Kurohanayome - A Noiva de Negro escrita por Min Lunera


Capítulo 21
Eterno Estranho


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal, tudo certinho?
Pois, bem... Após tantas sextas-feiras postando um capítulo por vez, informo que esta fanfic já está chegando ao final. Obrigada ao pessoal que manifestou opinião sobre o meu trabalho. Fico muito feliz em saber que a pequena brisa que tive há uns meses serviu para entreter pessoas que, mesmo que eu nunca tenha visto na vida, são importantes pra mim.
Enfim, vamos parar de gayzice. xD Boa leitura. o/
(PS: ainda não é o último capítulo, mas logo, logo chegamos lá...)



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-Me desculpe por isso, Ciel. – Hannah se lamentava. – Eu realmente não queria te prejudicar.

            Perguntei para Charlie:

            -O que você fez?

            O anjo me olhou com desdém e respondeu:

            -Diferente de vocês demônios, que têm acesso limitado às coisas existentes além do céu e da terra, eu pude ir até as profundezas e buscar essa preciosidade. – acariciou a face morena do demônio com aparência feminina.

            Sebastian argumentou:

            -Usar um de nós ao seu próprio favor não é algo contraditório?

            Charlie franziu as sobrancelhas e respondeu:

            -Desde que eu não tenha mais escolhas, tudo se torna válido. – andou alguns passos à frente. – Eu me cansei da petulância de vocês em vir até os meus domínios e querer tirar de minhas mãos aquilo que é meu por direito. Agora chegou a hora de pagar.

            Protestei:

            -Nada aqui é seu por direito. Tudo isso não passa de uma grande confusão.

            -Você deve saber que, de qualquer forma, isto é contra as regras. – Sebastian apontou. – Tirar um demônio do limbo sem autorização é uma das transgressões mais graves à lei divina.

            Charlie respondeu alterado:

            -Fodam-se as regras! Não sirvo mais ao Ser Superior e agora nem a este que vocês chamam de “Vossa Majestade”. Vocês dizem isso porque sabem o que ela carrega dentro de si e o quão fatal é. – puxou Hannah pelo braço com força.

            Eu a encarei e perguntei:

            -Hannah, por que você fez nada, já que não quer me prejudicar? Claude não estava com você quando ele apareceu?

            Ela me respondeu calmamente:

            -Nós tentamos resistir, porém Charlie conseguiu nos subjugar e nos chantageou dizendo que, se eu não o ajudasse, ele destruiria o limbo. Desculpe, Ciel.

            Dei os ombros:

            -Pare de se lamentar e não se preocupe mais com isso.

            O limbo a qual se referiam era a dimensão paralela na qual os demônios se refugiavam. Não era o mesmo que a igreja dizia que existia e que era o destino das crianças não batizadas. Hannah e Claude haviam sido exilados naquele local para sempre, porém Charlie tinha forças o suficiente para tirar um deles por certo tempo.

            O anjo puxou a mulher para frente de seu corpo e nos ameaçou:

            -Se vocês não sumirem daqui imediatamente, irei usá-la sem dó ou piedade.

            -Guarde sua falsa piedade para os humanos, Charlie. – respondi seco. – A única coisa que queremos aqui é a sua morte.

            Enquanto discutíamos, uma turba havia se formado ao redor do prédio. Os gritos assustados das pessoas ecoavam por todos os cantos. O rei se levantou e ficou ao meu lado. Ele me pediu:

            -Ciel... Independente do que aconteça, não o deixe tocar em meus servos.

            Respondi sem encará-lo:

            -Esse é o meu propósito aqui, Vossa Majestade.

            Ele deixou um riso escapar e disse bondoso:

            -Não sei o que você é agora exatamente, mas está mais parecido do que nunca com o seu pai.

            Desta vez, acabei o encarando surpreso. Charlie gritou:

            -Chega de conversa fiada! Eu tenho que acabar com vocês e, depois, brincar com o corpo inanimado de Elizabeth... – um sorriso malicioso brotou em seus lábios e ele mergulhou sua mão pela garganta de Hannah.

