Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 2ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 16
Todo Mundo Odeia Roubar Correntes


Notas iniciais do capítulo

Oii?
Eu sei que vcs devem estar muito p**** comigo...
Mais de seis meses se passaram e agora que eu estou vindo postar o próximo...
Sim, eu sou muito cara de pau... ^^
Tive um hiato horrível que não conseguia escrever nada...
Nem um trabalho da faculdade saiu direito...
Foi o período que comecei a trabalhar e aí meu tempo acabou...
Mas...
To voltando agora e com vontade! ^^
Espero que ainda estejam por aí...
Agradeço a espera e peço desculpas pela demora...
Enjoy ='.'=



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POV. LIZZY (Brooklyn – 1985)

Quando meus pais se mudaram pra Bed-Stuy, eu soube que ia ver vários crimes acontecendo; afinal o lema do bairro era Bed-Stuy: só doido vai. Dá pra imaginar o tipo de gente que mora em lugares assim... Mas eu acabei me surpreendendo com a quantidade de gente decente que mora em lugares como esse por falta de dinheiro. A família do Chris era um exemplo, a da Tasha e a minha própria. Porém, mesmo morando em um bairro com essa fama e ouvindo sobre os crimes diários, eu praticamente não via acontecer. Mas o fato de eu quase nunca ver os crimes acontecerem, não significava que eles não aconteciam. E por um azar grande ou uma consequência de ser do jeito que eu sou, eu acabei metida em uma encrenca daquelas...

Roubo era o crime mais cometido em praticamente todos os lugares. Pegar as coisas dos outros era tão simples e tanta gente fazia que a polícia simplesmente não tinha como controlar. E quando a febre das correntes de ouro começou a se espalhar, isso piorou. Nunca tinham tentado me assaltar, mas que também não assaltassem meus amigos.

Eram pelo menos umas 6 horas da tarde e eu tava sentada na calçada, sem nada pra fazer e sozinha, já que o Chris ainda não tinha chegado do Doc's. Ele tá demorando muito... Do outro lado da rua, vi a Tasha vindo. Sinceramente, eu não sentia raiva dela pelo garoto que eu gostava gostar dela... Talvez um pouco de inveja... Afinal ela não sabia e eu tinha certeza que ela gostava de outra pessoa. Mas ver ele correndo atrás dela obviamente me magoava, tanto que que tentava ignorar e manter a amizade com os dois. Afinal, ninguém tinha culpa do sentimento um do outro.

Mesmo perdida em pensamentos eu percebi um homem de capuz seguindo ela. Era normal ter homens com capuz no bairro, mas eu não lembrava de ter visto ele antes; não era de bairro. Vi ela brincar com a corrente de ouro em seu pescoço e entendi qual era a dele. Fiquei meio em pânico, observando ela chegar mais perto de casa e ele mais perto dela. Não vai dar tempo... Na loucura do momento, eu gritei.

“Tasha! Corre!” Ele parou, assustado e ela também, mas em um segundo ela olhou pra trás e no outro correu pra casa. Os segundos que ele ficou parado foram o suficiente para ela conseguir entrar em casa. Por um momento me senti aliviada, mas no outro percebi que quem tinha ficado sozinha com o assaltante fui eu.

Ele veio rápido na minha direção e eu não consegui reagir. Meio em pânico, um único nome veio à minha cabeça... Chris... Mas ele não tava ali.

“Viu o que você fez?! Agora você deve uma corrente de ouro pra mim!” Demorei alguns segundos pra entender o que ele disse.

“O quê?” De perto dava pra ver que ele era negro e eu tive certeza que nunca tinha visto ele pelo bairro.

“Foi isso mesmo que você ouviu. Agora você deve uma corrente de ouro pra mim e tem até amanhã à tarde pra me dar.” O QUÊ?????

“Mas eu não tenho uma!”

“E quem disse que isso é problema meu. Amanhã... Sem atraso, ruivinha, ou você vai se dar mal...” Então ele foi embora, me deixando lá paralisada.

