Capítulo 10 - Zoológico Público

Uma semana passou depois do meu pequeno incidente na escada, aquele que eu parecia uma louca. Nada de importante aconteceu depois disso, eu fiquei trancada em casa mexendo no computador, falando com Annie pelo telefone ou comendo, tudo isso graças ao meu castigo. E ainda por cima, meu braço ainda estava engessado.

As aulas começam hoje, o que por um lado é bom já que eu não terei que conviver tanto com a megera sanguessuga de dinheiro, e, além disso, eu gosto de estudar, sou uma boa aluna, afinal alguém tem que trazer orgulho para essa casa e algo me diz que Blake não é um aluno que os outros chamam de exemplar.

Mas como ultimamente eu não estou tendo sorte em nada, eu terei que estudar na mesma escola do meu querido irmão, não que eu fosse andar com ele e sua turminha, pelo contrário, por mim ninguém precisa saber de nosso sinistro laço familiar.

O que eu não parava de pensar era que o traíra do meu pai já havia há muito tempo me matriculado naquela escola, mais de um mês ele já estava planejando tudo. E o mais estranho é que David nem se deu ao trabalho de me avisar que eu iria mudar de escola de qualquer jeito, ele casando-se ou não.

Depois do meu blecaute, do qual eu não faço a menor questão de lembrar pelo simples fato de demonstrar fraqueza diante de Blake, ele ficou me enchendo perguntando o que aconteceu, mas é claro que eu não respondi. Afinal o que eu ia falar? "Ah não foi nada, eu só lembrei do assassinato da minha mãe e comecei a ter alucinações, vendo sangue por todos os lados da casa, isso é normal, tenho quase toda a semana". Óbvio que não, aquilo era pessoal de mais para alguém além de meu pai saber e ele iria pensar que eu era maluca.

Sabe àquela hora em que eu pedi para Blake ficar no quarto comigo? Então, ele ficou, e até deitou na minha cama, mas no outro dia eu acordei com o quarto completamente vazio, nenhum sinal dele ou de que ele tivesse mesmo deitado comigo. Fiquei pensando que talvez eu ainda estivesse vendo algumas coisas distorcidas.

Depois de um tempo Blake parou de insistir, mas eu tenho certeza de que ele ainda fica pensando no porque de eu ter ficado daquele jeito por ele ter apago as luzes, estava na cara que não era só medo do escuro.

Então aqui estou eu, no carro de David, - o mesmo que havia sido guinchado no dia em que eu e Blake saímos escondidos - com o Blake no banco de trás, enquanto meu pai e Ashley iam na frente. EU deveria ir na frente, não a vaca macumbeira.

Eu vestia um dos meus vestidos preferidos e usava sapatilhas, afinal, eu tinha que passar uma boa impressão para os meus novos colegas, e sim, o colégio não tinha uniforme, porque ele era público. Olha a que nível eu cheguei. Eu, Sophie Monroe, filha de um empresário podre de rico, estudando em um colégio público.

Eu e Blake estávamos com fones de ouvido, eu em uma rádio qualquer que tocava músicas pop e ele provavelmente ouvindo as músicas de drogado dele, o que nos impedia de escutar a animada conversa de meu pai com a vaca sobre a crise econômica da Grécia. Existia casal mais chato que esses dois?

Assim que meu pai estacionou o carro, eu e Blake saímos praticamente voando do carro, não dando tempo nem pra despedida, ainda estávamos muito zangados com eles pelo castigo.

– Tchau amorzinho! – Ashley gritou do carro para Blake e eu segurei o riso quando vi algumas pessoas olharem estranho.

Hoje era o primeiro dia de aula, por isso todo o pátio estava lotado com alunos desde a quinta série até o ensino médio, alguns alunos acompanhados por seus pais.

Eu estava completamente perdida naquela multidão, não conhecia nenhum centímetro da escola, já que meu pai não fez a menor questão de me levar para conhecer o lugar, estava ocupado demais com a Ashley.

