O Livro De Merlin escrita por Yuri Nascimento


Capítulo 12
A verdade por trás da rosa - Parte II




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Os dias transcorriam agradáveis naquele outono. Uma chuva caia vez ou outra durante a noite, tímida e fria com o vento, mas logo passava quando a manhã chegava, exibindo um sol esplendoroso que pincelava seus raios luminosos como pequenas lanternas entre as nuvens através do orvalho da manhã. Os desjejuns eram colossais, com mesas quilométricas, muita conversa e risos, frutas e pratos para todos os gostos. Almoçavam geralmente em horários mais flexíveis, sempre regados a muito vinho e carne suculenta. Os jantares eram igualmente luxuosos, com dúzias de serventes e pratos exóticos, conversas animadas, toalhas ricamente bordadas, bailes e boa música. Os dias encerravam-se cedo, e as noites iluminadas e cheias de cristais eram o momento mais esperado do dia, onde todos confraternizavam e se conheciam, atualizando uns aos outros das aventuras do dia, gabando-se do tiro impossível que foi acertado ou gozando da queda que se levou do cavalo. As senhoras, conversando sobre luxo e histórias que dificilmente teriam a chance de conversar entre si em outras ocasiões. Os lordes, as mesmas conversas de glórias e feitos que se deixam escapar quando o vinho já vai alto.


A despeito da noite em que Dorian não conseguia fazer sentido de nada ao seu redor, a manhã veio trazendo olhos inchados e uma leve recordação do que quer que o levara a ruir em lágrimas na noite anterior. Seja lá o que fosse ele já não lembrava, o raciocínio se perdera em algum lugar em sua cama, e ele simplesmente sorriu do quão tolo era, sua mente recaindo em Lana antes mesmo que pudesse esticar os braços para o teto como sempre fazia.

Levantou com a autoestima nas nuvens e foi cavalgar cedo, mas as jovens Frattermoon não apareceram no campo como combinaram no dia anterior. O príncipe ficou abatido de novo, mas logo tratou de vestir uma máscara solene e real que esperavam encontrar no seu rosto, passando o almoço e a tarde com os lordes e seu pai, banhado por uma torrente de elogios e bajulação mal disfarçada. À tarde, conheceu finalmente Geórgia Dremment, filha de Ricard Dremment, um dos governantes das províncias do sul. Ela era levemente simpática, mais do que ele imaginara, e tinha algo de realeza no seu jeito de agir, como se já fosse uma rainha. Na mesma ocasião em que conheceu Geórgia encontrou também Hellen, que se aproximou dele como não era aconselhável a uma dama fazer, mas deixou um sorriso de orelha a orelha no rapaz. Falou que Lana estava indisposta essa manhã, por isso não puderam comparecer ao compromisso, mas adorariam vê-lo cavalgar no dia seguinte, caso Lana sentisse melhor. Pediu desculpas melosamente, e Dorian desejou melhoras à jovem Frattermoon, segredando que adoraria conversar mais sobre sua cidade natal, fingindo uma curiosidade que não existia. Hellen se afastou com um sorriso mal camuflado no rosto travesso, os olhos espertos fixos no príncipe enquanto ele era mais informalmente apresentado a todas as damas das famílias que compunham a corte.

Com o passar dos dias, Dorian foi se sentindo mais a vontade com todo aquele clima de conhecimento e festividade que rondava o castelo, saindo mais e conhecendo mais dos convidados de seu pai. Conheceu alguns fidalgotes que, apesar de mais velhos, não arriscavam sequer uma palavra errada ao príncipe, mas Dorian sabia, em outras ocasiões teriam agido como completos arrogantes pretenciosos que eram.

Algumas vezes encontrava a recatada Geórgia, que apesar das poucas palavras ainda arriscava alguns olhares através da mesa e seus sons. Lana, por outro lado, mostrava-se uma verdadeira muralha a escalar. Só depois de cinco dias com a ajuda massiva de Hellen e Goreth foi que ele conseguiu engajar um diálogo mais longo que o tempo que uma lebre levava cruzando o campo, e a garota parecia negar a atenção que ele silenciosamente exigia dos seus olhos. Falaram a princípio do lugar de onde ela vinha, seus afazeres e sua escola – Dorian não tinha aulas como os jovens normais, apenas aulas particulares com professores meticulosamente selecionados, por isso estava interessado –, depois sobre o que ela gostava de fazer, e em pouco tempo estavam falando de situações engraçadas de suas infâncias e sorrindo deliciosamente nos momentos que se tornaram o ápice do dia dos dois, sempre no início da manhã durante as cavalgadas pelo campo de treinamento.

Embora passasse despercebida pelos dois, a aproximação inconscientemente alimentada e a necessidade de se encontrarem todos os dias não foi negligenciada pela loira Frattermoon. Dorian e Lana passaram a ser alvo das brincadeiras maldosas de Hellen, que quase matava de vergonha a prima mais nova e já se sentia tão a vontade que não via problema algum em corar as bochechas reais do belo príncipe de vez em quando. Goreth estava sempre as acompanhando, e não demorou até que mais dois dos fidalgotes exibidos se juntassem ao grupo. Era o mais próximo de amigos que o príncipe jamais estivera, e começava a adorar isso.

