Entre Livros E Maldições escrita por Witch


Capítulo 3
The Witch is back


Notas iniciais do capítulo

Vocês são muito gentis. Sério xD



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- A Rainha do Macabro! – exclamou August entrando na estação de policia.

Charming, Graham e Emma olharam para o escritor confusos. Os três rodeavam uma das mesas coberta por um mapa enquanto decidiam os próximos movimentos. Regina estava certa, todos estavam perdidos. Ninguém sabia quem tinha lançado a maldição nem por que, nem mesmo sabiam o que deveria ser feito dali para frente.

A situação era desesperadora.

- O que? – indagou Charming com testa franzida.

- A nossa misteriosa visitante. Eu sabia que já a tinha visto antes! E eu vi.

- Explique-se. – disse Emma cruzando os braços. Sua expressão era desconfiada.

- O nome dela é Regina Mills, mais conhecida como Rainha do Macabro. – continuou August se sentindo orgulhoso.

Emma percebeu o livro que ele carregava. Um livro grosso com a capa negra.

- É um dos livros dela? – indagou apontando.

August abriu um sorriso e levantou o livro para todos verem.

“A Torre Negra: a ascensão”. Era o título do livro. A capa negra dura tinha a imagem de uma torre destruída.

- Simples, mas brilhante. – continuou August. – É o primeiro da saga. Ela pretende uma trilogia. Eu tenho os dois.

- Um fã. – disse Graham cético – Ela é a Rainha. Você tem noção das coisas que ela fez?

- Eu sei. – afirmou August se irritando. – Mas eu não sabia quem ela era! Além do mais, sendo Rainha Má ou não, ela é brilhante.

Emma viu que Graham iria refutar e uma briga (mais uma!) iria explodir. Ela simplesmente não agüentava mais as explosões, as brigas, as desavenças. Desde a quebra da maldição, todos brigavam sem parar.

- Continue, August. – pediu Charming já prevendo a briga. Ele também não agüentava mais as disputas.

- Obrigada, Sua Majestade. – disse August com um sorriso agradecido. – A Rainha recentemente foi escolhida para publicação para uma coletânea. Agora, tentem imaginar quem patrocinou a publicação?

- Não enrole, August. Vá direto o ponto, por favor. – pediu Emma já sentindo a dor de cabeça voltar;

- Gold. – ele respondeu simplesmente. Os outros pareceram não entender. – Mr.Gold? Alguém?

Ainda os olhares confusos.

- Vocês não se lembram do Gold? – indagou August achando estranho. Todos conheciam o Mr.Gold!

Os outros se olharam, confusos. O nome era familiar, mas por alguma razão, eles não conseguiam se lembrar.

- Nem se incomode em tentar, eles não vão lembrar. – veio a voz confiante. O tom de superioridade fez Emma torcer o nariz.

- Regina. – grunhiu Charming já colocando a mão na espada encostada na mesa.

Graham também tomou uma postura agressiva. Regina não parecia preocupada, só revirou os olhos, claramente não impressionada.

- Ah, por favor, - ela suspirou.

Emma achava tudo desnecessário e August sorriu. De todos, provavelmente o escritor era o único que achava toda a situação interessante.

- Eles apagaram a memória das pessoas. Provavelmente um pouco depois que maldição quebrou.

Ela olhou ao redor. Provavelmente julgando tudo que via, pensou Emma.

- Acho que a decoração não te agradou. – comentou debochada. Os braços ainda cruzados.

Regina a olhou. A Rainha conhecia um desafio quando o via.

- De fato. – concordou. Depois, olhou cada um, examinando-os. – Mas acho que as pessoas contaminam o ambiente.

Emma não pôde evitar de sorrir. Ajeitou a postura pronta para rebater o insulto, mas August foi mais rápido.

- E por que eu não esqueci? – indagou, ainda segurava o livro e Regina viu.

- Por que você não é humano. – torceu os lábios – ou pelo menos não completamente. – completou.

