Assassins Creed: Liberdade escrita por O Mentor


Capítulo 4
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Fala aí, galera.
Saindo mais um capítulo para vocês, o primeiro que envolve ação. Espero que tenha ficado do agrado de vocês.



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 Afonso não sabia, mas sua vida certamente mudaria para sempre a partir daquele dia. Sempre que desejou uma vida agitada e animada, nunca imaginou que poderia consegui-la apenas com seus 16 anos. E não achava possível que fosse daquele jeito. Enquanto escoltava sua mãe, segurando uma adaga curta na mão direita e a caixa recebida de seu pai debaixo de seu braço esquerdo, estava completamente confuso. Sabia que algo estava errado. O estado em que sua mãe se encontrava indicava isso. Mas, quando perguntou sobre isso, a mãe evadiu a resposta:

 - Depois falamos sobre isso. Primeiro, devemos chegar lá vivos!

 Obviamente, Afonso não sabia exatamente onde era "lá". Mas apenas a seguiu pelas ruas de Salvador. Evitaram as mais movimentadas e deram preferência a becos e vielas estreitas. Encontraram alguns ladrões, mas a maioria estava ocupada. E não viam em Afonso e Taíla um alvo que valesse a pena.

 A mãe media cautelosamente o trajeto, como Afonso percebeu enquanto ela citava informações para si mesma: "Por aqui é mais rápido, só que é uma rua mais aberta"; "Se contornarmos o mercado pelo leste, perderemos alguns minutos" ou "Acho que, se continuarmos em frente nesse ritmo, estaremos logo na matede do caminho".

 Pela rota que seguiam, o jovem sabia que estavam tentando sair da área urbana. Haviam apenas dois lugares para onde podiam estar indo: para a área dos engenhos ou para a floresta. Nenhum dos dois parecia o correto.

 Quando estavam próximos a uma rua larga, logo nos limites da cidade, Taíla gritou.

 - São eles! Eles nos seguiram!

 E logo em seguida, quatro homens surgiram de esquinas e pararam, barrando a passagem. Usavam uniformes azuis e brancos, mas com um emblema que os identificavam como soldados pessoais de alguém. Também portavam alguns mosquetes ameaçadores.

 - Afonso de Magalhães! Temos ordens para prendê-lo! - um deles gritou, aquele que usava o distintivo de capitão.

 - E sob quais acusações? - Afonso retrucou, ainda confuso e temeroso em enfrentá-los. Não tinha experiência em combate armado e sabia que o efeito que sua pequena adaga podia fazer contra aquelas poderosas armas de fogo era mínimo.

 - Traição e rebelião contra o Império Lusitano, sob o comando de Sua Alteza D. João, o Príncipe Regente. Além disso constam roubo e violação de propriedade.

 - O que? Isso não faz sentido! Nunca me rebelei contra o príncipe! Sou apenas um jovem camponês. - disse o jovem, embora tivesse consciência que ainda poderiam prendê-lo pelos dois últimos motivos.

 - Renda-se agora, criança, ou seremos obrigados a utiliar a violência. - o capitão continuou inabalável. Seus colegas apontaram os mosquetes e estavam apenas esperando um sinal. Um sinal que traria morte.

 Afonso tinha pouco tempo para pensar. Sua mãe tremia em seus braços, paralisada pelo medo. Era estranho, pois ela sempre havia sido uma mulher corajosa. Nunca temera ninguém, muito menos soldados do governo. Isso certamente significava que algo estava errado.

 - Estou avisando! - continuou o capitão - Largue essa adaga e essa caixa e se renda. Tem três segundos ou te cravo de balas!

 Afonso examinou ao redor. Estudou todas as possibilidades, os prós e os contras, enquanto lentamente o seu inimigo contava até três. Formulou uma tática no último segundo, a ponto de ouvir claramente o capitão gritar:

 - ... Três! Tempo esgotado. Fogo!

