Death Note: Ressurreição escrita por Goldfield


Capítulo 8
Capítulo VIII: Terror




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A marola da revolução morre na praia do marasmo

E eu ainda espero a ressurreição

 

Eu ainda aguardo, aguardo a cada manhã

Pois sem a Justiça, com ela morta

Quem me protegerá nas noites mais frias?

 

Pois só a Justiça trará meu futuro

Sem que eu me renda às maçãs verdes

A Justiça não me trairá

E eu ainda espero a ressurreição

 

Porque a Justiça não pode morrer

E é nisso que irei acreditar

Pois ela mais uma vez se fará sentir

Abalará o mundo como nunca abalou

 

A Justiça ressuscitará

 

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Capítulo VIII

 

“Terror”

 

A tarde findava.

Justine empurrou devagar a porta do sobrado, adentrando mais uma vez o vestíbulo. Retirou o casaco, pendurou-o e já ia se dirigindo ansiosa até as escadas para subir ao quarto, quando se deparou com o avô François, que saía da sala de estar na direção da cozinha.

         Oh, olá, chéri! – ele saudou-a um tanto surpreso.

         Oi, vovô – Clare respondeu evasiva, desejando logo vencer os degraus para dar prosseguimento à sua nova meta de vida. – Como está?

         Bem... Apenas um pouco entediado, e intrigado...

O senhor deu um bocejo e esticou os braços preguiçosamente para trás antes de continuar:

         Diga-me... Por acaso comeu maçãs hoje no café da manhã?

A jovem estranhou a pergunta, seu rosto ganhando um quê de desconfiança. Por qual razão um fato corriqueiro desse tipo deixaria o avô intrigado? Curiosa por descobrir, ela replicou:

         Não, apenas biscoitos junto com um copo de leite. É o que geralmente como antes de ir para a universidade. Por quê?

         É que eu comprei ontem algumas maçãs para fazer uma torta, seria nossa sobremesa do jantar de hoje. Acontece que elas desapareceram como por mágica! Começo a imaginar se alguém teria entrado aqui e as roubado...

         Pode até ser isso mesmo... Paris já não é mais a mesma...

Mais preocupada com os assuntos envolvendo o Death Note, Justine praticamente ignorou o que fora dito por François e começou a subir rumo ao andar de cima, sua mão esquerda tateando o corrimão de madeira com pressa, mas sem deixar de destoar da naturalidade. Era um cuidado para o qual a estudante tinha de estar sempre atenta. Não podia dar a ninguém pistas sobre qualquer mudança em seu cotidiano.

Por fim destrancou a porta do quarto e avançou para seu interior, o computador e a TV ainda estando ligados conforme os deixara quando partira para a Sorbonne. O primeiro aparelho tinha o monitor dominado por uma proteção de tela que retratava uma seqüência de fotos da Torre Eiffel, deixando claro que não era utilizado no momento. Já o segundo estava sintonizado no telejornal daquele horário, o mesmo, por sinal, que dias antes levara Clare a executar Eliah Bantu. Quanto a Masuku, encontrava-se sentado na cadeira de rodinhas de frente para o televisor, sem ter notado ainda a chegada da moça. E, em uma de suas mãos... havia uma vermelha e suculenta maçã, que devorava lentamente com os dentes vorazes, estes deixando profundas marcas em sua polpa amarelada conforme era consumida.

Ao observar tal cena, Justine estacou, como se ligando pontos que até então deixara por completo de considerar. Seu olhar manteve-se fixo no Shinigami e seus braços, oscilando, acabaram por deixar ir ao chão os livros que trazia junto ao peito, fora da mochila. O barulho destes se chocando com o chão atraiu a atenção do deus da morte, que voltou a cabeça para a garota um pouco surpreendido.

         Errr... Oi, Justine!