Ninguém incomodava Dorian pela manhã inteira, pois os horários de acordar variavam a maioria dos dias – com o café sendo servido mais cedo para os homens que sempre praticavam alguma atividade juntos e algumas mulheres que tinham por hábito levantar cedinho –. O campo de treinamento era só dele o turno todo, e raramente alguém passava por lá depois do desjejum. A companhia das Frattermon e os dois rapazes passara a fazer parte da rotina de Dorian, e em pouco tempo os encontros não se resumiam ao verdoso campo. Passavam o dia juntos, desbravavam juntos, conversavam e riam alto juntos. Visitavam a biblioteca, os rios, os bosques, as velhas pontes de madeira com musgo na base, os arcos de pedra, e de repente aquela fraternidade virou assunto de mesa um dia qualquer, fazendo nascer uma marca de contida raiva no rosto de alguns Dremment, incluindo a jovem Geórgia.

Tudo ia maravilhosamente bem, e aquela estação começava a marcar as melhores memórias que Dorian tinha da sua vida inteira até então – melhor que todas as aventuras que já tivera escondido dos olhos do mundo e que só Guandarg sabia. O velho era o maior confidente do garoto, e todas as noites depois de supervisionar os feitiços que Dorian ministrava em si mesmo, Guandarg ouvia atenciosamente as duas ou três horas de discurso que o pupilo tecia sobre o quão linda, encantadora, prendada, cheirosa ou polida a garotinha Frattermoon era. Apesar de saber dos perigos de tais pensamentos, o velho não o repreendia de maneira alguma, e até compartilhava suas próprias experiências passadas, narrativas nas quais o príncipe sempre caia em sono profundo, sendo então coberto com seu cobertor de tecido fino pelas mãos do cuidadoso feiticeiro.

Numa certa manhã qualquer, depois de uma noite preenchida com um sonho nada pudico, Dorian acordou constrangido com seus próprios pensamentos, mas decidido a fazer alguma coisa sobre eles. Sou um príncipe, não vou desperdiçar minha vida inteira pelo que as pessoas esperam de mim. Se tiver de desperdiçar, ao menos aproveitarei o máximo dos dias que tenho. Tomou um banho mais demorado que o normal, sentado na grande banheira de madeira com a água escaldante transformando o pequeno compartimento numa verdadeira sauna, o ar impregnado com o cheiro das ervas e pétalas no seu banho. Deixou-se repousar pelo que pareceram horas, alimentando sua própria coragem na tentativa de convencer a si mesmo de que estava agindo certo e reforçando seus motivos para dar um passo a frente na amizade com Lana, sem o menor medo de que aquilo estivesse escalando rápido demais. Não queria prudência, não queria pensar, só queria que aquele mês fosse inesquecível como nunca mais teria igual.

Só depois, caminhando na mesma alameda onde dias antes encontrara as garotas pela primeira vez, ocorreu que talvez Lana não correspondesse à sua investida, ou pior, repudiasse-o perante todos os que vieram passar a temporada. A ideia atingiu-o como um projétil atirado na velocidade da luz. Mudou de ideia sobre o que faria cerca de quatro vezes até encontrar o pequeno grupo, e quando chegou estava completamente perdido em suas resoluções. Estavam todos sentados sob a sombra de uma grande árvore centenária perto do campo, em bancos de madeira feitos para três pessoas. Lana estava sentada entre Goreth e Hellen, estando essa última com os braços juntos apoiados sobre os joelhos também juntos, realçando o decote do seu vestido. A frente das garotas, três outros filhos dos senhores subordinados do rei conversavam, todos sorrisos e histórias delirantes. Dorian aproximou-se um pouco tímido, sem saber ao certo como reagir.

– Bom dia, majestade! – adiantou-se um deles, um rapaz corpulento de cabelos loiros rebeldes e dentes perfeitamente alinhados. – sentimos falta de vê-lo cavalgar hoje cedo. Está sentindo-se bem?

– Sim, eu... acordei muito tarde hoje, a conversa ontem foi boa. – e trocou um rápido olhar com Lana. As outras duas também olhavam para ele, e, percebendo a troca de olhares dos dois, abafaram sorrisinhos.

– Oh, sim! Mas aquela conversa do senhor Florian sobre como as estrelas do norte deixam a magia mais forte estava terrivelmente entediante! – falou outro que tinha os cabelos escuros e curtos, um rosto quadrado e olhos maléficos. Os outros riram com ele.

– Foi uma pena que precisamos nos recolher tão cedo – emendou Hellen – mas que bom que a conversa foi chata. Geralmente nos divertimos muito conversando antes de dormir, não perdemos nada então – falou enquanto acotovelava uma Lana que já estava corando outra vez, e Goreth cobrindo o rosto com um lenço. Os rapazes sorriam maldosamente das insinuações de Hellen.

