Hopeless II escrita por Letícia M


Capítulo 41
Chapter 41 - Wrong answer


Notas iniciais do capítulo

eai patota



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Meus olhos rodaram o quarto, fixando-se nas cortinas, que por trás uma luz laranja-amarelada estava estampada, mesmo sendo um pouco camuflada pela cor forte da cortina. Tudo que fizesse Nicole não perceber que finalmente, suas palavras haviam feito efeito para mim, e haviam caído feito uma pedra enorme sobre minha cabeça.

Mas não adiantou. Assim que ela viu minha expressão, meus olhos confusos e tristes, um sorriso largo se abriu em seu rosto. 

-Você realmente não esperava por isso, não é? Sua nova melhor amiga barra talarica, ficar com o pai do seu filho, certo? Realmente, Jessica, você nunca deveria ter dado espaço para nós termos entrado em sua vida! Viu o que isso está lhe custando? Sua melhor amiga, seu melhor amigo, seu namorado... Tantas coisas em tão pouco tempo! 

Ela sorri, aliviada, como se estivesse guardando esta frase por muito tempo. Aos poucos, ela gira a cabeça, observando meu quarto, fixando o olhar em um porta-retrato que ficava em cima da mesa de estudos, que eu praticamente não usava mais. 

Ela se aproxima, com os olhos brilhando a cada passo que dá para perto do porta-retrato, esticando as mãos levemente, como se aquilo fosse uma coisa que ela queria muito e estivesse fora de seu alcance, e finalmente, estava ali. Para quem quisesse ver e tocar, exposto em uma mesa comum.

-Este era seu pai, não é? - ela fecha os olhos, e um novo sorriso irônico se forma. - Perdão, me esqueci completamente. Ele não era seu pai, certo? Seu pai de verdade está bem ali, na casa da frente, te ignorando completamente! 

-Ele era meu pai. Sempre foi, sempre será. Ele não tem nada a ver com as burradas de minha mãe. Ele sempre me amou incondicionalmente, sabendo ou não de tudo isso. E mesmo se soubesse, não faria a menor diferença para ele! 

Tudo escapou tão rapidamente por meus lábios, que não consegui conter uma palavra sequer. Nicole havia encontrado uma ferida aberta, nem um pouco cicatrizada, que ainda doía como se tudo houvesse acontecido ontem. E ela simplesmente resolveu abri-la mais, cutuca-la mais e mais, até que eu implore para que ela pare.

-Sim, faria toda a diferença do mundo. Ele ficaria tão magoado com sua mãe, a tal prostituta, que descontaria tudo em você. Ele te abandonaria sem pensar duas vezes, Jessica. Como você não vê isso?

E então, entendi. Lembrei-me da história que Lisa me contou no elevador, do pai da Nicole. Nicole simplesmente achava que todos os pais são incapazes de amar, como o dela foi. 

Achei a ferida mais profunda e dolorida dela. Achei o jeito de faze-la parar com isso. 

-Você só diz tudo isso, por que nunca vivenciou o amor de pai, não é? Seu pai era um monstro, e você sabe disso. Tanto que é por causa dele que você está aqui. 

Observei-a por alguns segundos. Seus olhos, que normalmente eram castanhos claro, quase da cor do mel, agora estavam pretos, tão fechados que era quase impossível ver a cor dos olhos.

E então, percebo que cometi um erro terrível. Cutuquei a única ferida que nunca deveria ter cutucado. 

Nicole se vira para mim, encarando-me, e percebo o ódio passando por cada centímetro de seu corpo. E então, ela se aproxima de mim, trazendo a cadeira de rodas que Lisa havia deixado ali, puxando-me pelo braço e forçando-me a sentar ali, sem se importar com minha perna que acabara de bater contra o chão. 