Maçãs. Malditas maçãs. Além de agora a confusão do avô François a respeito do sumiço dos frutos lhe fazer pleno sentido, ela compreendeu outros estranhos eventos dos quais já havia quase se esquecido. O desaparecimento da maçã do professor Pasquale ao término de sua aula... A briga entre um comerciante e um freguês na rua com a acusação deste último ter roubado a mesma fruta... A alegação a bordo do ônibus, por parte de um pequeno menino, de que um “homem-invisível” lhe surrupiara também o pomo do pecado... Todos estes aparentemente ordinários acontecimentos, que poderiam ser analisados muito bem como coincidências, haviam ocorrido bastante próximos de Justine. Agora não havia dúvidas. Algo ali estava errado e deveria ser esclarecido.

         Masuku... – ela falou em voz baixa e incerta, contendo-se para não demonstrar quaisquer sentimentos indesejados. – Eu não sabia que você comia!

         Ah, sim... – ele riu depois de atacar a maçã com mais uma mordida. – Esta fruta é a única coisa que nós Shinigamis precisamos comer. Não que nós iremos definhar se não fizermos isto, mas é como um vício... Um dos poucos prazeres que temos lá em nosso mundo. E as maçãs daqui são tão mais saborosas... Já estava com saudades delas.

Saudades delas? O que ele poderia estar deixando subentendido com uma afirmação assim? Enfim, esse tópico não era do interesse de Clare naquele momento. Na verdade era outro que ela desejava tirar a limpo.

         As maçãs do meu avô não foram as primeiras que você devorou por aqui, não é?

         Olhe... Se você ficou zangada de eu ter me apropriado das maçãs dele, fique tranqüila, pois ele não viu nada... E prometo que tentarei me conter mais quanto a isso. É que agora você está me pedindo para ficar em casa o dia todo registrando os criminosos e assim acabo impossibilitado de apanhá-las lá fora...

         Isso também, porém não é o que me desagrada... – Justine fechou os punhos e baixou os olhos.

         Então?

         Masuku... O fato de eu ter encontrado o Death Note não foi por acaso, afinal de contas, foi?

O Shinigami parou imediatamente de consumir o fruto, seus olhos avermelhados fitando a jovem com claro assombro. Ela permaneceu firme, decidida a chegar ao fundo daquilo. Seu suposto aliado mentira e isso poderia certamente abalar os elos de confiança que haviam estabelecido. A fisionomia séria da universitária cobrava explicações. E Masuku não teria escolha senão fornecê-las. Mas antes quis saber:

         Por que diz isso?

         Pouco antes de eu descobrir o caderno naquele ponto de ônibus, diversas maçãs desapareceram misteriosamente ao meu redor. No início não dei qualquer importância a isso, porém agora tudo faz sentido. Você estava me seguindo já há algum tempo! Sua gula o denunciou.

         Mas, mas...

         Admita.

O deus da morte suspirou vencido e então falou:

         Certo... Eu admito. A observei sim por vários dias antes de você se apossar do Death Note. E não foi a única pessoa. Acompanhei a rotina de diversas outras antes, durante meses, anos, pelo mundo todo. Foram centenas delas. E sabe a razão? Precisava encontrar o humano perfeito para ter o caderno. Aquele com ideais e determinação propícios a tornarem a Terra um local melhor para se viver, o mal sendo definitivamente banido. E você foi a escolhida, Justine. Por isso permiti que o Death Note caísse bem diante de seus olhos. Foi a única merecedora de tê-lo para cumprir seu propósito. Nosso propósito.

         E por que acha que irei acreditar nessa história?

         Eu não estou colaborando com você, a auxiliando em tudo que me pede? Sente-se aqui diante do computador e verá se fiz ou não o que desejou que eu fizesse!

