O Livro De Merlin escrita por Yuri Nascimento


Capítulo 11
A verdade por trás da rosa - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Hello! (Na dúvida entre fazer o briefing do capítulo e escrever algo nonsense, farei os dois :D)

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Dorian Van Der Claus, rei de Pedragória, nem sempre foi um monstro doentio. Houve um tempo em que ele era um bebê amado por todos, depois uma adorável criança, depois um adolescente comum (ou tão comum quanto se pode ser sendo o futuro rei). Essa é a primeira parte da história que vai revelar como ele se tornou o que é e o que pretende.



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– Prometo, sob os olhos do rei e dos demais presentes, diante deste altar onde centenas de almas antes de mim cumpriram sua promessa, com este pacto selado pelo sangue que me confere vida e dons mágicos, que serei fiel, servirei e protegerei até a última gota dele o príncipe Dorian Van Der Claus e os interesses do reino pelo resto de meus dias com honra, dignidade e sabedoria.

– Prometo que o instruirei no caminho da verdade e justiça, abrirei seus olhos, aguçarei seus ouvidos e olfato, afiarei e lustrarei sua espada, instrui-lo-ei sobre seus antepassados e suas respectivas glórias, sobre as relações entre os reinos, sobre os conflitos vencidos e perdidos, sobre a mão de ferro e o braço amigo, sobre as artes mágicas, sobre aliados e inimigos.

– Que minha vida se encerre ao descumprir de minhas palavras, ao duvidar sequer por um instante da minha mente, consciente ou inconscientemente. Que último seja o suspiro no qual eu falhe com minhas obrigações. De hoje em diante por todos os dias de nossas vidas.

O rei, cercado de todos os seus subordinados imediatos que compunham a alta corte e o conselho real, entregou seu pequenino filho enrolado num lençol branco ao homem velho que acabara de fazer o juramento mais importante de sua vida. O velho tinha um manto branco de cetim e uma coroa de flores brancas na cabeça de poucos cabelos grisalhos, espetados. Os olhos castanhos do velho transbordavam amor ao embalar em seus braços o choroso menininho de cabelos pretos como a noite e olhos violeta.

As velas ao redor do altar redondo emitiam uma luz constante. Um filamento de fogo que parecia uma gota de gelo luminescente de tão liso e perfeito que era flutuava sobre a cera se consumindo e enchendo o ar com um perfume que inundava os pulmões quente e reconfortante como um banho de água morna num dia de geada. Todos estavam num salão imenso sem telhado nem paredes, apenas pilares coríntios esculpidos pelo tempo e remendados por trepadeiras de folhas verdes e vermelhas. Fora da arena, um paredão de árvores isolava aquele pequeno templo onde o príncipe tinha seu destino atado ao daquele velho feiticeiro.

Todos ajoelharam sobre as cerâmicas de pedra milenar, apoiando o cotovelo sobre o joelho esquerdo e curvando a cabeça em reverência. Só a voz grave do rei rompeu o silêncio.

– Como fez Merlin num passado distante e muitos magos e feiticeiros depois dele, que a promessa de Guandarg traga ao rei a sabedoria e a força de que um rei precisa, pois um feiticeiro se equipara a um pai na criação de seu futuro rei. Através dessa entrega, o meu filho, o príncipe Dorian Van Der Claus, tem também o seu destino selado a Guandarg Nimorius.

Guandarg levantou-se com o bebê em seus braços e ergueu-o no alto, depois todos se levantaram com ele e saudaram o príncipe.

...

O velho Guandarg andava com seus passinhos apressados cruzando o pátio principal. Tinha na mão esquerda uma sacola de pano meio rasgada com alguns livros dentro, e na mão direita segurava desajeitadamente três pergaminhos gigantescos de mapas muito velhos e amarelados entre os dedos. Ajeitou os óculos fundo de garrafa que caiam sobre o grande nariz com a ponta de um dos mapas, o cenho franzido e os lábios comprimidos característicos do sério feiticeiro.

Sob ovações fervorosas de alguns cavaleiros do pai e uns serviçais mais tímidos que olhavam de longe enquanto realizavam suas tarefas, o pequeno Dorian de apenas sete anos puxava compulsivamente flechas da aljava em suas costas: saca, estica, mira, solta. Saca, estica, mira, solta. Já tinha acertado nove de vinte alvos alinhados em um semicírculo diante de si, distante o suficiente para provar sua boa mira, todas as flechas cravadas na região central.

Não reparou quando o feiticeiro de manto azul cheio de bagagem parou atrás dele, ou quando todas as vozes silenciaram e olharam tensas em sua direção. Continuava sacando, esticando, mirando e soltando. Os cabelos encaracolados soltos acima do ombro, suados e desgrenhados, esvoaçavam periodicamente com o vento da corda de fibra animal que ricocheteava voltando à posição inicial depois de cada flechada.

A falta de incentivo deixou o pequeno nervoso, e as flechas começaram a distanciar do centro do alvo nas últimas seis tentativas. Estava para errar a última, quando Guandarg espremeu os olhos um pouco sussurrando alguma coisa, e a flecha mudou de direção na última hora, atravessando o círculo pintado no centro do prato de madeira.