– E o que vocês conversam antes de dormir? – perguntou o loiro.

– Lana, por favor, explique para o senhor Elmond sobre o que conversávamos na noite passada.

O rosto de Lana agora assumia uma tonalidade parecida com uma manga rosa, e os rapazes de olhares maliciosos estavam todos vidrados nela, o que deixou Dorian com um rubor silencioso e uma sensação de queimor no estômago. Estava em pé e rígido como um poste desde que chegara, e não notou o quanto isso parecia estranho. Lana falou qualquer coisa que fez os rapazes gargalharem, mas um fiozinho de ciúme sem explicação não o deixou ouvir. Quando a situação adquiriu um ar levemente constrangedor, Hellen mais uma vez interveio:

– Majestade?

Dorian parecia ter acordado de um transe. Piscou repetidas vezes ao encarar Hellen como se ela tivesse dito algo inacreditável.

– Está... tudo bem? – ela perguntou do seu jeito desenvolto de ser.

– Sim – Dorian respondeu automaticamente, sua voz saindo mais alto do que pretendia – Eu... desculpem, preciso ir.

Ele se virou e deu dois passos, virando outra vez em direção a Lana.

– Lana, preciso conversar com você mais tarde. – tinha as pupilas tão pequenas e os olhos tão vidrados como se uma lanterna estivesse acesa diante deles.

Ninguém entendeu o que acabara de acontecer, apenas silenciaram até que o príncipe estivesse longe o suficiente para permitir a enxurrada de comentários a respeito do que ele poderia ter a tratar com Lana.

...

A essas alturas, a notícia da animada aproximação entre o príncipe e os outros jovens de sua faixa etária chegaram aos ouvidos do rei. Em primeira instância, ele não criou caso, mas também não negligenciou o fato. Apenas alertou Guandarg que cuidasse para que o príncipe não se metesse em problemas. Alguns dias depois, entretanto, boatos sobre uma amizade mais fina entre Dorian e as meninas Frattermoon começaram a circular pelos cantos mais obscuros do castelo, causando desconforto nos Dremment, pois eles e o rei tinham projetos para concluir este outono concernindo o futuro das duas famílias. Crivus Van Der Claus estava com a cabeça inclinada lendo um pergaminho à luz de longas velas perfumadas em sua escrivaninha. Já era tarde da noite, e um guarda armado entrou com sua espada tilintando na bainha para anunciar o feiticeiro Guandarg. O rei apenas meneou com a cabeça sem sequer encarar o seu servo. Pegou pela alça da xícara de prata para dar um gole pensativo de seu chá quente enquanto continuava lendo, completamente largado sobre a poltrona acolchoada.

Guandarg entrou na sala, silencioso como um dente de leão flutuando pelo ar. Ficou em pé próximo a um das duas cadeiras de frente para o rei, com as mãos apreensivas sobre o encosto para as costas. Vestia uma túnica violeta com calças e uma camisa de manga longa marrom por baixo, e na cintura um coldre com um livro que cabia na palma da mão. Demorou um pouco para que o rei levantasse os olhos da sua leitura e se desse conta de que o velho o esperava pacientemente há algum tempo. Pediu que ele sentasse com um aceno de mão, enrolando outra vez o pergaminho e enfiando em um canto escuro da gaveta. Passou os dedos longos pelo trajeto que era seu cavanhaque bem aparado, assentando os fios fora do lugar – pelas costas do rei, dizia-se que ele tinha mais cuidado com aquela barba rasa do que com os próprios filhos – e encarou o velho com seus olhos que não se decidiam sobre que cor eram, se violetas ou azuis. As velas sobre a mesa projetavam uma sombra gigantesca na prateleira atrás de Crivus, uma forma disforme e assustadora que balançava ferozmente às vezes, e depois amansava para chacoalhar outra vez.

– Guandarg, acredito que você tenha ciência dos planos que tenho e da importância deles para o futuro de Dorian. Me preocupa muito essa aproximação dele com as jovens Frattermoon, além de incomodar e dar pouco crédito às minhas palavras perante os Dremment. O príncipe conversou algo com você a esse respeito?

– Sim, majestade, mas nada com o que se preocupar. Conversamos sobre os lugares por onde eles andam, e eles andam muito! Mas estão sempre acompanhados de outros jovens da idade deles. Conversam sobre assuntos triviais, contam piadas e coisas do gênero. Não creio existir motivo para se preocupar com algo mais. É claro, seria de grande benefício que a jovem Dremment passasse a integrar os encontros, mas ela me parece um tanto reservada.

– Concordo. Apesar disso, temo pelo que pode se passar na cabeça de meu filho. Ele é muito jovem, tudo é muito novo e bonito nessa idade. Quero evitar decepções para ele e para mim mesmo. Qualquer evento que possa de alguma forma interferir no futuro do reino deve ser mantido distante de Dorian. Seria terrível se ele... De alguma forma se decepcionasse com as ilusórias expectativas criadas acerca de qualquer uma das Frattermoon. – Falou o rei, logo depois levando a xícara de chá à boca.