Ainda com a cara amarrada, a loira caminhou até a cadeira, da qual Masuku se levantou, indo se alojar na cama. Justine ajeitou-se diante do PC e tocou o mouse para remover o protetor de tela. O que viu logo depois propiciou um imenso sorriso de satisfação em seu rosto. Diante dela estava o arquivo de texto criado pelo Shinigami da exata forma que o instruíra, os dados sobre os criminosos organizados com impecável eficiência. E havia cerca de quarenta deles. Um número mais do que perfeito para que ela pudesse começar! Eram provenientes dos cinco continentes, uma gama muito diversa de países. Estupendo.

Rapidamente apanhou a mochila que deixara sobre o chão e retirou dela o Death Note, abrindo-o em cima da escrivaninha entre si e o monitor da máquina. Não se esqueceu também de sua fiel caneta-tinteiro. Ao mesmo tempo em que folheava o caderno até se deter numa página em branco, Clare disse ao ser alado:

         Se realmente me escolheu dentre inúmeros indivíduos para conduzir esta missão, eu lhe prometo, Masuku... que não se decepcionará!

E em seguida, alternando os olhos entre a tela com o arquivo e a folha do artefato mortal, Justine foi escolhendo nomes, selecionando suas vítimas após se deparar com os mais vis delitos... O Shinigami rindo, gargalhando como uma criança que se diverte diante de um espetáculo radiante.

 

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Manhattam, Nova York. EUA.

Uma limusine preta segue veloz por uma das mais movimentadas avenidas da cidade. Em seu interior, além do inexpressivo motorista, que tem um quepe na cabeça, há, nos bancos traseiros, um obeso homem de meia-idade e cabelos brancos vestindo impecável terno preto, uma rosa vermelha presa à lapela. Perto dele vê-se outro sujeito, forte e musculoso, tendo junto à face óculos escuros e um pequeno fone. Certamente segurança do primeiro.

         Mais rápido, Arnold! – o aparente figurão ordena àquele que dirige. – Não quero perder nenhum instante do aniversário da minha sobrinha!

         Estou indo o mais rápido que posso, senhor Bertolucci... – o empregado responde um tanto incomodado.

Logo o veículo pára diante de um cruzamento, o sinal vermelho impedindo-o de prosseguir. O velho fica ainda mais irritado, olhando em volta como se buscasse uma solução para o inconveniente atraso. Até que pede ao motorista, sua voz um pouco mais branda do que o normal:

         Fure o sinal, Arnold. Não há nenhuma viatura da polícia por perto. E mesmo se houvesse, lembre-se de que metade do Departamento recebe meu dinheiro!

         Como o senhor quiser...

Seria mesmo melhor fazer o que o mafioso ordenava, já que, assim como quase todas as demais pessoas que trabalhavam para ele, era-lhe eternamente grato por ter sido tirado da prisão.

O guia pisa no acelerador, adiantando-se em meio aos demais carros que aguardavam atrás da faixa de pedestres a luz verde piscar no semáforo... Somente para a limusine ser colhida em cheio por um caminhão que vinha em alta velocidade pela outra rua, Bertolucci e todos os demais ocupantes morrendo no ato, seus corpos acabando moídos em meio às ferragens enquanto a cabine do outro veículo ainda arrastava a carcaça retorcida por vários metros...

 

All our times have come
(Todas as nossas horas chegaram)
Here but now they're gone
(Aqui mas agora elas se foram)
Seasons don't fear the reaper
(As estações não temem o ceifador)
Nor do the wind, the sun or the rain… we can be like they are
(Nem o vento, o sol ou a chuva… nós podemos ser como eles são)
Come on baby... don't fear the reaper
(Vamos lá baby… não tema o ceifador)
Baby take my hand... don't fear the reaper
(Baby segure minha mão… não tema o ceifador)
We'll be able to fly... don't fear the reaper
(Nós poderemos voar… não tema o ceifador)
Baby I'm your man...
(Baby eu sou seu homem...)

 

La, la, la, la, la
La, la, la, la, la

 

Algum lugar na América do Sul.

