Capítulo 3 - Garota do Interior

O meu primeiro dia na casa da vaca foi péssimo.

Não que os outros fossem ser melhores, claro.

A única coisa que eu fiz ao entrar no meu quarto foi dar uma rápida espiada no banheiro, depois disso desabei na cama dura demais pra ser a minha cama.

No outro dia acordei ainda com o vestido todo amassado e as janelas estavam abertas, me fazendo quase literalmente, morrer de frio. O mais estranho é que eu não lembrava delas estarem abertas.

Um nome passou pela minha cabeça e saiu tão rapidamente quanto veio.

Tarde demais.

Não, não e não!

Lembrei-me de tudo que tinha acontecido ontem. Principalmente da parte em que fiz papel de idiota na frente do filho de Ashley. Não sabia o que tinha acontecido comigo, simplesmente fiquei travada, acho que era a surpresa de saber que o filho dela não era uma criança.

Não tinha culpa se Ashley o descrevia como “meu bebê”, “uma gracinha” e outras coisas assim. Reparei que minha mala estava ao lado da porta e a puxei para perto da cama, olhando as poucas roupas lá dentro. Poucas porque eu não sabia que assim que chegasse de viagem iria para outra casa, deixando um monte de coisas minhas em minha verdadeira casa.

Fui para o banheiro que tinha no quarto, levei shampoo, sabonete e minha escova de dentes deixando tudo em cima da pia.

Entrei no Box ainda de roupa, abrindo uma das torneiras para ver qual era de água quente e a de água fria.

Um jato de água me atingiu bem na cabeça e eu gritei dando um pulinho de susto.

Girei a torneira, tentando fechá-la, mas tudo que aconteceu foi mais outro jato contínuo de água, dessa vez quente, me atingir nas costas.

Que raio de chuveiro é esse?

Girei mais uma vez as duas torneiras ao mesmo tempo. Começou a sair mais água do que antes. Suspirei frustrada e um pouco desesperada.

Não acredito que isso está acontecendo comigo. Logo comigo! E ainda por cima no segundo dia nessa droga de casa.

Desesperada, saí correndo pelo corredor tentando achar qualquer pessoa que pudesse me ajudar. Estava completamente ensopada, pingando da cabeça aos pés e molhando todo o piso.

Preparando-me pra descer as escadas correndo trombei em alguém e fui para trás, com a mão na testa.

– Licença! - Disse apressada desviando da pessoa.

- Ou, ou, onde você pensa que vai?

Segurou meus ombros e me virou, fazendo-me encarar seus olhos azuis.

Blake levantou as sobrancelhas avaliando meu estado com um ar divertido.

– Não te interessa.

Ergui o queixo, dessa vez dizendo pra mim mesma que não iria agir feito retardada perto dele, mesmo estando encharcada e molhando as botas que Blake usava.

– Certeza? Porque parece que você precisa de ajuda em alguma coisa.

– Eu não preciso de ajuda, e mesmo se precisasse ela não viria de você. - disse empinando o nariz.

Ele sorriu torto para mim, me desafiando.

- Eu não preciso de ajuda! – Praticamente gritei.

– O que? – Abriu mais o sorriso. – Eu não falei nada.

Não falou, mas e esse sorrisinho irritante? Argh!

Eu realmente não estou nos meus melhores dias, também quem acordaria vomitando arco-íris pela casa logo depois de voltar de viagem e descobrir que seu pai tá casado com uma vaca psicopata, além de ser quase afogada por um chuveiro com vida própria. Mas eu não estava com cabeça para discutir então só dei as costas, disposta a vencer a batalha com o maldito chuveiro, nem que tivesse de arrumá-lo sozinho.

Caminhei de volta para o meu quarto evitando ao máximo olhar para trás, onde Blake provavelmente continuava parado.

Minha tentativa de arrumar a porcaria do chuveiro obviamente não funcionou. Quando pisei lá dentro, vi o chão alagado e quase escorreguei.

Qual é o problema com esses banheiros de Londres? Ou melhor, qual é o problema com dos banheiros da casa dessa vaca? Porque é bem provável que ela tenha feito uma macumba só pra o banheiro ficar todo molhado, eu cair e quebrar o pescoço.

– Definitivamente você precisa de ajuda. - Uma voz do além me fez dar um pulo, me virei e vi Blake com um sorriso convencido estampado no rosto.

– Eu já estou conseguindo se você quer saber.

Ele arqueou as sobrancelhas.

– Além de orgulhosa, não assume que está errada. Vamos me deixe ver isso. – Ele me disse me afastando das torneirinhas e entrando no box, ficando praticamente colado em mim.

Seu ombro bateu no meu – propositalmente – e eu torci para que ele levasse um belo escorregão. Infelizmente isso não aconteceu.

– Então vai lá senhor sabe tudo. A culpa não é minha se essa casa tem vida própria.

Ele começou a balançar a cabeça rindo baixinho e resmungando algo como "garota do interior". E quem ele pensa que é para falar alguma coisa de mim? Parece um drogado.

– Vamos lá bebê, – Blake virou-se para mim com uma voz infantil. - você tem que girar essa pra direita e essa pra esquerda. – Falou lentamente como se eu fosse uma criancinha e eu realmente me sentia assim. Como isso pode ser tão simples? Minha boca estava aberta em um perfeito o com a surpresa e indignação de ele ter conseguido uma coisa que eu não consigo?!

– Eu sei que sou lindo, não precisa me olhar com essa cara.

Ao contrário de mim penas alguns pingos tinham molhado sua camisa e cabelo.

Bufei e apontei a porta indicando a saída, ele pareceu entender e se encaminhou até ela, não sem antes virar para trás e me lançar um olhar provocativo.

Soltei um suspiro e saí de dentro do box, indo procurar uma roupa na minha mala.

Olhei para trás, checando se a porta do quarto encontrava-se fechada e passei meu vestido sob a cabeça.

– Se precisar de ajuda... – A porta abriu de supetão. – Wow, wow.

Blake tinha uma expressão de surpresa no rosto, que logo passou para uma careta pervertida.

Soltei um grito e peguei o vestido jogado na cama, tentando me cobrir. O que não deu muito certo.

– Qual o seu problema? Não sabe bater na porta? Sai daqui! – Tentei empurrá-lo para sair do meu quarto, mas ele apenas me olhou com a mesma cara de safado.

– É melhor trancar a porta, se eu ver uma cena como essa de novo não respondo pelos meus atos, maninha. – Blake disse já fora do quarto.

Peguei meu vestido e coloquei no rosto. Mesmo sabendo que agora não tinha ninguém no quarto além de mim, não pude evitar ficar com vergonha.

Legal, agora além de um pai ingrato, uma (argh!) madrasta interesseira, eu tenho um irmão tarado.