Estou tentando, inutilmente, separar Cashmere e Annie. Não tenho certeza do que aconteceu, mas ela se atacaram. O resto de nós, a não ser Prim que é a garota que eu não sabia o nome, Madge e Gloss, que está quase morto, estão contra Haymitch .

-- PAREM AGORA! – berro –ESTÃO TODOS LUTANDO E VOCÊS AQUI COM BRIGAS INÚTEIS! – infelizmente isso não as fez parar, apenas me rendeu uma facada de Cashmere. – Agora chega.

Pego minha própria faca e coloco no pescoço de Cashmere, ela se debate um pouco o que faz com que eu a corte superficialmente. Madge me ajuda a amarra-la e então eu e Annie entramos na luta contra Haymitch.

-- VAI PARA O INFERNO – A loira berra de longe.

-- Já estou nele – respondo revirando os olhos.

Haymitch é mais rápido que todos nós em pouco tempo de luta ele está apenas mancando e já tem gente muito ferida no chão, e esses são Glimmer, minha mãe, Daniel e Annie. Enobária sangra muito, não vai se aguentar em pé por muito mais tempo. Brutos também não está muito bem. Volto a olhar o que a Besta está fazendo, a cena não é nada agradável, ele arranca uma das pernas de Peeta, com os dentes. Katniss corre para ajuda-lo. Cato crava uma espada quase no peito de Haymitch, que apenas tosse e o lança para longe. Eu sou uma inútil. Meu braço ainda está sangrando graças a Cashmere, começo a me perguntar se eu deveria me preocupar com isso.

-- O penhasco Clove! Corre! – Katniss me orienta ainda ao lado de Peeta.

-- Só depois de me matar, lindinha – Aquele enorme lobo rosna na minha direção.

-- É o que vamos ver! – Johanna fala cravando um machado em suas costas. – O que está fazendo parada? Corre! Corre! – Dá onde veio esse machado?

Cambaleio um pouco, e começo a correr na direção do penhasco. Não sei bem o que devo fazer, talvez seja apenas jogar as péro... Meus pensamentos são interrompidos por um grito de Katniss. Me viro para ver o que está acontecendo e ela sangra muito, ainda menos do que a perna de Peeta, mas ela precisa de cuidados urgentes!

-- Continua correndo garota! – Cashmere berra ainda amarrada.

Não espero ela repedir, em breves momentos estou na ponta do enorme penhasco olhando para o mar a minha frente e a gigante lua que quase pode toca-lo, tenho que ser rápida.

-- Lua, pegue de volta o que é seu! – Falo em um grito engasgado jogando o colar de pérolas ao mar. Quando ele está prestes a tocar o mar, algo mágico acontece, ele volta para minha mão. Talvez eu tenha apenas que solta-las, e é isso que eu faço. As jogo novamente no mar, mas dessa vez separadas. O mesmo fenômeno acontece, mas dessa vez elas se prendem em meu vestido. – O que..?

-- Você sabe o que deve ser feito – Cashmere urra, devia tê-la prendido mais longe.

Mas então o que ela fala faz sentido, eu tenho que me jogar. As pérolas querem que eu vá com elas, ou a lua quer que eu vá com as pérolas, não muda, apenas é o que deve ser feito.

-- NÃO, CLOVE, PARA! – Cato berra antes de ser jogado para uma árvore por Haymitch, agora só tem ele, Johanna, Finnick e Cashmere, que foi solta por ser útil, lutando.