Um grande complexo penitenciário. Num dos inúmeros corredores dos incontáveis pavilhões, quase todas as luzes já se encontram apagadas, os detentos repousando em seus sonos mórbidos. Apenas um dos cárceres ainda tem seu interior iluminado por uma lâmpada lúgubre. Apesar da pouca claridade, o prisioneiro Rodolfo Vasquez, líder de um dos maiores cartéis de drogas do mundo, insiste em fazer sua barba diante de um espelho embaçado usando sua fiel navalha, a mesma com a qual já matara tantos homens. Não pode evitar sorrir. Dentro de poucos dias será solto devido à falta de provas para incriminá-lo. Teria de estar apresentável às mulheres.

Era incrível como o sistema conseguia beneficiá-lo a tal ponto.

Enquanto isso, um vigia armado cruza tranqüilamente o mesmo corredor. Aquela noite estava mais calma do que de costume, os presos haviam se recolhido mais cedo. Assovia uma música famosa no país quando de repente ouve algo. Um som gutural, engasgado. Logo percebe que provém da cela ainda acesa. Vasquez!

Ele corre até ela, e logo tem uma sinistra e perturbadora visão através das grades: de joelhos sobre o solo, o criminoso tenta desesperadamente estancar um sangramento em sua garganta com as mãos já ensopadas de vermelho, tudo ao redor sendo também tingido devido ao líquido que jorrava. Aos pés da pequena pia, a navalha do bandido igualmente rubra, jogada. Ele havia conseguido cortar a principal artéria do pescoço ao fazer a barba!

         Alguém chame um médico! – berra o guarda, mesmo sabendo que era inútil tentar salvar a vida do meliante.

 

Valentine is done
(O Dia dos Namorados terminou)
Here but now they're gone
(Aqui mas agora eles se foram)
Romeo and Juliet
(Romeu e Julieta)
Are together in eternity... Romeo and Juliet
(Estão juntos na eternidade… Romeu e Julieta)
40,000 men and women everyday... Like Romeo and Juliet
(40,000 homens e mulheres todos os dias… Como Romeu e Julieta)
40,000 men and women everyday... Redefine happiness
(40,000 homens e mulheres todos os dias… Redefina felicidade)
Another 40,000 coming everyday... We can be like they are
(Outros 40,000 vindo todos os dias… Nós podemos ser como eles são)
Come on baby... don't fear the reaper
(Vamos lá baby… não tema o ceifador)
Baby take my hand... don't fear the reaper
(Baby segure minha mão… não tema o ceifador)
We'll be able to fly... don't fear the reaper
(Nós poderemos voar… não tema o ceifador)
Baby I'm your man...
(Baby eu sou seu homem...)

 

La, la, la, la, la
La, la, la, la, la

 

Londres, Inglaterra.

Havia grande aglomeração de pessoas diante do tribunal. Escoltado por um grupo de policiais, o réu absolvido, acusado de ter matado a esposa e a filha bebê com requintes de crueldade, descia pela escadaria do prédio rumo à liberdade. Os repórteres tentavam se aproximar com seus microfones, câmeras e gravadores, enquanto os populares em volta, contidos pelos guardas, xingavam e ameaçavam o criminoso. Este somente sorria, lívido e tranqüilo. Não precisaria pagar por nada que houvesse feito.

O grupo que protegia o agora livre assassino ganhou uma calçada, dirigindo-se até um furgão que estava estacionado um tanto longe. Um dos policiais se perguntou quem havia cometido tal deslize que ameaçava a segurança do réu, obrigando-o a andar mais. Um número maior de pessoas se juntou, algumas com pedaços de pau e até facas, tentando fazer justiça com as próprias mãos. No ímpeto de contê-las, os oficiais tiveram de ampliar o cordão de defesa ao redor do meliante, abrindo involuntariamente um espaço ao seu redor...

