Death Note: Ressurreição escrita por Goldfield
A marola da revolução morre na praia do marasmo
E eu ainda espero a ressurreição
Eu ainda aguardo, aguardo a cada manhã
Pois sem a Justiça, com ela morta
Quem me protegerá nas noites mais frias?
Pois só a Justiça trará meu futuro
Sem que eu me renda às maçãs verdes
A Justiça não me trairá
E eu ainda espero a ressurreição
Porque a Justiça não pode morrer
E é nisso que irei acreditar
Pois ela mais uma vez se fará sentir
Abalará o mundo como nunca abalou
A Justiça ressuscitará
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Capítulo VII
“Ação”
A água quente do chuveiro caía sobre seu corpo nu, escorrendo por suas belas curvas. Com um sabonete em mãos, ensaboava-se tranqüilamente, o banho lhe sendo fonte de imenso relaxamento após um exaustivo dia. Suspirou ao enxaguar o cabelo, sentindo-se mais cansada só de pensar nas instruções que teria de dar a Masuku a seguir. Porém tudo aquilo valia a pena. Seu plano de limpeza mundial avançava de vento em popa, e tinha de cuidar para que continuasse assim.
Girando a válvula da ducha para desligá-la, Justine assoviou o trecho de uma música famosa enquanto estendia um dos braços com o intuito de apanhar a toalha amarela pendurada sobre o box, quando seus olhos miraram algo... que encheu seu íntimo de surpresa e indignação, um repentino rubor tomando de assalto seu rosto. Fora pega totalmente desprevenida por aquela embaraçosa situação.
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De fato, a cabeça do Shinigami era bem visível logo acima da divisória do banheiro, seu olhar ainda fixo em Clare, que se apressou em cobrir o corpo.
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Justine deixou o box envolta pela toalha e respondeu, caminhando até a porta:
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Os dois cruzaram o curto corredor e adentraram o quarto da jovem. Era noite e o senhor François já havia se recolhido há algumas horas. Estavam livres para conversar sem provocarem suspeitas. Mesmo assim a loira fez questão de trancar a fechadura logo após passar, utilizando uma pequena chave da qual apenas ela sabia a existência. Uma precaução a mais nunca era prejudicial.
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O ser alado demonstrou através de sua face não ter apreciado muito o modo como a moça se expressou, mas focou sua atenção nela para ouvir. Justine quase sempre possuía ótimas linhas de raciocínio e seus esquemas de ação eram impecáveis. Sorriu. Encantava-se cada vez mais por ela.
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“Querido”? O Shinigami gostou da aparente forma carinhosa com a qual fora tratado. Rindo por um instante, indagou em seguida:
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Então Clare levantou-se da cama, rumando até o armário do quarto. Abrindo-o, removeu algumas peças de roupa tampando algo, que por fim retirou de seu interior... Uma caixa de sapatos. Abrindo-a, apanhou de dentro dela algo brilhante, Masuku esticando a cabeça para poder descobrir do que se tratava. A jovem logo ergueu o artefato, tornando mais fácil observá-lo: um velho relógio de bolso, dourado e bonito, com uma corrente presa a uma das extremidades. Parecia funcionar perfeitamente, o “tic-tac” movimentando os ponteiros que marcavam o tempo através de algarismos romanos.
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Colocou o objeto sobre a escrivaninha, bem ao lado de onde repousava o Death Note, e retornou para a cama. O Shinigami riu. Será que Justine deixara de pensar em alguma coisa? Certamente que não.
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Clare encarou o caderno.
Minha ação não terá erros.
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O interior do furgão era relativamente confortável e espaçoso, apesar de haver ali doze pessoas. Guiado pelo agente Adams, o veículo seguia por uma vazia estrada asfaltada em meio à floresta temperada do Japão, os pinheiros parecendo saudar os estrangeiros de forma vivaz. Num dado ponto o caminho contornava a margem de um lago. Foi quando os ocupantes puderam admirar uma das mais lindas paisagens de suas vidas.
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A montanha que compunha um dos maiores símbolos do país tinha sua imponente imagem refletida pelas águas. Nem mesmo Matsuda e Hoshi, naturais dali, já haviam parado alguma vez para contemplar o monte em toda a sua grandeza. O pico nevado parecia exigir dos recém-chegados uma austeridade fora do comum, uma firmeza inabalável para as investigações que se iniciariam. Fascinados pelo cenário, sentiram-se mais encorajados, além de incrivelmente bem-vindos. Notando a melhora nos ares, Ernest abriu um sorriso. Estavam quase chegando.
