- Para começar. - Yon suspirou. - O chefe quer alterar todas as vozes de todos os Vocaloids.

- ...Por que?

- Ele quer vozes originais. O problema é o método que ele está utilizando para isso.

- E qual seria?

- Ele... - ela estremece ao falar - Ele sequestrou crianças... Vai roubar os dados de voz delas e implantá-los nos Vocaloids. Mas, como ele quer que as vozes sejam únicas, ele vai eliminá-las logo depois que isso acontecer.

Arregalo os olhos.

- Como sabe disso tudo?

- Conheci algumas pessoas de confiança do chefe. - ela sorri, travessa - Elas não são tão confiáveis assim, não é?

Não consigo segurar uma risada.

- É verdade. - digo.

- E é por isso que precisamos ir logo! - ela se apressa.

- Mas espere, Yon. - eu a paro - A voz dos Vocaloids série três eram derivados? De quem?

- Bem... Acho que sim. Acho que eram mixes das vozes dos primeiros Vocaloids.

- ...Espere. - coloco o punho na testa - Como assim os primeiros Vocaloids? Está falando de Leon e Lola?

- Lola não existe mais. Lembra?

- Eu sei! É por isso que estou perguntando! - mil coisas rondam pela minha cabeça - A voz de Lola foi implantada em Sweet Ann, certo?

- Sim.

- Mas Sweet Ann foi rejeitada e eliminada, certo?

- ...Sim.

- E, com isso, a voz de Lola também se foi, certo? - arregalo os olhos ao perguntar isso.

Yon fica tão assustada quanto eu e coloca as mãos sobre a boca.

- S.. Sim!

- Então... A voz de sua Vocaloid... Foi derivada de quem, Yon?

- Eu.. Eu não sei! Eu apenas disse que meu designe estava pronto e que poderiam me dar a voz, mas eles disseram que, por enquanto, não tinham vozes originais... Portanto, dentro de dois dias, eles me deram um remixe de alguma voz, mas não me disseram a que Vocaloid ela possuiu.

- ... Faz quanto tempo que sua Vocaloid foi feita?

- Acho que uns quatro dias, apenas.

- Quatro dias? - arregalo os olhos. - Ela recebeu aquela voz há quatro dias?

- S.. Sim.

- Yon. - me desespero e a seguro pelos ombros - Você sabe quem foi a primeira Vocaloid da segunda série?

- S... Sweet Ann.

- Sim, mas não estou falando dela. - fico desesperado. - Sabe quem foi a primeira a ser aprovada para a segunda série?

- .. Não... Acho que não.

- Foi a Miku. - respondo, suando frio. - Miku Hatsune.

- .... Você não é um novato. Sabe coisas demais. - ela franze a testa.

- Yon... - respiro fundo - Eu sou Len Kagamine. Sou um Vocaloid de série dois. E vim para esse lugar, apenas com o intuito de salvar essa minha amiga. - engulo em seco - Mas, agora que ela já foi embora daqui, eu tenho que salvar os outros Vocaloids.

- ......Você mentiu para mim? - seu olhar se transforma.

- YON. - grito, sem medo nenhum. Na verdade, já estava irritado com essa coisa de Yandere. - EU NÃO TENHO TEMPO PARA OS SEUS ATAQUES, OUVIU? PROVAVELMENTE, VOCÊ SERÁ PRESA QUANDO ISSO TUDO ACABAR, ENTÃO PARE DE FRESCURAS E ME LEVA LOGO ATÉ A MERDA DO LUGAR ONDE ELES ESTÃO!!

Ela se assusta, mas volta a ser a Yon de antes. Aparentemente, funcionou. Com isso, ela assente, inquieta, e me leva até um conjunto de portas de ferro, com aquela mesma coluna de antes.

- É cadastrada aqui? - pergunto.

- Não.

- E como vamos entrar? - arregalo os olhos.

- Não se preocupe, Len-kun. - ela sorri e tira algo do bolso do jaleco. - Eu já vim preparada.

Logo, vejo o que ela havia trazido no bolso. Gelo ao ver que era uma... Mão! Uma mão que sangrava.

- O... O que é isso.. Y... Yon?

- Hihihi. - ela sorri, enquanto se aproxima da coluna - Eu cortei a mão de um dos meus amigos. Aqueles que eram de confiança do chefe. Só que ele começou a gritar muito, então, tive que matá-lo.

Arregalo os olhos e fico parado como uma estátua. Quando eu gritei daquele jeito, eu havia corrido um risco de vida enorme. Olho para o machado, mas não vejo aspectos de sangue. Ela percebe que eu estava olhando para a arma e, como se lesse minha mente, explica:

- Ah, - ela sorri, levantando o machado - Eu limpei antes de vir. Não queria causar uma má impressão, não é? Len-kun.