E foi com olhos incrédulos que ele, olhando para cima, viu uma inofensiva pomba pousar sobre uma marquise acima de sua cabeça, a estrutura bastante rachada... O suficiente para que ela toda entrasse em colapso, despencando bem em cima do criminoso, esmagando-o como se não passasse de um boneco de papel. Ninguém mais saiu ferido, apesar do espanto geral.

 

Love of two is one
(O amor de dois é um)
Here but now they're gone
(Aqui mas agora eles se foram)
Came the last night of sadness
(Veio a última noite de tristeza)
And it was clear she couldn't go on
(E estava claro que ela não poderia continuar)
Then the door was open and the wind appeared
(Então a porta estava aberta e o vento surgiu)
The candles blew then disappeared
(Os candelabros se apagaram e desapareceram)
The curtains flew then he appeared... saying don't be afraid
(As cortinas voaram e então ele reapareceu… dizendo não tenha medo)
Come on baby... and she had no fear
(Vamos lá baby… e ela não tinha nenhum medo)
And she ran to him... then they started to fly
(E ela correu para ele… e aí eles começaram a voar)
They looked backward and said goodbye... she had become like they are
(Eles olharam para trás e disseram adeus… ela havia se tornado como eles são)
She had taken his hand... she had become like they are
(Ela havia pegado sua mão... ela havia se tornado como eles são)
Come on baby... don't fear the reaper
(Vamos lá baby… não tema o ceifador)

 

E, voando pelo mundo, uma criatura alada testemunhava tudo isso acontecer... e como se interessava por aquela humanidade que parecia nunca mudar!

 

Polícia internacional investiga possíveis mortes vinculadas a Kira.

 

A Igreja Universal do Reino de Kira retoma suas reuniões com a gloriosa ressurreição do arauto divino entre os homens! Venha participar você também!

 

Mortes sanguinolentas e aparentemente acidentais de criminosos pelo planeta: trabalho de Kira?

 

www.kiraosalvador.com

 

Programa especial: “L” vs. Kira, o embate que dura anos!

 

Família cujo filho foi assassinado por criminoso punido por Kira cria movimento para apoiar o justiceiro.

 

Humanidade, humanidade... não muda?

 

Come on baby... don't fear the reaper
(Vamos lá baby… não tema o ceifador)
Baby take my hand... don't fear the reaper
(Baby segure minha mão… não tema o ceifador)
We'll be able to fly... don't fear the reaper
(Nós poderemos voar… não tema o ceifador)
Baby I'm your man...
(Baby eu sou seu homem...)

 

La, la, la, la, la
La, la, la, la, la

 

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Death Note – Histórico:

 

 Um dos primeiros Death Notes a cair no Mundo Humano foi trazido pelo Shinigami Koroshi no Rakuin por volta de 1500 a.C. a um aldeão misterioso da cidade de Tileáde, no Oriente Médio. Este foi então incumbido de usar seu novo poder para salvar os povos orientais dos exércitos do general conhecido como Jo Shishido. No entanto, há indícios de que outros cadernos tenham vindo à Terra antes disso pelas mãos do próprio Rei Shinigami.

 

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Japão. Uma semana depois.

No centro de operações de “L” todos se encontravam imensamente ocupados há dias. Na sala antes vazia em que o detetive recebera os voluntários pela primeira vez fora montado agora um arrojado núcleo de investigações, ele e os doze aliados permanecendo praticamente o tempo todo atrás de mesas com computadores sem descanso. Notícias de novas mortes violentas de criminosos pelo mundo não paravam de chegar, e as circunstâncias em que ocorriam inegavelmente perturbavam a todos. Todavia, era difícil determinar quais óbitos realmente haviam sido causados por Kira. Um exemplo era que na noite anterior um milionário suspeito de desfalque morrera quando o bimotor que pilotava caiu no interior do México. Obra também do serial killer ou apenas coincidência?

