Capítulo 5 - Fui Descoberta!

Um dia.

Foi exatamente o tempo que eu consegui ficar sem comer, realmente sem comer nada. Não tinha estoque de comida escondido em meu quarto nem nada do tipo, e a única coisa que eu poderia ter comido agora estava na camisa do Blake.

Depois de um dia, eu evitei ao máximo sair do meu quarto, eu vegetava como uma gorda ociosa sem nada para fazer, apenas fofocava com Annie por horas e pesquisava implicações legais por esganar a madrasta e o irmão drogado. Quando ouvia meu pai e a vaca da Ashley irem para seu quarto e a luz do corredor ser apagada, eu saia do meu quarto.

Para que? Eu tinha adotado um método para continuar com minha greve de fome, e não morrer com o estômago vazio, então saía do meu quarto de madrugada para assaltar a geladeira.

Além do que, se quisesse continuar com o meu plano de fuga em mente, não poderia realizá-lo sem energias.

Hoje era o quinto dia que eu fazia isso com total sucesso, não tinha sido pega até agora, e esperava que não me pegassem fuçando na geladeira de madrugada tão cedo, caso contrário iria ouvir mais broncas do meu pai. As que ele estava me dando nesses dias da minha “greve” eram insuportáveis, David sempre falava do quanto eu era mimada e Ashley me defendia (Puro fingimento) e insistia para que eu comesse alguma coisa.

Abri a porta do meu quarto tendo o cuidado de não fazer barulho. Certifiquei, olhando para os lados do corredor, de que não tinha ninguém e saí na ponta dos pés.

Depois de uma semana na casa da Ashley, eu sabia andar pela casa sem me perder. Ok, ainda me perdia um pouco, mas em comparação aos primeiros dias tinha melhorado muito. Por isso, consegui chegar até a cozinha sem problemas.

Também, depois de quatro dias fazendo isso, era de se esperar que eu não tivesse dificuldades. Na primeira madrugada, eu fiz mais barulho do que um elefante e entrei na lavanderia pensando que era a cozinha, nos outros dias fui pegando prática.

Olhei para a geladeira e para a porta da dispensa. Hm, o que eu comeria hoje?

Abri a geladeira pegando presunto, queijo, alface, tomate e uma caixa de suco de uva. Coloquei tudo em cima da bancada, e virei para a dispensa, indo pegar o pão.

Sabe, é até melhor eu assaltar a geladeira do que comer nas refeições normais, eu posso comer o que quiser, o quanto quiser, e ninguém vai se importar.

Na dispensa, além do pão peguei um saco de doritos. Geralmente não como tanto assim, mas me deem um desconto, agora eu só tinha uma refeição durante o dia todo.

Preparei meu sanduíche e comei a comê-lo tranquilamente.

A casa da Ashley era tão iluminada que poderia ficar ali um tempão, nem mesmo uma medrosa como eu tinha medo de ficar ali, confesso que quando fui vir para cá de madrugada pela primeira vez fiquei com medo de morrer por causa de um fantasma. Idiota, eu sei.

Fantasmas! Como se eles fossem existir.

Ouvi um barulho e quase caí da cadeira da bancada com o susto.

Ai meu pai! Eu vou morrer.

Estiquei o pescoço tentando ver alguma coisa pelo portal que dava para a sala.

Outro barulho. Parecia vir da escada.

Num ato impulsivo de coragem – e idiotice – dei um pulo e fui andando lentamente até a sala, ainda comendo o sanduíche.

Olhei para os lados e não vi nada. Andei para o meio da sala. Quem sabe vinha do escritório do meu pai, ele poderia estar trabalhando lá até agora.

Senti alguma coisa fria em meu pescoço. Engasguei com o sanduíche e comecei e tossir igual uma louca, mesmo assim tentei gritar, e quando o fiz, a coisa fria agarrou-se em minha boca. Percebi que era uma mão.

Comecei a me debater, obviamente era um ladrão. Tentei morder aquela mão, sem muito sucesso. Argh.

Se eu fosse morrer, queria que meu pai soubesse que eu o amo, mesmo com toda sua hipocrisia, queria processar Ashley por seus crimes e finalmente fazer justiça em nome de todos seus falecidos maridos, queria mandar Blake ir pro inferno e queria dizer para Annie e Dallas que os amo.

– Dá pra você ficar quieta? – Sussurrou a voz do ladrão no meu ouvido.

O que? Espera.

Sua mão soltou-se da minha boca e eu me virei para o dono daquela mão.

– Blake! – disse entre dentes. – O que você está fazendo aqui?

– Eu que deveria perguntar. E, espera, isso na sua mão é um sanduíche?

Arregalei os olhos e coloquei o sanduíche atrás do meu corpo, como se fosse adiantar alguma coisa.

– Não me diga que você tem enganado seu pai o tempo todo com essa conversa de greve de fome? – Arqueou as sobrancelhas, quase rindo. – Muito bonito dona Sophie.

Ah, não. Eu não iria dar satisfações para Blake. Esse imbecil me faz morrer de susto e eu quase tenho um infarto e ainda fica com esse meio sorriso idiota.

– Isso não te interessa!

Quando Blake iria falar alguma coisa, reparei melhor em suas roupas. Calça jeans preta perigosamente baixa, camisa cinza e uma jaqueta de couro preta.

Ergui a mão indicando para ele ficar calado. Não dei tempo para ele discutir comigo.

– Que roupa é essa? Você vai sair pra onde?

– Isso não te interessa! – Foi a vez de Blake dizer a mesma coisa que eu.

– Ah, interessa sim. – Tentei dar um meio sorriso sarcástico igual o seu. O que provavelmente não deu muito certo. – Você está segurando a chave do Porsche do meu pai.

Ele olhou pra mão em que segurava a chave do carro e revirou os olhos.

– Vou te dar a sugestão de me levar junto. – disse eu com uma expressão convencida no rosto.

– Sugestão rejeitada. – disse rabugento, virando-se para ir para onde quer que fosse.

– Espera Blake!

– Não Sophie! Mas que coisa, eu não vou te levar. – disse sobre o ombro, sem nem sequer se virar para falar comigo.

Ah, isso não vai ficar assim.

– Não? – Sorri. – PAI! PAA-

Em questão de segundos, Blake estava de frente para mim tampando minha boca com minha mão. Ele inclinou o dorso para seu rosto ficar na altura do meu, não tinha culpa se ele era alto demais.

– Eu te levo. – sussurrou com raiva a todo instante olhando para a escada. – Mas com duas condições: Primeiro você vai ficar caladinha, não vai falar uma letra, e segunda, você vai trocar essa roupa.

Só então eu percebi o que eu usava. Um baby doll curto e folgado com estampa de corações. Minha cara mesmo.

Fiquei com o rosto completamente vermelho e me afastei de Blake, sem coragem pra dizer alguma coisa, o que foi uma escolha inteligente, porque eu provavelmente gaguejaria ou diria algo idiota.

– Coloca qualquer coisa que você quiser, menos vestido ou saia. E você tem cinco minutos para se trocar. – Olhou em um relógio de pulso imaginário. – Não tenho todo o tempo do mundo.

– Porque não posso usar saia nem vestido?

– Sophie, pare de ser chata e perguntar tudo que eu te falo, só vai logo, tá legal? – Blake disse impaciente. – Se quiser usar vestido ou saia, use. Só estou tentando ser uma pessoa legal e te dando uma dica.

Bem, eu não falei mais, só saí correndo escada acima tentando não fazer nenhum barulho. E talvez eu seguisse o conselho de Blake e não usasse saia nem vestido, quem sabe pra onde iríamos.