 E no instante em que os mosquetes rugiram, Afonso empurrou sua mãe para trás de uma carroça de madeira que havia no beco e se jogou no vão de uma porta. Os tiros não atingiram ninguém e enquanto os soldados começavam o lento processo de recarregar, o jovem avançou. Tinha alguma experiência em lutas de rua e conseguiu atingir dois socos no queixo de um deles antes que este pudesse sequer entender o que estava acontecendo. Caiu no chão, seguido de seu companheiro que levou um chute dolorido na barriga e uma cotovelada no rosto. Sangue esguichou quando o homem mordeu a própria língua. 

 - Bastardo! Como ousa... Matem o filho de uma puta! Não deixem nada! - gritou o capitão, sacando um sabre da bainha. Os outros dois avançaram com as baionetas dos mosquetes, tentando perfurar o adversário. Mas Afonso foi rápido. Desviou-se do primeiro e acertou-lhe um soco na face. Desarmou-o e usou o cabo do mosquete para atingir a lateral de sua cabeça, atordoando-o e dando-lhe tempo para acertar-lhe uma joelhada no estômago. Em seguida, virou bem a tempo de defender um golpe da baioneta do mosquete do segundo homem. Fez as duas armas se chocarem e deslizarem uma sob a outra, o que deu a espaço para Afonso atingi-lo com uma série rápida de socos e pontapés em várias partes do corpo. Por fim, quando o homem ajoelhou-se de dor, o jovem meteu-lhe um forte chute no rosto. Ouviu um som de ossos se quebrando sob sua bota de couro e logo em seguida, o soldado desmaiou. 

 - Falta apenas você. - provocou para o capitão, embora ainda estivesse amedrontado. Com o canto do olho, viu que sua mãe já estava de pé e assistia a tudo horrorizada. Se ele ao menos conseguisse dar um sinal para que ela fugisse.

 - De fato! - respondeu o inimigo - Não sei como conseguiu derrotar tantos soldados treinados de uma vez, usando apenas seus punhos. Deve ser sorte de principiante. Ou talvez você tenha herdado algo de seu pai além desses olhos verdes. Mas, por mim você não vai passar, fedelho. Eu o farei em pedaços e o levarei para... - Antes que pudesse terminar a frase, foi atingido na face esquerda por dois socos rápidos e logo em seguida, sofreu um chute alto no estômago. Quase vacilou, mas investiu com o sabre contra o rival. Abriu um talho no braço esquerdo de Afonso, mas isso o fez baixar a guarda o suficiente para levar mais alguns golpes do punho direito do adversário. Foi atingido novamente no joelho esquerdo por um chute. Mas o jovem também recuou. O seu ferimento sangrava e começava a doer. 

 Nenhum dos dois falou nada nos segundos seguintes, cada um apenas examinando os movimentos do outro. Será que atacaria? O primeiro a perder a paciência foi o capitão, que tentou uma estocada. Afonso pulou para trás e levantou o pé, chutando a lâmina. O sabre foi jogado pelos ares antes de cair há alguns metros dali, retinindo sobre a calçada de pedras. 

 - Agora estamos ambos desarmados. - observou Afonso, desferindo dois socos de direita, que foram facilmente bloqueados.

 - Nada que me impeça de te vencer, desgraçado. Vou ter sua cabeça decorando minha sala de estar. - tentou alguns socos, que foram aparados, mas atingiu um chute certeiro na perna direita de Afonso, vazendo-o cambalear. Aproveitou a deixa para avançar e começar uma série longa de golpes, com os punhos e os pés. O jovem caiu no chão, sangrando seriamente. O capitão, já certo da vitória, aguardou um pouco para dar o golpe final. Um erro que lhe custou caro. Assim que levantou o punho para socar o rival, sentiu uma dor repentina e aterrorizante em seu peito. Quando olhou para baixo, viu a ponta de seu próprio sabre aparecendo ali, que fora enfiado em suas costas e atravessou toda a caixa torácica. Tentou, em vão, segurar o sangue com os dedos, mas era tarde demais. Após um grito de agonia, seu corpo caiu no chão, criando uma poça de sangue nas pedras da calçada.

