Capítulo 25 - Popularidade

Tampei meus ouvidos com as mãos por uns quatro segundos. Tempo suficiente para o grupinho de garotas saltitantes e felizes, que não paravam de falar no assunto que mais vinha me atormentando nos últimos dias, saírem de perto da mesa onde eu lanchava junto com Milla, Violette e Melody.

Parecia que todos os adolescentes dessa escola tinham tirado a semana para falar sobre somente uma coisa: A festa de Blake. Sério, eu não aguentava mais escutar a palavra halloween ou fantasia. Em pensar que - como elas haviam dito - Blake fosse mesmo popular.

– Vocês vão com que fantasia para a festa? - perguntou Violette.

– Não comprei ainda. - disse Melody.

Milla somente balançou a cabeça indicando que também ainda não tinha comprado sua fantasia, sua boca estava cheia do lanche que havia trago de casa. Garota esperta. O lanche dessa porcaria era péssimo. Eu comia pudim dentro de um potinho minúsculo. Era isso ou aquela coisa verde suspeita ao lado dos potes de pudim.

– Poderíamos ir na Oxford Street, é nas lojas de lá que eu sempre compro minhas roupas. - sugeriu Violette.

– Isso! Lá tem a Primark, as roupas lá são baratas e boas.

Até elas só sabiam falar disso. Passaram a semana inteira me atormentando sobre os preparativos.

Violette e Milla tinham ido uma vez lá em casa para fazermos nosso trabalho de química - a única aula que nós três tínhamos juntas - enquanto Annie e Dallas estavam lá. Minha amiga ficou com ciúmes, mas depois que conheceu melhor Violette. As duas realmente combinavam.

Nem em casa eu tinha paz, uma vez que Ashley falava a todo instante dos preparativos e quando não era a sua voz pertubando meus ouvidos, era a campainha tocando a todo instante, anunciando a chegada de mais algum objeto para a decoração.

Eu não conseguia mais me concentrar nos meus estudos, uma vez que eu sentava na minha cadeira pronta para fazer minhas tarefas, a barulheira no andar de baixo tirava toda a minha atenção. Se minhas notas baixassem, a culpa seria da Ashley.

E claro, parecia que a população feminina dessa escola decidiu perder a vergonha na cara e passou a dar em cima do Blake como cadelas no cio e ele não parecia nem um pouco incomodado. Ruby só faltava esfaquear cada garota que se esfregava em Blake.

– Você também vai, Sophie?

– O quê? - Roupas baratas e pessoas espremendo uma a outra? - Não, obrigada. Eu não vou na festa.

– Por quê? É tipo, no lugar onde você mora - Melody riu como se achasse aquilo um absurdo.

– Não estou a fim de sentir o cheiro de maconha impregnado em cada um dos adolescentes que vão.

– Eu não vou fumar maconha. - disse Melody indignada.

Violette revirou os olhos e voltou a falar sobre pegar um metrô até Oxford Street. Concentrei-me em comer o meu pudim.

Alguém passou a mão pelos meus cabelos me fazendo repousar a colher dentro do pote quase vazio e olhar na direção da pessoa que havia feito isso.

– E aí, Sophie - disse Nate se sentando ao meu lado.

– Nate, o que faz aqui?

– Nossa, estou vendo o quanto sou querido pela minha amiga. - falou colocando a mão no peito como se estivesse realmente ofendido.

– Você entendeu o que eu disse.

– Jason não para de falar da festa e como vai ser legal ver todas as meninas gostosas. - Respondeu rolando os olhos.

Olhei para a mesa de Blake e avistei Jason falando algo animadamente enquanto os outros o fuzilavam com os olhos.

– Entendi.

Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça e voltou sua atenção para as garotas.

– Oi meninas.

– Oi Nate - Disseram Melody e Violette enquanto Milla continuou o encarando fixamente.

Melody percebendo a falta de reposta da amiga deu-lhe uma cotovelada a fazendo corar e murmurar um "Oi", porém a mesma continuou o encarando descaradamente.