Logo avistaram um conjunto de construções de arquitetura tipicamente nipônica, pequenas, a mais alta delas tendo somente dois andares. O furgão cruzou um portal e foi estacionado por Adams junto a algumas árvores. Ele foi o primeiro a deixá-lo, dando a volta pelo lado de fora e então abrindo uma outra porta pela qual saíram aos poucos os demais viajantes. Cansados, porém muito agraciados pelo gostoso ambiente, uma brisa leve e cheirosa os atingindo conforme se espreguiçavam e examinavam os arredores. O lugar parecia algum tipo de estância ou coisa similar, isolado quase por completo da civilização e talvez ideal para se trabalhar na solução de um caso tão desgastante como o de Kira.
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Eles o acompanharam até um dos pavilhões, passos curiosos. O soturno homem do FBI deteve-se diante da entrada, fitando o interior. Logo os voluntários notaram nele uma senhora de cabelos brancos presos num coque, trajando quimono florido. Seu semblante era sereno e sábio, devia viver já há um bom tempo ali. Coube a Ernest fazer as apresentações:
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Logo depois Adams disse à mulher algo em japonês enquanto indicava os policiais, provavelmente informando quem eram e o que vinham fazer ali. Ela sorriu acenando de forma positiva com a cabeça, em seguida fazendo um sinal para que entrassem. O casal proveniente dos Estados Unidos, Dennegan e Krammer, adiantou-se e já foi pisando o assoalho do lugar com seus sapatos, ao que a idosa arregalou os olhos e começou a berrar uma série de frases em seu dialeto natural, provavelmente xingamentos. Os outros estrangeiros se assustaram, recuando perante a cena.
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Assim o fizeram, inclusive Ernest, que entrou em seguida, e o resto do grupo. Vários deles também haviam se esquecido do costume japonês; talvez levasse algum tempo até se acostumarem. Isso dependeria do quanto permaneceriam ali, e talvez não fosse pouco. Afinal lidavam com Kira.
Calçando meias, avançaram por um corredor até uma porta em seu término. Atravessaram-na, ganhando uma sala um tanto ampla, porém sem móveis, objetos ou decoração. Possuía apenas um notebook ligado, no chão, e alguém sentado diante dele. Os recém-chegados estranharam logo de cara os cabelos brancos do indivíduo que, mesmo sem ter ainda se revelado totalmente, não parecia velho. Ele os enrolava com uma das mãos, uma aparente mania. Vestia roupas brancas e tinha os pés descalços. Sua estatura e aspecto lembravam uma pessoa de pouca idade, quase uma criança... Poderia ser aquilo algum tipo de brincadeira? Era aquele mesmo o maior detetive do mundo?
Assim que todos adentraram o recinto, a misteriosa figura pôs-se de pé e voltou-se na direção deles. Seu rosto e olhar apenas confirmaram a sensação de estranheza assumida pela equipe. E foi com uma voz jovial e madura, um tanto baixa, que se apresentou:
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Death Note – Como usar:
14 – O instrumento para se escrever pode ser qualquer coisa (cosméticos, sangue, etc), contanto que possa ser escrito diretamente no caderno e com letra legível.
15 – Nem mesmo os proprietários originais do Death Note, deuses da morte, sabem muito a respeito do caderno.
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Matsuda recordou-se de quando ele e seus antigos colegas da Agência Nacional de Polícia conheceram pessoalmente o primeiro “L”, tendo ficado perplexos da mesma forma que agora os novos aliados do detetive se encontravam. Era difícil imaginar que alguém tão jovem já houvesse alcançado sucesso em inúmeros e difíceis casos, porém o capitão tinha certeza de que muito em breve Near daria a eles provas incontestáveis de sua competência.
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Num primeiro momento os presentes estranharam o pedido, já que não havia cadeiras, almofadas, tapetes ou qualquer coisa do tipo para que se acomodassem, entretanto logo concluíram que deveriam justamente se posicionar no chão, perto do investigador de cabelos prateados. Ainda enrolando-os e tendo os policiais à sua frente como se estivessem reunidos ao redor de uma mesa imaginária, o agente Adams na extremidade oposta à sua, “L” retomou a palavra:
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Movendo lentamente a cabeça para poder fitar cada um dos voluntários nos olhos, Near prosseguiu:
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Um tanto temerosos devido à mensagem, os integrantes do grupo assentiram com gestos. No fundo já sabiam que Kira devia mesmo fazer uso de algum meio sobrenatural para conseguir matar suas vítimas, portanto o abalo que sentiram não foi tão grande quanto poderia ter sido a uma pessoa de fora.
