Kurohanayome - A Noiva de Negro escrita por Min Lunera


Capítulo 20
Aliança Partida


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, oi, pessoal. Aqui vamos nós com mais um capítulo. Estou desempregada, portanto estou aqui postando mais cedo. xD Boa leitura.



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Uma pessoa normal não faria o mesmo que fiz na mesma velocidade. Finalmente reparei que ser um demônio tinha pontos positivos. Aliás, acho que comecei a enlouquecer a partir do momento que vi tais “pontos positivos”, mas, de qualquer forma, eu havia conseguido o que queria.

            Após o jantar, consegui me aproximar do rei. Ao fazer isso, pude sentir melhor a energia que o envolvia e constatei que ele não estava bem como aparentava. Logo, Edward sentiu vertigem e teve que se sentar. Muitas pessoas o cercaram e os criados perguntavam o que ele sentia, enquanto o abanavam com um leque.

            No meio da confusão, vi Sebastian me encarando num canto do salão. Aquele olhar frio foi traduzido por mim em uma única frase: estava na hora de por o plano em ação.

            Abri espaço entre a multidão e disse em uma entonação convincente:

            -Em meu país, nós temos um tratamento perfeito para esse tipo de mal-estar.

            Alexandra estava aflita ao lado do marido e me olhou preocupada:

            -Tem certeza que serve?

            Pus as mãos na cintura e sorri gentil:

            -Vale a pena tentar. – fiz um sinal com a mão para que um criado se aproximasse e disse ao seu ouvido de modo sedutor: - Me traga uma jarra d’ água.

            O rei resmungou:

            -Me tirem daqui, até parece que isso é um espetáculo para os convidados. – ele se esforçou para levantar e sua esposa o segurou pelo braço.

            Entre os murmúrios, o filho de Victoria subiu as escadas, acompanhado pela rainha e alguns servos. Eu fui logo atrás com ar tranquilo. Dei uma olhada rápida sobre o ombro e reparei que Sebastian não estava mais no mesmo local de antes.

            Fomos até um aposento grande. Edward sentou-se numa poltrona e relaxou suas costas no estofado. Alexandra não saía do lado dele e aquilo me atrapalhava. Quando os servos se retiraram para trazer o que eu precisava, virei para ela e disse amigável:

            -Não se preocupe, ele ficará bem, Vossa Majestade.

            Ela cruzou os braços e forçou um sorriso:

            -Obrigada.

            Joguei uma mecha do cabelo para trás e sugeri:

            -Talvez seja melhor Vossa Majestade voltar ao salão e acalmar os convidados.

            A jovem balançou a cabeça reprovando aquilo:

            -Não posso sair do lado de meu marido.

            Edward alisava a testa com nervosismo e disse com dificuldade:

            -Alexandra, é melhor você ficar com os outros.

            Ela lançou um olhar desesperado para ele e protestou:

            -Mas, como posso te deixar aqui nessas condições?

            Ele fez uma carranca para a esposa e respondeu rude:

            -Francamente, você se parece com aquelas crianças teimosas. Vá logo e diga a eles que ficarei bem. Não quero que pensem que sou um fraco.

            A rainha olhou para ele e depois para mim. Por fim, suspirou e aceitou:

            -Tudo bem, então. Mas, eu voltarei depois para saber como você está. – me pediu: - Cuide bem dele.

            Inclinei a cabeça de lado e pisquei um olho:

            -Ele está em boas mãos. – me aproximei e a fitei intensamente: - Fique em paz.

            Senti meus olhos queimarem fracamente. Nesse mesmo momento, a mulher ficou com uma expressão que misturava espanto e encanto. Balançou a cabeça suavemente e saiu abismada.

            Após Alexandra se retirar do local, os servos chegaram trazendo a água quente e as ervas que seriam usadas no “remédio” para o mal-estar do rei. Fingi analisar bem os ingredientes e disse, por fim:

            -Ainda estão faltando algumas coisas. Poderiam me trazer mais?

            -O quê? – a governanta mais velha perguntou.