- Ou seja, August escapou do feitiço por que ele era de madeira? – repetiu Charming.

Regina o olhou e respirou fundo.

- Sim, - repetiu. – Ele não foi afetado por que ele era de madeira. – ela falou com cuidado e muito lentamente, como se estivesse falando com alguém bem debilitado mentalmente.

Claro, Charming notou.

- Olha aqui! - ameaçou

- Não. – respondeu firmemente. – Você, olhe aqui. Essa cidade está um caos e vocês não estão ajudando. Tem tantos ogros ao redor que até o ar está contaminado com fedor deles. Há goblins e não duvido nada que logo vocês terão problemas terríveis com Confessoras.  Eu não ligo para sua cidadezinha, nem para os seus habitantes, mas eu tenho um dead-line a cumprir e é impossível escrever com cheiro de ogros e de sangue pairando no ar.

- E o que sugere que façamos? – indagou Emma. Ela tinha noção do quanto as coisas estavam ruins e pelos deuses, ela faria qualquer coisa por uma noite decente de sono.

Ela abriu um sorriso sarcástico.

- Eu posso afastar os ogros e os goblins, provavelmente as Confessoras também.

- E qual é o seu preço? – indagou Charming. Ele melhor do que ninguém sabia que Regina não era confiável.

- Uma casa.

- O que? – exclamou Emma.

Os homens se entreolharam.

- O quarto da pousada é muito pequeno. – ela respondeu. A bolsa com o notebook ficou ligeiramente mais pesada. – E como eu disse, eu preciso escrever. Disponibilizem para mim uma casa confortável até eu terminar o que vim fazer aqui e eu provido a segurança que vocês não possuíam desde antes da maldição.

- Só isso? – indagou Graham. – Você quer uma casa?

Emma viu a escritora se contorcendo para não responder do jeito que queria. Regina lambeu os lábios e repetiu.

- Sim... Graham. Eu quero uma casa.

- Para nos proteger? – indagou Charming, curioso.

Regina, sendo a pessoa com o terrível temperamento que era, não agüentou.

- Quantas vezes eu vou ter que repetir todas as minhas frases? Eu devia ter digitado tudo e entregue escrito, mas levando em consideração essa conversa, vocês provavelmente ainda não entenderiam. Qual é a dificuldade de entender? Eu mantenho os perigos longes e vocês me dão um lugar confortável. Um conceito simples!

- Nos insultar não vai te ajudar. – continuou Charming, já irritado e incomodado com aquela conversa. Aquela mulher, a mesma responsável por quase matá-lo e a Snow várias vezes, oferecendo proteção?

Ela não respondeu.

- É aceitar ou largar.

- Largamos. – respondeu o príncipe sem pensar duas vezes.

Graham pareceu satisfeito. Emma o olhou com indignação, eles deveriam pelo menos discutir os prós e contras. August suspirou e balançou a cabeça.

Regina balançou os ombros como se não ligasse.

- Bom, - ela disse. – Não podem falar que não tentei.

Virou-se, sempre com aquela imponência digna da realeza e saiu da sala. Não antes de olhar para Emma mais uma vez.

- O que foi aquilo? – indagou a loira quando Regina desapareceu. – Devíamos pelo menos conversar.

- Não. – respondeu Charming. – É Regina. Simples assim. Não podemos confiar nela.

Graham apoiou e August sentou-se numa das cadeiras vazias.

A discussão tinha se encerrado pelo dia.

==

Quando Emma disse que faria qualquer coisa por uma boa noite de sono, ela não tinha mentido. Eram três da manhã quando os ogros entraram na cidade novamente. Três grandes e gordos ogros.

Correndo pela cidade puxando Henry, ouvindo os gritos e ataques, Emma achou que uma casa seria um preço muito baixo a pagar por um pouco de segurança. Regina podia não ser confiável, mas continuar sendo atacados por ogros não ajudaria em nada. Só deixaria todos mais desesperados.