– Aaahh, Guandarg! – falou fazendo bico e deixando os braços caírem pesadamente na lateral do corpo, mas todos aplaudiram o último tiro mesmo sabendo que fora obra do feiticeiro.

– Hora dos livros. Chega de arco-e-flecha por hoje. – Uma jovem com trajes camponeses de aproximou do príncipe e ele entregou o arco para ela, bem como a aljava já vazia. Outros se adiantaram para os alvos para retirar as flechas e substituir os pratos danificados. Os demais serviçais e cavaleiros voltaram a seus afazeres antes que pudessem ser notados, e Guandarg apontou o caminho com o queixo e a mão cheia de mapas.

Entraram por uma porta velha de madeira no topo de alguns degraus numa torre de grandes pedras retangulares cor de violeta, com ramos de maracujá subindo pelas tubulações de ferro que serpenteavam do fundo da terra até lá em cima. Subiram muitos degraus em espiral no que parecia um túnel sem fim de paredes demarcadas por archotes queimando, sempre subindo. A cada três archotes havia uma porta de madeira. Haviam subido uma altura considerável quando Guardarg pediu que Dorian pegasse a exuberante chave no bolso do seu manto e abrisse a porta. O pequeno girou a chave na fechadura ricamente adornada e abriu a pesada porta. Ele passou primeiro, marchando como um gigante faria, e depois o feiticeiro, fechando a porta atrás de si com o calcanhar da bota preta que vestia, soltando a sacola em cima da vasta mesa no canto da parede. Passou os mapas para Dorian enquanto tirava os livros da bolsa, e o pequeno jogou os pergaminhos em cima da mesa semicircular no centro da sala e deixou-se cair pesadamente na poltrona de veludo vermelho ao lado da janela.

– Queria poder brincar com eles – falou num tom que sugeria tristeza enquanto encarava um grupo de crianças correndo pela viela lá embaixo.

– Você deve entender que estamos construindo um rei aqui, meu pequeno – respondeu Guardarg abrindo um dos três mapas sobre a mesa – e não seja injusto, você se diverte o bastante pelo que andei observando. E pergunte a qualquer um deles, todas essas crianças também gostariam de ser filhos do rei se pudessem. – Ele pegou quatro pesos de ferro na gaveta abaixo da mesa e posicionou de modo a deixar o mapa aberto. – agora venha aqui, sente-se naquela cadeira.

O pequeno príncipe puxou o canto da boca num meio sorriso de aceitação, indo sentar-se no centro do semicírculo que era a mesa.

– Me diga algo interessante sobre Uruk – começou o velho cruzando os braços na frente do peito.

– Tem humanos azuis lá – respondeu Dorian com as bochechas apoiadas nas mãos e os cotovelos em cima da mesa.

– Cotovelos fora da mesa, olhe para mim, coluna ereta, pare de balançar as pernas!

Dorian não imaginava que o feiticeiro se daria conta de que seus pés estavam balançando sob a cadeira. Tratou de se endireitar rapidamente, sentindo-se escrutado.

– Não são humanos, meu príncipe – continuou Guandarg – São Urukens, criaturas distintas. O que mais você pode me dizer sobre os Urukens?

– Eles são antigos, vivem muitos anos. Mais do que nós. São azuis, altos, alguns leem mentes e eles têm livros muito antigos nos castelos subterrâneos. E são todos iguais.

Guandarg riu-se.

– Sim. Antigos, azuis, altos. Eles não leem as mentes dos humanos, isso seria um dom problemático mesmo para os tão entendidos Urukens! Apenas são muito bons em interpretar as reações de nossa raça. E não repita que os Urukens são todos iguais, nunca mais! – O príncipe arregalou os olhos, sobressaltando-se quando Guandarg levantou o indicador num movimento feroz – Isso é extremamente ofensivo para eles, e também para alguns de nós. Eles apenas têm traços que não são perceptíveis aos nossos sentidos.

– É verdade que ninguém nunca visitou um castelo subterrâneo antes? – falou curioso.

– Sim, nenhum humano. Certamente que os Urukens vêm e vão em seus castelos, mas entrar lá é algo que requer essa percepção que nós não temos, esse sexto sentido que difere humanos e Urukens. Mas antes de nos aprofundarmos no estudo desse reino, vamos outra vez ter certeza de que você entende a importância das nossas lições.

Dorian revirou os olhos nas órbitas já sabendo que “revisar a importância das lições” geralmente significava “vou me gabar de ser o feiticeiro protetor do futuro rei”.

– Quem foi Merlin? – Começou ele com uma voz quase musical de satisfação.

– Um velhinho parecido com você, muito chato e estudioso – Guandarg gargalhou, ainda com os braços cruzados de pé em frente à mesa.

– E como Merlin contribuiu para o seu reino?

– Ele inventava coisas e escreveu um livro mágico muito poderoso... – Dorian franzia o nariz e olhava para cima e à esquerda como se não tivesse a mínima noção do que estava falando. Procurava as respostas em sua mente, mais perguntando do que respondendo. – e depois ele deu o livro para o homem mal inventar os dragões que mataram todo mundo.