O que acabou de acontecer? Eu não fazia ideia, mas eu tava devendo uma corrente de ouro a um assaltante. Eu entregava amanhã ou ele ia me pegar. Senti minha boca secar e perdi a noção do tempo, focando o nada. Só despertei quando ouvi a voz do Chris.

“Lizzy?” Virei rápido, como se tivesse levado um choque, e olhei; um olhar confuso cobriu seu rosto. “O que foi? Aconteceu alguma coisa?” Perguntou, subindo as escadas e parando na minha frente. Sua mão subiu e fez um carinho no meu rosto. “Você tá pálida.”

Percebi o quanto eu estava gelada de medo ao sentir o toque quente de sua mão. O calor dissipou a sensação ruim e eu encontrei minha língua.

“Não é nada. Só senti uma coisa ruim.” Ele me olhou fixamente e eu soube que ele não ia comprar aquela.

“Pode me contar a verdade?” Assenti.

“Um cara tava seguindo a Tasha e eu avisei pra ela correr e...” Ele me interrompeu.

“Mas ela tá bem?”

Talvez por efeito do medo sentido há pouco, senti uma corrente de raiva latejar nas minha veias. Valeu por se preocupar comigo, seu tapado...! Rolei os olhos e respondi, seca.

“Tá sim.” Ele fez uma cara ridícula e alívio.

“Ainda bem. E o que aconteceu depois?” Mordi minha língua com teimosia. Eu não vou falar... Respirei fundo e falei o mais convincente que eu pude.

“Nada. Ela entrou correndo e ele foi embora.” Pude ver que ele acreditou.

“Ótimo, mas... o que tá fazendo aqui fora a essa hora? Tá quase na hora do jantar.” Assumi o ar mais indiferente possível. Não vou te dar a satisfação de saber que eu tava te esperando.

“Só tava pensando, mas já vou entrar.” Falei, já me levantando e ele ficou surpreso.

“Espera. A gente pode ficar conversando mais um pouco.”

“Acho que não. Como você disse, tá quase na hora do jantar. Tchau.” E entrei sem olhar pra ele.

POV. CHRIS

É impressão minha ou ela tá estranha? Pensei enquanto observava ela virar as costas pra mim e entrar sem nem olhar pra trás. Eu não fiz nada!... Ou fiz?... Sei lá... Eu sempre tinha achado a Lizzy uma pessoa fácil de lidar porque ela não pensava nem agia como as outras garotas, mas já fazia um tempo que eu não entendia mais algumas ações dela. Era frustrante...

Entrei em casa, tentando tirar a sensação de estranheza da minha cabeça e logo deixei o assunto pra lá. Até por que era até difícil pensar em outra coisa que não fosse o clima de cemitério que tava lá em casa. A mãe tinha descoberto que o meu pai escondeu um cartão de créditos por 10 anos, então ela pirou. Começou a dizer que meu pai tinha outra família e que queria se separar. Eu, Drew e Tonya já estávamos tão acostumados com esse tipo de chilique que nem ligávamos mais. Eles brigavam quase toda semana e depois a gente tinha que aguentar os dois 'fazendo as pazes' pela casa... leia-se: 'se agarrando'. É o tipo de coisa que todo filho sabe que acontece, mas não quer nem imaginar. Em resumo: deixa pra lá.

Depois de um jantar com muito silêncio e vários olhares de 'to te vigiando', tentei falar com a Lizzy pelo buraco da parede enquanto o Drew tava no banho, mas ou ela não tava no quarto ou não queria falar comigo. Fui dormir com a sensação de que tinha alguma coisa muito errada naquilo tudo e que ela tava me escondendo alguma coisa.

Se eu for ver pelo histórico da Lizzy, quando ela me esconde alguma coisa é porque o assunto é muito sério. Considerando que a última coisa que ela escondeu de mim foi o fato de ela ser adotada, eu me arrepio só de imaginar o que vai ser dessa vez...

Mesmo com tudo isso na cabeça, acabei dormindo logo porque o dia no Doc's tinha sido muito cansativo.