            Meus olhos o fuzilaram quando o escutei dizer aquilo e, ao mesmo tempo, senti meu coração se apertar ao recordar que minha bela noiva de cabelos dourados estava lutando no bosque.

            Levei um susto ao reparar que, pela primeira vez após anos, senti meu coração se apertar. Para mim, ele havia morrido a partir do momento que parou de pulsar, mas, pelo visto, ele continuava ativo com meus sentimentos em uma hibernação eterna ou, pensando bem, não tãoeterna assim, afinal eu havia me comportado de forma vagamente sentimental naqueles últimos dias. Eu olhava para Edward, que se afastava cautelosamente, e para Sebastian, que estava frio e firme ao meu lado. Me senti deslocado: eu não era mais um humano como o rei e nem totalmente sobre-humano como Sebastian. Eu era um Ciel estranho e desconhecido, que tinha uma personalidade complexa. Meu mordomo me repetia todos os dias que era apenas uma fase, mas ela não devia demorar por tanto tempo...

            Enquanto eu refletia, pude ver Hannah agonizando até o momento que a ponta afiada da Espada Demoníaca deslizou para fora de seu corpo através de sua boca. Charlie fazia isso com toda frieza do Mundo. Eu não reconhecia mais o anjo de aspecto sereno: ele tinha um ar furioso e não era para menos. Voltei a encarar a mulher e pensei se ela tinha informações melhores a respeito de minha nova forma, afinal, graças a ela, eu tinha me tornado naquele híbrido.

            Assim que Charlie empunhou a espada, Hannah caiu de joelhos diante dele tossindo compulsivamente. Pensei se seria possível perguntar logo a ela sobre o que eu havia me tornado, pois não sabia se isso seria possível após confrontar o anjo da morte. Porém, antes que eu pronunciasse seu nome, ela que me chamou:

            -Conde Phantomhive...

            Voltei minha atenção a ela, silenciosamente. Sebastian, Charlie e Edward apenas a olhavam curiosos. O demônio virou a cabeça sutilmente para o lado e sorriu:

            -Você viverá eternamente assim. Só precisa aprender a se portar com sua nova personalidade. Desculpe não ter sido mais específica antes.

            As desculpas dela começaram a me irritar, porém respirei fundo e deixei passar. Sebastian olhou para mim e depois virou o olhar para o outro lado resmungando:

            -Bem que ainda sinto o aroma da alma dele, embora ela não esteja mais forte como antes.

            Hannah expôs:

            -Pela sua história, Sebastian, você é um caso parecido com o de Ciel, porém conseguiu se livrar de seu “eu” humano. O Conde nunca se livrará. Isso estava incluso no trato que fiz com Alois e não posso voltar atrás a não ser que ele me permita, mas agora... – ela sentou-se sobre as pernas dobradas e pôs a mão sobre o peito. – A única coisa que ele me diz é para não me intrometer nesta batalha. Sinto muito.

            Respirei fundo: algum dia, aquele maldito loiro ainda me pagaria por aquela confusão.

            -Humano ou não... – Charlie cortou o assunto e apontou para mim com a ponta da espada. – Você acaba aqui.

            A energia negativa se expandiu por meu corpo mais uma vez e gritei desafiador:

            -Tente a sorte!

            Ele investiu contra mim. Quando faltou pouco para me alcançar, eu e Sebastian nos esquivamos para direções opostas um do outro e, agilmente, nos reaproximamos e atacamos Charlie pelas costas.

            O anjo estendeu as asas para proteger seu corpo, porém reparou tardiamente que lançamos agulhas com uma espécie de paralisante, que o impediu de voar muito rápido dali em diante.

            Furioso, Charlie persistiu em batê-las e tentou nos golpear várias vezes. Por descuido de Sebastian, ele conseguiu atingir o ombro de meu mordomo de raspão. Sebastian, com a mão sobre o corte, pulou para trás, mas o anjo continuou o perseguindo. Corri atrás de Charlie e tentei atingi-lo na nuca com um gancho de esquerda.

