5 - Por onde andam os Cullen?

POV Sam

Mary chorava de um modo que nunca imaginei ser possível. Ela que parecia uma garota tão forte e destemida simplesmente desabou diante de nossos olhos.

– Vamos Mary. - Cas a ajudou a levantar e ela o abraçou com força.

O anjo retribuiu olhando seriamente para nós. Aos poucos o choro foi desaparecendo até que ela soltou-se de Cas e nos olhou com dor.

– Acho que está na hora de nos contar alguma coisa, não acha? - perguntou Dean.

Mary apenas se encolheu e assentiu.

– Primeiro... Que tipo de criatura era aquele cara?

– Um vampiro.

– Ele não parecia um vampiro. - disse.

– Laurent é um vampiro, não como os que estamos acostumados a matar, mas um verdadeiro vampiro por assim dizer. Não podemos lutar com sua espécie sem ter um bom plano em mente. Eles são infinitamente mais fortes, um soco em um vampiro quebra todos os ossos de sua mão e não tira nem o equilíbrio do vampiro. Eles são muito mais rápidos do que nossos olhos podem acompanhar e sua mordida é capaz de nos transformar em vampiros. - explicou Mary com a voz sem emoção. - É muito difícil matá-los, pois eles possuem a visão e audição extremamente aguçadas, eles escutam até as batidas de nossos corações. É quase impossível pegar um deles desprevenido.

– Como se mata essas coisas? - Dean fez a pergunta com nojo.

– Eles não são coisas Dean. São criaturas de Deus assim como os humanos. - olhamos incrédulos para Castiel.

Mary suspirou.

– O que Cas quer dizer é que eles não são monstros como os que a gente caça. São animais assim como nós. Eles são os nossos predadores. São responsáveis por manter o equilíbrio na natureza, são o topo da cadeia alimentar. Mas eles não precisam de controle, pois não são bons em conviver em grupos muito grandes e acabam se matando entre si. Apesar desse fato animalesco, eles são muito inteligentes. E para aqueles envoltos pela maldade, existem os lobos que são humanos que se transformam em lobos do tamanho de cavalos e tem força e agilidade para matá-los.

Esse era um fato novo para nós.

– O que fez com o vampiro Cas? - perguntei tentando digerir as novas informações.

– Só o mandei para longe, ele ficará um tanto confuso, mas não causará problemas.

– Porque ele te chamou de Bella? - Dean olhava Mary seriamente.

Ela fechou os olhos, em sua expressão a dor era notável.

– Porque esse é o meu nome. - respondeu e abriu seus olhos.

Agora ela nos olhava com tristeza.

– Meu nome é Isabella Mary Swan. Meus amigos e minha família me chamavam de Bella. Depois que minha família foi morta eu adotei meu segundo nome... Podemos continuar conversando no hotel?

Assentimos em silêncio. Acho que a ideia de Mary era dar um tempo para pensar, mas Cas não captou a mensagem e nos teletransportou até o nosso quarto de hotel.

Dean se apoiou na mesa pequena mesa de jantar que tinha no quarto enquanto eu sentava em uma das camas. Mary sentou-se em outra a abraçou o travesseiro.

– Como conheceu esse Laurent? - perguntei delicadamente, pois sabia que Dean estava a ponto de explodir, ele não gostava de ser mantido no escuro.

Mary suspirou com tristeza.

– Eu o conheci quando tinha 17 anos. Ele fazia parte de um pequeno grupo de nômades. Ele, James e Victória. James era sádico, gostava de brincar com a comida. - seu olhar estava frio. - E Victória era sua parceira, gostava de se divertir com ele. Laurent cansou dos joguinhos de James e deixou o grupo seguindo sua vida sozinho. James escolheu a mim como sua nova vítima, mas acabou sendo morto por outro vampiro que me protegeu.

Ela parou de falar fechando os olhos. A dor era quase palpável. Quem continuou a história foi Castiel.