- Então. –disse August quando alcançou Emma e Henry. Estavam indo para o Granny’s. O único lugar da cidade que os ogros evitavam. – Eu soube de uma velha mansão que está vazia há muito tempo.

- Era do antigo prefeito. – disse Henry, embora ele não conseguisse se lembrar do rosto do homem.

- É um preço baixo a pagar. – continuou o escritor.

A praticidade de August era uma das coisas que Emma mais gostava nele. Graham e Charming eram muito... como dizer? Heróicos? Orgulhosos? Tolos? August não pensaria duas vezes em dar uma casa para a bruxa se isso significasse algumas noites de sono decentes para aquelas pessoas.

- Eu concordo.

Granny’s estava lotado. Os guerreiros corriam pela cidade salvando aqueles que não sabiam lutar e tentando impedir os ogros de prosseguirem. Emma empurrou Henry para dentro da lanchonete e ignorando os gritos do rapaz, foi atrás de Charming e Graham que tentavam enfrentar o ogro maior e mais descontrolado.

- Precisamos acertá-lo na cabeça! – gritou Charming.

Mais pessoas se aventuraram ao redor do ogro, o que Emma sabia que era um mal sinal. A criatura se sentiria extremamente ameaçada e sairia destruindo tudo, até a Granny’s, que eles estiveram evitando, não estaria mais seguro.

- Não os provoquem! – ela gritou.

Tarde demais, alguém jogou uma grande pedra no ogro, que furioso, começou a atacar a esmo, sem olhar o que ou quem. O grupo correu e pulou fora do caminho do ogro.

- Ele está indo para a lanchonete! – gritou Grumpy.

As fadas tinham magia, mas era muito pouca.

- Eles não deveriam ter partido a barreira.- disse Nova temerosa para a Fada Azul.

As freiras ergueram uma barreira humana ao redor da lanchonete e elas estavam dispostas a usar do resto de magia que tinham para impedir o avanço dos ogros.

- Algo partiu a barreira para eles. – respondeu a Mãe Superior já se preparando para o choque do ataque...

Que nunca veio.

O ogro grande e feio parou abruptamente ao mesmo tempo que a porta da lanchonete abriu.

- Que confusão é essa? – indagou a Rainha caminhando tranquilamente em direção ao ogro.

Não foi necessária uma resposta. O ogro não recuou, só parou e a encarou com seu rosto deformado.

- Regina! – gritou Snow se aproximando com Ruby e outros anões. Obviamente tinham conseguido derrotar um dos ogros, mas o maior e mais forte ainda estava ileso.

A Rainha estava envolta num roupão de seda vermelho escarlate. Seus curtos cabelos estavam bem arrumados, indicando que a bruxa, igual a todos na cidade, não tinha dormido. Mas, diferentemente dos outros, Regina parecia descansada, confiante... e bem irritada.

Henry estava logo atrás, ele tinha um sorriso confiante no rosto.

- Mãe! – gritou para Emma.

O ogro estava parado decidindo se atacava ou não. A bruxa cruzou os braços, claramente impaciente.

- Senhorita Swan. – chamou. Emma franziu as sobrancelhas quando a mulher abriu um imenso sorriso cruel. – Henry te chamou, vai deixar o menino esperando?

Emma pareceu surpresa e olhou para o ogro, o único obstáculo entre ela e Regina, e claro, Henry.

- Emma? – questionou August.

Emma Swan era uma pessoa que gostava de desafios e a Rainha era cheia deles. Regina a tinha desafiado: alcançar o filho e para isso, ela precisava passar não apenas do ogro, mas da própria bruxa. Segurou firme a espada que o pai lhe tinha dado e sem pensar duas vezes ou escutar os pedidos dos amigos, Emma começou a correr.

Ela viu o sorriso satisfeito nos lábios de Regina e também pôde ver os olhos de Henry, cheios de adoração e medo.

Emma não recusava um desafio... Especialmente vindo de alguém tão arrogante quanto a bruxa.