Blake olhava para os alunos, procurando alguma coisa até que ele avistou seu grupinho de amigos drogados e andou na direção deles, que o cumprimentaram com um batimento estranho, deve ser algum tipo de código da máfia britânica.

De longe vi Nate acenar pra mim e Jason direcionar sua atenção para a minha pessoa enquanto Ruby rolava os olhos, menina chata. Ethan nem mesmo me olhou, estava muito ocupado conversando com Blake.

Acenei de volta para Nate, o único que parecia prestar naquele grupo e segui em direção ao lado que eu acreditava ser a secretaria, tentando não ficar perdida, afinal essa escola era imensa. Pelos menos um ponto positivo nessa mudança, já que minha antiga escola parecia um maternal comparada a isso aqui.

Agradeci mentalmente quando entrei pela porta da escola, vendo duas secretárias atendendo alguns alunos. Me espremi entre os alunos, tomando cuidado como meu braço ainda engessado, para chegar á bancada de mármore e esperar alguma delas virem falar comigo.

– O que a senhorita deseja? – A secretaria loira perguntou para mim meia hora depois de eu ficar parada, com os pés doendo, esperando ser atendida.

– O horário das minhas aulas. Sophie Monroe, segundo ano.

– Hm... – Ela mexeu em alguma coisa no computador e imprimiu uma folha me entregando em seguida. – Aí estão todos os seus horários, de segunda á sexta.

Peguei o papel e saí da confusão de alunos, olhando melhor os meus horários.

Ótimo, primeira aula de física, odeio essa matéria, mas costumava ser a melhor da sala. Fala sério, eu era a melhor da sala em tudo (N/A: Sophie, a modesta). Depois de física vinha história e biologia e finalmente intervalo.

Fui procurar a sala onde teria aula de física, seguindo as indicações das plaquinhas penduradas no teto, para uma escola pública, ela era até chique, e sem querer esbarrei em Ethan que me olhou com desinteresse e seguiu seu caminho como se nem tivesse me visto. Esses amigos do Blake são realmente problemáticos, mas afinal, são amigos do Blake, o que mais se pode esperar?

As duas primeiras aulas foram tranquilas, como era o primeiro dia de aula, os alunos novatos tinham de se apresentar para os veteranos e a professora de física fez uma brincadeira para descontrair as coisas, onde eu fiquei sabendo o nome de todos os meus colegas da aula de física.

Uma garota de cabelos castanhos encaracolados, que parecia ser uma boa aluna e razoavelmente popular veio falar comigo. Ela é bem simpática e me convidou para ficar com ela e as suas amigas no intervalo, seu nome era Melody. Sem falar no professor de História que é era gato.

Os garotos não eram tão maus assim, tinha uns bonitinhos, que pareciam ser os típicos populares. Talvez eu devesse ir falar com um deles, na minha outra escola eu era popular e nessa eu não queria que fosse diferente.

Estava na sala da aula de Biologia agora, sentada em uma das primeiras cadeiras quando avisto um loiro fofo entrar pela porta.

Claro, meu dia estava bom de mais pra ser verdade. Eu até me simpatizava com ele, mas ter uma aula inteirinha com Nate era uma coisa bem diferente.

Ele fez exatamente o que eu não queria. Aproximou-se e sentou na cadeira atrás de mim.

– Oi. - Ele falou tentando puxar conversa.

– Oi. – respondi distraidamente, torcendo para ele perceber que eu não queria conversar.

– Como está indo seu primeiro dia? – Nate sorria o tempo todo ou era impressão minha?

– Bom.

Ficamos em um silêncio constrangedor por um tempo. Pensei que finalmente Nate se daria por vencido, e parasse de falar comigo. Eu tinha coisas muito importantes para fazer, como folhear meu livro de biologia.

– Eu sinto muito por aquele dia do skate, o Blake não deveria ter deixado você descer, ele me falou que você quebrou o braço.