– Victória desapareceu depois disso, mas voltou quase um ano depois para se vingar. Mas não encontrou o vampiro que matou James, pois ele tinha ido embora junto com sua família. Ela acho que Mary era importante para o vampiro e decidiu matá-la. Mas não bastava apenas acabar com ela, a vampira teve que torturar seu pai... Sua mãe... E seu padrasto... Para só então matá-los. Tudo diante dos olhos de uma menina de 18 anos que só conhecia o sobrenatural porque o seu extinto de caçadora atiçou sua curiosidade e ela descobriu sobre os vampiros mesmo com toda a proteção que seu pai fizera para ela não se envolver nesse mundo. Mary só não foi morta, pois os lobos sentiram cheiro de um vampiro desconhecido e seguiram o rastro até a sua casa. Chegaram a tempo de salvá-la, mas sua família já estava morta.

POV Dean

A raiva cresceu dentro de mim ao olhar para Mary. Nesse momento eu via apenas uma menina que sofrera atrocidades pelo sobrenatural. Aquilo era tão injusto!

– E você ainda tem coragem de dizer que eles são criaturas de Deus?! - vociferei.

Mary me olhou com tristeza.

– Para a maioria deles nós somos apenas comida Dean. Você por acaso nunca viu um gato brincando com o ratinho antes de abocanhá-lo?

– Isso é ridículo! - bufei.

– Seu pai não percebeu que você estava envolvida com vampiros? Ele não soube se defender quando a vampira apareceu? - Sammy estava chocado.

– Nós só não conseguimos deixar a vida de caçadas, pois não conseguimos ignorar o que acontece a nossa volta. Vemos pessoas sendo mortas misteriosamente e sabemos que aquilo nunca vai parar já que ninguém normal tem o conhecimento do sobrenatural. O único jeito de meu pai não saber mais sobre o sobrenatural era apagar a sua memória e a da minha mãe. A escolha de meu pai resultou em consequências que ele não esperava. Meu pai tornou-se Xerife, porque sentia necessidade de proteger as pessoas. Quando eu era criança meus pais se separaram, pois minha mãe não aguentava a vida pacata do marido. Eu cresci sem nada saber sobre o sobrenatural. Quando fui morar com meu pai me deparei com os vampiros. E depois que descobri tudo sobre o passado do meu pai percebi o quão irônica a vida era. Pois Charlie era melhor amigo de um dos anciões da tribo dos lobos, e também não admitia que falassem mal de uma família meio diferente na cidade, mesmo que não tivesse ideia que eram vampiros.

A voz dela soava calma, porém triste enquanto narrava. Definitivamente era muito estranho vê-la desse jeito. Desde quando nos conhecemos ela se mostrava uma garota alegre. Obviamente eu já havia notado o seu olhar triste, mas não existe caçador que não possua pelo menos uma história triste em sua bagagem. E Mary sempre demonstrou lidar bem com essa dor. Mas parece que eu estava enganado.

– É realmente impossível nos livramos desse Karma. - comentou Sam.

– É genética Sam. - murmurou ela com um leve sorriso.

– É o negócio da família. - sorri largo.

O clima ficou um pouco mais leve e a fome me bateu com tudo.

– Por onde andou Cas? - perguntou Mary.

– Resolvendo assuntos no céu. Como o apocalipse não aconteceu os anjos ficaram um pouco perdidos. - deu de ombros.

– Será que você poderia me levar até a minha Chevy?

– Não vai mais viajar com a gente?! - perguntei com os olhos arregalados.

Mary sorriu cínica.

– Own paixão! Sentiria tanta falta de mim assim?

– Faça o que quiser querida, só não venha pedir socorro quando estiver presa embaixo d'água. - rebati irritado.

– Está preocupadinho comigo Dean? - a garota tirou com a minha cara ficando ao meu lado.

Sammy riu de mim. Grunhi.

– Não estou preocupado!

– Não se preocupe meu bem, não vou deixá-los tão cedo. - Mary pulou em meu pescoço beijando a minha bochecha para então se soltar e gargalhar da minha cara.