Nate apenas acenou com a cabeca soltando uma risadinha pelo nariz.

– Nate, você sabe qual fantasia Blake vai usar? - Perguntou Violette "discretamente".

– Acho que deveria perguntar para Sophie. - disse me lançando um olhar significativo.

– Por quê diabos eu saberia que roupa Blake vai usar?

– Talvez porque vocês vivem na mesma casa?

– Por favor, eu tenho mais o que fazer do que stalkear o Blake - Ok, isso não era verdade, mas as pessoas sentadas na mesa não precisavam saber disso.

Nate me olhou como se quisesse dizer "Vou fingir que eu acredito". Fala sério, até o Nate ja percebeu que eu gosto daquele idiota?

– Ok, se você não stalkeia o Blake mesmo morando na mesma casa que ele, me sinto na obrigação de te contar que a Lindsay foi na sua casa esses dias pra saber com que fantasia ele iria. - Nate sorriu com o canto da boca. - Mas nós sabemos que ela não foi pra isso.

– Quem é Lindsay? - Franzi a testa.

Todo mundo na mesa riu.

Não vi graça. Não mesmo.

Voltei minha atenção rapidamente para o lanche, minhas bochechas queimando de vergonha por ter sido pega na brincadeira de Nate e depois de alguns minutos o sinal tocou anunciando o fim do intervalo.

Eu e Milla seguimos juntas para nossa aula de educação física. Era a única aula que eu e ela tínhamos só nós duas juntas.

– Milla, pode falar, você está a fim do Nate? - perguntei quando estávamos dentro do vestiário feminino.

– Sssh - Olhou para as outras garotas que conversaram entre si.

– Não, claro que não... Talvez sim.

– Meu Deus!

– Não que eu esteja gostando dele, é só que eu nem hesitaria em dizer sim se ele quisesse ficar comigo.

– Você podia aproveitar a festa de sexta.

– E eu vou.

Rindo, peguei meu uniforme horroroso de educação física e entrei em um dos box - eu que não ia trocar de roupa na frente de outras pessoas igual algumas meninas estavam fazendo. Ele conseguia ser mais feio que a cara de Ruby e ainda me deixava com o corpo de uma obesa. Não sei qual a necessidade desses uniformes, era só a escola pedir pras alunas levarem alguma roupa de ginástica e todos seriam mais felizes mas é claro que sempre existiriam aquelas que usariam um shorts que mas parece uma calcinha.

Também não sei a utilidade da fazer esporte na escola - se não um hobbie da pessoa, claro - além de ficarmos suados e nojentos como porcos se esfregando na lama. Acho que temos idade suficiente para escolhermos se queremos fazer exercícios ou não, se sim é só irmos em uma academia. Problema resolvido!

O jogo de handebol foi exatamente como eu esperava: Uma droga. Eu tive que vestir aquele pedaço de pano por nada. Fiquei uma duas horas sentada no bando de reservas sendo obrigada a ouvir as assanhadas falando sobre a festa na minha casa.

Milla, ao contrário de mim, teve que jogar no primeiro jogo, apesar de não levar o menor jeito pra handebol ou qualquer outro esporte. Quando começou o segundo jogo ela foi dispensada pra tomar banho e eu continuei mofando naquele banco.

Bufei marchando até o vestiário três minutos depois do sinal tocar, esperando o lugar esvaziar um pouco, eu não tinha nenhuma intenção de chegar rápido e ter que ouvir mais falação repetida.

Enrolei mais um pouco dando passos lentos e pequenos. John teria que esperar bastante.

O vestiário tinha esvaziado bastante levando em consideração o tempo que eu demorei pra chegar lá. Peguei minha toalha - que eu tinha trago de casa e deixava guardada no armário -, Deus me livre usar a mesma que alguém usou, e entrei no chuveiro.

Mesmo sem ter jogado sentia meu corpo soado e pegajoso. Demorei-me lavando o cabelo, tanto que quando saí haviam apenas umas cinco garotas.

Coberta de vergonha apertei a toalha mais forte em torno do meu corpo e rumei para um box, indo trocar de roupa.