Era óbvio que eu tinha quebrado o braço, já que ele estava engessado e enfiado numa tipoia, mas preferi não dizer nada.

– Se fosse só isso... – Suspirei. – Mas não foi sua culpa de qualquer jeito.

– Hã? Como assim se fosse só isso?

– Blake não te contou que fomos para a delegacia? – perguntei meio surpresa, o vendo negar com a cabeça.

Expliquei para Nate toda a história. O garoto até que parecia ser legal, por que razão ele andava com um babaca como Blake então?

– O Blake é um idiota. - falei depois da minha narrativa. – Como ele não tirou uma carteira de motorista? Ele já tem idade suficiente para poder dirigir legalmente.

– E eu não sei, na verdade, nem mesmo faço ideia como consigo ser amigo dele. – Fez uma expressão pensativa. - Acho que apesar de tudo o acho fofo.

Ergui as sobrancelhas o olhando com descrença. Blake poderia ser qualquer coisa, menos fofo.

Quando eu abri a boca para contestar o que Nate havia dito a professora de biologia finalmente chegou à sala e eu o dispensei com um sinal falando para ele ficar quieto, e foi o que ele fez. Tenho que fazer a professora pensar que sou uma aluna exemplar tanto no comportamento quanto nas notas.

Se você já foi a um zoológico sabe que lá existe todo o tipo de espécime de animais, separados em jaulas diferentes, bem a cantina daquele colégio era mais ou menos assim, se você levar em conta o fato de que o zoológico é mais limpo. Mas tirando isso é exatamente a mesma coisa, cada mesa tem um grupinho como se fossem animais da mesma espécie, e os barulhos produzidos pelos alunos parecem muito os barulhos de animais bem escandalosos.

Ah, que saudade da minha maravilhosa escola particular.

Minha expressão não devia estar muito boa, já que eu tinha parado no meio do caminho olhando tudo com um misto de espanto e dúvida se deveria entrar ali ou não

Por fim, decidi continuar meu caminho até o lugar onde serviam o lanche, era isso ou passar fome. A fila estava enorme, com várias pessoas furando fila na maior cara de pau ou brigando para pegar os bolinhos, que pelo visto eram a grande atração da cantina.

Quando finalmente chegou a minha vez de pegar o meu lanche, olhei decepcionada para uma grande panela cheia de uma coisa que por um momento pensei que fosse vômito, mas eles não serviriam vômito no lanche... Ou serviriam? Depois de ver aquela coisa que obviamente eu dispensei olhei para as várias mesas cheias de pessoas conversando, procurando alguém que eu conhecia.

Entre as várias mesas, cadeiras e corpos vi Nate não muito longe da onde eu estava acenar pra mim de uma mesa bem no canto do refeitório onde o grupinho de Blake estava. Bem, esse não era o tipo de grupo que eu pretendia sentar durante o intervalo, por isso fiz um aceno negativo com a cabeça esperando que Nate visse.

– Sophie!

Virei na direção que tinham me chamado, procurando alguém no meio de tanta gente. Vi Melody em uma mesa meio distante da onde eu estava com mais duas garotas, imediatamente lembrei-me de que ela tinha me chamado para me sentar com elas.

Suspirei disfarçadamente, aliviada por não ter de sentar sozinha ou com desconhecidos.

– Ei – Melody sorriu quando me sentei na cadeira ao seu lado. – Sophie, essas são minhas amigas, Milla e Violette.

– Oi, prazer em conhecer vocês. – Tentei ser o mais simpática que consegui. O que não era muito, já que meu dia não ia muito bem.

Elas me responderam de volta e começamos a conversar sobre a escola, elas me explicaram algumas coisas que eu não sabia, falaram sobre tudo, até mesmo sobre garotos.

– Sabe quem são os garotos mais desejados daqui? – Violette perguntou.

– Quem?

– Naquela mesa ali – Ela apontou para uma mesa cheia de garotos – Estão os garotos do time de basquete, que obviamente são alguns dos mais desejados, depois, vem aqueles ali.