O ogro não pareceu se importar, ainda se decidindo sobre suas próximas ações. Emma, assim que passou de Regina, que não moveu um  músculo, foi diretamente a Henry, onde abraçou o filho.

- Muito bem, senhorita Swan. – começou Regina se virando, o sorriso cruel ainda estampado no rosto – Não abandonamos a família. E você. – virou-se para o ogro e estendeu uma mão – Nunca mexa com uma bruxa.¹.

O barulho ecoou pela cidade quando o ogro caiu. Ele ficou imóvel por algum tempo e todos na cidade seguraram a respiração. Se a criatura acordasse, ela ficaria furiosa e ninguém ali estava preparada para a fúria de um ogro. A bruxa era a única que mantinha a calma. Seus olhos escuros não saiam da figura caída no meio da cidade, pensou em dar ordens, afinal se eles capturassem aquele ogro (um caçador ainda por cima!), não só os ogros parariam de atacar por um tempo, mas também poderia trocá-lo por algo... Possivelmente respostas.

Afinal, quem os tinha liberado? Quem os controlava? As especulações eram muitas, mas no fim, ela já tinha certeza de quem era o responsável. Controlar ogros não era uma tarefa fácil, muito menos simples. Era necessário um poder muito grande e um controle ainda maior.

Franziu os olhos quando o corpo caído começou a se mexer. Não deveria ficar surpresa, os ogros escolhidos para serem Caçadores eram normalmente muito resistentes, muito fortes e burros como uma pedra.

Olhou para trás, onde Emma olhava fixamente para o corpo caído. Ela parecia não respirar como os outros e agarrava Henry com maior força a cada segundo. O rapaz parecia aterrorizado e não se incomodava em ser esmagado contra a mãe.

A visão fez a bruxa rir, atraindo assim a atenção da Salvadora.

Quando seus olhares se encontraram, Regina deixou de sorrir. Era estranho e ela não soube explicar exatamente o que aconteceu naquele momento.

No começo, quando Emma a olhara, a bruxa deveria continuar rindo e fazer algum comentário debochado, era esse o plano original. Mas, por algum motivo, com a atenção do resto da cidade no ogro e com a atenção de Emma de repente só nela, o controle, o perfeito controle que ela construíra até mesmo antes da maldição, parecia sumir. A antiga Rainha se sentiu vulnerável.

A sensação de que alguém pode ver mais do que deveria, que pode ver através das barreiras erguidas pelo tempo e pela dor, é desconfortável. Ser vulnerável, especialmente naquela situação, com tantos inimigos ao seu redor, não era uma opção viável e se aquela garota, aquela criança, realmente conseguisse ver por debaixo da persona da Rainha Má, então ela era perigosa demais e, portanto, deveria ser descartada ou ser feita de aliada.

Emma abriu um meio sorriso e Regina não soube o que interpretar do gesto. Teria Emma visto mais do que deveria? Poderia ela fazer isso? E por que não desviava o olhar?!

- MAIS FORTE! – veio o grito de Charming e o feitiço, ou seja lá o que tinha acontecido, pareceu quebrar.

Pela primeira vez desde que olhara para Emma, Regina voltou a ter contato com o mundo exterior. Ela ouviu os gritos desesperados e a voz terrível do ogro, que lutava para se libertar das cordas que o prendiam.

O ogro já estava em pé e os cidadãos o circulavam tentando lutar contra ele. Tanto a bruxa quanto a Salvadora se questionavam sobre quando ogro tinha levantado e por que nenhuma escutou os gritos antes.

- O que fazemos? – indagou Emma.

Regina, ainda distante e incomodada com os acontecimentos, simplesmente balançou os ombros. Poderia voltar para o quarto e tentar escrever ( Frederick não parava de mandar e-mails cobrando os novos capítulos), mas capturar aquele ogro vivo e trocá-lo por informações pertinentes a um certo duende de pele brilhante e com um enorme gosto por contratos era muito atrativo.