            Após dispensá-los novamente, caminhei até a porta e, passando a mão sobre a fechadura, a fiz se trancar de modo que nem uma chave pudesse abrir. Virei para frente e vi o filho de Victoria agonizar silenciosamente.

            Ele realmente estava perturbado e, pelo visto, o que o mantinha sóbrio – ou quase – não estava mais com ele. Provavelmente, seria mais fácil lidar com ele daquela forma.

            Mexi na água e nas folhas que me trouxeram. O rei desapertou a gravata e disse olhando para o alto:

            -A cada dia que passa, isso tem se tornado mais insuportável.

            -Por que fala assim, Vossa Majestade? Tens um reino tão lindo... – eu disse.

            Ele riu fraco e me agradeceu com uma ponta de orgulho:

            -Suas palavras sempre me deixam melhor, Celine. Fico muito feliz de verdade por conhecê-la pessoalmente. Falaram tanto de você e de sua irmã para mim. Aliás, onde Isabelle está?

            Virei para trás, segurando a chaleira e pendi os ombros:

            -Ela ficou lá embaixo conversando com alguns conhecidos nossos.

            -Estranho, não a vi mais depois do jantar. – o rei tossiu.

            Fiquei pensativo por um instante para poder respondê-lo: eu sabia aonde Lizzy havia ido e admito que estava um pouco preocupado, pois não sabia quantos anjos da morte havia e nem se os shinigamis conseguiriam dar conta de todos. Disfarçadamente, peguei o vidro de veneno, que estava oculto dentro de meu vestido, e coloquei o conteúdo junto com o chá de dentro da chaleira. Mexi um pouco, tampei e servi uma xícara para o rei.

            Sentei numa poltrona ao lado da dele e esperei o momento que ele ingerisse o líquido. Meus olhos voltaram a queimar: a impaciência já estava chegando a um nível insuportável. Olhar para aquele humano problemático me dava náuseas. Mesmo que dissessem que havia anjos maníacos por trás daquilo, ele sabia das conseqüências, pelo menos teoricamente.

            De repente, ele começou a suar e se pôs a falar:

            -Eu fiz muitas coisas erradas. Acho que morrer agora não é uma má ideia.

            Então, beba logo – eu pensei.

            -Por que fala assim? – apoiei meu queixo em uma das mãos, fingindo espanto.

            Ele me olhou com os olhos vagos e disse num murmúrio:

            -Hoje à noite, eles farão o trabalho sem minha intervenção e a culpa é inteiramente minha. – bebeu o chá num gole só, fazendo caretas.

            -Eles? – reparei que ali surgia outra oportunidade que eu precisava. O encarei e perguntei: - Conte-me mais...

            Edward agarrou-se aos braços do sofá, trêmulo. O suor escorria por suas têmporas e ele rangia os dentes enquanto sussurrava:

            -Eles... Minha culpa...

            -O que houve entre você e eles? – quase saltei sobre ele.

            De repente, escutei alguém tentando abrir a porta.

            -Os provoquei. – o homem tombou de lado e gritou de dor.

            -VOSSA MAJESTADE! – empurraram a porta com fúria.

            Edward me olhou e perguntou furioso:

            -O que você fez comigo? Meu estômago! – ele abraçou a barriga com força e aflito.

            Me ergui do sofá e caminhei até ele:

            -Ora, ora, Vossa Majestade... Parece que as ervas não lhe caíram bem. Façamos o seguinte: você quebra o contrato com aqueles anjos e, em troca, eu lhe dou isso. – tirei outro frasco de dentro de meu vestido e o chacoalhei em minha frente.

            Edward arregalou os olhos e perguntou chocado:

            -Como você sabe? Aliás, você me envenenou? – jogou a cabeça de lado e clamou: - Ela me envenenou! Guardas, guardas! – o rei se rastejou pelo chão e, do lado de fora, os criados gritavam e empurravam a porta com força.

            O ardor de meus olhos aumentou e me permiti sair de meu disfarce: minhas íris tornaram-se avermelhadas e retirei a peruca. Uma névoa acinzentada me cercou e, logo, eu estava em minha forma casual diante do rei:

            -Boa noite. – o cumprimentei com leve ar debochado.

