Sicária escrita por Probleminhas


Capítulo 4
Epílogo




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Até mesmo o delegado de cabelos dourados fora convocado. Um corpo em perfeitas condições estava estatelado ao chão, exceto por marcas de mãos no pescoço amolgado e a expressão – de puro terror, como se estivesse sendo obrigada a estrangular-se. A língua estava para fora e os cantos da boca entupidos de saliva. Os olhos, arregalados assim como os do loiro ali presente. Por que diabos essa mulher se matara? Não haviam se passado nem um ano depois de sua prisão, já que esse era o prazo em que mais prisioneiros cometiam suicídio.

Bufando de desgosto, o homem abaixou-se, procurando uma carta de suicídio ou algo como um testamento (teria uma prisioneira um testamento?) na cela, espremido entre a dura cama e o chão. Um pedaço de folha picotado residia ali; Agarrou-as e buscou juntá-las, mas só obteve um pequeno desenho surrealista, algo como um rapaz com a cabeça sob os pés, cercado de sorrisos psicóticos.

Não diziam, afinal, que os desenhos eram um desabafo imperceptível? Ele estudou a imagem por um tempo considerável, o cadáver já assumindo um odor detestável. Deveria cuidar primeiro do corpo, tocou-se, alisando os cabelos áureos que escorriam ondulados até as omoplatas. Graças à Deus ele não era um soldado: Odiaria fazer aquele ridículo corte militar.

“Ah, o que estou pensando?”, balançou a cabeça, envergonhado graças aos seus devaneios vaidosos. Ele estava lidando com uma morta ali. Cuidadosamente, pôs um pano sobre seu corpo negro-pálido. Não contratariam um médico para alguém sem parentes e cujo caso já era perdido. O carcereiro da mulher, que assumira a responsabilidade e perdera uma considerável quantidade de seu salário, fez careta enquanto punha o corpo leve sobre a maca de pano. A mulher de cabelos curtos e pretos que acertara Laurel com o porrete segurou um dos lados, erguendo-o com o rosto cheio de desprazer. O vigia do estreito “quartinho” agarrou outro e os dois conduziram-na até um caixão rico de cedro, comprado com o dinheiro que os chorosos pais da garota enviaram. Delicadamente, puseram o corpo no interior almofadado no caixão, infinitamente mais confortável que a dureza da cama do cubículo.

Enquanto os dois levavam-na até o cemitério mais próximo, o louro analisava a imagem. Poderia pelo menos explicar o motivo da morte da jovem se descobrisse o que aqueles rabiscos simbolizavam. Arrancou um fiapo branco solitário de suas madeixas, concentrando-se profundamente no papel.

Os sorrisos em volta possivelmente significavam falsidade – Aquela era uma linguagem infantil e simples. Mas quem era falso? Aqueles ao seu redor ou a própria meretriz? E o que a cabeça sob os pés do acéfalo simbolizariam?

Depois de algumas horas de devaneio, finalmente o moço de vinte e sete concluiu: A cabeça significava perda de controle sob o próprio corpo. Os sorrisos em volta, então, seriam realmente a falsidade; Mais possivelmente, dela mesma: Entre as informações adquiridas, a senhorita Hill não tinha um único amigo, mas costumava falar sozinha.

A causa da perda de controle foi, provavelmente, resultado de uma esquizofrenia ou psicose. Depois contrataria algum psicoanalista para decidir qual doença causara aquilo – E provavelmente obrigara a moça a tirar a própria vida.

Os sorrisos ao seu redor continuavam sendo a dúvida maior. Por que ela era falsa consigo mesma?

A tal moçoila ignorava a presença das vozes? Ou elas zombavam com seus sentidos, “rindo” dela?

Provavelmente os dois, o oficial finalizou. Se Laurel Hill “ouvia” ou “via” coisas que dela zombavam, podia enganar-se, possivelmente achando que, se descobrisse sobre o que escutava, seria morta.

E, por medo de morrer, suicidou-se. Que mulher estúpida. Ainda em meio a seu raciocínio dedutivo, o rapazote supôs que o fato de terem apreendido-a poderia ter contribuído para sua morte.

Aquela mulher era realmente louca, definitivamente. Deixando de lado os desenhos, o homem passou a procurar nas gavetas da pequena escrivaninha espremida entre a cama e a pia. Cansado, retirou-se e deixou à uma equipe especializada todo o resto.

Três semanas depois, uma carta foi enviada. Alguns detetives e analistas tinham suas suposições; Apenas a levaram até o delegado para confirmar suas suspeitas.

“ Desculpem-me, mas me nego a abdicar minha liberdade. E as vozes... e as vozes... elas juraram atormentar minha vida e causarem-me pesadelos para sempre, até ficarem suficientemente fortes para saírem do meu corpo e vagar – Matando e atormentando outros para se fortificarem cada vez mais. Elas me falaram. Elas me falaram, elas me mataram. CORRA.”

No final da carta, havia um borrão extenso e uma parte do papel estava rasgada. O delegado teve a impressão de ver um vulto logo atrás dele, observando-o com um sorriso psicótico.


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