Mas pela forma como Charming atacava o ogro, a probabilidade de uma troca justa era mínima. Um Caçador ferido era inútil para um exército ogro, eles não fariam nenhum acordo assim.

- Capturá-lo vivo. – comentou ainda olhando a patética cena dos humanos contra ogros. Riria se não estivesse tão preocupada em conseguir informações. – depois trocá-los por informações.

- Eles não parecem o tipo que conversam com o inimigo.

Regina se virou para responder, mas surpresa percebeu que a loira estava mais perto dela do há alguns minutos. Emma também parecia surpresa. A pergunta era: quem tinha se aproximado?

Henry, ainda agarrado a Emma, só olhava para os lados. Não sabia se olhava para a batalha ou para as duas mulheres agindo estranhamente.

- Eles sabem quem os libertou e quem os está controlando. Se conseguirmos trocá-los por informações...

- Saberemos com quem estamos lidando. – completou a loira abrindo um sorriso.

- Mas antes, você tem que impedir seus pais de mata-lo.

- E por que acreditaríamos em você?

Ah, Regina queria responder muitas coisas. Por exemplo, queria começar dizendo o quanto odiava ogros e quão terrível tinha sido ter contato com eles enquanto aprendia magia ou o quanto queria terminar com aquilo o mais rápido possível para voltar a ter uma vida normal ( a vida que levava a 28 anos) ou o quanto odiava Rumpelstiltskin ou quanto sua própria vida não tinha sido nada mais do que um jogo de poder e que cada pedra no caminho, cada mão estendida, cada lágrima, tinha sido friamente calculado para que o resultado fosse uma Rainha cruel e tão infeliz a ponto de usar da Maldição Negra. Regina tinha tantas razões para acabar com tudo aquilo, mas não falaria para Emma ou para ninguém mais, eram razões dela, Regina, e ninguém, absolutamente ninguém, tinha que saber das dores e arrependimentos que guardava dentro de si.

- Não deveriam. – respondeu. Tentava conciliar a dor, tentava controlar os próprios olhos para que eles não expressassem tudo que se passava em seu coração negro e cheio de buracos. – Mas, eu sou tudo que vocês têm, senhorita Swan. Vocês não têm memória dos responsáveis, mas eu tenho. Vocês não têm o poder para evitar todas as criaturas que vão aparecer de agora em diante... Eu tenho.

Ela jamais esqueceria aqueles rostos ou a expressão aterrorizada do próprio pai quando a traição aconteceu.

Emma assentiu e agiu mais rapidamente do que Regina esperava. A salvadora mandou Henry correr para o restaurante e olhou rapidamente para a bruxa antes de se juntar aos guerreiros contra o ogro.

A loira foi direto para os pais e Regina abriu um sorriso.

O ogro respirava pesadamente e restos de cordas balançavam de seus braços e pernas. Ela sorriu quando ele a olhou e a criatura pareceu perturbada com a situação, mas não correu.

- Vamos melhorar a situação, sim?. – comentou e estendeu ambas mãos.

A fumaça roxa envolveu o asfalto debaixo do ogro e ele soltou um grito quando tentou se mover e não conseguiu. Seus pés estavam grudados no chão e por mais força que usasse não conseguia se libertar. O desespero de se salvar era tanto que o ogro não percebeu que a bruxa ainda não tinha terminado e com um estralar de dedos, ele sentiu algo segurando seus punhos e o puxando violentamente até se chocar com o chão duro.

Outro grito, dessa vez de raiva, quando tentou se libertar e não conseguiu. O chão, o concreto, parecia absorvê-lo e quando mais se debatia, mais preso ficava. 

Regina sorriu para sua obra de arte: o ogro grande e feio preso no concreto cinza se debatendo. Ela poderia escrever um livro sobre isso... Talvez nomeá-lo “Preso no concreto”.