Nicole empurra minha cadeira com força para fora do quarto, forçando-me a me agarrar em seu braço. Antes mesmo que eu pudesse ver, estávamos descendo as escadas rapidamente, fazendo-me gritar e agarrar mais seu braço. Assim que chegamos no andar de baixo, meus olhos correm por toda a sala, vendo-a completamente bagunçada. Como se alguém tivesse brigado ali. 

-Seus amiguinhos são meio... Teimosos, digamos assim. Mas, calma, logo vocês irão se encontrar e tudo ficará bem.

-

Tudo que eu conseguia ouvir era o barulho dos pneus no asfalto, e a música alta que Nicole insistia em ouvir. 

Meu corpo foi jogado novamente contra o banco, quando Nicole fez uma curva rápido demais. 

-Onde estamos indo?

Ela apenas fez um gesto com a mão, indicando que eu ficasse quieta. 

O carro parou de se movimentar em um movimento brusco, jogando-me contra o banco novamente. Nicole abre a porta do carro, repetindo o que ela havia feito minutos atrás: me puxar pelo braço, jogar-me na cadeira, sem ao menos se importar com minha perna.

-Alô-ou? Minha perna está quebrada, sabia? 

Falei, enquanto ela me empurrava por um jardim morto. A grama que costumava ser verde clara, brilhante, agora estava em um verde-vômito, com folhas secas espalhadas por ali.

Meu coração se apertou e minha garganta se fechou. Nenhum ar entrava em meus pulmões, por mais que eu tentasse. 

Rodei meus olhos novamente pelo jardim morto, somente para confirmar: estávamos em minha antiga casa. 

-P-por que nós estamos aqui? - gaguejei, mesmo já sabendo a resposta.

-Vamos, será divertido. 

Ela abre a porta e me empurra para dentro. O ar gelado chega até mim fazendo com que meu cabelo voe para trás. 

-Faz quanto tempo exatamente que você não vem aqui? Ah, claro, tirando a vez que você veio aqui e bateu em sua própria mãe pensando que ela havia drogado sua irmãzinha.

-Você... Fez isso?

Me lembrei de como fiquei vendo Sarah vomitar. Como fiquei preocupada e não conseguia pensar em nada a não ser que minha mãe havia feito isso. E quando me lembrei de como a deixei, do quanto eu bati nela injustamente, sendo que ela não havia feito nada. 

-O que a Sarah tem a ver com tudo isso? Ela é uma criança! - cuspi as palavras, vendo um pequeno sorriso se formar em seus lábios.

-Na verdade, eu só queria que você se sentisse como eu... sabe? Uma pessoa que você ama, que fica vulnerável, sem você poder ajuda-la. Nunca quis que fosse espancasse sua mãe, oh não, nada disso. Mas você se saiu melhor do que o esperado. - ela soltou uma risada tão forçada, tão falsa que saiu aguda e horripilante - Agora, nós vamos todos juntos acabar com isso de uma vez por todas.

Ela se dirige para a cozinha, que normalmente está clara e, antigamente, tinha o cheiro de comida que eu tanto amava. O cheiro nunca abandonava o comodo, a não ser por agora, que tudo que eu consigo sentir é o cheiro de cigarro, e até mesmo, drogas.

-Que lixo que essa casa ficou, não? - ela me deixou perto da mesa, virando-se de costas para mim e subindo as escadas rapidamente - Fique aí, já volto!

E então, ela desapareceu nas escadas. Por um tempo, se passou pela minha cabeça somente sair dali, pedir ajuda ao hospício mais próximo e leva-la para longe de mim, mas logo me lembrei de Sarah, e até mesmo minha mãe, que poderiam estar aqui. E a última coisa que eu faria, era deixa-las ali.

Fechei os olhos e joguei a cabeça para trás. Respirei fundo e enchi os pulmões de ar. Mas logo após, todo o ar que eu havia puxado se foi. Estavam todos ali, à minha frente, com expressões tão angustiadas, tão sofridas, que tudo que eu queria era voltar ao tempo e poupa-los de tudo isso. 