 Atrás dele estava Taíla de Magalhães, que havia se esgueirado sorrateiramente durante a luta para apanhar o sabre e salvar o seu filho que, admirado, começava a se levantar.

 - Obrigado, mamãe. Nunca sabia que a senhora matava.

 - E eu não mato. Atualmente. Mas tive que fazer muito isso antigamente, principalmente pelo seu pai. - quando viu a pergunta aparecendo nos lábios de Afonso, continuou - Mas isso deveremos falar mais tarde. Por sorte, eles enviaram apenas cinco. Devem ter achado que nos renderíamos assim que os vissemos. Vamos continuar andando. Precisamos chegar no Esconderijo antes que enviem mais guardas.

 Novamente esse Esconderijo, pensou Afonso, enquanto continuavam andando. Seu pai o mencionara na carta que lera alguns minutos antes, em sua casa. Ele lera que Taíla deveria levar o filho para esse Esconderijo e que ela sabia o caminho. Mas como a mãe ficara sabendo disso, se nem lera a carta? Era algo que teriam que conversar depois.

 Continuaram caminhando por alguns minutos, sem nenhum outro imprevisto. Por sorte, não foram para a área dos engenhos. Seguiam para a floresta. As vielas de pedra logo deram espaço a uma rua larga de terra, que seguia por entre algumas árvores. 

 - Estamos perto! É melhor irmos rápido. - disse Taíla. Eles apressaram o passo. Em pouco tempo Afonso já podia ver ao longe, entre as árvores, uma estrutura semelhante a um quartel, com um edifício principal e paliçadas de madeira o cercando. Imaginava que aquele era o tal Esconderijo.

 Mas não o alcançaram a tempo. Outro grupo de soldados emergiu das árvores, barrando a passagem a frente deles. Apareceram outros pelos lados e pelas costas, cercando-os completamente. Não havia escapatória e havia cerca de vinte homens. Todos tinha o mesmo uniforme e carregavam o mesmo tipo de mosquete com baioneta daqueles que encontraram um pouco antes, no beco. Sem rodeios ou ameaças, todos apontaram as armas e com um único comando, atiraram. Sem tempo para pensar, Afonso se agarrou a mãe e se jogaram no chão. Alguns tiros se perderam no ar, enquanto outros atingiram alguns dos próprios soldados. Um deles, mais sortudo, pegou o jovem de raspão na perna. 

 Os homens não recarregaram. Talvez encorajados pela vantagem numérica, avançaram todos com as baionetas apontadas. Dificilmente Afonso conseguiu desviar de todas elas, saindo juntamente com sua mãe do círculo de soldados. Mas ainda não tinha espaço para fugir. Teria que enfrentá-los, pelo menos por algum tempo, até conseguir pensar em alguma coisa. Deixou sua mãe de fora da luta e atacou com a adaga. 

 Entrou em um estado frenético de luta, esfaqueando, desviando, esquivando, bloqueando. Não havia matado ninguém ainda, apenas causado alguns ferimentos medianos. Um deles, que levou um corte na perna, recuou e tentou recarregar seu mosquete. Foi interrompido quando Afonso segurou outro soldado e o arremessou na direção dele, fazendo ambos caírem em uma espécie de boliche humano.

 Outro deles avançou com a baioneta mirando com perfeição o estômago do garoto. Mas este foi mais rápido e, com uma esquiva perfeita para a lateral, socou o lado direito do rosto do homem, fazendo-o cair, nocauteado. 

 Os próximos cinco minutos de luta continuaram assim, sem uma vitória definitiva nem para o garoto e nem para os soldados. Afonso não pensava muito nisso enquanto estava dominado pela adrenalina da batalha, mas, se o perguntassem depois de alguns anos (e certamente o fizeram), ele não saberia responder como conseguira lutar sozinho contra tantos homens melhor equipados e treinados. Diria que foi sorte ou instinto. Mas, na verdade, ele suspeitava que fosse algo mais antigo. Talvez algo que estivesse impresso nele. Como uma herança.