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Matsuda foi invadido mais uma vez pela incômoda sensação provocada pelo fato de terem sido seus os disparos que causaram a morte de Raito Yagami, irmão de sua esposa. Ao mesmo tempo, todos os policiais não-nipônicos na sala olharam de soslaio para o capitão e Hoshi, especulando se os dois não sabiam de mais detalhes que talvez o detetive não revelasse abertamente. Um inconveniente clima de desconfiança dentro da equipe se esboçava.
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Crendo que já haviam ouvido tal nome em algum lugar, os presentes continuaram atentos às colocações do investigador.
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Os olhares se voltaram para o misterioso homem do FBI, que se levantou do assoalho e retirou algo que trazia embaixo do sobretudo. Era um caderno preto, aparentemente ordinário, contendo uma inscrição em inglês na capa. “Death Note”. Caderno da morte. Entregou-o a Near que, estendendo o artefato diante dos demais, informou:
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Atônitos, comprovaram que, dentro do que “L” dizia, aquilo fazia total sentido. O caderno era o meio de Kira aniquilar criminosos de forma rápida e em grande quantidade, ainda por cima à distância. As palavras seguintes do detetive deram melhor forma a essa conclusão:
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O Death Note falso foi averiguado sem pressa por cada um dos policiais, Matsuda procurando deter-se no exame pelo mesmo período de tempo que seus novos colegas para não deixar suspeitas de que já conhecia – e por sinal muito bem – aquele caderno. Foi somente ao estar nas mãos de Bakerton que este expressou em voz alta o que todos eles já haviam percebido:
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Uma vantagem que no passado eles inicialmente não tinham, pensou Matsuda. Será que isso facilitaria o fechamento do caso? De alguma forma acreditava que não. Muitos imprevistos poderiam ainda surgir, mas tinha uma certeza... Ao final, a justiça prevaleceria.
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Eu nasci novamente. Será que muitas pessoas já tiveram essa dádiva?
Creio que poucas. E é por isso mesmo que jamais irei menosprezar minha vitória.
Recebi a visita de um anjo. Um anjo de asas negras. Isso soa soturno, não?
Não para mim. Esse anjo não poderia ter sido mais esperado. Tê-lo junto a mim, mesmo em sua forma monstruosa, em seu aspecto aterrador, é o maior alívio que meu coração já poderia ter tido.
E agora que agiremos em conjunto para salvar este mundo, preciso de um novo nome, uma alcunha que me desvincule do passado e ao mesmo tempo retrate meu triunfo.
Talvez esse nome seja “R”. “R” de “Ressurreição”.
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Paris. Princípio de manhã.
A luz do sol penetrava no quarto de Justine de modo altivo, os fachos luminosos atravessando o vidro da janela e sendo projetados sobre o chão. A estudante de Direito terminava de arrumar suas coisas para ir até a universidade, colocando parte de seus livros dentro da mochila. Entre eles, sempre discreto, estava o Death Note.
Masuku, por sua vez, encontrava-se sentado na cadeira diante da escrivaninha, tanto o computador quanto o televisor ligados. Este último possuía o áudio num volume que, apesar de um tanto baixo, podia ser ouvido com clareza em qualquer parte do cômodo. Na tela do PC já se encontrava aberto um arquivo de texto, o cursor piscando na folha em branco, aguardando a digitação dos primeiros dados a serem coletados. O trabalho do Shinigami logo começaria, pois as primeiras notícias do dia já eram aos poucos veiculadas.
Terminando de se preparar, Clare enrolou o cachecol em torno do pescoço, caminhou até a porta e, antes de deixar o recinto, trocou um olhar de extrema cumplicidade com o deus da morte. Ela tinha sorte de contar com um importante e aparentemente leal aliado. Ele sorriu enquanto a jovem liberava a tranca com a pequena chave e girava a maçaneta, ganhando o corredor em seguida. Masuku então, num risinho, tornou a focar-se em sua tarefa.
Justine ficaria satisfeita.
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Aguardando a Justiça
Eu quero quebrar com o marasmo deste mundo
Com a inércia das pessoas
Com a preguiça das maçãs verdes
Eu me tornarei luz
O sol da humanidade cega e tola
Eu me tornarei luz
E irei guilhotinar os maus
Eu posso conduzir a Justiça em minhas mãos, eu sei
Eu sei que posso trazer a luz a este mundo
Eu sei que posso amadurecer estas maçãs
Eu sei que posso fazer a ressurreição
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Prévia:
Quê? Isso é... assustador!
Criminosos estão padecendo em massa ao redor do mundo, mas as mortes não possuem qualquer padrão... E nunca vi tamanha brutalidade.
Isso só pode ser trabalho de Kira!
Próximo capítulo: Terror
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