POV. LIZZY

Pela manhã eu não tava mais chateada com ele, mas continuava decidida a resolver o problema sozinha e não dizer nada pra ele. Eu tinha ido dormir na noite anterior com certo peso na consciência por não dar boa noite pra ele. Era como um ritual nosso e eu tinha quebrado por birra. Rolei na cama por quase meia hora antes de realmente adormecer.

Desci pra esperar ele na calçada, mas não assobiei pra chamar. Devo ter ficado distraída por um tempo e acordei com uma voz grave no meu ouvido.

“Já conseguiu a minha corrente de ouro, garotinha?”

O grito de susto ficou preso na minha garganta, mas meu corpo reagiu rápido, virando para encará-lo e se afastando alguns passos. O pânico voltou a circular nas minhas veias e novamente eu não soube o porquê. Aquele homem me assustava como ninguém tinha me assustado antes. Algo no seu tom de voz me paralisada e eu não conseguia mais respirar direito.

Ele não gostou do meu silêncio e pressionou.

“Conseguiu ou não?” Só o que eu pude fazer foi sacudir a cabeça, negando. “Eu não gosto de esperar, então é melhor dar um jeito nisso até de tarde ou vai desejar nunca ter nascido.” Virando as costas ele saiu, descendo a rua.

Só percebi que tinha segurado a respiração quando senti meus pulmões queimarem por ar. Respirei fundo, sentindo as pernas fracas e inconscientemente caí sentada nos degraus da escada.

Como eu vou me livrar dessa? Chamar a polícia estava fora de cogitação; eu não queria o Chris sabendo disso... nem os meus pais...

Pra piorar a situação o Chris apareceu naquele instante. Xinguei baixo porque eu tinha certeza que eu estava pálida e gelada, e mais certeza ainda que ele ia notar. Tentei me recompor de costas pra ele, mas seu tom de voz me disse que não tinha funcionado.

“Lizzy?”

POV. CHRIS

Acordei na manhã seguinte com o pensamento fixo de que eu tinha que falar com ela. Eu não sabia o que ela tava me escondendo, mas eu não tava gostando nada do que eu tava sentindo a respeito. Era uma sensação ruim, como se ela estivesse em perigo.

Quando desci pra encontrar ela na calçada, imediatamente percebi que tinha alguma coisa errada. Ela tava de costas pra mim, sentada nos degraus da escada. Chamei seu nome pra avisar que eu estava ali.

“Lizzy?” Ouvi ela murmurar algo, mas não entendi o que era.

Ela levantou, respirando fundo antes de virar e me olhar, com um sorriso estranho no rosto.

“Bom dia.” Ergui uma sobrancelha, desconfiado.

“Tá mesmo?”

“Porque não estaria?” Resolvi atacar logo.

“Não sei. É você que tá estranha desde ontem.” Ela me olhou, surpresa.

Cheguei perto e acariciei seu rosto, franzindo as sobrancelhas. Será que foi alguma coisa que eu fiz?

“O que você tem? Me conta.” Ela suspirou.

“É só coisa da minha cabeça.”

“Mas você sempre me conta. Porque tá escondendo isso de mim?”

“Não to escondendo. Eu vou te contar quando estiver pronta.” Franzi as sobrancelhas ainda desconfiado, mas decidido a respeitar o tempo dela.

“Promete que vai mesmo me contar?” Ela revirou os olhos e sorriu levemente.

“Vou sim, senhor Eu-necessito-saber-de-tudo.” Fiz um bico fingido.

“Não sou assim!” Ela ergueu uma sobrancelha, entrando na brincadeira.

“Imagina se fosse.” Balancei a cabeça, rindo.

“Vamos ou o ônibus vai sem a gente.” ela assentiu ainda rindo e recomeçamos a andar.

POV. LIZZY

Fomos conversando e rindo – ele contando as piadas dele e eu me acabando de rir – como se nada tivesse acontecido. Tanto que quando chegamos à escola eu estava me sentindo melhor, embora nem de longe tivesse esquecido o que acontecera.

