Já faz dois dias que tudo aconteceu, enterramos nossos mortos e estamos cuidando dos nossos feridos, hoje foi o dia escolhido por Enobária para fazer a operação na perna de Peeta, não quero estar perto quando isso acontecer. Uma parte complicada foi me acostumar a ter um leão de estimação, mentira, é algo totalmente divertido. Se há algumas semanas atrás me dissessem que eu teria um leão negro e um unicórnio, eu mandava o louco para um sanatório. Gloss e Enobária meio que estão em um tipo no mínimo estranho de relacionamento. Annie e Finnick não podiam estar mais felizes, Johanna ainda está muito abalada com a morte de Daniel e prefere ficar sozinha na maior parte do tempo, mas ela é forte, vai passar em breve. Eu e Cato meio que também entramos em um pequeno relacionamento enrolado, Cashmere está adorando a ideia, minha mãe, nem tanto.

–- Clove? – A voz angelical da tia Eno me tira de meus devaneios.

–- Que foi? – pergunto inocentemente.

–- Fizemos uma votação e você que vai me ajudar na cirurgia de Peeta. – Ela fala e fecha a porta – VEM LOGO.

Corro para a sala onde todos estão reunidos, devo estar com uma cara de puro pavor porque Gale e Madge (que também estão juntos, mas não admitem) começam a rir.

–- Que história de votação foi essa? – pergunto bufando.

–- Desculpe priminha, ninguém queria ajudar e como você estava dormindo... – Gale fala entre risos.

–- Merda – lamento.

–- Não vais ser tão ruim – Katniss comenta, como eu quero dar um soco em sua fuça agora.

Apenas dou um grito e me atiro no sofá. Brutos vem e senta ao meu lado. Cashmere que estava sentada na outra ponta se levanta e vai para o outro sofá. Isso é meio estranho, os Ludwig morando aqui na mansão, não ficou apertado, na verdade sobra espaço, mas é muita gente reunida.

–- Está na hora – Gloss anuncia segurando uma garrafa de vodka. – Pegue Clove – ele me alcança a garrafa e eu a pego. – Vamos Gale e Cato, temos que cortar a madeira.

–- Madeira? – pergunto.

–- Garoto não vai poder ficar sem uma perna, não é mesmo? – Gloss fala piscando e logo os três se retiram da sala.

–- Vamos – Enobária me chama. Segurando uma faca enorme pingando sangue – eu já comecei, você termina -- Faço uma cara de pavor pior que a de antes, me encolho no sofá.

–- Gale é culpa sua! – Katniss o repreende. – Era só uma piadinha do seu primo, Clove.

***

Graças aos céus que Enobária é uma boa tia e não me obrigou a nada, foi Cashmere que cortou a perna de Peeta no final. Ajudei os garotos a prepararem a madeira que vai ser colocada provisoriamente na perna de Peeta amanha, até a de ferro chegar da cidade. Katniss está muito feliz que tudo deu certo, e acho que no fundo todos também estão. O jantar foi algo meio tenso na minha opinião, todos os casaizinhos ficaram falando coisas melosas e Cato teve a brilhante ideia de me beijar o que fez com que minha mãe me olhasse com reprovação e lançasse um olhar como “Vou arrancar seu coração” a ele. Brutos saboreia um enorme pedaço de carne na sala, Cashmere não para de murmurar coisa como “espero que não manche o tapete” ou “ esse leão deveria viver no pátio”. O jantar está realente entediante quando Brutos corre para a grande janela da sala e emite um grunido, sou a primeira a correr na sua direção. Olho pela janela, esfrego meus olhos inúmeras vezes tentando ter certeza do que o que eu estou vendo é real.

–- Que infernos? – Katniss pergunta agora ao meu lado.

–- Parece um cavalo. – Minha mãe diz. Que gente curiosa, agora já estão todos olhando pela enorme janela.

–- É um unicórnio sua idiota – Cashmere revira os olhos.

–- Idiota é você! Não está vendo que ele é preto? Unicórnios são brancos! – Minha mãe revida e elas começam a discutir.

Observo o “cavalo” melhor, parece um belo unicórnio, mas a crina é negra como a noite e os olhos são vermelhos como o sangue, parecido com Brutos até certo ponto. Sua crina é comprida e balança ao pouco vento que está lá, dando-lhe um aspecto selvagem. Mas apesar de suas características assustadoras, seu olhar ao meu ponto de vista transparece ternura.

–- O que vocês estão vendo? – Peeta pergunta deitado no sofá, ele ainda não pode se levantar. Todos o ignoram.

–- Tio... Isso é o que eu acho que é? – Cato pergunta e Gloss concorda com a cabeça.

–- Nightmare – ele murmura.

–- Não fale blasfêmias. – Enobária fala revirando os olhos.

–- Não acredita em mim amorzinho? – ele ergue uma sobrancelha.

–- Não! – ela responde.

–- Vai lá ver então. – ele dá de ombros.

–- Quer que eu morra? – Enobária pergunta irritada.

–- Mas você não acredita que é um Nightmare, se eu estou errado qual é o medo? – Gloss está realmente deixando minha tia irritada.

–- Mas, se por acaso for e eu for lá... – Enobária começa a falar, mas eu a interrompo.

–- O que pode acontecer se alguém for lá?

–- Clove, um nightmere tem esse nome porque não é boa coisa – Annie fala abraçando Finnick.

–- Na verdade se ele te escolher será uma companhia muito agradável. – Finnick diz.

–- Mas se ele não gostar de você, boa sorte na nova vida como carvão – Enobária sempre com a sua positividade.

–- A gente vai ficar aqui tendo uma aula sobre eles ou vamos tentar domar um deles? – Gale pergunta com uma voz de tédio.

–- vamos lá. – Katniss fala animadamente.

–- NÃO – Johanna berra – vocês são MEUS filhos, EU mando em vocês, e vocês NÃO vão ir lá.

–- Então contem-nos mais sobre eles – Gale fala novamente com sua voz tediosa.

–- Nightmares são cavalos negros com chifres de unicórnios. – Gloss começa a explicar – São quase tão antigos quando os mesmos. Mas, eles são mais, digamos, maus.

–- Incompreendidos – Annie joga na cara.

–- Quem vai contar a história aqui? – Pergunta Glimmer sem paciência.

–- Eu conto – Annie lança um olhar furioso para Gloss. – Era uma vez, em um lugar chamado floresta encantada...

–- Espera, não é na Floresta Encantada que vive a Bran—Peeta começa a falar, mas todos o olham com um olhar de reprovação e ele acaba ficando em silêncio.

–- Como eu estava falando – Annie finge estar irritada – Era uma vez, em um lugar chamado floresta encantada, uma unicórnio, abençoada pela lua, teve o chifre cortado por ser mais poderoso e mágico do que dos outros unicórnios e do que qualquer coisa eu existia naquele lugar, e pelo enfurecimento da lua, quando aquela égua teve o primeiro potro, teve também o primeiro nightmere. A função do Nightmare era vingança, ele era para ser um ser sombrio que viveria escondido nas florestas protegendo os unicórnios, eles são muito raros.

–- Annie, Annie, Annie – Gloss repete seu nome – Esqueceu da parte que eles são conhecidos como pesadelos por matarem quem não tiver coração puro o bastante para ser amigo dos unicórnios.

–- Coração puro... Amigo dos unicórnios... – Glimmer reflete – A Clove não tem um unicórnio?

Todos me olham, Enobária e Gloss abrem um sorriso triunfante e ela fala – Clove, acho que um Nightmare está esperando por você.