Olhei para a direção para onde ela apontava para um grupo que eu quase vomitei só de olhar.

– Eles? – perguntei incrédula.

– Exatamente. Tirando as garotas estranhas. Não sei como caras lindos como aqueles andam com góticas, ou seja lá o que elas são.

– Não acho que todos sejam bonitos, os mais bonitos são Nate e Jason. – disse Milla, os analisando.

– Pois eu acho que todos são gostosos. – falou Violette rindo. Fiz uma careta.

– Eu gosto daqueles do canto ali, Blake e Ethan. – Essa foi a vez de Melody falar.

Sim, vocês já perceberam pelos nomes de quem elas estavam falando. Meu Deus, o que as garotas dessa escola tinham na cabeça para achar Blake tão bonito assim, ele até é bonitinho, mas compensa tudo com sua chatice.

Aliás, esquece o que eu disse. Blake não é bonito, nem bonitinho, nem mesmo simpático.

– E você, Sophie, quem você acha mais bonito?

– Hã? – Pisquei os olhos, voltando a prestar atenção na conversa.

– Qual dos garotos, que estávamos falando segundos atrás, você acha mais bonito?

Blake.

– Nate. – Respondi rapidamente.

Não que achasse Nate o mais bonito, quer dizer, ele não era feio, mas ele era... Ah, não sei, ele era fofo demais pra eu pensar nele como algo além de um amigo. Só falei o nome dele por que ele era a pessoa que eu mais me simpatizava daquele grupo.

Depois disso elas me mostraram outros garotos que eram considerados bonitos.

Ao longo da conversa, percebi que nenhuma delas sabia da minha pequena ligação de meia irmã do Blake. Fiquei aliviada com isso, nem tudo estava perdido, afinal.

Tudo estava indo muito bem, até eu entrar na sala de aula, onde teria aula de matemática e descobrir que teria aula com Ruby, Ethan e Blake. Acho que eles nem notaram quando eu entrei na sala, estavam muito ocupados conversando.

Com certeza quem fez esses horários tem alguma coisa contra mim, aguentar uma aula com um deles tudo bem, mas com os três juntos? Já é pedir demais!

Eles estavam sentados lá no fundo e eu fiz questão de me sentar em uma das primeiras carteiras, querendo ficar bem longe do fundão e longe daquele trio de drogados, que não paravam de fazer gracinhas. Droga! Eles eram populares.

Uma mulher idosa com os cabelos grisalhos penteados em um topete entrou na sala e percebi que ela era a professora de matemática. Perfeito, não podia ser um professor rigoroso que não tolera um barulho na sala de aula, não, tinha que ser uma senhora idosa provavelmente quase surda, que provavelmente não iria fazer nada para os idiotas calarem a boca.

Ela tentava explicar a matéria, mas os babacas que se acham engraçadinhos lá do fundão só ficavam fazendo brincadeirinhas, atrapalhando toda a turma, que devo admitir não estava nem um pouco interessada no conteúdo, preferiam ficar prestando atenção nos populares.

Ruby só ficava rindo das palhaçadas, quase se atirando em cima de Blake, bem, ela não era a única, havia pelo menos outras duas garotas que toda vez que tentavam falar com ele, eram cortadas por Ruby que as intimidava só de olhar. Garota estranha.

Resultado, saí da sala com dor de cabeça. Tudo culpa de Blake, e dos idiotas que se achavam o máximo fazendo coisas “engraçadas”. Já repararam que TUDO que acontece de ruim na minha vida ultimamente está relacionado à Blake?

Por falar em Blake, nem consegui falar com ele para saber como iríamos voltar para casa, o dito cujo saiu da escola entrando no carro de Jason junto com Ethan e foram pra sei lá onde.

Então eu tive que fazer a coisa mais humilhante de todos os tempos.

– Alô? Ashley, você pode vir me buscar?