A medida que a manhã foi passando eu me peguei pensando ainda mais no que o bandido tinha dito. Uma inquietação tomou conta do meu estômago quando lembrei que meu prazo acabava naquela tarde e eu não tinha como arranjar a corrente de ouro. Tanto por falta de dinheiro – minha mesada já tinha acabado – quanto por que não tinha tempo e também por não saber aonde ir.

Todo mundo de Bed-Stuy que tinha uma corrente de ouro tinha comprado em outro bairro. O caso era que a loja do bairro que costumava vender foi roubada na primeira semana da febre das correntes. Eu sabia que o Perigo vendia, mas... qual é? Nada confiável. Eu não era louca a ponto de dar uma corrente de ouro falsa pra um assaltante que sabia onde eu morava.

O que me deixava mais ansiosa era que ele não tinha determinado hora, só disse que era até aquela tarde. O receio de ele aparecer a qualquer momento não deixava espaço pra mais nada na minha cabeça, só medo.

O que ele vai fazer comigo se eu não der a corrente? Esse pensamento gelou minha espinha m um arrepio de medo. Não! Eu vou dar um jeito!

O sinal do intervalo tocou, me fazendo voltar à realidade. O Chris me cutucou dizendo que eu ainda tava estranha e o Greg falou que tava me achando muito distraída. Eles insistiram um pouco para ver se eu dizia o que era, mas eu desconversei, apesar de querer muito contar pra alguém.

Esse alguém não podia ser o Chris – ele iria panicar e dizer que eu deveria ter falado antes. Eu não preciso de alguém que resolva pra mim, só quero alguém que me escute e me entenda... apenas isso... Greg!

Tive a bela oportunidade quando o Chris foi ao banheiro, então puxei o Greg para outro corredor.

“Preciso desabafar.” À princípio ele me olhou surpreso, mas logo assumiu um olhar de compreensão.

“Então você não queria que o Chris ouvisse?” Assenti e ele me olhou, sério. “O que você aprontou, Lizzy?” Respirei fundo e contei tudo.

Não omiti nenhum detalhe e acabei confessando meu sentimento pelo Chris. Fiquei surpresa com a minha própria atitude – nunca havia sequer contado à minha irmã – mas mais surpreendente foi a reação do Greg. Ele ouviu tudo quieto e simplesmente sorriu, me olhando com a maior cara de pau.

“Eu já sabia.” Devo ter ficado com uma cara ridícula porque ele riu antes de continuar. “Sua preferência por ele é muito clara; já deu pra eu perceber. Não sou tão tapado assim.” Considerei isso.

“Você acha que ele percebeu?” Ele fez uma careta pensativa.

“É possível, mas levando em conta que a gente tá falando do Chris, acho que não. Mas eu posso descobrir, se você quiser.” Interferi na hora.

“Não! Ele pode perceber.” Ele me olhou, surpreso.

“Ué, mas essa não é a ideia? Ele descobrir e vocês ficarem juntos?” Suspirei, desanimada.

“Seria, se ele não gostasse de outra. Ele saber disso agora talvez só o afaste de mim.” Ele deu de ombros.

“É, pode ser. A decisão é sua de não arriscar, mas... o que você vai fazer em relação ao cara lá?” balancei a cabeça.

“Não tenho certeza, mas acho que é o mais óbvio: tenho que dar a corrente pra ele. Só não sei como.”

“Parte tensa.”

“Muito.”

Nesse momento o Chris apareceu na ponta do corredor, procurando a gente.

“Se escondendo de mim?” Tentei disfarçar o nervosismo.

“Que nada. Só te esperando mesmo.” Vi ele franzir o cenho, mas balançou levemente a cabeça e mudou de assunto.

“Vocês vão pra lanchonete?” Assentimos e seguimos pra lá, conversando.