Bufei mais uma vez seguindo para a saída do quarto.

POV Bella

Foi difícil contar para os garotos tudo aquilo, por mais que eu não tenha dado detalhes meu coração dói com as lembranças. Pedi para Cas me levar até meu carro que incrivelmente estava parado no mesmo lugar e sem sinais de que fora roubado. Ledo engano, meu computador já era assim como meu celular e dinheiro.

O baú que eu tinha na caçamba ainda estava ali, parece que não conseguiram arrombá-lo, então todas as minhas armas e coisas realmente importantes não tinha desaparecido.

Coloquei dentro de uma mochila tudo o que eu precisaria. Algumas armas, o diário de meu pai, o meu diário, os livros de pesquisa que eu teria que deixar na casa de Bobby, meus documentos falsos... Acho que já era o suficiente.

Despedi-me de minha última lembrança sólida do passado e agarrada a foto de minha família pedi que o anjo me levasse novamente para o hotel onde os garotos me esperavam com um lanche gorduroso.

Sorri sem nada dizer e fui comer. Castiel foi embora sem se despedir e nós iríamos viajar pela manhã, pois novos casos sobrenaturais estavam em nosso futuro. Em minha cabeça uma pergunta perigosa rondava: Onde estariam os Cullen?

Em algum lugar do Alasca

POV Alice

É incrível perceber que existem pessoas que realmente marcam nossas vidas. Como sinto falta de minha amiga Bella e suas roupas fora de moda. Edward deixou escapar um grande amor, isso não se faz, não importa suas crenças. Nós poderíamos protegê-la, poderíamos transformá-la se essa fosse sua vontade, mas meu irmão agiu por impulso.

Jasper sente-se culpado até hoje pelo fatídico acidente no aniversário de 18 anos de Bella. Edward não o culpa, mas isso não muda o que meu marido sente.

Por muitos anos nossa família ficou separada. E faz apenas 10 que voltamos a morar juntos. Fomos passar uma temporada com os nossos primos Denali. Eles também repararam em nossa mudança, disseram que estávamos um tanto apáticos, mas a verdade é que estávamos tristes por Edward.

Ele podia negar o quanto quisesse, fingir o máximo possível, mas nós sabíamos que ele sofria. Sabíamos que Bella povoava seus pensamentos dia e noite. Ele até tentou esquecê-la saindo algumas vezes com Tânia, mas a loira desistiu de insistir ao perceber que o coração de meu irmão fora marcado a ferro quente por uma simples humana.

Eu procurava não ver o futuro daquela que um dia foi minha melhor amiga. Quando fomos embora eu continuava a vê-la frequentemente, e aquilo só me causava tristeza, pois ela estava triste também. Bella ficou em um estado lastimável e pode até ser egoísmo meu, mas preferi não vê-la mais. Concentrei minhas forças em futuros bobos, pois cada vez que eu via a minha amiga eu sofria.

Uma visão invadiu meus pensamentos e eu franzi o cenho sem entender o seu significado.

– Vamos para o jardim. - pedi em voz alta para que todos me seguissem.

Minha família percebendo o meu tom parou seus afazeres e seguiu até os fundos da casa. E em exatos 27 segundos minha visão concretizou e Laurent apareceu no meio do jardim com o rosto completamente confuso. O que eu não previ foi Edward o atacando.

Emmett e Jasper o seguraram antes dele encostar no outro vampiro que caiu ao chão ainda mais confuso.

– Edward! - exclamou Esme. - Porque está o atacando?

– Ele tentou matar Bella! - rosnou.

Nossos olhos arregalaram.

– Hey! Não foi por mal! - adiantou-se Laurent. - Eu estava caçando quando a vi, eu não senti o cheiro de nenhum de vocês naquela cidade. E você sabe Edward que sua Bella tem um cheiro muito tentador, não deveria deixá-la desprotegida.