Não respondo. Apenas observo, enquanto ela pressiona a mão sobre o painel, mas parece não obter resultados.

- U... Ué..? - ela continua pressionando a mão, frenéticamente, contra a coluna. - O QUE? NÃO PODE SER!

- Y... Yon.

- O QUE FOI? - ela para e olha para mim, com olhos arregalados e furiosos.

- Yon... Acho que o cadastro só é possível com o chefe e o gerente...

- NÃO. NÃO É POSSÍVEL! - ela joga a mão longe dali. - EU NÃO MATEI AQUELE CARA EM VÃO!! NÃO!

- Yon. - eu chego perto e a seguro pelos ombros, novamente - Certamente, não foi em vão. Agora, nós sabemos a verdade. Então, não foi em vão.

- ... Não foi.. - ela repete e sorri.

- Eu sei o que podemos fazer para entrar. - forço um sorriso. - Apenas, me dê o machado.

- ...Entendo... - ela assente e me entrega o machado.

Sentindo a arma pesada em minhas mãos, me viro para a porta. Levanto o machado até ele ficar posicionado atrás de minha cabeça e, com toda a força que consigo reunir, desço-o contra a porta de metal.

--------------------------------------------MIKU POV------------------------------------------

As portas tinham algo curioso e assustador. Um buraco no meio delas. Um buraco feito à força, por alguma coisa. Será que Len teria feito aquilo? Era o que eu pensava, mas não tive tempo para mais nada, pois todos começaram a entrar por esse buraco. Sendo assim, sigo-os.

Ao entrar, sinto meus olhos se encherem, mais uma vez. Estou uma verdadeira bebê chorona, hoje, hein? Mas eu tenho motivos, pois estava preso, na primeira jaula que vi. Um Len desacordado. Olhando mais de perto, poderia ver-se uma marca de queimadura, no pescoço. Coloco as mãos sobre a boca, enquanto me aproximo dele. Seguro as barras de ferro que nos separam e sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

- Len... - murmuro.

- VÊ? - Gumi grita para o policial, que continua assentindo.

- Vou pedir reforços. Vamos libertar esse pessoal e prender o responsável por isso.

- É bom, mesmo! - Gumi cruza os braços.

Olho ao redor. Essa sala era diferente das demais. Era mal iluminada por lâmpadas verdes. Muitas jaulas, afinal, todos os Vocaloids estavam ali. Dou uma última olhada para Len e me afasto. Dou uma volta pelo local, olhando tudo, enquanto o policial pedia reforços. Vou passando pelas jaulas, mas algo me intrigou. Todos estavam desacordados e com os pulsos sangrando. O único que eu não havi visto sangrar era Len. Vi Yukari. IA. SeeU. Yuuma. Piko. Miki. E vários outros que conheci, enquanto estive presa.

Acabo me distraindo e esbarrando em algo. Ao olhar, gelo. Era Lily.

- Ora, ora, ora.... - seu rosto se contorcia em uma expressão de puro ódio. - O que temos aqui, hein?

Ela agarra meu pulso, com força. Me desespero e tento correr, mas ela estende uma arma atordoadora.

- Olha aqui, sua vadiazinha. - ela aproxima a arma de mim. - Se não colaborar, eu juro que ligo essa arma na voltagem máxima, pra te ver morta, ouviu?

Assinto, desesperada. Ela abaixa a arma e me leva por um caminho de jaulas que parecia interminável. Acabamos chegando em uma porta acompanhada de uma coluna. Uma porta bem menor que aquela de antes. Lily se aproxima da coluna e pressiona a mão contra ela. Vejo uma luz acender naquele painel e sumir, de novo. Com isso, a porta se abre e ela me puxa para dentro.

Ao entrar, me desespero. O chefe estava sentado à uma cadeira, próxima à um bando de painéis e botões. Próximo, também, a uma maca, acompanhada com certos equipamentos. O chefe estava quase como eu o havia visto pela última vez. Sem camisa ou sapatos, mas de calça.

- Olá, Mii-chan. - ele cantarola.

Fico dura como uma estátua, mas Lily me força a andar até a maca. Me deito no lugar e percebo mais uma coisa assustadora. Atrás do chefe, haviam alguns tipos de... Capsulas? Gigantes e transparentes, que carregavam várias garotas e alguns garotos. Mas, uma me chama a atenção. Uma garota de cabelos castanhos, óculos e... Jaleco branco?