– Entendo perfeitamente, majestade. Espera que eu alerte o príncipe a respeito disso?

– Claro que não, Guandarg. Não somos crianças ingênuas que vamos diretamente conversar com nossos filhos na flor da idade imaginando que tudo ficará bem. Dorian não deve sequer saber que suas andanças chegaram aos meus ouvidos, embora eu imagino que ele saiba que suas aventurazinhas estão dando o que falar nas mesas! Quando eu quiser repreende-lo farei eu mesmo. Preciso apenas que você tome cuidado e me informe de qualquer evolução nesse caso, vou pensar em alguma forma de ocupar melhor o tempo dele e criar chances para a pequena Geórgia.

– Sim, majestade.

– Ele já aprendeu a fazer o próprio escudo?

– Sim, majestade. Ainda estou supervisionando seus feitiços porque o príncipe ainda não se sente completamente seguro, mas ele mesmo executa os feitiços de proteção dos quais um rei precisa. Poucas foram as vezes que eu precisei intervir.

– Ótimo. Isso é tudo, Guandarg. Peça que um dos guardas mande mais chá, o meu acabou.

E assim Guandarg deixou o rei sozinho outra vez, absorto em seus pensamentos e problemas reais.

...

O grupo tinha se separado depois de uma brincadeira que acabou atrapalhada por uma garoa fria e ininterrupta. Estavam no bosque de folhas vermelhas quando se perderam. Goreth, Hellen e o loiro de cabelos rebeldes foram pra um lado. O de olhar maléfico e o outro rapaz se perderam morro abaixo. Lana se perdeu de todos na fuga veloz da chuva, mas foi logo encontrada por Dorian – que na verdade estava à espreita há algum tempo. Seguiram de mãos dadas por uma trilha entre as árvores quase fechada pelos ramos que se esparramavam até a altura dos olhos no caminho, e o chão era um tapete de folhas velhas, troncos traiçoeiros, terra fértil e centenas de insetos, fungos e tudo mais. Depois de andarem por alguns minutos fazendo brincadeiras sobre nunca mais voltarem pra casa, finalmente chegaram a uma estrada estreita com dois sulcos onde as rodas das carruagens passavam, e o mato um pouco alto crescendo entre a marca deixada pelas rodas. As botas de Dorian começavam a afundar e deslizar na lama escorregadia da estrada, e o vestido de Lana estava bastante sujo agora.

A chuva ficava cada vez mais forte, e o céu começava a escurecer, deixando os dois preocupados. Seguiram ao longo do caminho, cercados por árvores de troncos grossos revestido de líquen até onde os olhos alcançavam, e em certo ponto decidiram parar debaixo de um arco de pedra que cruzava um rio, pois o caminho adiante começara a ficar nebuloso demais. Desceram pelas pedras na beirada da estrada até a margem do rio, chegando à apertada faixa de terra abaixo da ponte. Era escuro lá embaixo, mas ao menos estavam protegidos da chuva até que ela passasse – e esperavam que passasse logo. Apesar da companhia, a situação deixava Dorian com certo medo, pois começava a achar que realmente não saberia o caminho de volta.

Lamentaram a situação e se perguntaram sobre os outros. Lana ainda arriscou um ou dois gritos por Goreth e Hellen, mas logo desistiu – alguém fora elas duas poderia escutar. Dorian sentou-se sobre um banquinho de madeira quebrado que por alguma razão estava colocado ali, e acabou tombando sonoramente sobre a madeira apodrecida que ruiu sob seu peso. Lana deu uma gargalhada gostosa da queda do príncipe – como raramente fazia –, mas ele batera com a cabeça contra alguma coisa de madeira que se escondia por trás da cortina de plantas úmidas e de aspecto nada agradável que caiam como fios de cabelo pela parede interior do arco. Os dois se aproximaram para averiguar, e ao cortar a vegetação com adaga que trazia na cintura, Dorian encontrou uma porta que tinha, no mínimo, uns duzentos anos. A madeira embaixo já estava cheia de buracos verticais, alguns grandes o suficiente pra deixar passar um rato. A parte superior da porta era arredondada, e uma janelinha circular dividida em quatro quadrantes de cores diferentes jazia estampada nela.

– Vamos entrar, sim ou com certeza?

Lana ficou olhando no fundo dos olhos violeta de Dorian sem dizer muito – estava curiosa, mas não queria admitir que tinha medo de entrar naquele aposento escuro. E se tivesse alguma bruxa lá dentro? Ou algum animal perigoso esperando para acordar?

– Melhor não, Dorian – respondeu por fim. – E se tiver alguma... Bruxa aí dentro? – falou tapando a boca como faria uma criança. – ou até um monstro do lago esperando pra ter seu encanto quebrado. Acho melhor sairmos daqui, e rápido.