Soltou uma risada deliciada com a situação. Como era bom usar magia tão livremente! Durante aqueles 28 anos, usar magia era possível, mas tão exaustivo! Ela tinha que se concentrar e usar de outros objetos, como  cristais e encantamentos para conseguir coisas simples. Agora, bastava um estralar de dedos para confinar um ogro ao chão.

A Bruxa estava de volta, completamente.

==

Com o ogro imobilizado, a cidade finalmente pareceu respirar.

A luz minguante no céu fazia Ruby suspirar de alivio e logo depois, era esmagada pela grande culpa. Se fosse lua cheia, ela poderia ter facilmente derrotado aquele ogro, mas em compensação, ela provavelmente teria machucado mais pessoas do que poderia contar.

As pessoas voltavam para as próprias casas, aquelas não destruídas pelos ogros, e resmungavam. Todos estavam infelizes e cansados. Os ogros sempre atacavam a noite e ninguém conseguia dormir, mesmo quando o ataque não acontecia, a cidade parecia não conseguir descansar.

Tantas coisas ruins poderiam acontecer. Tantas criaturas poderosas e terríveis poderiam aparecer e lá estavam eles, sem a magia das fadas, sem proteção. Alvos fáceis para criaturas cruéis.

- “E eu...” – pensava Ruby – “Sou uma dessas criaturas cruéis.”

Desde que a maldição quebrara, Ruby tem temido a noite de lua cheia. Ela perderia novamente o controle e, pelos deuses, ela mataria pessoas, muitas pessoas e não havia quem pudesse impedi-la.

- Snow. – se aproximou da amiga, que ditava ordens.

Charming estava ajudando os feridos, Emma conversava com August e Graham, provavelmente decidindo por vigias para olhar o ogro preso ao chão. Era uma cena triste. Tantas pessoas com as cabeças abaixadas e desistentes.

Infelizmente, Ruby pensava, as coisas estavam melhores com a maldição. Era um pensamento vergonhoso, ela admitia, mas pelo menos durante todos aqueles anos, ela não machucara ninguém, não houveram guerras, ogros pertenciam a livros infantis e viver até o dia seguinte era garantido. Agora, era tudo tão confuso, tão cheio de dúvidas e tão cruel.

Seria bom se tudo simplesmente acabasse.

- Red. – disse Snow sorrindo. – Está tudo bem? Você me parece...

- Estou bem. – respondeu antes que Snow finalizasse. Ela estava péssima e não precisava de ninguém afirmando isso.

Snow não acreditou, mas preferiu não pressionar a amiga. Ela já podia imaginar o que estaria preocupando Ruby. Logo, seria noite de lua cheia.

- O que ficou decidido? – indagou Ruby indicando Emma que se dirigia em direção a Regina, que de braços cruzados provavelmente zombava de toda cidade.

Snow suspirou.

- Vamos seguir o capricho dela. – respondeu. – Há a casa do antigo prefeito, que nenhum de nós conseguimos lembrar.

- É uma mansão. – respondeu Ruby de imediato. Ela lembrava da casa, lembrava de já ter olhado para a mansão muitas vezes, mas quando tentava se lembrar do prefeito, tudo ficava em branco.

- Não tente lembrar. – disse Snow tocando no ombro da amiga. – É impossível. Só nos deixa com uma grande dor de cabeça quando tentamos.

- Mas, podemos confiar nela? – indagou e olhou para bruxa conversando com Emma.

- Provavelmente não, mas que escolha temos? – suspirou – Ela está determinada a ficar na cidade, então é melhor tê-la do nosso lado do que contra nós. Eu bem sei disso.

Red abriu um sorriso.

- Você realmente tem um grande coração.

Snow sorriu e a abraçou.

- Não se preocupe. Daremos um jeito quando a lua cheia chegar. – sussurrou e Ruby segurou as lágrimas.

- Estou com medo.

- Eu sei. Eu sei.


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Notas finais do capítulo

¹: Bayonetta's "Don't fuck with a witch" *-*



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