- Por que estes Vocaloids estão aqui? - pergunto, firmemente. - Aliás, por que aquela funcionária está aqui?

- Opa, opa. - ela alerta - Muitas perguntas, hein? - o chefe ri.

- Não vai me responder? Não irei colaborar.

Lily estende a arma e a liga.

- Espere, Lily. - ele a faz parar - Ela é uma Vocaloid. Acho que tem o direito de saber.

- O que? Ela está prestes a morrer! De que adianta con..

- Lily. - ele a interrompe - Estou pensando sériamente em lhe misturar com os outros.

- .... Desculpe, senhor.

- Agora, Mii-chan. Essas pessoas - aponta para as cápsulas - Não são Vocaloids.

- Como assim...? - arregalo os olhos.

- São crianças normais. Vou pegar as vozes delas. Implantá-las nas minhas queridas criações.

- ... Cruel. - ouço-o gargalhar.

- Não, que nada! Ou, pelo menos com essa aqui.... - o homem aponta para a garota de óculos. - Com essa daqui, não será.

- ...Por que diz isso?

- Ela me desobedeceu. - ele dá de ombros. - Era uma funcionária que ajudou um Vocaloid. Ela traiu a empresa.

Fico gélida enquanto o homem continua gargalhando atrás de mim.

- Você é louco...

- Talvez um pouquinho. Huhu.. - e essa risadinha se transforma em uma gargalhada, novamente.

Me assusto, mas ele chega perto de mim, com um bisturi em mãos.

- Sabia que vocês, Vocaloids, têm chips? - ele ri - Pois é... É aqui que os dados das vozes de vocês, estão.

- A minha... Voz?

- Ah, sim... Sua voz, queridinha.

Ele encosta o bisturi em meu pulso e é aí que eu entro em desespero.

- NÃO! NÃO! SOCORRO! LUKA! KAITO! LEN!! LEEEEEEN!!!

Tento sair da maca e correr, mas quando chego perto da porta, Lily me segura.

- LEN! LEN!! LEEEN!! - grito, enquanto sou deitada à força na maca, novamente. Continuo gritando, enquanto sinto o bisturi afundar em meu pulso. Gritos desesperados, corrompidos pela dor que eu sentia. - LEEEEEEEEEEN! LEN! Len... Len..

Vou começando a parar, enquanto vejo tudo se tornar negro.

-----------------------------------------LEN POV-------------------------------------------

Assim que abri aquela cratera na porta, entrei desesperado, sendo seguido por Yon. Algo estava errado. Ao chegar no ambiente, alguns homens chegaram e, rapidamente, me seguraram. Outros seguraram Yon, que gritava meu nome. Olho na direção de onde eles haviam vindo e gelo ao ver Lily.

- Olá, Kane-san. - ela sorri, tão doentia quanto Yon.

- Lily! - grito. - Não vou deixar essa passar tão rápido, ouviu??!!!

- Ah é? - ela ri - E o que vai fazer, Shota-kun?

- Os outros. - sorrio - eles já devem ter chamado as viaturas. - vejo o sorriso dela sumir - Logo, logo, todos vocês serão presos!!

- ... Tem certeza que acreditarão em vocês? - ela cruza os braços, olhando para o machado, ainda na minha mão. - Uma empresa que atua sem a permissão do governo... Jura que iriam acreditar? Que iriam acreditar em crianças? - ela ri. - Poupe-me, Kane-san.

- Poderia se surpreender. - minto, afinal, não sei se realmente acreditaram em Gumi ou em Luka.

- Veremos.. - ela estala os dedos. - Rapazes. Levem o Shota-kun para alguma jaula. E vocês - ela aponta para os que seguravam Yon. - Levem-na para o chefe. Digam a traição dela.

- Não! - Yon gritou - Len-kun! Len-kun!

- Yon! - gritei enquanto era levado para uma jaula. - Não se preocupe, eu vou ficar bem!

- Não! Cuidado, Len-kun! - dito isso, senti a carga elétrica queimar meu corpo.

-----------------------------------------------------AINDA POV LEN----------------------------------------

Acordo ouvindo gritos. Gritos de uma voz familiar. Miku? Sim... Essa voz é dela. E ela estava gritando meu nome. Me desespero e levanto, mas percebo que estou preso em uma jaula. À minha frente, estavam Luka, Gumi, Kaito, Yuki e Teto, além de um policial que falava ao telefone.

- MIKU! - grito. - VOCÊS NÃO ESTÃO OUVINDO? É A MIKU!

- Len. - Gumi chega perto de mim. - Acalme-se, tá legal? O policial já está aqui e está pedindo reforços.

