Capítulo 4 - Greve de Fome

Pulei em minha cama, caindo deitada de bruços.

– O que? – Franzi a testa com meu iPhone no ouvido.

– Isso mesmo, Bryan está ficando com Stella.

Coloquei o celular na outra orelha, quase o deixando cair, quando ouvi o que Annie disse.

– Como assim? – Sentei na cama apressada. - Ele era o meu namorado! Meu. Como ele teve a coragem de ficar com outra?

Annie suspirou do outro lado da linha.

– Vocês não eram bem namorados...

– Ele não podia estar ficando com ela! Logo com ela. - Aquela vaca que sempre rouba os caras que eu gosto, sendo ou não meus namorados. Ótimo! Até Bryan a maldita Stella tinha roubado de mim.

– Eu sei Sophie, em certa parte você está certa, só que vocês não tinham nada sério. Você ainda me disse que gostou daquele francês... Como era mesmo o nome dele?

– Jean.

– Sim, sim. Isso mesmo. – Annie continuou tentando me convencer de que Bryan não era totalmente culpado.

Certo, ela tinha razão. Sempre tinha. Eu que não queria que ele ficasse com outras garotas, mas não podia fazer nada, nem namorávamos. Acho que no fundo eu não queria que nada da minha antiga vida mudasse. Claro que isso era impossível, ainda mais para o cabeça dura do meu pai.

Enrolei uma mecha do meu cabelo envolta do dedo.

– Mudando de assunto, como estão às coisas por ai? – Annie já sabia a resposta daquela pergunta, tudo se encontrava péssimo!

– Uma droga! Tenho que aturar essa tal se Ashley e meu pai á defendendo, e ainda tem o filho drogado dela. Ninguém merece. Quero voltar para casa. – Choraminguei para Annie.

– Ela tem um filho? – Se estivesse no mesmo cômodo que Annie, a veria erguer as sobrancelhas, com interesse – Quantos anos? É bonito?

– Não sei a idade dele, deve ser quase a mesma que a nossa. E ele não é bonito, é chato, metido e arrogante. – Bufei lembrando que mal nos conhecíamos e mesmo assim ele era insuportavelmente irritante.

– Isso não impede que ele seja bonito. – Ela disse com um ar divertido.

– Tanto faz. – Resmunguei. – Quero falar de Bryan e não do idiota do Blake.

– Blake? Que nome másculo. – Deu uma risadinha e eu revirei os olhos. – Quando eu for na sua casa quero conhecer esse garoto.

– Nãaao. – Alonguei o não para Annie entender que isso estava completamente fora de questão. – Não vou deixar vocês terem nada, não vamos discutir sobre isso. Não faz nem três dias que estou aqui e ele é um...

– Espere Sophie, deixe Bryan e Blake para lá. Sei que está tentando deixar seus problemas, mas você é minha melhor amiga e quero saber como está aí. De verdade.

Inclinei um pouco para baixo, vendo se tinha alguém escutando nossa conversa através da porta.

– Eu quero fazer alguma que deixe meu pai com pena e queira me levar de volta para aí. Adoro Londres, mas morar é outra coisa, ainda mais nessa casa.

– Alguma coisa? Hm... – Annie parou de falar como se estivesse pensando. – Já sei! Faça greve de algo, como ficar sem tomar banho até ele decidir te trazer para cá.

– Greve de banho? – Perguntei rindo. – Eca Annie!

– Não estou falando exatamente de greve de banho. – Ela também deu uma risadinha. – O que eu que-

Ouvi a voz da empregada batendo na porta do quarto, me chamando para o jantar. Do jeito que as coisas não estavam muito boas, meu pai iria me dar bronca por eu não ter ido jantar.

– Vou ter que desligar. Depois eu te ligo.

– Ok, ei, quando você voltar Dallas disse para mim que precisa te dizer uma coisa.

Quando eu iria perguntar o que, a empregada bateu novamente na porta, dizendo que David não tolerava atrasos.

Coloquei meu celular na mesinha de canto e fui para a sala de jantar.

Já disse o quanto aquela casa era grande? Se não, ela era enorme e eu sempre me confundia um pouco nos corredores. A vaca da minha madrasta era muito rica dos milhares de golpes que ela tinha dado em homens indefesos como o meu pai, a mansão era só mais uma prova disso.

Sentei em uma cadeira e comecei a comer sem muito ânimo.

David e Ashley conversavam e comiam animadamente, sem sequer notaram minha presença ali. Blake também estava jantando, do lado oposto ao meu, encontrava-se calado igual a mim.