– Não. Merlin não só inventava coisas. Ele era um gênio, mas sua função primária era guiar e instruir o rei Godric da família Vandertales, como eu sou seu instrutor. E, como os Vandertales eram reais, vocês, Van Der Claus, descendem diretamente deles. Godric era rei de Dragast, um dos cinco reinos que depois se tornaram tantos outros, e Pedragória é o coração do antigo reino. Ele não deu o livro para o “homem mal”. Esse homem chamava-se Miro, enviado do reino Skrum para estudar com Merlin. Miro foi um péssimo pupilo, egoísta e cruel, que trouxe desgraça para todo o mundo conhecido, não só dos humanos. Você vê a importância de ter um instrutor e de ser um bom pupilo?

– Sim, Guandarg. Eu vou ser um bom aluno, eu vou ficar quieto e não balançar as pernas ou apoiar o rosto nas mãos, blá blá blá. – e enfiou o rosto nos braços cruzados em cima da mesa, como se esquecesse imediatamente o que acabara de dizer –Eu acho que ele é só um livro bobo feito os demais.

Guandarg ergueu uma sobrancelha e olhou estupefato para o príncipe.

– Como disse?

– Disse que estou curiosíssimo sobre esse livro! Onde ele está mesmo? – Dorian sorriu nervoso, lembrando que Guandarg tinha carta branca para puni-lo por qualquer rebeldia – da última vez, fizera nascer escamas em todo o braço direito do príncipe por um dia inteiro.

– O livro costumava ser mantido pela família real, e assim foi por algum tempo. Entretanto, durante a reconstrução do mundo, quando nasceram os reinos que existem atualmente, o livro se perdeu. Depois foi encontrado e perdido outra vez, pois não haviam mais muitos que fossem capazes de entende-lo. Hoje seu pai está empenhado em recuperá-lo, e parece estar perto de consegui-lo outra vez, para que você possa governar um reino repleto de maravilhas e conhecimento.

Dorian não parecia verdadeiramente interessado no assunto, mas precisava estudar todas essas coisas. Era parte de ser um rei, seu pai dizia.

– O que esse livro tem de especial? – Perguntou deslizando o indicador vagante sobre o mapa aberto diante de si.

– Feitiços, basicamente. Mas mais que isso, esses feitiços desenvolvem em quem os domina uma nova capacidade para desbravar o lado mais nobre e iluminado do que é ser humano, a compreensão absoluta de si e do mundo. Pode ser até que o livro permita que você enxergue a diferença entre Urukens, ou que possa entrar em seus castelos! – falou empolgado, numa tentativa de despertar o interesse do pequeno.

– Esse livro diz como ser imortal?

Essa pergunta pegou o seu tutor desprevenido. A verdade é que Guandarg realmente não sabia. Não duvidava que Merlin fora alguém fantástico, mas fazia tanto tempo... Era difícil ter certeza de algo que aconteceu há milênios atrás. Talvez a iluminação contida no livro fosse a aceitação pacífica do que é inevitável, ou talvez fosse mesmo o conhecimento necessário para transgredir a barreira do mundo físico e não-físico através de magia. Os Urukens tinham em seus castelos textos antigos, e dizia-se por aí que alguns deles eram cartas do próprio Miro falando das maravilhas que o livro poderia realizar. Pedragória foi um dia o centro de Dragast – reino natal de Merlin –, bem como Uruk foi um dia o centro de Skrum, o reino natal de Miro. Algumas lendas relatavam o feiticeiro de Skrum como um humano de duas caudas, de pele azulada e grandes olhos azuis piscina. Era alto, de dedos longos e unhas escuras, e tinha longos cabelos prateados que iam até a cintura. Dizia-se também que ele encantava as pessoas com a sua voz, mas claro, eram apenas histórias contadas por aí, lendas.

– Sim e não. – respondeu depois de muito pensar a respeito – agora acho que já podemos voltar para Uruk e seus castelos subterrâneos.

...

Vocês não podem nunca ficar juntos. Nunca!

O estonteante rapaz de dezesseis anos cavalgava em círculos velozes pelo vasto gramado, sob os olhares atentos e empolgados da irmã Victoria, que o admirava como se admira uma estrela que não se pode nunca tocar, e da mãe Lassandre, que sorria jovialmente das graças do filho. Ele gracejava para a pequena plateia, todo sorrisos e beijos mandados pelo ar, enquanto o gigante Morgus sorria do canto da bochecha sobre seu imponente castrado marrom, que marchava lentamente para frente e para trás, girando sobre o próprio eixo, massacrando o chão fofo sob suas ferraduras.

Você vai me amar pra sempre?