– Ah, vamos! E toda aquela história sobre a bravura dos Frattermoon? Hellen vai ficar desapontadíssima se souber que você envergonhou a família desse jeito.

– Não acredito que você acreditou em todas as histórias de Hellen mais do que acreditou em mim.

– Deveria acreditar mais em você?

Lana acenou vigorosamente com a cabeça prendendo o sorriso, com seus cabelos lisos saltitantes enquanto repetia o gesto para cima e para baixo.

– Estou com frio – falou.

– Vamos entrar, vai estar mais quente lá dentro.

Dorian enfiou a adaga pela fechadura, mas deu algum trabalho até que finalmente conseguisse arrombar a porta. Quando abriu, uma baforada quente engolfou os dois curiosos. Não havia nenhuma luz no ambiente senão pela fraca luz indireta que entrava pela porta. Eles olharam um para o outro em dúvida, e Dorian deu o primeiro passo para dentro. Alguns segundos depois seus olhos já tinham se acostumado ao escuro. Venha, falou para Lana, é seguro. Lá dentro, o cheiro era um bocado desagradável, como se algo podre tivesse sido guardado por muito tempo. Lana tropeçou em alguma coisa ao entrar, derrubando um objeto metálico que bateu em outro objeto de madeira fazendo um crack, seguido do som do que pareceram panelas caindo de prateleiras.

– Tente não derrubar a terra sobre nossas cabeças, pequena Frattermoon.

– Você é muito engraçado, majestade.

– É sempre um prazer entretê-la. Já pedi pra vocês não me chamarem de majestade quando estivermos só nós, mas parece que não adianta muito. E viu, está mais quente aqui dentro.

– Quente e fedido, você esqueceu-se de acrescentar. Majestade. – adicionou sorrindo, desafiando o príncipe.

– É, acho que a higiene dos Frattermoon não anda muito em dia.

– Dorian! – soltou Lana numa vozinha aguda – Não acredito que você disse isso. Acho que está andando muito com Hellen.

– Está com ciúmes? – provocou Dorian.

Lana não respondeu. Não podiam ver muito além da silhueta escura um do outro. Todo o som que tinham era o rio raso correndo lá fora, a chuva caindo pesada e a suas respirações ofegantes. Dorian podia ouvir claramente também o som do coração de Lana, pulsando violento por trás do vestido, mas o primeiro passo é sempre mais difícil, e a essas alturas ele já estava comprometido demais emocionalmente para encarar tudo naturalmente. Um silêncio se instaurou por alguns segundos.

– Você não respondeu... – instigou o príncipe.

– Foi uma brincadeira, preciso responder?

– Está esquivando da resposta.

– Não estou – Ela forçou um riso para fingir que estava encarando tudo como uma brincadeira.

Nessa hora, Dorian despiu-se de qualquer valor, orgulho e racionalidade, e avançou sobre Lana passando a mão por trás da cintura dela. Ambos fecharam os olhos e se beijaram calorosamente enquanto o príncipe a empurrava mais e mais, derrubando outros objetos e então uma prateleira inteira. Ela deslizou as mãos pelo rosto e cabelo de Dorian, logo depois o empurrou.

– Majestade! O que está... – não conseguiu terminar a frase, apenas segurou o peito sugando todo ar que conseguia como se estivesse às beiras de um ataque asmático. Dorian estava perdido, enfeitiçado, completamente fora de si, e só queria mais daquilo.

– Só me diga que não quis. – falou como um condenado que suplica pela vida, mas a resposta não veio. Ele soltou todo o ar em um sorriso enquanto Lana o encarava atônita com a mão apoiada sobre uma bancada empoeirada. – Eu...

De início, imaginou que o silêncio significava algo bom, mas ele se prolongou por mais tempo do que seria seguro, e Dorian já não conseguia brincar de deduzir o que se passava pela cabeça de Lana. Não conseguiu ver o rubor no rosto dela, ou o arrepio que percorreu seus braços e pernas. Tudo que tinha era o silêncio, e o silêncio não dizia nada muito animador.

– Me desculpe, eu... – ele alisou os cabelos, esperando que ela o interrompesse, que ela dissesse que estava tudo bem e que eles poderiam se beijar de novo, que sentia por ele o mesmo, mas ela não disse. – eu cometi um terrível engano.

Ele saiu do recinto escuro e empoeirado, parando de frente para a chuva que começava a cessar. Lana saiu alguns minutos depois, mas não trocaram sequer uma palavra. Já era quase noite quando finalmente subiram para a estrada, e por sorte alguns serviçais estavam passando com duas carroças abastecidas de peixe, sal e legumes para a cozinha. Pegaram carona e permaneceram em silêncio o caminho inteiro. Dorian ainda olhou uma ou duas vezes para Lana, ela tinha os olhos marejados e o rosto enrubescido, mas o príncipe não tocou mais no assunto. Despediram-se com um “boa noite” tão frio quanto a própria noite, e o jantar não teve muito gosto para nenhum dos dois, o que Hellen prontamente notou.

...