– Talvez uma fantasia de Marylin Monroe. - disse uma voz de algum lugar do vestiário.

– Clichê demais, pense em algo menos óbvio e mais atrativo.

– Marylin Monroe é atrativa. - falou uma terceira voz em um tom indignado.

– Continua sendo comum. Aposto que pelo menos quatro garotas vão fantasiadas assim.

– Por mim não importa a fantasia, desde que seja sexy o suficiente pra Mark.

Mark? O idiota popular que tinha sido um dos grandes colaboradores pro trote de piscina de tinta?

– Com esses peitos do tamanho de caroços de azeitona você não vai conseguir chamar a atenção nem de Robert.

As três garotas riram. Por algum motivo eu tinha parado de me vestir para prestar atenção na conversa, eu sentia que já tinha ouço as vozes delas.

– Robert pega até uma samambaia quando está bêbado.

– Se você conseguir a atenção daquele garoto amigo do Blake, o que está sempre calado e olha pra você como se fosse superior, aí sim você estará i-rre-sistível.

– O Ethan? Eu acho ele sexy.

– Esse aí. Eu não gosto dele, o jeito que ele olha pra mim me irrita. Como se eu fosse feia ou meu cabelo estivesse sem chapinha. Sou mais Blake e Jason.

Prendi a respiração.

Por quê eu estou escutando essa conversa?

A primeira coisa que tive vontade de fazer foi sair do box e parar de escutar aquela conversa, depois percebi que seria idiota demais fazer isso, além de que ia ficar óbvio que eu tinha escutado na cara de pau a conversa delas. A segunda foi subir na beirada da privada e espiar as garotas a fim de descobrir quem eram, mas seria igualmente idiota e elas logo me veriam. Por isso, optei por agachar-me e olhar pela parte de baixo do box.

Tive o cuidado de controlar minha respiração e segurar meu cabelo pra ele não cair na frente do meu rosto.
Vi uma loira de costas e só de calcinha, depois outra loira com uniforme de líder de torcida e por último uma garota pálida com um batom rosa fuosforecente.

Essa última me assustou, de verdade. Parecia o resultado de um cruzamento entre um cão infernal e o monstro do Lago Ness. Ela usava maquiagem pro resto da minha vida inteira e ainda por cima parecia não saber nem usar um pincel de blush nem ter o mínimo senso de moda (A sombra tinha um tom de laranja berrante misturado amarelo), quem sabe debaixo daquela maquiagem ainda houvesse salvação.

Assim que a loira que vestia somente calcinha virou-se para um ponto que eu consegui exergar seu rosto - e outras coisas que eu realmente não queria ver -, eu a reconheci.

Ela fazia parte do grupo dos populares e Mark sempre estava junto dela.

Isso significava que os populares iam na festa! Essa era a minha chance de me enturmar com eles.

Vesti meu camisete atrapalhando-me em alguns botões. Tudo que eu queria agora era ter aceitado ir comprar as fantasias com as meninas. Eu não conhecia Londres direito e aquela era minha única chance de alugar/comprar uma fantasia. Pedir ajuda pra Ashley estava fora de cogitação.

Quase gritei para apressar aquelas garotas. Não dava pra eu sair com elas no vestiário. Se elas descobrissem que eu tinha ficado escutando a conversa delas, isso iria prejudicar minhas chances de melhorar meu status.

Saí correndo quando o caminho estava livre. Quase torci meu pé com a pressa que eu corria em cima daqueles saltos, meu fichário também não caiu por pouco.

– Pra que lado fica a estação mais próxima de metrô? - perguntei agarrando o braço do primeiro garoto que vi na rua.

– Pra lá. - disse apontando pro final da rua. - Depois você vira á esquerda e anda mais um pouco.

– Obrigada! - falei ao mesmo tempo em que começava a correr na direção que ele tinha me dito.

Eu bem que poderia ter a sorte de encontrá-las ainda esperando o metrô que levava pra rua que elas tinham dito mais cedo. Pelo menos uma coisa desde que eu tinha chegado em Londres podia dar certo.