Um homem de longos cabelos loiros esvoaçantes usando uma coroa singela, mas ainda assim uma coroa de ouro ostentosa suficiente para denunciar quem era, cavalgava furioso com seu manto vermelho de cetim esvoaçando atrás de si, seguido de perto por nove soldados em mantos igualmente vermelhos, elmos e espadas que brilhavam sob a forte luz do sol. As folhas caídas jogavam-se para fora do seu caminho enquanto passava como um raio, sopradas pela melodia acelerada de vinte pares de cascos de ferro contra pedra. Ele olhou de relance para o gramado de altas cercas de madeira à sua esquerda, morro abaixo, e tocou lado direito do peito com o punho fechado, ao que o filho endireitou a coluna sobre seu cavalo para retribuir com um largo sorriso e a mão fechada sobre o coração. Sorriu de volta, mas mal pode ser visto quando foi engolido pela escuridão sob o arco de pedra e as grades enferrujadas que pareciam dentes numa boca muito aberta.

Lana!!

Convidados de seu pai, trinta e cinco famílias nobres viriam passar uma temporada no castelo. As crianças adoravam esse castelo, que era bem menor em comparação com a fortaleza de Eldron, entretanto tinha bem mais atrativos e coisas belas para vislumbrar, a começar pelo imenso bosque vermelho na propriedade, as torres, os rios, as trilhas e tudo mais. O velho Guardarg foi trazido junto, de modo que o futuro rei não deixasse de estudar sobre as coisas do reino e sua história. As nuvens amareladas se escondiam por trás das árvores de folhas vermelhas que faziam um círculo ao redor do gramado de treinamento, e o sol já não se via, quando a mãe e a irmã levantaram para se dirigir ao castelo. Ele cavalgou até elas, já muito suado pelas extravagâncias do dia.

– Vou ficar mais um pouco – anunciou com sua voz suave.

– Tudo bem, mas não se canse muito – respondeu Lassandre dando-lhe a mão – Lembre que amanhã precisaremos acordar cedo para receber os convidados de seu pai. Os Dremment estarão aqui também – e sorriu provocando.

– Não gosto daquela Geórgia Dremment! – disparou a pequena Victoria. – Ela é feia e desagradável.

– Parece que alguém está com ciúmes aqui? – brincou a mãe enquanto pegava a mão da filha – vamos indo. Dorian, não chegue tarde para o jantar.

Dorian cavalgou por mais uma hora sob os olhares atentos de Morgus antes de voltar ao castelo para cear com sua família.

...

Estavam previstas para chegar quatro grandes comitivas por dia, de modo que por nove dias seguidos a família real estaria bastante ocupada recepcionando seus convidados. As primeiras vinham do centro leste do reino por estarem mais próximos do castelo, e logo no primeiro dia a pequena Victoria e seu irmão Dorian ficaram extasiados com as criaturas que traziam os convidados. Ao invés de cavalos convencionais, tigres completamente negros de tamanho descomunal traziam as luxuosas charretes. Tinham o pelo tão escuro e resplandecente que pareciam espelhos, e seus orbes eram completamente brancos, bem como suas grandes garras e presas. Chegaram de manhã cedo, junto com a terceira carruagem no céu. Houve tempo apenas para mostra-lhes a parte principal do castelo e designar mordomos para mostrar-lhes o resto, e a segunda comitiva já mandara um mensageiro avisando que estava para chegar quando o sol estivesse no topo do céu.

O sotaque dos convidados que chegavam à medida que os dias passavam divertia e deixava encantada a pequena princesa Victoria, que constantemente era repreendida prendendo o riso ao menor som que um senhor ou sua senhora emitisse, ou mesmo suas crianças, visto que os que chegavam depois moravam mais distantes do castelo. Todas as noites, nos arredores do quarto real, era possível ouvi-la gargalhando na cama da mãe antes de dormir, as duas imitando as vozes dos submissos de seu pai. Cada dia tinha seu fascínio, mas ao sétimo dia nada seria mais fascinante aos olhos do príncipe Dorian Van Der Claus. Aquela comitiva era a terceira do dia. O príncipe estava sentado ao lado direito de seu pai, depois dele vinha Guandarg e outros senhores. Sua mãe e irmã sentavam do outro lado, mas também próximas ao rei. A grande porta de madeira pintada de vermelho adornada a ouro e rubis no fundo do salão abriu-se lentamente para a entrada da família Frattermoon, saudada ao som de trompetes tocados por soldados ricamente vestidos.

Dorian tinha os olhos atentos, apesar de entediado, quando eles entraram pelo tapete vermelho cruzando o salão, embora fosse difícil enxergar com a intensa luz que vinha lá de fora. Seus batimentos aceleraram instantaneamente quando seus olhos encontraram os daquela delicada criatura segurando as bordas do vestido verde na mesura mais formal que conseguia. Ela imediatamente abaixou o olhar ao notar o príncipe encarando-a, e assim permaneceu enquanto seu pai introduzia toda a sua família e saudava o rei, a família real e os outros senhores. Lana Frattermoon, majestade. Aquelas palavras ecoaram nos ouvidos do príncipe, e fora tudo que ele conseguiu ouvir pelo resto do dia. Na manhã seguinte, o príncipe não compareceu para receber a primeira comitiva do dia, nem no outro.