Nos dias que se seguiram, Dorian parecia ter perdido o interesse por passeios em grupo e conversas descompromissadas com os outros. Acordava tarde, tomava a primeira refeição do dia geralmente sozinho e voltava para o quarto, onde ficava estudando feitiçaria de defesa. Guandarg dera ao príncipe um livro novo, bem curto, sobre as andanças de um professor pelos reinos do sul, com feitiços pra lá de intrigantes, e aconselhou fervorosamente que o príncipe o lesse o mais rápido possível. Um pátio fechado atrás da gigante cozinha do castelo servia de esconderijo antes do almoço, onde o príncipe praticava arco-e-flecha em silêncio furiosamente por horas, observado apenas pelas paredes cheias de fuligem. Um incêndio durante a infância de Dorian deixara marcas negras que subiam até os dois metros nas paredes de pedra, conferindo à pequena saleta comprida um aspecto de pós-guerra.

Não se viam há dois dias. Dorian ainda chegou a avistar Hellen algumas vezes, de longe, e ela resumia-se a acenar com a cabeça, acompanhada de Goreth, mas nenhum sinal de Lana.

...

– Você precisa falar com ele, Lana! – inquiriu a prima com os braços abertos de frente para o toucador de três espelhos com cento e vinte graus entre eles enquanto Goreth apertava o espartilho no seu torso.

– Eu não posso! – insistia Lana em resposta, agarrada a um travesseiro tal qual um feto em cima da ampla cama de um dos seiscentos e cinquenta quartos de hóspedes do castelo.

– Por que não? Ele vai te morder? Gritar com você? Mandar pra guilhotina? Ele começou essa história, pra começo de conversa. E, pelo que eu vejo, você está tão enfeitiçada quanto ele!

– Ele é um príncipe!

– E você é uma cabeça-dura filha de um nobre administrador! Nobre! – sublinhou ela.

– Todo mundo sabe que os Van Der Claus têm mais afinidade com os Dremment que com os Frattermoon! – Lana parecia quase infantil deitada na cama – eu acho que seria leviano da minha parte me aproximar do príncipe mesmo sabendo disso, e é impossível que ele prefira a mim.

– Ah, então a questão é a feiórgia? Não foi ela que o príncipe agarrou num quarto escuro debaixo de um arco de pedra. – O simples pensamento fazia Hellen sorrir perversamente, enquanto a prima corava.

– Também não garanto que fui só eu! Hellen, e se ele só quiser se divertir comigo? E se estiver apenas abusando dos privilégios de príncipe pra me usar? Eu não posso...

– Então pare de me encher a mente com essa história. Você pode, só não quer. Eu já disse o que deveria fazer, e o que eu faria. Ai! – Goreth deu um safanão mais abrupto que fez Hellen quase desmaiar sem ar.

– Me ajudaaaa! – insistiu a prima numa vozinha mais infantil do que já estava soando – eu não sei o que fazer. Não se diz não para o futuro rei...

Hellen revirou os olhos nas órbitas – Eu daria um tapa na cara do futuro rei, se ele merecesse. Lana, não tem nada de errado em ter um pouco de diversão na vida, não precisa ser tão inocente assim! Um dia você vai estar entre quatro paredes com um homem nu, já pensou nisso? Nuzinho, com aquela coisa mole balançando pra um lado e para o outro. É bom ir se acostumando com a ideia.

Lana corou até a alma, atirando a almofada contra a prima. Goreth barrou o ataque para não desfazer o penteado que levara meia hora para ficar fixo no topo da cabeça, enquanto a loira sorria maliciosamente.

– Você é um monstro, Hellen Frattermoon!

– Não, eu sou prática. Falando nisso, aquele lindo loiro selvagem me levou pra um passeio ontem e, adivinha só, passamos uma boa hora escondidos atrás da cozinha do castelo fazendo o que você e seu Dorian deveriam ter feito.

– Oh, céus. Você me envergonha, sabia? Não pensa no que vão falar da nossa família se pegam uma Frattermoon de amasso com um fidalgote qualquer atrás da cozinha do castelo?!

– Se ele fosse o príncipe não teria problema, então? – atacou Hellen.

– Você. É. Maléfica.

– E você é tola demais. Fale com Dorian, peça explicações sobre o ataque de sem-vergonhice dele e diga que não quer ficar brincando de beijar o príncipe às escondidas. A menos que você queira... – ela olhou para a prima do canto do olho, aguardando uma reação – Você quer, não quer? – Lana afundou a cabeça no travesseiro e Hellen sorriu do seu jeito malicioso – Você quer! Sua safada. Ah, vamos lá! Vai ficar mentindo pra si mesma?

– Eu não posso, não consigo.

Elas silenciaram por alguns instantes. Goreth tinha terminado com o espartilho e agora preparavam a última camada de todo o aparato que era o vestido.