Eu tenho que parar isso. E com esse pensamento sigo até a ponta do penhasco do vale, mais um passo e eu caio no oceano. Mais um passo e eu destruo essa maldição. Mais um passo e eu posso nunca mais ver a luz do sol. Dane-se, eu gosto do escuro. Pulo e as ondas que batem nas roxas da montanha me envolvem levando-me ao fundo, o impacto que sofri ao cair na água fez com que o ar saia de meus pulmões. Passo a mão freneticamente pelo meu vestido fazendo com que, mesmo que lentamente, todas as pérolas cheguem ao fundo. Estou com uma sensação de dever cumprido, mas quando tento voltar a superfície, meus membros simplesmente decidem não se mover. Nunca tinha pensado em como eu iria morrer, mas acho que afogada nunca foi uma opção em que eu desse importância, talvez eu pensasse que não fosse morrer sozinha, tenho amigos sim, mas nesse momento tenho apenas a escuridão para fazer-me companhia. Será que morrer dói? Não, o que dói vem antes dela. Tive uma vida realmente curta. Um flash back da minha vida começa a aparecer diante dos meus olhos. E de repente me arrependo de todos os momentos que eu poderia ter ficado na companhia de meu pai e não fiquei, de todas as horas do chá que minha mãe, e todos lá da cidade, dava muita importância que eu perdi, de todas as flores que eu deixei de ver, das coisas que eu deixei de fazer. Nunca agradeci a Enobária por ter salvo a minha vida inúmeras vezes, nunca falei a Katniss que ela é, ou era, não sei se ainda está viva, a melhor amiga que eu poderia ter. Até Cato veio a minha cabeça, graças a ele eu aprendi o que minhas amigas chamavam de borboletas no estomago. Até Brutos teve uma significativa importância na minha vida. Gostaria de poder continuar refletindo, gostaria de lembrar de tio Finnick, mas nesse momento não tenho mais nem ar suficiente para pensar e a última coisa que consigo fazer antes de perder os sentidos é fechar os olhos.

***

Pelo, um pelo macio. Tem alguma coisa macia em baixo de meu corpo. O ar invade novamente minhas narinas. Será que morri? Foi menos perturbador do que eu pensei que fosse. Mas, se morri, como ainda sinto dor? Arrisco-me a abrir os olhos. A luz da lua invade a minha visão e me encontro em cima do dorso de um unicórnio. Ele corre junto com as ondas sendo seguido por outros. Quando chegamos de volta ao topo do penhasco olho para a destruição a minha frente. Haymitch está morto. Cashmere chora com Marvel morto em seus braços, tia Johanna segura Daniel, desmaiado ou morto. O resto está muito ferido, ou ajudando os muito feridos. Mas todos, os vivos, abrem um sorriso, mesmo que alguns pequenos, quando me veem.

-- CLOVE! – Minha mãe berra e vem mancando em minha direção.

--Eu estou bem – Desço do unicórnio e começo a cambalear.

-- NÃÃÃO – Tia Johanna berra e ganha a minha atenção. Gale abandona Madge e corre na direção da mãe, Katniss faz o mesmo com Peeta. – Ele está... Ele está...

-- Morto – Tia Enobária fala se referindo a Daniel. Ela está com uma péssima aparência, cheia de cortes e arranhões sangue escorre de sua boca.

-- Haymitch bêbado desgraçado. – Glimmer fala enquanto se levanta, como assim ela conseguiu sobreviver? – Gloss? Está vivo? – Ela fala chegando perto do homem jogado no chão, ele apenas balança a cabeça e nem se dá o trabalho de abrir os olhos.

-- Hey – Katniss chama, a mesma está com uma aparência sinistra, sangue cobre parte de seu rosto e braço – eu preciso de alguma ajuda com a perna do Peeta. – Johanna se aproxima e dá uma leve olhada.

-- Alguém trás uma garrafa de vodka. – ela diz.

-- Tia – Gale se intromete – você beber vai ajudar o garoto em algo?

-- Não é para mim, é para ele! – Enobária fala como se fosse óbvio – Não pretende que eu ampute a perna dele com ele sóbrio, não é? – Peeta engole em seco, arregala os olhos e sua face fica mais branca que papel.

-- Vai arrancar a perna dele? – Cato aparece cambaleando e escorrendo sangue.

-- Claro garoto – ela sorri – está cheia de bactérias e sangrando muito, se não fizermos nada ele vai morrer. – Enobária sorri mais uma vez, mas agora com um ar maligno – Agora, que a maldição acabou, cadê o Brutos?

Assim que ela termina suas palavras aparece um enorme leão negro, com os mesmos olhos vermelhos de Brutos, ele ruge em reconhecimento, e se deita ao lado de Enobária que acaricia sua cabeça. “bom menino” ela murmura.

-- O cão do demônio era um leão? – Peeta balbucia as palavras.

Enobária assente com a cabeça e decide fazer a arriscada cirurgia depois. Tio Finnick coloca fogo no corpo morto de Haymitch, e depois os que conseguiam andar ajudaram a levar os feridos para nossa mansão por ser mais perto e amigável do que a dos Ludwig. Nesse dia perdemos muitos entes queridos, a lista de mortos não foi muito grande, mas me deixou abalada. Daniel, Marvel, Haymitch e Prim já não estão mais ente nós.