A pretexto de um mal estar, o príncipe Dorian não pode estar presente na recepção dos convidados, mas nenhum deles reclamou desconforto ou protestou diante disso, afinal era apenas seu primeiro dia no castelo, haveria muito tempo para conhecer o príncipe. Todos prestaram seus sinceros desejos de melhora ao pequeno príncipe Dorian, mas nenhum com tanto fervor quanto os Dremment.

...

Dorian abriu os olhos e se demorou deitado por alguns instantes contemplando a seda acima de sua cama – sempre gostou de camas grandes e cortinas dançando a melodia do vento, por isso seus quartos no castelo e na Fortaleza de Eldron eram muito parecidos. Um cheiro de terra molhada da chuva fina que caiu intermitente na última noite entrava em lufadas de vento pelas janelas abertas. Desde jovem ele cultivara o hábito de dormir com o frio da noite fazendo-lhe companhia e o beijo matinal do vento da manhã. Estendeu o braço para o alto como se tentasse tocar o invisível acima de si, aquela cortina de seda verde abobadando seu ninho. Levantou e vestiu um robe de tecido leve, lavou o rosto e caminhou para olhar o ambiente lá fora antes de qualquer contato direto com o mundo externo. Puxou uma cadeira e sentou perto da janela, ouvindo o canto dos pássaros que entravam e saiam disparados de seu quarto para o ninho que construíram na pequena suinã do aposento.

Fez uma careta de desânimo ao ver o céu ainda nublado, mas o sol tímido parecia querer sair, afinal. Levantou depois de alguns minutos e fui até seu toucador conferir seu lindo rosto. Estava decidido a conversar com Lana pela manhã, mas ainda não decidira como. Sabia que não devia abusar de sua posição de príncipe, embora já tivesse feito muito isso para incontáveis garotas desde que sua apetite e curiosidade haviam nascido. Sorriu para si mesmo achando-se o tolo mais esperto do mundo. Era um príncipe, e agora parecia tão perdido quanto um fazendeiro num conselho de guerra. Por que ela é diferente? Andou até a escrivaninha, puxou alguns papéis de dentro da gaveta e dispôs todos eles ordenadamente.

– Cadê o meu Merlin agora? – dizia enquanto olhava perdido para os papeis.

Como que por mágica, Guandarg bateu à porta. Entre, respondeu o príncipe. O feiticeiro flutuou com seus passinhos ligeiros pelo amplo quarto e parou de frente para a escrivaninha do príncipe.

– Não preciso pedir que se sente, Guandarg!

– Meu príncipe precisa aprender a se comportar como um rei desde cedo. Já lhe disse que se espera de você imponência, espera-se ordem. Sente-se melhor hoje?

– Sim, sinto-me melhor hoje. Sente-se, ó grande e fabuloso velhinho chato Guandarg, meu Merlin!

Guandarg gargalhou como sempre fazia quando Dorian chamava-o de Merlin.

– Já lhe disse tantas vezes quantas são as estrelas de Ronraine, não me chame de Merlin! Oh, se apenas tivesse alguma ideia do quão fabuloso ele era. Parece que não aproveitou muito de todas as lições que tivemos todos esses anos. – Dorian passara-lhe apressadamente o primeiro dos papeis acima da escrivaninha, enquanto com a outra mão puxava da gaveta um frasco muito velho e pequeno com o que pareciam ervas mascadas dentro. Espremeu os olhos para ler melhor o texto já desgastado que havia no rótulo. Pôs de volta e pegou outro frasco.

– Esse aqui! – E passou para Guandarg – acho que estou ficando velho, Guandarg. Preciso de uns óculos desse que você usa.

– Hum! Precisamos cuidar disso qualquer dia, mas é muito cedo para o jovem príncipe ter óculos como os meus. Hoje eu não vou realizar os feitiços, majestade. Você irá.

Dorian olhou para ele paralisado, esperando que o velho feiticeiro confessasse alguma pegadinha.

– Eu?

– Foi o que eu disse – Guandarg estendeu os braços como que para mostrar que não havia mais ninguém com eles no quarto.

– Guandarg, eu não me sinto bem – começou – sinto-me tomado por uma demência, posso acabar me matando.

O velho riu-se deliciosamente. Dorian sorriu com ele, um riso preguiçoso de quem acabara de acordar.

– Mas eu acabei de ouvi você dizer que já está melhor! Dorian, seu pai já não tem mais o feiticeiro que o acompanhou, mas ele é um grande rei. Justo, honesto, visionário, e sabe se proteger com as próprias mãos. Os feitiços de proteção sobre ele expiram bem como os que protegem você, e quem você acha que os conjura outra vez?

Dorian olhou os cantos do quarto digerindo a mensagem.

– Eu me sinto inseguro ainda, Guandarg.