 No entanto, quando meia dúzia de soldados já estavam caídos, nocauteados ou aleijados, algo deu errado para Afonso. Enquanto levantava a adaga para fincá-la no ombro de um inimigo, este levantou seu pé e chutou o abdomen do jovem, fazendo-o se contorcer de dor e largar a sua lâmina, que foi chutada logo em seguida pelo soldado. Desarmado. Agora não havia chance alguma para Afonso, que já estava cansado e ferido, das duas batalhas que tivera no dia. Não conseguiria aguentar muito tempo, de qualquer maneira. O soldado o olhou, com um sorriso no rosto e preparou-se para o golpe final. Mas...

 Um som alto e imponente de uma arma de fogo ecoou em meio às árvores da floresta. Quando o soldado olhou para baixo, havia um buraco em seu peito e o sangue jorrava. 

 - Mas que feitiço do diabo...? - conseguiu praguejar antes de cair e morrer. Afonso estava atônito. Observou com espanto enquanto mais mosquetes eram disparados e mais soldados caíam, horrorizados. De repente, um pequeno grupo de cerca de meia dúzia de homens encapuzados apareceu por entre as árvores, todos portanto um sabre, um mosquete e uma lâmina curta. Mataram imediatamente os soldados, com uma velocidade e eficiência que assustaram e impressionaram Afonso. Ou eles eram criaturas do demônio, ou tinham recebido um treinamento perfeito. 

 Quando todos os inimigos haviam sido neutralizados, os encapuzados abaixaram-se sobre seus corpos e entoaram em uníssomo:

 - Descanse em paz.

 E em seguida se levantaram, assumindo posição de sentido. Da floresta à esquerda de Afonso, outra figura estranha surgiu. Também usava capuz, mas diferentemente dos outros, que vestiam uma espécie de manto ou capa, este estava apenas com uma calça curta de seda e sem camisa. Tinha um corpo musculoso e definido. A pele era morena. Seus cabelos eram longos, lisos e negros, presos em tranças enfeitadas com penas coloridas. Afonso concluiu que era um indígena.

 - Boa tarde, Afonso de Magalhães! - ele disse, sorrindo, enquanto alguns de seus homens foram verificar se Taíla estava bem.

 - Como sabe meu nome? - o jovem indagou, cauteloso. 

 - Sabíamos que viria nessa semana. Recebemos a carta de seu pai ontem. 

 - Conheceu o meu pai? 

 - Se eu conheci o seu pai? - o índio estava olhando para ele, mas Afonso percebeu que seu pensamento estava distante - Ele foi meu melhor amigo e professor. Eu devo minha vida a ele. Mas isso é coisa para falarmos em outra hora. Precisamos levar você e sua mãe para a segurança. Não sabemos quantos mais homens foram enviados atrás de vocês.

 Afonso relutou em seguir o desconhecido, mas ele tinha dois bons motivos para obedecer. O primeiro era que aqueles encapuzados haviam provado que sabiam matar e não relutavam em fazê-lo. Ele sabia que em uma luta contra eles, não tinha a menor chance. E o segundo motivo tinha a ver com seu pai. Ele nunca demonstrara, mas... Sempre tivera o desejo de saber mais sobre seu pai. Queria saber quem era Miguel de Magalhães. E se aquele indígena sabia de alguma coisa, ele queria descobrir o que era.

 - Ah, e a propósito. - o desconhecido falou de repente, estendendo sua mão - Eu sou Cauã. 


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Notas finais do capítulo

E então? Ficou bom? Se gostaram, mandem um review, falando o que pode ser melhorado e o que pode ser mantido na narração e na escrita. Se estão gostando da história de Afonso, dos personagens, etc. Ajuda muito mesmo.
Muito obrigado por lerem e espero que continuem acompanhando.
Até mais!
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