Eu pensava na minha conversa com Annie. Bryan e Stella estavam ficando e ele ainda disse que gostava de mim, babaca. E ainda tinha a ideia tosca que ela tinha me dado: greve de banho.

Olhei para meu prato. Annie tinha falado para eu fazer greve de alguma coisa, qualquer coisa.

Franzi o cenho, com uma ideia em minha mente.

Isso! Uma greve de fome. Como não tinha pensado nisso antes? Empurrei meu prato para longe fazendo mais barulho do que eu esperava, pelo menos consegui chamar a atenção das pessoas na mesa.

– Não vai comer querida? – Ashley sorriu para mim.

– Não. E não vou comer até voltar para casa. – Cruzei os braços.

David colocou os talheres na mesa e me encarou, quase hesitei e desisti dessa ideia. Por mais que fazer uma greve de fome pudesse ser infantil, eu poderia ter uma chance, mínima, mas teria de voltar para minha casa.

– Você já está em casa.

Arregalei os olhos. Em casa? Chegava a ser até engraçado.

– Não estou!

– Sophie, você não vai teimar comigo, sou seu pai! – Sua voz calma me irritava.

– Belo pai hem. – Ri forçado.

– Amor, pare de ser tão rígido com a Sophie, ela ainda está se acostumando com sua nova casa. – Ashley segurou sua mão e eu fiz uma careta.

Levantei da mesa e comecei a caminhar de volta para o meu quarto.

– Não adianta tentar me fazer comer. Eu não vou colocar um grão de comida na boca até voltar para Doncaster.

Subi as escadas pisando forte determinada a não ouvir as coisas que meu pai ainda falava, entrei no meu quarto e bati a porta. Podem me chamar de mimada, e eu sei que minha atitude era infantil, mas eu estava desesperada por qualquer coisa que me fizesse voltar para casa.

Depois de um tempo ouvi batidas na porta, já não era sem tempo! Fiquei meia hora fazendo absolutamente nada, só trancada no meu quarto.

Aposto que quando eu abrir a porta vou dar de cara com meu pai falando para arrumar as malas, finalmente percebeu a burrada que fez ao se casar com a vaca e se desculpado pelos transtornos que me causou.

Só que quando abri a porta não encontrei meu pai, mas sim meu querido irmão drogado segurando um prato de comida, com uma cara mal humorada.

– Seu pai mandou te trazer comida.

– Eu já falei que não vou comer, pode levar de volta!

– Eu estou fazendo o favor de vir aqui e trazer essa porcaria, então come logo. – disse entrando no meu quarto. – Você precisa comer pra viver, sabe, se não você morre. Entende isso?

Porque esse idiota sempre tem mania de falar comigo como se eu fosse uma retardada?

–Eu já disse que não vou comer! Agora faz o favor de dar meia volta e levar essa bandeja junto.

Nesse momento Félix, que até então estava em sua caminha almofadada, aproximou-se de Blake e começou a enrolar-se em suas pernas.

Gato traíra, eu dei tudo a ele, as melhores rações, as melhores roupas e ele retribui se aliando com o inimigo.

– Está vendo? Até seu gato gosta de mim - disse se abaixando e acariciando a cabeça de Félix.

Bufei, cruzei os braços e comecei a bater meus pés no chão demonstrando minha irritação e impaciência.

– Bem já que você não vai comer mesmo eu vou indo - Começou a sair do quarto - É até melhor, você está precisando emagrecer.

ESPERA AÍ.

Ele falou que eu preciso emagrecer? Ele me chamou de gorda? Foi isso mesmo?

Ele.Não.Me.Chamou.De.Gorda. Apertei os olhos em um claro sinal de raiva.

– Ei, Blake.

No exato momento em que se virou a bandeja de comida que segurava virou toda para seu lado, ele ficou todo cheio de molho vermelho que com certeza iria deixar uma bela mancha em sua camisa azul marinho.

Segurei o riso vendo a cara dele.

– Você ficou louca?! – Esbravejou.

– Ah, me desculpe, mas não é minha culpa se você é tão incompetente que não consegue segurar uma bandeja sem se sujar, e boa sorte com isso – Apontei para sua camisa branca - Se bem que essa camisa ridícula deveria ir direto para o lixo.

– Ridícula? Você por acaso já ouviu AC/DC, garota? Qual é o seu problema?

Sorri para ele e dei um tchauzinho com a mão, deixando claro que eu não me importava do que era sua camisa.

– Boa noite maninho. – Fechei a porta em sua cara.