            Repentinamente, ele se virou feroz e desferiu um golpe com a intenção de acertar meu pescoço. Me joguei para o lado e acabei caindo na beira da parede quebrada – ou melhor, do que sobrou dela. Olhei para baixo e vi meus servos lutando contra os guardas reais, que, com certeza, foram ordenados por Alexandra para apreenderem os acompanhantes das “irmãs Neveu”.

            Me levantei rápido e ataquei o anjo da morte frente a frente. Mirei meu punho na direção de sua mandíbula. Quando ele moveu a espada na direção de meu braço estendido, o encolhi rapidamente e o atingi com o outro.

            Charlie cambaleou para trás e tentei tomar a espada de suas mãos, mas ele recuperou o equilíbrio rapidamente e segurou meu pulso com força como se fosse quebrá-lo.

            Por alguns segundos, pensei que eu havia me entregado acidentalmente. Sebastian veio em nossa direção, mas, antes que ele se aproximasse, escutamos som de tiros e reparei que Charlie foi ricocheteado pelas costas.

            -Quem ousa se intrometer? – ele perguntou irado.

            Consegui me livrar de suas mãos e me afastei dele. Olhei para trás e reconheci o rapaz louro que empunhava uma pistola e tinha o olhar sério: o irmão mais velho de Elizabeth havia subido pela escadaria destruída e chegado até nós. Ele olhou para o rei e perguntou:

            -Vossa Majestade, está tudo bem?

            -Sim. – seu xará respondeu. Edward VII especificou rapidamente: - Se não considerarmos que estamos presenciando uma batalha mortal agora, está tudo bem.

            Edward, irmão de Lizzy, voltou a olhar para mim e disse solene:

            -Ciel, me desculpe por julgar você sem ter ouvido sua versão sobre aquela noite. O mesmo para seus servos e minha irmã.

            Aquele dia estava tão cheio de reconhecimentos de erros acompanhados pela palavra “desculpa” que eu já estava ficando enjoado. Dei os ombros:

            -Tudo bem.

            Charlie riu sarcástico:

            -Você veio aqui apenas para tirar o peso da consciência e tentar me deter com uma arma inútil? Quanta babaq... – de repente, ele emudeceu e fez uma expressão que era o misto de pavor e surpresa.

            O jovem Edward deu um meio sorriso:

            -Minha pistola é comum, mas a munição foi cedida gentilmente por Meirin. – ele olhou para mim e disse: - Por favor, vá ajudar a minha irmã. Eu e os outros cuidamos dele.

            Meirin possuía ainda a munição especial que eu havia trazido. Era a mesma que transformou o Cérbero da mansão Middleford em cinzas. Quanto ao pedido de Edward, não pensei duas vezes para atendê-lo. Ordenei ao meu mordomo:

            -Sebastian, ajude-o a limpar essa bagunça.

            -Sim, senhor. – ele respondeu.

            Passei tranquilo ao lado do imóvel Charlie e lhe disse indiferente:

            -Você foi o peão mais estúpido que eu enfrentei até hoje. Espero que os outros não sejam tão fúteis quanto você, senão irei terminar essa noite com o maior tédio de todos os tempos.

            Ele não me respondeu: seu corpo estava paralisado e com várias feridas. As balas, que perfuraram suas costas, estavam corroendo o interior de seu corpo e ele não ia durar muito.

            Passei por Edward e apenas meneei a cabeça para ele. Olhei para o rei, que estava sentado no chão, e disse:

            -Acredito que será difícil esquecer tudo o que aconteceu hoje, não é?

            -Esquecer é o de menos, o problema será reorganizar tudo. – ele suspirou pessimista.

            Dei um meio sorriso e garanti:

            -Isso será organizado o mais rápido possível. Mas, se me dão licença, tenho mais outros quatro peões para tombar.

            Foi essa a última vez que vi Charlie.


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