Todos estavam no limite da exaustão. Enquanto imprimia seu relatório diário para Near, Matsuda nunca desejou tanto estar na companhia da esposa Sayu. Não a via há dias e, apesar de ter telefonado várias vezes explicando a situação e informando que voltaria para casa assim que pudesse, não podia deixar de se afligir devido à saudade e também por saber que ela estava imensamente preocupada. Prometera no passado que nunca mais a deixaria sofrer, e ele mesmo contribuía para isso!

“L”, por sua vez, passava a maior parte do tempo pensativo, quase apático, sentado de sua maneira característica enrolando os cabelos enquanto assimilava em sua mente as notícias divulgadas, elaborando teorias e linhas de raciocínio. O caso o assustava. Aquele novo Kira era bem mais sádico e cruel que o anterior, e certamente seria mais difícil apanhá-lo.

Terminando de imprimir seu relatório, Matsuda pegou-o e andou desanimado até o detetive, depositando a folha de papel sobre sua mesa. Em seguida deu as costas a ele sem nada falar e retornou ao seu local de trabalho, pálpebras pesadas. Vinha dormindo muito pouco e talvez logo acabasse desmaiando diante dos colegas devido ao cansaço.

Sem demonstrar muito interesse visível, Near tomou o texto em suas mãos e o leu rapidamente. Depois soltou o papel em cima do móvel com certo desleixo, ao mesmo tempo em que o agente Adams se erguia de trás do monitor do computador que operava exclamando:

         “L”, foi noticiada mais uma morte. Boris Hierinsky, conhecido traficante de drogas russo. O drinque que tomou em uma boate na periferia de Moscou continha resíduos de uma substância tóxica que o envenenou.

         Mais um assassinato através do caderno com fortes traços de acaso... – murmurou o jovem de cabelos brancos esfregando os olhos. – Kira está jogando conosco!

Nisso, Boruanda e Rivera, sentados lado a lado, constataram um interessante fato:

         Por que “L” insiste que nós o chamemos de “Optimus” se nem mesmo o Adams, que é braço-direito dele, faz isso? – questionou o africano em voz baixa.

         Não sei... – havia desdém na voz da linda espanhola. – Talvez até ele ache esse codinome meio ridículo...

Ackerman se manifestou:

         Mas Optimus, não podemos esquecer que nem todas essas mortes podem ser atribuídas a Kira. Não duvido que no mínimo algumas delas tenham ocorrido em circunstâncias naturais!

         Sim, eu concordo com você. Vivemos num mundo moderno em que óbitos devido a acidentes envolvendo meios de transporte ou descuidos domésticos acabam se tornando comuns. Mas o fato de tais infortúnios estarem ocorrendo a um grande número de criminosos num curto período de tempo deixa evidente que Kira está envolvido. Mesmo sem podermos precisar quais mortes foram causadas por ele e quais não antes de termos acesso ao Death Note, temos a certeza de que age.

         Porém como iremos pegá-lo? – irritou-se Souza. – Todos as vítimas foram noticiadas internacionalmente, inclusive as aqui do Japão! Assim Kira pode se encontrar em qualquer lugar do planeta que possua acesso à Internet ou televisão!

         Os horários, Optimus-san... – falou Hoshi, uma gota de suor em sua testa. – Não há qualquer padrão, então não podemos também descobrir nada a respeito do assassino por meio deles. E mesmo se houvesse algum tipo de indício, o momento das mortes pode ser definido pelo caderno da forma que quem escreve bem entender, e assim Kira nos levaria a uma falsa pista!

         Estamos praticamente de mãos atadas! – Bakerton quase se descontrolava.

         Acalmem-se, senhores – Near pediu educadamente, mãos erguidas de forma branda. – Acalmem-se, por favor. Deste jeito não chegaremos mesmo a lugar algum.

Todos se silenciaram para ouvir o detetive, alguns ainda permanecendo de pé, segurando papéis, canetas ou fosse lá o que tinham em mãos naquele momento.