– Então é hora do meu príncipe aprender a ter segurança. Eu vou estar aqui, não vou deixa-lo se machucar. Um rei precisa proteger seus olhos com magia para não ser iludido, precisa ter seus ouvido aguçados e imunes à magia através de magia. Só assim você não será manipulado por aqueles que tem poderes maiores que os seus. Seu pai, além de um grande rei, é também um feiticeiro, Dorian. Não como eu, ou os professores da academia de Árgoria, os professores de Assunção, ou qualquer feiticeiro de ordem mundo afora. Mas nenhum deles pode causar mal ao seu pai, pois ele é protegido e não delega essa proteção a ninguém. Ele aprendeu a construir um escudo ao redor de si, você também precisa aprender.

Guandarg estendeu o braço para que o príncipe relutantemente pegasse de volta o papel com o primeiro dos tantos feitiços de proteção que ele começaria a executar por conta própria a partir de hoje. Correu os olhos pela página, analisando.

– O que é esse “Sinertus Facultiesi”?

– É uma especialização daquele que nós viemos treinando ao longo do último ano, porém com um ingrediente diferente – e apontou na direção do frasco – em breve vou ensiná-lo como preparar os ingredientes, mas você precisa aprender o caminho e as palavras. Sinertus Facultiesi vai ajuda-lo a, mesmo enfeitiçado, não perder a capacidade de raciocinar soluções alternativas quando sua mente estiver nublada. É como não saber que se está enfeitiçado, mas procurar livrar-se do feitiço inconscientemente, uma “rota alternativa”. Deve ser executado todos os dias duas vezes ao dia, assim acordar e antes de dormir.

– Isso é realmente necessário?

– Meu príncipe, em breve vou mostrar-lhe histórias que vão não apenas deixa-lo impressionado e ciente da necessidade dos feitiços, mas também impulsioná-lo a querer aprendê-los o mais rápido possível. Nesse exato momento, eu posso estar enfeitiçando você sem que nem se dê conta.

Dorian não ficou assustado com aquilo como ficava quando era criança, porque sabia que Guandarg nunca o enfeitiçara todas as vezes que ameaçava fazê-lo como agora. Pegou os ingredientes necessários na gaveta e cuidadosamente conjurou todos os feitiços que estava fadado a conjurar para se manter protegido pelo resto de sua vida. Alguns semanalmente, outros mensalmente, ou até a cada cinco anos. Sob as observações cautelosas e paternais do velho feiticeiro, o futuro rei começava a ter sua prudência moldada, mas o golpe derradeiro que definiria toda a sua vida ainda estava por vir. Acabada a bateria de feitiços de proteção, Dorian sentia-se agora extremamente faminto.

– Bom sinal. Você poderia ter dor de cabeça, vomitado o dia todo, criado escamas no próprio braço, mas está com fome!

– Nem brinca. – falou guardando os papeis outra vez na gaveta – Ah, Guandarg. Você teve oportunidade de cear com os convidados, eu suponho.

– Apenas ontem, meu príncipe. Mas você também ceou com alguns antes dessa indisposição, não foi? – falou sublinhando a palavra “indisposição”, pois já imaginava que não era esse o motivo.

– Sim, mas não tive a oportunidade de sentar com os Frattermoon. Me fale mais deles.

Guandarg sorriu discretamente. Sabia muito bem onde essa conversa acabaria.

– Meu príncipe, eles são pessoas agradabilíssimas! O pai é general de algumas províncias no sul, um administrador competentíssimo, como deve saber.

– Entendo. Posso ter muito a aprender com ele, não? – sugeriu – e a sua filha, Lana, ela... estava no jantar também?

– Escute aqui, rapazinho! – disparou Guandarg – eu não quis dizer “vamos direto ao ponto” porque tinha a esperança de que não fosse esse, outra vez, seu interesse! – e agora já espetava o príncipe com o indicador ossudo arrancando gargalhadas – nem pense em se engraçar com a filha de um nobre!

– Claro que não! Mas que mente perversa a sua, velhinho.

– Não se esqueça da conversa que tivemos. Geórgia Dremment, ela também é uma jovem agradabilíssima.

– Não me lembro de ter perguntado nada sobre Geórgia Dremment, mas ela parece enjoada. Espero que meu pai esteja brincando quando diz que ela vai ser minha futura esposa. De qualquer forma obrigado, Merlin. Pode pedir que me tragam o café? Não pretendo sair ainda.

Guandarg abaixou a cabeça soltando todo o ar dos pulmões e caminhou até a porta, deixando o príncipe a sós outra vez.

...

Os homens nobres haviam saído para caçar corsas na mata pessoal que o rei mantinha no castelo, apenas um dos milhões de atrativos disponíveis para a ocasião da visita da corte. As mulheres, junto com a rainha Lassandre e a princesa Victoria, caminhavam pela propriedade em pequenos grupos conversando sobre questões menos diplomáticas, mas igualmente tediosas, e pareciam empolgadas. Revezavam entre chás, cavalgadas, piqueniques, passeios no campo e conversas na imensa biblioteca de cinco andares e tapetes vermelhos com uma variedade de títulos de fazer inveja a qualquer grande biblioteca.

