou-lhe as costas.

- Vocês estão com falta de garra.

- Ainda não terminou, Vegeta-san!

Sem se voltar, disse:

- Querem continuar a sessão de pancada? Por mim, tudo bem.

- Treinos! Sim, queremos continuar com os treinos. – Goten sussurrou para o amigo que permanecia sentado no chão. – Se não te sentes capaz, enfrento-o agora eu sozinho.

Resmungando com o esforço, Trunks pôs-se de pé. As pernas vacilaram.

- Não me ofendas. Claro que me sinto capaz.

- Tens a certeza?

- Tenho, baka! – Gritou.

Vegeta afastou-se para criar espaço para o próximo ataque.

Goten replicou, com um sobrolho arqueado:

- Não quero que te aborreças comigo. Às vezes, esqueço-me que és filho dele e que tens um feitio tramado.

Trunks sorriu, a ver o pai escolher o seu lugar na arena relvada da Capsule Corporation, descontraído, senhor da situação. Continuava a assumir orgulhosamente a liderança daquilo. Podiam ser uns simples treinos, mas lutar era para ele como o ar e o sangue da vida, devia estar a adorar cada instante. Apesar de se sentir tonto, uma ferroada no âmago por estar a ser batido, ele também estava a adorar aqueles momentos com o pai.

- Está a dar-nos uma grande lição – atirou Trunks.

- Continua tão forte como nos bons velhos tempos?

- Acho que sim. Faz por isso, treina-se todos os dias.

- Devíamos fazer o mesmo… Estamos sem garra, ele tem razão.

- Tu é que não queres.

- Não digas isso, Trunks-kun. Sabes que se não estudar, a minha mãe dá cabo de mim.

- Treinar com o teu pai vai ser assim tão divertido?

- Espero que seja menos doloroso.

Vegeta aborreceu-se.

- Sabem qual é o vosso problema? – Disse agastado. – Muita conversa e pouca ação!

Trunks e Goten entreolharam-se.

- Os dois ao mesmo tempo, Goten-kun?

- Hai!

Os rapazes empregaram-se a fundo no ataque conjunto. A potência dos golpes redobrou e a concentração também. Estavam empenhados naquele confronto e queriam mostrar a Vegeta que tinham os seus próprios truques e surpresas.

Vegeta defendeu um par de pontapés. Aparou mais um par de socos. O príncipe tomou a iniciativa, mas Trunks bloqueou-lhe os golpes para dar espaço a Goten. Este não desperdiçou a oportunidade e rasteirou Vegeta. Antes de cair, recuperou o equilíbrio com um mortal invertido, mas o movimento desintegrou-lhe a defesa. Tocou no relvado com as mãos, quando se preparava para correr para se afastar, Trunks e Goten atingiram-no com os punhos, num lance perfeitamente sincronizado, como se um fosse o espelho do outro.

Ao sentir o impacto, Vegeta gritou e caiu de costas no relvado. Viu como os dois rapazes mergulhavam impetuosamente para rematá-lo. Não hesitou. Esticou ambas as pernas e com todas as energias pontapeou-os. Trunks e Goten voaram e foram acabar alguns metros mais adiante. Ligeiramente abalado, Vegeta levantou-se e colocou-se imediatamente na defensiva, remoendo a sua desatenção.

Sentado na relva, Trunks sacudiu a cabeça. Goten, estendido ao comprido, braços e pernas abertos, tentava recuperar o fôlego.

- Bem, já conseguimos atingi-lo – disse Trunks.

- É… É um princípio – concordou Goten, respirando pelo meio das palavras.

- O problema é que ele bate mais em nós, do que nós nele.

- Amanhã, não vou conseguir mexer-me.

Vegeta viu-os levantar-se, trôpegos e esgotados, mas determinados e sorriu. Gostou. Apesar de se terem mostrado tão desajeitados no início, os dois rapazes tinham recuperado mais rapidamente do que ele esperava e aquilo estava a melhorar. Sentia-se também cansado, mas não iria ser ele o primeiro a desistir.

Nisto, uma força… Uma aura gigantesca e assustadora…

Empalideceu. Um raio de sol, que se punha algures no horizonte, por detrás dos edifícios da cidade, iluminou-lhe o rosto de vermelho fogo. Havia muito tempo que não sentia nada semelhante. Era alguém forte, poderoso, cheio de energia.

Depois, a sensação desvaneceu-se, como fumo a diluir-se na atmosfera, mas ficou algo a tremer ao longe. A aura de um saiya-jin

Trunks e Goten começaram a correr, punhos em riste. Estendeu um braço maquinalmente e ordenou, concentrado no ki que existia nos confins do mundo:

- Parem!!

Trunks estacou no instante, mas teve de agarrar a roupa de Goten para travá-lo. Reparou na expressão tensa do pai.

- O que aconteceu?

Goten ajeitou a túnica nos ombros, interrogando:

- Nan da, Trunks-kun?

- ´Tousan?

- Não sentem? – Perguntou Vegeta a fixar o vazio.

Era agora uma aura impercetível, muito distante. Passaria despercebida se Vegeta não a tivesse sentido antes. Mas como já a tinha captado, a sensação incomodava-o. Demasiado palpável. Nunca julgara que voltaria a sentir o espírito de outro ser da sua raça.

- Não sentem?

Trunks concentrou-se e Goten também. Esforçaram-se bastante até que conseguiram alcançar a perceção da aura. O choque abanou-os.

- Um saiya-jin! – Exclamou Goten. – Parece a aura de um saiya-jin!

Trunks apertou os punhos.

- É um saiya-jin – disse.

- Mas… Não pode ser – apressou-se a acrescentar Goten.

- É um saiya-jin – reforçou Vegeta.

Afastou-se. Baixou a cabeça, cruzou os braços, quis raciocinar, mas tinha o cérebro bloqueado. A razão dizia-lhe que era impossível estar a sentir a aura de um saiya-jin de sangue puro, mas o facto era que a sentia.

- Impossível – insistiu Goten. – O único saiya-jin de sangue puro que existe é o meu pai.

- E esta não é a aura de Kakaroto – concluiu Vegeta.

Fechou os olhos. Irritado, mordeu o lábio inferior e saboreou um fiozinho de sangue que lhe escorreu da boca.

O que significaria aquilo?


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
O início da batalha.



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