         Kira está tentando se camuflar. O simples fato de não estar aniquilando suas vítimas com ataques cardíacos como fez seu predecessor já mostra que está tomando medidas para não ser rastreado. Tenho duas teorias, porém. A primeira é que talvez, se houverem dois Kiras, Bantu foi morto pelo mesmo que eliminou Sanbashi e que acreditamos estar no Japão...

         Por conta dos dois terem sofrido infarto! – completou Liu.

         Exato. E como sabem, nenhum outro criminoso a partir de então morreu dessa maneira, ao menos não os que temos conhecimento. Há, todavia, uma outra hipótese, à qual particularmente dou mais crédito: Bantu foi eliminado pelo mesmo Kira que está agora chacinando meliantes pelo mundo, mas fez isso quando testava o caderno.

         Testava? – surpreendeu-se Matsuda. – Como assim?

         Como eu expliquei antes, os Death Notes são trazidos a este mundo por Shinigamis, deuses da morte, para que os humanos venham a usá-los. Mas na maioria das vezes, diria até que quase sempre, uma pessoa não vai acreditar logo num primeiro momento que um caderno é capaz de matar pelo simples ato de nele se escrever nomes de terceiros. Acredito que isso tenha ocorrido com o Kira em questão. Ele simplesmente escreveu o nome de alguém que considerava odioso no caderno para verificar se seu poder era real ou não e, como sabem, se apenas o nome for registrado, sem que se especifique a hora da morte ou as circunstâncias da mesma, a vítima falece 40 segundos depois por parada cardíaca. Se ele planejava desde o início não realizar os assassinatos via infarto para não ser localizado, teria sido burrice eliminar seu primeiro alvo dessa forma. É por essa razão que acredito firmemente que o fim de Bantu foi causado por Kira testando o caderno pela primeira vez, por certo bastante cético quanto a seus efeitos.

         Faz muito sentido! – afirmou Yahudain impressionado, mão no queixo.

         Outra coisa que devem ter em mente é que estamos lidando com uma pessoa doentia e sem escrúpulos. Quando se escreve no Death Note, há a possibilidade de se definir “morte por acidente” como causa do óbito e assim a vítima padecerá por meio do primeiro infortúnio que lhe possa ocorrer. No entanto, penso que o novo Kira não se limita a essa circunstância geral na hora de agir. O nível de detalhes dos assassinatos que vêm ocorrendo deixa entender que ele descreve minuciosamente todas as condições para o óbito, não apenas para evitar que falhe, mas também por se divertir com isso. Nosso inimigo é uma pessoa incrivelmente sádica e que, creio, não hesitará em aniquilar também a nós se isso significar não ser capturada.

Todos estremeceram e, mesmo notando o temor que envolvera os presentes, “L” não deixou de salientar:

         Não sairemos desta investigação sem baixas, senhores. Portanto preparem-se.

A voz do rapaz tinha um tom grave, soturno, profético. E aqueles que a ouviam sabiam que falava a verdade... Algo muito ruim em breve ia acontecer. E já era até possível sentir suas conseqüências.

 

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Aguardando a Justiça

Eu quero quebrar com o marasmo deste mundo

Com a inércia das pessoas

Com a preguiça das maçãs verdes

 

Eu me tornarei luz

O sol da humanidade cega e tola

Eu me tornarei luz

E irei guilhotinar os maus

 

Eu posso conduzir a Justiça em minhas mãos, eu sei

Eu sei que posso trazer a luz a este mundo

Eu sei que posso amadurecer estas maçãs

 

Eu sei que posso fazer a ressurreição

 

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Prévia:

 

Querido... Eu não quero perder você! Não quero que se vá assim como meu irmão!

 

Tanta dor... Por que nós nunca podemos ficar em paz?

 

Será que todo esse sofrimento terminará um dia?

 

Próximo capítulo: Perda


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