A cada minuto que se passava, eu corpo demonstrava mais sinais de ansiedade. Minha concentração estava nula; eu queria me fixar na conversa que se passava à minha frente, mas minha mente ficava vagando. A prova disso era que tanto o Chris quanto o Greg me chamaram atenção várias vezes, mas eu não conseguia focar. Repetidos arrepios de medo gelavam a minha espinha e eu não conseguia imaginar um jeito de sair daquela situação.

Ouvi o sinal do fim do intervalo tocar e senti meu estômago retorcer de angústia. A ideia de passar mais duas horas sentada em uma sala de aula ouvindo a Srta. Morello falar sobre A Revolução Industrial era deplorável. Eu queria acabar logo com aquilo. Que acabasse bem ou mal, mas acabasse.

Uma súbita ideia me ocorreu e eu sussurrei algo no ouvido do Greg, e vi ele assentir. Percebi que ele tinha entendido quando ele começou a monopolizar a atenção do Chris para que ele não ligasse pra mim. Cautelosamente e afastei deles e me esgueirei para dentro da escola, pegando o meu material e saindo antes que me notassem. O Chris vai me matar depois...

POV CHRIS

Eu estava preocupado com a Lizzy. Ela estava estranha demais; não era só o fato de ela esconder algo de mim. Ela parecia desatenta, distraída e até mesmo assustada; era muito estranho. E eu não conseguia imaginar nada que pudesse ter acontecido para deixá-la assim.

Como sempre acontecia quando ela tinha um segredo de mim, ela aprontava. Em um instante que eu me distraí, ela sumiu e, eu aposto, acobertada pelo Greg. Assim que notei a ausência dela eu parei de andar, olhando ao redor.

“Cadê a Lizzy?” Ele fingiu que não escutou e eu decidi pressionar. “Greg, cadê a Lizzy?” Ele me olhou com um uma cara que eu reconheci como sendo a de indecisão. “Fala Greg!”

“Tá, eu vou te contar...”

Ele começou a contar e eu me preparei pra bomba que com certeza viria.

POV. LIZZY

Quando saí da escola eu estava decidida a pôr um fim nessa história, mas obviamente minha coragem ainda era fraca. Perdida em pensamentos, não percebi para onde meus pés me levavam até me ver andando pelas ruas de Bed-Stuy em direção à minha casa.

Meu pai estava em casa, pois era o dia da folga mensal dele e eu sorri, lembrando da sensação de segurança que eu tinha quando estava perto dele. Ninguém podia me machucar...

Meus pés aumentaram a velocidade, ansiando por chegar até o conforto conhecido, mas um forte aperto no meu braço direito e o rosto que eu menos queria ver na minha vida me pararam.

“Seu tempo acabou, garota, e pro seu bem é bom que tenha conseguido a corrente de ouro ou... vai ter que me recompensar de outra forma...” Ele disse a última parte me olhando de cima a baixo e com um sorriso tão lascivo que eu não tive dúvidas de suas intenções.

Meu corpo começou a tremer; eu quis gritar, mas a voz ficou totalmente presa na minha garganta. Eu queria que alguém visse e tentasse ajudar, mas sabia que ninguém viria... nem ele... ele não sabia... ele não viria... ele...

Dois braços entraram no meu campo de visão. Eles empurraram o bandido e eu senti meu braço ficar livre do aperto.

“Fica longe dela!” Essa voz... essa voz rouca...

Chris estava na minha frente, entre mim e o bandido. Pelo seu perfil pude ver que estava furioso.

Tentando reganhar o controle sobre o meu corpo, me aproximei dele e o abracei pelas costas, me encolhendo. Ele me olhou por cima do ombro, preocupado, e falou, a voz rouca já sem o tom de ameaça.

“Calma, eu tô aqui.” Mas sua atenção foi chamada pelo bandido outra vez.

“Deve ser o namoradinho dela, mas isso não muda o fato de que ela tá me devendo e eu vou cobrar.” O rosto do Chris endureceu e eu senti seu corpo tremer de leve, tamanha era sua raiva.

“Ela não te deve nada! E você não vai mais tocar nela ou eu acabo com você!” O bandido riu.