Mateus está praticamente agarrado a Lisa, enquanto ela segura o choro e se prende mais a ele. Eu provavelmente teria um ataque de ciúmes ali mesmo, se não fosse pelas circunstâncias. 

Sarah esta no colo de minha mãe, encolhida e com o rosto no meio de seu cabelo ressecado, que costumava ter brilho e cor. 

Lucas estava em de um lado, encolhido.

Pamela estava ao lado do Guilherme, com as mãos ligeiramente encostadas uma na outra, e o olhar tão... Calmo. 

Fixei meu olhar em ambos, e sei que é impossível eles estarem tão calmos no meio de tudo isto. 

Eles estavam juntos a noite toda.

Por isso a Nicole ficou tão perturbada assim.

E no fundo, ela me culpa por isso, por que se eu não tivesse sofrido o acidente, Pamela nunca teria voltado. 

Ela me culpa por tudo isso que está acontecendo agora.

-Bem, bem! - Nicole grita no meio da sala, chamando atenção de todos - Vamos acabar logo com isto. Pamela, vem aqui amor. 

Ela estica o braço na direção da Pamela, que segura o braço do Guilherme e se posiciona atrás dele, na intenção de se esconder. 

-Pamela. 

Ela fala, tentando controlar o ódio que eu vejo que está crescendo a cada segundo. Ela estica a mão novamente, dando um passo na direção de Pamela. 

-Eu não mordo... - ela canta, sorrindo e indo para perto da Pamela.

Antes que o Guilherme pudesse se pronunciar, Nicole já pegou a mão de Pamela e a levou para longe dele. 

Eu e a Pamela trocamos os olhares, e tudo que eu conseguia pensar era: me perdoe, por favor, me perdoe. Nunca deveria ter deixado isso acontecer, nunca deveria ter te traído novamente, por favor, eu lhe imploro, me perdoe. Enquanto em seu olhar, tudo que eu conseguia detectar era um pingo de raiva, mas o resto - a maioria - era amor, gentileza, como se ficar longe de mim fosse a pior coisa do mundo para ela, como se tudo aquilo fosse um castigo. 

-Jessica, o que você tem para dizer à Pamela?

Respirei fundo, sabendo que essa seria talvez uma oportunidade única para que ela ouvisse tudo que eu tinha para falar, sem me interromper.

-Para começar, eu sinto muito, muito, muito mesmo. Tudo que lhe fiz passar, tudo que já lhe fiz chorar... Nada foi intencional, sabe? Tudo foi tão rápido, e fora de meu controle. Eu era jovem na época em que tudo começou, e eu estava tão machucada, que não pensei em ninguém a não ser em mim mesma - respirei fundo novamente, tentando engolir o choro que insistia em vir. - E, depois, perder meu pai foi a coisa mais cruel que já aconteceu comigo. E o Guilherme estava lá... Ele era o único que estava lá. Eu... Eu realmente não consegui controlar tudo aquilo, sabe? Mas foi somente um beijo, não significou nada, e, por favor não me entenda mal Gui, mas o único que eu realmente amei a minha vida toda, e sempre vou amar... É o Mateus. Por mais que ele me magoe, o filho que eu to esperando é dele, então para que lutar contra? É óbvio que ele é o único. E quanto aquela noite em que eu praticamente me joguei na cama do Guilherme... Eu agi por impulso. Somente por impulso, tá bem? Nunca significou nada. 

Meu olhar foi direcionado para ela, que se contorcia ao lado da Nicole, querendo se soltar de sua mão que a prendia junto ao corpo. 

-Pamela? Não seja grossa e responda esse textinho ensaiado, que realmente, querida... me deu vontade de vomitar enquanto você falava. 

-Eu te perdoo! Por tudo. Como sempre vou te perdoar, Jessica, por que você é minha melhor amiga, a única pessoa que eu realmente daria a vida. 

Antes que a ela pudesse terminar, Nicole a puxa mais para perto e sussurra em seu ouvido:

-Resposta errada. 


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