– Não, prima minha. Eu não tenho vergonha de fazer o que quero quando quero. Tenho vergonha de viver sob as regras de alguém que eu não conheço e que não me conhece, para agradar pessoas que eu não conheço e que, lá no fundo, são tão podres ou mais que eu. Sempre fui cautelosa o suficiente, apesar de tudo. Acho que você deveria viver mais.

Lana ficou encarando o chão por alguns minutos, e então era a vez dela se preparar para a noite.

...

Quando a noite chegou, era dia de conhecer os bailes majestosos do oeste do reino. Era uma dança que começava pomposa, lenta e polida, com liras, flautas e violoncelos, e aos poucos ia acelerando e ficando mais ousada, até que acabava num ápice de corpos velozes girando e entrelaçando-se no salão. Dorian fora instruído também nessa dança. Há poucos meses, começara a ter aulas com uma companhia de dança para saber mais sobre a cultura oeste e de outras áreas de Pedragória, e aprender a ser cordial nas diversas apresentações que aconteceriam na temporada.

Dançou com algumas senhoras e suas filhas, incluindo a própria Geórgia Dremment. Hellen encarava o príncipe discretamente de vez em quando, ao que ele retribuía com uma contida curiosidade, até que tirou-a para dançar. Lana estava sentada na mesa ao lado da prima, mas ela sequer levantou o olhar para encarar o príncipe, deixando-o internamente tempestuoso com sua silenciosa rejeição.

Giraram por alguns instantes, Hellen indo parar nos braços de outros dançarinos, e Dorian executando os passos com outras senhoras que participavam da dança. Trocaram cumprimentos cordiais, perguntaram sobre o que vinham fazendo nos dias recentes, e Hellen finalmente abordou o assunto com a sutileza de um canhão: Lana não quer mais sair, anda cabisbaixa e vocês parecem estar se evitando. Aconteceu alguma coisa?

Dorian engoliu em seco e tomou um pouco de ar, girando para a esquerda e dando a mão a outra dama que se aproximava para executar outro giro. Olhou para Hellen, que fora parar do outro lado do salão com um sorriso provocante no rosto. Percorreram todas as pessoas na dança, e agora ela acelerava quando eles encontraram um ao outro de novo.

– Eu não estou evitando ninguém, ela simplesmente me rejeita em cada atitude dela, e isso me tira o sossego. Não se o que fiz de errado! – Dorian entregou o jogo tão fácil que Hellen achou desinteressante continuar na conversa, mas continuou só pela prima.

– É difícil saber quando o assunto é um príncipe. Ela não o rejeita, só está insegura sobre você. E você?

E se afastaram outra vez dando passos para trás, um de frente para o outro. Dorian começava a ficar irritadiço com toda aquela dança, aproxima e afasta. Queria extrair tudo que Hellen soubesse, e o sorriso provocante dela só incitava ainda mais curiosidade e raiva. Ela parecia estar se divertindo com as pausas. Os violinos ficaram mais frenéticos e irados, os dedos nas mãos dos flautistas pareciam ser dez ao invés de cinco.

– Eu... – tentou quando ela, girando de braços dados com outro par, passou por ele que girava com outra dama. Ela virou a cabeça de modo que seus cachos loiros deixaram um rastro de perfume no rosto de Dorian, já impaciente. Giraram ao contrário, e lá ele estava com Hellen de novo. – Eu quero falar com ela, me expressei mal e ainda não tive a chance de me redimir.

– E como meu príncipe se expressou mal? – estavam com as duas mãos dadas e os braços estendidos, de frente para o outro. Hellen girou sob o braço esquerdo de Dorian ainda de mãos dadas, ficando envolta pelos braços dele e fazendo o coração do príncipe palpitar mais forte contra as suas costas. O que essa garota está tentando!? Dorian encarou Lana do outro lado do salão, e ela parecia triste, mas não olhava os dois. – Eu beijei a sua prima – falou por fim. Hellen esboçou um “oh!” de surpresa fingida, sorrindo logo após. – eu não quero só me divertir com ela, não quis que ela tivesse essa impressão. Eu não estaria dizendo isso para você se minhas intenções fossem falsas. Não quis passar por cima das vontades dela, só quero... conversar com ela.

– O que vossa majestade deseja?

Dorian estava nervoso com o jogo de palavras de Hellen. Quase disse “você” por impulso. Depois de abraça-la, “desejo” era uma palavra cuja resposta era perigosa e não condizia com o que o príncipe realmente queria responder. Engoliu em seco outra vez.

– Ajude-me.

– Quer que eu vá chama-la para dançar em seu nome? – perguntou Hellen sendo sarcástica, e então eles afastaram-se, cavalheiros enfileirados de um lado encarando damas enfileiradas do outro. O cello morreu abruptamente com as flautas e violinos, e Dorian entendeu o recado quando a lira deu seu último arpejo, arrancando aplausos dos presentes.

...