“Você? Como se pudesse fazer alguma co-”

A rapidez do ocorrido não me deixou acompanhar tudo, mas em um minuto eu senti o calor do Chris se afastar de mim e no outro ele já estava brigando com o cara. Meu corpo ainda dormente só reagiu quando vi uma lâmina brilhar ao sair do bolso da calça do bandido. O desespero invadiu minhas veias como adrenalina e eu virei na direção das nossas casas para gritar por ajuda, mas não foi mais necessário.

Dois vultos altos passaram correndo por mim: um branco e um negro. Meu pai segurou o Chris enquanto o sr. Jullius agarrava o bandido pela gola do capuz e tirava a faca, agora um pouco vermelha, de sua mão. Uma onda de alívio tomou meu ser ao perceber que tudo acabaria bem... mas não imediatamente. Meu pai precisou chamar o Chris três vezes até ele desviar o olhar de puro ódio fixo no bandido.

“Leve a Lizzy pra casa. Eu e seu pai vamos resolver isso e já vamos pra lá.”

Ele não fez sinal de ter escutado, mas veio em minha direção. Antes que me alcançasse, meu pai o chamou outra vez, “Chris...” ele parou e o olhou, “... obrigado.” Um aceno de cabeça foi a única resposta que ele deu. Depois tomou minha mão e me levou pra casa.

Lá ele me levou direto pra cozinha. Pegou um pano, o molhou na pia e passou pelo meu rosto, pescoço e mãos. Eu o olhava fixamente, quase sem notar o que ele fazia. Sua expressão era mortalmente séria e um silêncio frio permanecia.

Tentando quebrar a tensão, tomei suas mãos e fiquei assustada ao ver um corte longo na palma esquerda. De imediato entendi a lâmina vermelha da faca. Corri até o banheiro e peguei o kit de primeiros socorros. Lavei o corte e o tratei com todo o carinho que o dono da mão merecia. Quando eu terminei de enrolar a atadura em sua mão foi que ele falou.

“Porque não me contou?” O tom de sua voz me disse que ele tinha ficado todo esse tempo calado apenas para fazer essa pergunta. Respirei fundo.

“Eu ia, só que-,” Ele me interrompeu.

“Quando? Quando já tivesse acontecido o pior?! Se não fosse o Greg ser fofoqueiro, Deus sabe onde você estaria agora! E como estaria!” A cada frase sua voz aumentava e eu me encolhia. “Você pensou que poderia resolver sozinha como sempre! E eu sirvo pra quê, Lizzy? Se você não confia em mim pra me contar coisas sérias assim, eu sou seu melhor amigo pra quê? Até pro Greg você contou!”

Lágrimas escorriam silenciosamente pelo meu rosto, fruto da tristeza e da vergonha. Tudo que ele falou estava certo e eu não podia me defender. Então apenas chorei. Ele se manteve alguns segundos afastado, me observando. Quando percebeu que eu não falaria nada, veio na minha direção. Fechei os olhos, imaginando que sua raiva era direcionada a mim e que ele iria embora e me deixaria ali, sozinha... Engano meu.

Senti seus braços me envolverem e apertarem, como se eu fosse fugir dele. Nunca... Aqui é o melhor lugar do mundo... O silêncio era tão profundo que eu pude ouvir seu coração acelerado bater em sincronia com o meu. Ele beijou levemente a minha testa e apoiou o queixo no alto da minha cabeça.

“Você é minha.” Me surpreendi tanto com a frase como com o tom de voz, vacilando entre o confiante e o temeroso. “Ninguém vai tirar você de mim... Ninguém...” Era como se ele próprio tentasse se convencer disso. Significava que... ele sentiu tanto medo quanto eu...

Eu o abracei e assenti, sentindo-o me apertar de forma carinhosa. Ouvimos a porta do térreo abrir e dois pares de pés subirem as escadas, mas não nos separamos. Teríamos muito o que explicar... juntos.

***


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Notas finais do capítulo

Reviews???? #autoraatrasada



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