A culpa invadiu meu irmão que parou de rosnar e se debater nas mãos dos outros dois.

– Como ela está? - Esme tinha ansiedade em sua voz.

Edward abandonou a namorada, Esme perdeu aquela que já considerava filha.

– Ela parecia bem... Mas devo acrescentar que ela é uma péssima mentirosa.

Sorrimos com suas palavras, exceto Edward que estava com uma expressão de quem não entendia.

– Quando exatamente você a viu e como apareceu em nossa frente, como se tivesse se materializado?

– Na verdade eu estava com ela nesse exato momento.

– Eu posso sentir o perfume dela em você. - meu irmão estava muito confuso. - Mas isso é impossível, pois em sua mente Bella continua com a mesma idade... Ela deveria aparentar no mínimo 27 anos a mais do que aparenta em seus pensamentos.

– Nossa! Já faz todo esse tempo que a deixaram?! - exclamou Laurent surpreso. - Eu não reparei nessa passagem de tempo, mas tenho certeza que estive com ela há poucos minutos e ela não mudou nada desde que a vi com vocês. Ao que parece vocês acabaram com Victória.

– O que tem Victória a ver com Bella? - Jasper estava confuso também.

– Bem... Ela queria vingança. Sabe? Parceiro por parceiro.

Um silêncio sombrio se instaurou no jardim. Ironicamente os passarinhos cantavam alegres pela mata. Imediatamente procurei pelo futuro de minha amiga. Comecei a ficar nervosa, pois tudo o que eu via era um grande borrão. Nunca tinha visto um futuro tão incerto antes. É como se suas decisões não fossem as únicas a decidir seu futuro imediato. O que é realmente estranho, eu deveria vê-la pelo menos decidindo ir ao banheiro. Mas nem isso!

– Tente o de Victória. - Edward também estava nervoso.

Fiz o que ele pediu e tudo o que vi era escuridão.

– Ela está morta. Não existe futuro. - falei aliviada, mas o mistério ainda estava presente mais do que tudo.

– Ainda não respondeu como veio parar aqui. - apontou Emmett.

– Eu estava com Bella... Iria atacá-la. - Edward rosnou. - Por favor, não leve a mal. Já expliquei que ela apareceu na hora errada e no lugar errado.

– Ela sempre teve essa mania. - bufou meu irmão.

– Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa um clarão me cegou e quando pude enxergar novamente eu vi vocês.

Aquilo era muito estranho. Muito estranho mesmo.

– Será que você veio para o futuro? Eu sei que parece absurdo viagem no tempo, mas como é possível que Bella continue com a mesma idade. Ela é apenas humana. - Carlisle que até o momento estava quieto deu sua opinião.

– A não ser que ela tenha achado um vampiro para transformá-la. - Rose também resolveu se pronunciar.

– Definitivamente ela não foi transformada. Eu pude perfeitamente escutar seu coração e sentir o cheiro de seu sangue. E quanto à viagem no tempo... Não creio nessa possibilidade, pois mesmo que eu não tenha percebido os anos que se passaram eu sei que eles passaram. Não pulei nenhuma era.

– Filho... Não acha que está na hora de irmos visitá-la? Para entender tudo o que está acontecendo. - Carlisle olhava para Edward.

Antes que ele respondesse uma visão me invadiu.

Bella e um homem de olhos verdes se jogavam de costas numa cama ao mesmo tempo. Os dois estavam lado a lado com as roupas sujas, eles pareciam cansados.

– Ficou cansadinho paixão? - perguntou Bella sorrindo.

O homem virou-se rapidamente e colocou o corpo sobre o dela.

– Ainda tenho disposição, se é que você me entende. - mandou uma piscadela maliciosa fazendo Bella gargalhar.

A visão acabou e eu avistava o rosto torturado de meu irmão. Sinto muito.

– Bella seguiu sua vida Carlisle, ela merece ser feliz. - disse ele seguindo para dentro de casa.

Cortou-me o coração, pois Edward sabia que a escolha fora dele.