Sicária escrita por Probleminhas


Capítulo 3
Esquizofrenia




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Nome: De cartório, Laurel Hill. Um de seus pseudônimos mais usados é Reevee Aya.

Idade: Vinte e três.

Personalidade: Perigosa. Matou 17 em três anos. Nossos médicos a avaliaram e ela possui transtorno de múltiplas personalidades, sendo uma paranoica, assustada e depressiva e outra sendo ambiciosa, vaidosa e sem escrúpulos. Pode possuir alguma outra doença mental, mas ainda não há confirmação.

Pena: Prisão perpétua.

                Estendida sobre o chão de concreto áspero e ficho, eu lia minha ficha básica como prisioneira. Por uma quantia considerável, aquele policial corrupto desgraçado me fornecera algumas informações sobre minha ficha como encarcerada. Claro que, por eu não ser caucasiana, havia sido julgada sem a opção de contratar um advogado. Com a voz tênue, cantarolei uma melodia; O som de meu próprio brado era um clamor áspero demais para meus ouvidos, já acostumados com o silêncio inescrupuloso e cortante de minha apertada cela. Espremi-me em minha cama de madeira, enroscando-me no colchão desgastado.

                Já haviam se passado um mês. Afinal, por que eu tanto queria dinheiro? Apenas para viver melhor? Não, aquilo não valia a pena. Matar e prostituir-me apenas por dinheiro...  Não sou tão palerma assim.

                A torneira pingava e a água exalava um cheiro forte de ferrugem. Eu não levantaria.

                Afinal, aquilo não importava. O fato de eu estar presente ou não, isso não mudaria a rotina terrestre, e era isso que me perturbava.

                Por que eu valia tão pouco? Por que humanos “normais” têm tão pouca importância?

                Por que todos que não tem “importância” estão sozinhos, aprisionados no vácuo, assim como eu?

                Gargalhei, passando os dedos por meus cabelos oleosos. A cicatriz enorme causada devido á pancada da enorme arma de madeira ainda ardia. Quando passei a mão, estava vermelha e ardia; Aquela policial era uma esperta filha da puta.

                Não valia a pena reivindicar meus direitos de ter a própria defesa. Os pós-prisão não tem nenhum valor no mundo e é raro que não maltratem um; Eu seria linchada rapidamente. O mundo está cheio de idiotas mesmo.

                Reprimi um risinho. Queria que meus olhos simplesmente marejassem, queria chorar. Mas tudo que me assolava era a extrema vontade de rir de minha própria (e infeliz) condição.

                Eu não chacinava por dinheiro. Aquilo era apenas uma fina máscara, uma proteção de mim mesma contra minha própria mente. Eu não era psicopata ou sociopata, isso era certo; Matar me afetava, mesmo que pouco.

                Eu assassinava por um motivo maior. Minha vida pairava em torno das mortes que eu causava; Era necessário o assassínio de quantos fosse necessário para que eu sobrevivesse. Nem que apenas por um dia a mais, eu necessitava massacrar. Não porque eu queria ou porque gostava.

                Porque eu era ordenada. Aqueles que me mandavam eram indefinidos; Não sabia quem eram, não sabia nem mesmo que era apenas um soldado para eles.

                E, para não morrer, eu seguia suas ordens. Mas é inútil: Para que viver sob a liderança de alguém que eu não conheço? Para que viver sem liberdade? De qualquer forma, me matariam agora que eu me toquei que não era apenas “intuição”.

                Eram ordens. Eram comandos.

                De quem eram aquelas vozes?

                Enfim, meus olhos infestaram-se de lágrimas. Havia quanto tempo que esse polo de minha personalidade não chorava? Cinco anos, talvez? Provavelmente. Sorri torto, feliz pela minha infelicidade – Aquilo apenas comprovava que eu era uma humana com sentimentos, uma humana “normal”. Lambi as lágrimas salgadas que escorreram até minha boca, soluçando como uma criancinha. Ria em meio aos meus inesgotáveis soluços; Era tão triste.

                Alguém me obrigava a fazer tudo o que eu fazia. Eu era apenas uma escrava; Alguém, dentro de meu próprio eu, tentava obter algo “deste lado” do psicológico. O pior, devo dizer. Eu sou a ovelha negra de meu próprio psicológico; Essas malditas vozes deviam ir falar com a certinha do outro lado, ela seguiria seus comandos sem hesitar.

                Com um estalo e o fim das lágrimas, percebi: Deveria eliminar quem me fazia aquilo. E, afinal, quem o fazia?

                Eu mesma.

                Meu próprio cérebro. Uma de suas camadas, talvez reprimida, ou simplesmente engenhosa, mordia e agarrava minha cabeça, mandando-me, ordenando-me. Aquelas vozes, tantas vozes... Era como se todos os maus espíritos da história entrassem em meu corpo.

                Um calafrio se apossou de meu corpo. Gemi, babei e berrei, trêmula. Não faço ideia do porquê, apenas o fiz.  

                Queria tanto ser alguém sadia, para viver minha vida, conseguir meu dinheiro. Mas eu não deixaria barato para mim mesma; O roubo da minha liberdade deveria ser punido, severamente punido.

                Eu já não sei se eu acho isso ou são as vozes. Só sei que ergui as mãos para meu pescoço, apertando minha jugular e espremendo-me, reprimindo os berros. Asfixiada e rolando pelo chão, o meu guarda, que cochilava (em um ato de total irresponsabilidade), levantou em um sobressalto, procurando desesperadamente uma chave em seus bolsos, pronto para abrir minha cela e evitar que eu matasse as vozes.

                Não daria tempo. Adeus.

                Estou tão feliz!


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Notas finais do capítulo

Agora só falta o epílogo.



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