O jovem Van Der Claus não fora caçar com seu pai e os outros, mas isso lhe rendeu uma queixa ríspida do pai logo cedo. Amanhã não haverá desculpas, você vai estar do meu lado. Eles precisam lhe conhecer. Desceu a grande escada atapetada no centro do salão principal vestindo um colete vermelho por cima de duas camisas com botões de ouro vermelho. Tinha calças simples de cor branca e botas de couro fervido marrons, impecavelmente lustradas. Caminhava descompromissadamente pelos imensos salões como se eles lhe fossem novos. Olhava com fingida curiosidade as pinturas de seus antepassados, algumas tão grandes que excediam sua altura. Conferiu a disposição de alguns móveis, cumprimentou alguns servos com um aceno severo de cabeça, tateou algumas plantas decorativas. Estava na verdade procurando alguma coisa.

Talvez não fosse a mesma coisa que procurava, mas alguma coisa o encontrou primeiro: a irmã Victoria vinha correndo do corredor da ala leste do castelo quando esbarrou no irmão com um “ai!” agudo, logo depois o abraçando como se fosse um urso de pelúcia de tamanho real.

– Bom dia, mano!

– Bom dia, linda princesa! – respondeu Dorian abaixando para abraçar forte a irmã, e erguendo-a risonha no ar, girando e girando.

– Não me diga que uma carreata de senhoras pomposas de fala engraçada vêm bem atrás de você.

Victoria sorriu.

– Elas vêm. Estão indo para a varanda esperar os senhores chegarem. A chatilda Dremment também está junto, acho bom você se esconder outra vez.

– Eu não estava me escondendo! – Dorian sorriu com a piada da irmã – Sabe se a senhora Frattermoon está no grupo? Não tive a oportunidade de conhecer bem todas ainda, talvez pudesse passar algum tempo...

– Não está, ela deve ter ficado em algum outro lugar. Dorian, Dorian. Você não sabe que os homens devem ficar com os homens? – falou com propriedade a irmã – Você não sobreviveria a elas, são muito chatas. Além do mais, papai não gostaria de ver você no meio de um monte de velhinhas nobres, elas não poderiam falar do que normalmente falam e eu não poderia aprender as coisas ruins sobre as quais elas conversam.

– Que tipo de coisas? – indagou Dorian curioso.

– Nada que lhe diga respeito! – respondeu Victoria já gargalhando outra vez, como sempre fazia ao conversar com o amado irmão, e agora Dorian já corria em perseguição à irmã pelo corredor tentando extrair mais informações.

Algum tempo depois, os pés do príncipe levaram-no à alameda de acesso ao pátio de treinamento onde sempre treinava com Morgus, o corpulento tratador de cavalos. Andava distraído observando os tijolos amarelos com folhas secas quebrando sob seus pés, pensando em nada específico. O sol já estava forte agora, mas o clima estava ameno por ser outono. A alameda estendia-se por longos metros afrente e abaixo, pois o campo ficava num nível inferior da colina. Árvores projetavam sua sombra ao longo de todo o trajeto, e flores de todas as cores ladeavam o caminho de tijolos. Pássaros azuis de asas pretas brincavam e cantavam enquanto pulavam de árvore em árvore. No fim do caminho, Dorian pode distinguir três formas caminhando lentamente em sua direção, com longos vestidos rodados e sombrinhas nos ombros. Pôs as mãos no bolso do colete vermelho e continuou andando, agora cauteloso sobre sua postura, pois poderia bem ser uma das senhoras nobres que não estavam com sua mãe.

Para sua surpresa, uma delas mostrou ser a própria Lana Frattermoon que ele tanto ansiava por conhecer, acompanhada de uma prima mais velha e uma ama, um pouco mais velha que as duas. Dorian teve alguns segundos de tijolos amarelos para organizar o turbilhão de sensações que era seu corpo e buscar um comportamento condizente com o que ele desejava expressar, mas o frio na barriga levava embora qualquer tentativa de colocar palavras ordenadas em sua boca, não importa quão fortemente ele tentasse.

Quando as três se aproximaram o suficiente para arriscar um cumprimento, ele já tinha aceitado que era melhor continuar andando para evitar vexame, embora uma voz continuasse jogando “e ses” nos seus ouvidos. Apenas acenou com a cabeça olhando nervosamente para as três, porém seus olhos se fixaram por mais tempo no mar de verde que eram os olhos de Lana. Aqueles segundos foram um pedacinho frágil de eternidade, no qual ele não sentia e não via nada senão o verde daquela íris, mas sabia que o coração dela estava tão descompassado por trás do peito pálido sob o vestido quanto o seu próprio. Não olhou, mas sentia que aquele pequeno nariz delicado arfava. Não falou nada, mas sabia que a outra boca, os belos lábios carnudos e rosados, também queria dizer algo. O mundo girou mais devagar por mais uns instantes para que ele vislumbrasse aquele rosto esbanjando beleza, para que o príncipe corresse os olhos pelos cabelos lisos e castanhos que caiam sobre os ombros desnudos de Lana.