- NÃO! ME TIRE LOGO DAQUI! - berro, desesperado e balançando as barras de ferro. - ME TIRE DAQUI!! MIKU DEVE ESTAR EM APUROS! ELA ESTÁ GRITANDO! ONDE ESTÃO COM A CABEÇA? VÃO LOGO SALVÁ-LA!

- LEN, ACALME-SE! - ela grita ainda mais alto. - Olha, agente já viu de onde vêm os gritos. Há uma porta que leva para algum lugar que não sabemos. É de lá que estão vindo os gritos. Nós tentamos entrar, mas a porta só abre à base de leitores de digitais. É por isso que estamos esperando os reforços.

- .... Esperem... Não podem desistir tão facilmente. - ouço os gritos cessarem e me desespero. - Na frente da minha jaula, deve ter um machado. Usem-no para quebrar a porta.

- Como arranjo...

- NÃO HÁ TEMPO PARA EXPLICAÇÕES! - grito, interrompendo-a.

- .... Tudo... Tudo bem.

Ela apalpa a frente de minha jaula e acha a arma. Engole em seco, enquanto chama os outros para lhe acompanhar. Todos ficam desconfiados, mas ela repete o que disse antes. Ouço eles se afastarem e sinto lágrimas roçarem minhas bochechas. Me sinto um lixo. Impotente, por não poder ir lá, salvá-la mais uma vez. Sabendo que, a primeira pessoa que ela chamaria de "herói" hoje, seria o Kaito. E não eu.

Me curvo até deitar no chão metálico, novamente. Sentindo os olhos arderem, não impeço meus olhos de lagrimarem. O que estariam fazendo com Miku? O que estaria acontecendo? Penso comigo mesmo, enquanto ouço o barulho do machado contra o metal.

- Miku... - murmuro para mim mesmo.

-------------------------------------------------AINDA LEN POV-----------------------------------------

Abro os olhos e vejo Luka, Rin, Gumi, Yuki, Teto e... Kaito... Com uma Miku desacordada, no colo. Seu pulso sangrava e um pedaço de sua pele pendia do corte. Coloco as mãos sobre a boca. O QUE HAVIAM FEITO COM A MIKU? Grito em meus pensamentos. Levanto e seguro as barras de ferro. Eles correram para fora da gigantesca sala. Só Gumi voltou. Chegou perto de mim e tentou me tranquilizar.

- O que fizeram com ela? - pergunto, cortando-a.

- Len...

- O QUE FIZERAM COM ELA? - grito.

- .... O chefe tentou retirar o chip dela.

- Chip?

- Sim. Também, não entendi, mas iremos perguntar para ela, assim que acordar.

- O que aconteceu com o cretino?

- Nocauteei ele, com a costa do machado. - ela sorri, travessamente.

- Bem esperado de você... - rio.

- Os reforços já estão adentrando na empresa. Logo, logo, estarão aqui e libertarão todos.

- ... E vocês?

- Vamos te esperar, fora daqui.

- ... Promete?

- Sim. Prometo. - ela sorri e estende o mindinho.

Enlaçamos nossos dedos mindinhos e os sacudimos um pouco. Agradeço e a vejo partir. Depois de meia hora, vejo o enxame de policiais adentrar na gigantesca sala. Eles vão primeiro até a sala que Gumi, com certeza, havia citado para eles. Depois, vejo o chefe sendo arrastado para fora dali, algemado. Seguido por Lily, também algemada e algumas crianças, mas estas estavam livres. Exceto por uma. Uma de cabelos castanhos, olhos da mesma cor, óculos e algemas, além do jaleco. Yon!

- Yon! - grito, quando ela passa à minha frente.

Ela se vira para mim e sorri. E vejo lágrimas escorrerem de seus olhos. Ela desenha algo com os lábios, que me certifico de ler. "Obrigada". Sorrio e sinto que ainda estou chorando.

Um tempo depois, os policiais libertam os prisioneiros. Eu fui um dos primeiros. Ao me libertarem, corro para procurar Neru. Sem muitos esforços, eu a encontro. Ela tinha acabado de sair de sua jaula. O pulso sangrava e mostrava um corte fundo no lugar. Fico desesperado e corro para abraçá-la.

- Neru. - envolvo-a em meus braços. - Me desculpe.

Porém, não ouço resposta. Afasto-me para olhá-la e vejo que ela meche a boca desesperadamente, mas nenhum som saía de sua garganta. Logo, lágrimas brotam de seus olhos e ela me abraça, novamente. Fico em estado de choque. Para onde foi a voz dela? E por que ela estaria com os pulsos cortados similarmente aos de Miku?

Essas eram perguntas que ainda me atormentariam por um tempo.