Depois da dança, Lana não foi encontrada em nenhum lugar do salão. Dorian pegou uma fina taça de um vinho doce e percorreu todos os cantos conhecidos até encontra-la sozinha num dos bancos de pedra que davam vista para a larga alameda de entrada do castelo. O banco ficava numa varanda de tamanho descomunal, no top de um pequeno forte. Lá embaixo, árvores de dezenas de metros se estendiam em fileiras na noite escura até lá na frente, seus galhos de folhas longas e estreitas balançando pesadamente no ritmo do vento frio que batia. Aproximou-se sem ser visto, estendendo uma taça para a garota e sentando ao lado dela sem pedir licença. Ela assustou-se quando percebeu alguém sentar ao seu lado, e voltou a abaixar os olhos rapidamente quando viu que era Dorian. Ele ficou com a taça erguida para ela por uns cinco segundos antes que ela finalmente pegasse.

– Vai evitar me olhar pra sempre? – Perguntou levando a taça aos lábios.

– Desculpe. – ela segurava a taça com as duas mãos, sem beber.

– Por que está se desculpando? – E de repente Dorian pensou melhor e decidiu que não queria mesmo saber a resposta, porque, como todo o resto do comportamento de Lana, não deveria fazer muito sentido – Olha, eu não quis ser desrespeitoso com você, eu não quis magoá-la ou... Não fui leviano, eu realmente senti algo. Só externei da forma errada. Talvez devesse ter falado antes. Achei que fosse recíproco, foi um erro meu.

O vento uivava no gramado azul escuro lá embaixo. As árvores eram um borrão negro no horizonte, em contraste com o calor das luzes atrás deles. Sentados de frente para a balaustrada, ficaram em um silêncio constrangedor por algum tempo.

– Sentiu? – finalmente Lana disse alguma coisa, e imediatamente todos os neurônios do rapaz sentado ao lado dela começaram a trabalhar compulsiva e exaustivamente para decifrar as entrelinhas daquela pergunta. Ela ainda tinha os olhos voltados para as mãos segurando firme a taça de vinho.

– Ainda sinto.

Sem saber ao certo se aquela era a resposta esperada, ou ainda se era a melhor resposta ou só a resposta mais idiota, Dorian respondeu baixo como se não quisesse realmente ser ouvido. Lana apertou os olhos e ofegava tanto que sua respiração podia ser ouvida lá dentro, do outro lado do salão. Dorian tocou seu queixo e puxou o rosto dela pra que pudesse encará-la de frente.

– Você não gosta de olhar pra mim? – perguntou, ainda com a mão segurando delicadamente o rosto de Lana.

– Dorian, não podemos – desabou ela, com uma lágrima escorrendo pelo canto do olho – Não podemos.

– Por que não? Não há nada que eu não possa, Lana.

Embora circulasse pela corte, e Lana Frattermoon estava ciente disso, que a ocasião da visita da realeza seria para consolidação dos laços entre as famílias Dremment e Van Der Claus, Dorian desconhecia completamente esse detalhe. Seu pai já conversara antes com o filho, sugerindo sutilmente, mas nunca afirmando nada quanto à sua pretensão por uma nora Dremment. O príncipe nunca fora consultado, seu pai certamente ouviria suas vontades, ele pensava, e por isso decidiu ignorar os sinais escondidos, acreditando somente no que queria.

Dorian deslizou os dedos pelo rosto macio de Lana, enxugando suas lágrimas. Ela estava inacreditavelmente pura ali, olhando para ele tão frágil diante de circunstâncias que ele desconhecia. Um lado de seu rosto era iluminado pelas luzes que saiam das imensas passagens arqueadas que davam acesso ao salão – agora fechadas com portas de vidro por causa do frio lá fora –, seus olhos verdes eram um misto de felicidade e melancolia. Do outro lado do seu rosto, só a luz azulada da lua vinha beijar sua face, e ali a tristeza era mais palpável. Dorian se aproximou outra vez, lentamente, deliberadamente cometendo o mesmo erro que prometera para si mesmo não cometer mais, e outra vez ela se deixou levar. Seus lábios se tocaram, e ele afastou para contemplar dentro dos olhos dela pela primeira vez tão de perto.

– Não há nada que não possamos.

– Isso é muito errado, Dorian.

– Você me faz sentir como um criminoso. – o comportamento de Lana começava a incomodar Dorian – tem algo errado?

– Não, só... – ela não conseguia continuar. Não queria que a racionalidade invadisse a mente dele e atrapalhasse a chance que tinha de estar com quem gostava, mesmo que soasse egoísta e fosse uma felicidade com data marcada para acabar. Ela não queria que ele sequer percebesse a existência de Geórgia.

– Você quer ficar comigo? É só isso que eu preciso saber.

Eles se olharam demoradamente antes que ela respondesse um sim decidido.


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Notas finais do capítulo

Hem... Eu não consegui terminar o arco, então ainda vai ter a parte 3 :/ Sowwie 'bout that. Tô tendo um pequeno bloqueio esses dias, então peço um pouquinho de paciência se eu ficar um tempinho sem postar nada, vou voltar a escrever assim que a inspiração voltar de férias! Ops, acho que vi um review se escondendo aí? Hehehe



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