            -Ciel? – ele gaguejou.

            -Desfaça seu pacto com Charlie e os outros. Já chega de usar as próprias pessoas do reino como parte de seus caprichos. Francamente, sua mãe deve ter vergonha de você. – eu pisoteei o braço dele. Gritei: - Vamos!

            -Guardas! – Edward continuou gritando.

            -Vamos, tragam algo mais pesado para arrombar a porta! – gritaram do lado de fora.

            -Edward! – Alexandra estava ali perto.

            Eu disse sarcástico para o rei, num murmúrio:

            -Você realmente acha que os guardas podem te salvar? Mesmo que te tirem daqui, eles não têm o antídoto para o veneno. Vamos, você sabe o que eu quero.

            Os olhos dele lacrimejaram:

            -Eu não posso fazer isso! Eles irão me matar.

            -Ora, ora... Te matar não pode, mas matar pessoas inocentes é aceitável, não é, seu desgraçado? – eu rosnei.

            Edward encolheu-se no chão, assustado. Agachei e insisti:

            -Quebre o contrato.

            -Não posso. – ele insistiu.

            -Quebre logo.

            -Não posso. Você não entende? A Inglaterra ficará sem rei se eu fizer isso. – ele estremeceu.

            Tive que mudar a tática. Suspirei:

            -Está bem, vamos fazer assim: você quebra e, se eles tentarem tocar em você, eu dou um jeito neles.

            Edward me encarou e disse cético:

            -Duvido que você faria alguma coisa por mim.

            -De fato, por você eu faria nada. Deixaria eles te partirem em quantos pedaços quiserem e ainda conservassem a sua vida neles, mas o caso é que este reino foi deixado em minhas mãos há muito tempo atrás e ainda é de minha responsabilidade cuidar dele tanto quanto você. – respondi sincero.

            Edward rangeu os dentes. Inclinei a cabeça de lado e perguntei:

            -Vai quebrar?

            Finalmente, ele fez o que eu queria:

            -Sim. – balançou a cabeça. Puxou a manga da camisa de jeito desajeitado e revelou a marca do pacto: uma estrela de Davi.

            A porta estava quase quebrada, mas ainda teve tempo de Edward dizer as palavras:

            -Eu desfaço esta aliança por livre e espontânea vontade. Não os quero mais como meus servos e não quero que me tenham como senhor.

            -Isso aí. – sorri de lado e o fiz engolir o antídoto.

            Neste momento, ocorreu uma explosão dentro do cômodo e as estruturas tremeram. Quando olhei em volta, vi o rei sendo erguido pelo pescoço por Charlie, que tinha uma aparência um pouco mais feroz do que nas outras vezes.

            -Mestre. – Sebastian apareceu do meu lado.

            Eu disse:

            -Já estava na hora de você aparecer.

            Meu mordomo respondeu:

            -Eu estava observando ele.

            -E aí? – perguntei.

            -Vai ser um pouco mais complicado do que imaginamos.

            -Por favor, somos da família Phantomhive, o que pode nos impedir? – eu blefei.

            Enquanto isso, Charlie demonstrava-se profundamente contrariado com o que Edward havia feito:

            -Qual a parte do “não quebre o nosso contrato” você não entendeu?

            O rei me chamou sem ar:

            -Ciel!

            Avancei entre os escombros e gritei para o anjo:

            -Solte-o, seu problema sou eu. Vamos resolver isso lá fora.

            O anjo me lançou um olhar irado e disse entre dentes:

            -Não pensaria em outra coisa. Aliás, eu tenho algo para você! – fechou as asas e visualizei um vulto atrás dele.

            Quando fixei meus olhos no indivíduo desconhecido, reconheci aquela mulher de tez bronzeada e cabelos azulados. Ela ergueu seu olhar melancólico para mim como se lamentasse pelo ocorrido: era Hannah.

            Neste momento que pude compreender o que Sebastian quis dizer com “ser um pouco mais complicado do que imaginamos”.


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