Selei nossos lábios rapidamente e abri a porta do box. Ainda sentia os olhos de Quinn sobre mim enquanto eu pegava minha toalha e me secava.

                Quinn e seus cabelos cor de rosa encharcados ficaram esperando por mim, já que ela não tinha como se enxugar sem que eu emprestasse uma toalha. Lhe entreguei uma toalha seca que achei no armário do banheiro e ela já foi saindo do box, ainda molhada.

                “Ei!” Chamei sua atenção. Quinn olhou pra mim com um sorriso travesso que me fez esquecer que ela estava molhando a porra do meu banheiro todo. “Se seca logo que o Finn já deve estar chegando.” Ela assentiu.

                Me virei e me encarei no espelho. Penteei meu cabelo, prestando mais atenção no reflexo de Quinn do que nos nós que deveriam ser desfeitos.

                Eu só queria que tudo se encaixasse logo, que tudo fosse posto em seu devido lugar. Ficar com quem eu queria e não temer mais. Finn nunca foi o que eu queria, só era a única opção que eu tinha. Mas eu a encontrei. Com aqueles olhos que eu ainda não sabia se eram verdes ou cor de avelã, com aquela boca macia que me desejava...

                E me desprendi dos pensamentos quando vi Quinn sair do banheiro. Terminei de desembaraçar meus cabelos e logo fui atrás dela. Ela estava abrindo a porta.

                “O que você ta fazendo?” Perguntei, mas a porta já havia sido aberta. Arregalei meus olhos ao ver Finn parado, observando a cena.

                Ele parecia uma toupeira, tonto, sem palavras. Quinn me olhou e voltou a olhar Finn. Eu não havia percebido antes, mas elas já estava com suas roupas. Isso deixou as coisas um pouco menos complicadas. Mas Quinn ousou abrir a boca e dizer:

                “Tchau, chifrudo.” Sorriu em direção a ele e o empurrou para poder sair do quarto. Com certeza ela não iria embora antes de meus pais a interrogarem.

                Finn me encarava com os olhos cheios de lágrimas, pela primeira vez na vida ele havia entendido alguma coisa sem que eu precisasse explicar detalhadamente. Ele parecia decepcionado. E era de se esperar, já que a culpa é mesmo minha.

                “Sinto muito, Finn...” Sussurrei porque eu sabia que ele já tinha entendido o recado.

                Ele não moveu um músculo, continuava a me encarar, implorando para que suas lágrimas não caíssem na minha frente. Na frente da garota que partiu seu coração. Mas faça-me um favor, ele nunca me deu tanto valor nesse tempo todo em que ficamos juntos. Nunca me deu a atenção que eu pedia. E em tão pouco tempo, Quinn me fazia sentir do jeito que eu sempre quis. Que culpa eu tenho nisso?

                “Então é isso?!” Respirei fundo e assenti. Ele franziu a testa como se pudesse segurar alguma lágrima dessa maneira. Pude ver uma escorrendo pelo seu rosto e logo a manga do seu casaco a secou. “Tchau, Rachel.”

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                Mesmo me sentindo um pouco, só um pouquinho mesmo, mal por essa situação, eu estava feliz pela minha decisão. Coloquei meu ipod pra tocar enquanto eu vestia algumas roupas e me surpreendi quando a voz do Ed Sheeran começou a sair das caixinhas de som:

I’m gonna pick up the pieces and build a lego house

If things go wrong we can knock it down

                Prestei atenção na letra até que bateram na porta e a empurraram um pouco logo em seguida.

                “O jantar está pronto e acho que temos convidados.” A voz de Leroy soou num tom de felicidade. Ouvi seus passos se distanciando e voltei a dar atenção a música que já estava no refrão:

I'm out of touch
I'm out of love
I'll pick you up
When you're getting down
And out of all these things I've done
I think I love you better now

                Me permiti a sorrir, aquela música havia se tornado tudo que eu estava sentindo e tudo sempre é mais fácil com música. E também seria mais fácil se eu cantasse e não falasse. Mantive esse pensamento enquanto terminava de me arrumar. Tratei de colocar um sorriso no rosto e fui em direção às escadas.

                No meio da escada já pude ouvir um alvoroço vindo da sala de jantar. Eram mais de três vozes diferentes, isso eu tinha certeza. Fui até lá o mais rápido possível e vi meus pais conversando com Quinn e sua mãe, Judy. Era a última pessoa que eu imaginei que seria.

                “Rachel!” Judy exclamou ao me ver. Se levantou e veio me abraçar. Eu estava um tanto que encolhida, com um pouco de vergonha na verdade. Quinn estava com um brilho nos olhos que meu deu um arrepio na espinha. Sorri em direção a ela antes de ouvir sua mãe dizer: “Liguei para Quinn e ela me disse que estava aqui... Seus pais, como sempre gentis, me convidaram para jantar.” Ela voltou a se sentar em seu assento, ao lado de Quinn.

                Eu ainda me sentia um pouco envergonhada demais para falar. Puxei a cadeira ao lado de Hiram e me sentei. Em frente á Quinn. Perguntei a mim mesma se Judy tinha alguma ideia do que Quinn e eu fazemos quando não tem ninguém por perto. Uma imagem passou pela minha cabeça e me fez rir um pouco.

                Me servi de um pouco da salada ceasar que meu pai havia preparado, e era a minha favorita. Não sei de onde o bacon saiu, mas estava lá no prato de Quinn. Ela riu ao ver minha cara de espanto enquanto ela colocava um pedaço na boca.

                Nossos pais estavam conversando sobre tudo possível. E acho que Judy já estava a par da minha relação com Quinn, mas ninguém ousou tocar no assunto até o momento.

                “E quanto as nacionais? Tudo pronto, estrelinha?” Hiram perguntou a mim. Todos olharam na minha direção, esperando a resposta.

                “Quinn quer que eu cante Florence & The Machine, mas ainda não estou muito a favor...” Dei de ombros, mas Quinn parecia chocada com minha resposta.

                “Rach, nós ganharíamos as nacionais com um solo seu até se você cantasse Wannabe das Spice Girls fazendo aquela dancinha ridícula.” Ela disse tão convencida que quase me fez cuspir todo o suco de uva que eu estava bebendo.

                Parei de rir e a encarei. Ela estava séria. Meus olhos se conectaram nos dela e ficamos assim por tanto tempo que nem percebemos. Judy, Hiram e Leroy estavam falando sobre o quanto a música nos faz bem e sei lá. 

                "Confia em mim." Quinn sussurrou tão baixo que só entendi porque li seus lábios.

                "Sempre."