Liliam grunhiu. Na verdade, sua voz se tornou um grito raivoso, ecoando por cada centímetro de onde estávamos fazendo até mesmo ecos. Aquilo fez com que os gêmeos parassem com as armas de água e qualquer coisa que estivessem fazendo.

Era oficial, Liliam havia surtado.

Foi como se o mundo parasse, o silêncio tomou conta de todos nós, exceto pelo grito estridente de Liliam. Ela se voltou a mim e Sam, seus olhos enfurecidos transbordavam ódio. Ela estava preparada para nos atacar.

- Eu vou acabar com a sua vida! – repetiu.

Mas ela fez um movimento estranho, um que ninguém esperava. Colocou suas mãos no cinto de sua calça e de lá, arrancou uma arma. Meu sangue gelou, eu não esperava que ela carregasse uma arma e muito menos que a usaria. Com apenas um movimento com o braço em nossa direção, forçou um tiro certeiro, entretanto, eu e Sam conseguimos desviar.

Ela atirou repetidas vezes, nos deixando apenas com a viatura entre nós e ela. Roman largou Joseph no chão e veio correndo também para trás da viatura antes que alguma coisa pior acontecesse. Jesse se agarrou a ele, puxando-o para trás do carro. Ouvimos os tiros por mais ou menos cinco minutos, apenas nos protegendo ali a espera de que a raiva de Liliam passasse.

Não que eu realmente estivesse esperando isso.

Mas então, os tiros cessaram.

As balas poderiam ter acabado ou ela poderia estar apenas esperando que um de nós saísse de lá de trás e ela aproveitaria para acertar o infeliz. Sam por pouco não se levantou, pois eu o segurei antes disso.

- Não. – sussurrei.

Ele voltou a se sentar ao meu lado, porém ergueu-se alguns centímetros para poder através da janela do carro. Sam franziu o cenho de uma forma confusa enquanto encarava o ponto onde Lilian estava atirando para todos os lados de uma forma mais do que estranha. Instintivamente, pensei que ela poderia ter se matado por conta de sua loucura excessiva, porém, isso era pouco provável. Mas seria mentira se eu dissesse que não queria que isso acontecesse.

 Sam

Levantei meu tronco apenas um pouco, pronto para enfrentar Liliam outra vez, mas Melanie me segurou pelos pulsos, não deixando com que eu me levantasse e possivelmente levasse um tiro. Porém voltei a me erguer, mas para poder ver através da janela da viatura e descobrir o que estava acontecendo daquele lado onde viera os tiros de Lilian.

Juro que fiquei mais que surpreendido com o que vi. A velha estava ajoelhada no chão com a arma pendendo sobre seus dedos tocando a neve branca, seus olhos estavam perdidos em algum ponto cego onde só havia neve. Joseph, mesmo que Roman já o tivesse soltado, ainda permanecia deitado sobre a neve com os olhos focados em sua irmã ajoelhada. Havia um ponto de desespero em seu olhar, porém, também um misto de confusão por não entender o ato dela.

Tomei coragem, e fui até lá escutando as palavras desesperadas de meus amigos puxando-me pelo casaco para baixo, pedindo para que eu ficasse ali e não fosse até a velha ajoelhada na neve.

Se me perguntasse o porquê de eu estar indo até lá, eu não saberia bem como responder. Foi como se algo me dissesse para apenas ir, não discutir, apenas andar até lá como se um super herói aparecesse de repente para me ajudar e matasse Lilian antes que ela pudesse fazer o mesmo comigo..

Sai de trás da viatura ouvindo apenas meus pensamentos, como se pessoas sussurrassem em meus ouvidos – vá até lá, você sabe o que está fazendo – e nada mais. Liliam permaneceu ajoelhada na neve, o cabelo acinzentado caindo-lhe sobre os olhos e a arma pendendo em seus dedos e tocando a neve branca no chão.

Senti meu sangue gelar ao chegar cada vez mais próximo dela. Num movimento estranho, o qual me assustara, ela moveu sua mão em que segurava a arma e a deixou cair no chão como se estivesse se entregando.. Ainda assustado, olhei de rabo de olho para minha esquerda encontrando um corpo de um dos policiais falsos, quem estava desacordado a um bom tempo. Ao lado dele, sua arma estava caída ao chão.

E uma ideia brilhante surgiu em minha mente.

Continuei em passos lentos até onde a arma estava achando que se a pegasse antes que Lilian retomasse sua sanidade eu poderia atirar nela ou pelo menos, ameaça-la para que não atacasse mais ninguém.

Porém, quando eu estava prestes a me abaixar para pegar a arma, um movimento traiçoeiro fez com que acontecesse uma das coisas que eu menos esperava. Lilian, com um movimento rápido e calculado, levantou-se do chão onde estava pegando a arma que jazia a poucos centímetros dela e a apontando em minha direção. Um sorriso traiçoeiro surgiu em seus lábios ao perceber que eu não tinha saída. Estava encurralado.

Fiquei paralisado. Foi como se o mundo parasse por um longo tempo e tudo o que eu conseguia fazer era pensar sobre minha morte. Não havia como negar, eu não conseguiria escapar a tempo de não levar um tiro.

Ela havia conseguido me pegar.

- Que pena, parece que terei que adiar a morte da Srta. Overton. – disse Liliam ameaçadora. – Mas, pelo menos vou matar mais um enxerido.

Encarei a arma em minha frente. O que eu poderia fazer naquela situação? Exatamente, nada. Um som próximo a mim de alguém saindo de uma viatura me chamou a atenção, como se passos rápidos e ligeiros na direção da arma atrás de mim.  Alguém tivera a mesma ideia que eu, mas seria rápido o suficiente para chegar ao local antes que Lilian atirasse.

Em câmera lenta, fechei os olhos ao ouvir o som dos dedos de Liliam apertarem o gatilho. E assim, o som alto de tiro tomou meus ouvidos e meu corpo se preparou para a dor ou qualquer coisa que pudesse me atingir naquele momento. Eu me sentia preparado para a pressão da bala perfurando meu peito assim como fizera com John.

Porém, ao contrário do que pensei, nada aconteceu. Não senti absolutamente nada.

- Errou, Lilian. – ouvi a voz de Melanie ecoar atrás de Liliam parada boquiaberta bem a minha frente. – É você quem morre hoje.