Entretanto, a magia durou pouco, e mesmo a vontade real não evitou que, no próximo instante, Dorian estivesse olhando fixamente os tijolos amarelos outra vez com um rosto perplexo, a testa suada, e todas as palavras que sabia esquecidas no fundo de uma memória que ele achava não ter mais. Lana preenchera todo o espaço para o pensamento. A prima não escondeu a confusão, levantando uma sobrancelha para as outras duas que abafavam o risinho depois de terem respondido com um aceno de cabeça e um “meu senhor”. A jovem Frattermoon tinha as maçãs do rosto coradas, o que serviu de motivo para mais fofoca e risinho por parte das outras.

Não contente com o resultado de sua chance desperdiçada, os lados conflitantes da mente de Dorian giraram seu corpo em 180 graus e soltaram um “ei!” que ele não quis dizer. Os olhos estavam vidrados e o coração retumbante, pensou até em correr quando as três viraram ainda tentando se desfazer dos sorrisos que tinham nas faces. Elas olharam o príncipe por alguns instantes, a confusão em seus rostos era palpável.

– Vocês... Provavelmente não fomos – engoliu em seco – apresentados. Sou Dorian... Van Der Claus.

As três soltaram um “Oh!” de espanto e vergonha, pois de fato não reconheceram o príncipe Dorian. Ele se adiantou alguns passos, e elas também deram um passo a frente. A prima mais velha – e mais desinibida – começou:

– Mil perdões, majestade! Não tivemos a oportunidade de... Oh, mil perdões. O salão estava tão claro e tinha tanta gente, que vergonha a nossa.

– Não! – Dorian temia ser mal interpretado – não se preocupe, está tudo bem, eu só... – e olhou outra vez para Lana enquanto se esforçava para não perder as palavras, mas ela outra vez desviara os olhos dos seus – só quis dizer que aproveitem bem o castelo, espero que esteja sendo uma estadia agradável.

– Sim, é lindo aqui. – respondeu a prima já sorrindo.

– Quais os seus nomes? – tão logo fez a pergunta se arrependeu – seria melhor ter descoberto de outro jeito, não rudemente denunciando que não decorara os nomes das três. Que belo príncipe eu estou me saindo!

– Hellen Frattermoon, sobrinha do Lorde Frattermoon – e Hellen fez uma mesura segurando a lateral da grande saia do vestido, gesto seguido pela prima e sua ama quando foram anunciadas pelos nomes de Lana Frattermoon e Goreth Darmon.

Hellen tinha um rosto travesso, os olhos fundos cor de mel e os cabelos loiros cacheados até o meio das costas. Tinha o corpo bem torneado, um pouco mais rechonchudo que o da maioria das mulheres, mas havia algo que tornava-a levemente mais atraente que as demais. Seu nariz tinha algo estranho, meio torto, mas isso não prejudicava sua beleza de todo. Sua voz era amigável, e sua iniciativa de certa forma fez com que o príncipe se sentisse mais a vontade, mas Lana continuava tímida. Goreth tinha o cabelo arredondado na altura do pescoço, castanhos como os de Lana, e os olhos negros. Era visivelmente mais madura que as duas, e igualmente amigável.

– Bem, eu estou... Indo no campo de treinamento, então se quiserem aparecer qualquer hora pra conversar... É bastante solitário aqui – arriscou o príncipe. – isso é, se não tiverem nada de interessante pra fazer... O que é difícil, eu sei – Dorian gaguejou bastante tentando achar as palavras e alisando a nuca como sempre fazia quando estava engajado numa conversa da qual esperava tirar proveito com alguma garota.

O riso vinha fácil para Hellen e Goreth – embora a última nada dissesse. Talvez porque eu sou o príncipe, pensou, mas ele reparou que Lana continuava parecendo não muito interessada nele. Elas agradeceram o convite e prometeram aparecer para vê-lo cavalgar no outro dia, se despedindo com mais um pedido de desculpas e encerrando o curto diálogo que tiraria toda a atenção de Dorian pelo resto do dia e depois. Não conseguia entender por que Lana parecia tão desinteressada mesmo quando ele era o príncipe de Pedragória, acostumado a ter sempre tudo o que quer na hora que quer. Dorian não discernia o que se passava na mente dele, se raiva ou tristeza, se desprezo ou necessidade daquela criatura que passou a habitar nos seus pensamentos sem permissão.

Ao deitar para dormir naquela noite as coisas evoluíram como uma tempestade que nasce de um sopro e devasta um reino inteiro, como uma doença que nasce da picada de uma abelha e em questão de horas leva ao túmulo todo um exercito. O príncipe chorou por alguém pela primeira vez em toda sua vida, diante de algo que não compreendia, mas que sentia ser mais vital que o próprio ar, um querer que doía na caixa torácica como um instrumento de tortura, e foi dormir com o gosto de sal na boca, as lágrimas secas pelo vento frio da noite que sempre vinha ninar o príncipe Dorian.



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Notas finais do capítulo

Tá longo, é verdade. ú.ù Mais uma vez eu não consegui por todas as ideias em um capítulo só, mas assim fica até melhor porque dá pra esmiuçar um pouco mais o personagem e deixar a história dele mais cativante/legal :3. Espero que tenha gostado da leitura e reviews são sempre bem vindos!!



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