Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 2ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 15
Todo Mundo Odeia Matar Aula


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpem a demora! ^^
Esse foi um dos mais dificeis de escrever...
A ideia fugiu totalmente da minha cabeça e eu não sabia o que escrever...
Mas, finalmente, continuando a história...
Aproveitem! ^^



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POV. CHRIS (Brooklin – 1985)

A Lizzy era minha vizinha há mais de dois anos e, nesse meio tempo saíram muitos filmes bons. Dos vícios que tínhamos em comum, esse era um que a gente dividia com o Greg: viciados em cinema. Como na época o ingresso pra ir ao cinema era barato, a gente fazia a festa. Tinha vários cinemas perto da minha casa e eu ia sempre com a Lizzy, mas como o Greg morava longe pra caramba, nós três nunca tínhamos conseguido ir ao cinema juntos.

1985 foi o ano que a gente praticamente morou no cinema. Quase todo final de semana estreava um filme e a gente tava lá. A Lizzy detestava os de terror; eu ria muito da cara dela por isso. Era hilário porque ela morria jurando que não era medo. A principal desculpa era que ela não gostava dos momentos de suspense e sempre acontecia alguma coisa que deixava ela ‘assustada, porque ela não era acostumada com esse tipo de filme’. Eu e o Greg reprimíamos o riso e fingíamos que a desculpa era convincente. Coisas que amigos fazem, sabe...

O sucesso do ano foi Os Caça Fantasmas, e ele já tava em cartaz há mais de um mês e nenhum de nós três tinha ido assistir ainda: a Lizzy por falta de tempo, eu por falta de dinheiro e o Greg por falta de companhia. E eu queria muito assistir aquele filme e era de longe o mais emburrado dos três.

“Não acredito que esse vai ser o único que vamos perder.” A Lizzy suspirou e rolou os olhos. Ela já tava cansada de falar no assunto e a gente falava sobre isso havia uma semana.

“Eu já to conformada. A gente assiste quando sair em fita.” O Greg ficou chocado.

“Em fita? E isso vai acontecer quando?” Ri, sem humor.

“Quando nós três formos velhos caquéticos.” Ele assentiu, deprimido.

“É. Sabem quando sai de cartaz?”

“Na quinta, e só tá passando em dois cinemas. Um é muito longe lá de casa e o outro é caro demais.” O Greg fez cara de pensativo.

“Esse mais caro não é perto daqui?” A Lizzy assentiu.

“É. Por isso é mais caro. O cinema lá do bairro deixou de passar sexta passada.” De repente ele sorriu.

“Então porque a gente não vai depois da aula?” Fiz careta e a Lizzy também.

“Doc’s.” E a Lizzy também.

“Trabalho de Aritmética.” Mas não adiantou. O Greg tava realmente empolgado.

“Ah, qual é! Chris, você pode pedir uma folga e, Lizzy, o trabalho é só pra sexta. Pode começar hoje e terminar quinta quando a gente voltar!” Olhamos pra ele, espantados, e a Lizzy verbalizou o que eu tava pensando.

“Quem é você, alienígena, e o que fez com o meu amigo nerd chamado Greg?”

“Por favor, digam que sim.” Fiz que não com a cabeça.

“Não é tão fácil assim, cara. Eu não posso ficar faltando sempre no meu trabalho. Tem noção de quantos dias eu faltei só por causa do Sr. Newton? E isso foi há menos de um mês. Todo dia que eu falto, o Doc desconta no meu salário. Desse jeito eu não vou receber nada no final do mês. E eu ainda dependo do Drew pra cobrir meu horário.”

“Pois é, Greg. E eu realmente preciso terminar esse trabalho, já que eu vagabundei e não entreguei nenhum dos outros. Você sabe como eu sou péssima em Aritmética. Portanto somos eu e o Chris contra você; 2 contra 1, então não.”

“Ah, gente, por favor?” Ele parecia a ponto de chorar e era muito estranho, considerando que aquilo ia fazer 16 anos no mês seguinte. “Por favor?” Então ele fez a cara de cachorro sem dono e eu soube na hora que a Lizzy ia ceder. Se ela cedesse eu ficaria do lado fraco e a melhor opção seria concordar. Mas eu tinha outras coisas pra fazer, coisas importantes. E como eu achei que seria... Ela suspirou, desistindo.

“Ok, eu vou. Agora desmancha essa cara de gato com fome.” Quando dei por mim, eles estavam me encarando sem dizer nada.

“O que é?”

“Agora só falta você, cara.” Neguei.

“Nem vem. Eu ia adorar ir, mas eu tenho que trabalhar. Dá pra entender isso?” A Lizzy debochou.

“Tão responsável...” Dei língua pra ela e ela riu.

“E essa sua cara de cachorro sem dono não vai funcionar comigo, Greg.” Pelo menos foi o que eu pensei. Só que quem fez a cara de pidão não foi ele, foi ela. Agora ferrou!

“Por favor, Chris?” O Greg começou a rir porque sabia que eu diria sim. Ele até começou a contar. Miserável...

“Desistindo em 3... 2... 1...” Rolei os olhos.

“Tá, eu vou.” Eles pularam de alegria e ela me abraçou, beijando meu rosto. “Agora nós viramos o trio de infratores. Só espero que minha mãe não descubra...”

No final das contas, de nada adiantou eu ter dito sim. Nada deu certo. O pai do Greg não deixou ele ir, a Lizzy teve que fazer o trabalho porque no dia seguinte a irmã dela vinha pro aniversário surpresa da mãe delas, e o que ferrou pra mim foi o Drew ficar doente. Eu não sabia o que ele tinha, mas até de cama ele ficou. Eu desconfiei. É final de bimestre...

“Você tá doente mesmo ou quer escapar de alguma prova?”

“To doente, cara. A mãe tá me entupindo de xarope.” Ri de leve.

“Pena. Ia te chamar pra cobrir meu horário no Doc’s.”

“Por quê? Detenção de novo?”

“Não. Queria ir ao cinema. Os Caça Fantasmas.” Ele fez uma cara maliciosa.

“Com a Lizzy?” Ignorei.

“E com o Greg.” Ele pareceu desapontado.

“Ah tá. Em todo caso, o filme é bom.” Olhei, surpreso.

“Você foi assistir? Quando?”

“Semana passada. Com a Nathalie.”

“A garota que mora na rua de trás?” Ele assentiu.

“Bonita, não é?”

“É sim, mas eu nunca fui muito fã de loiras.” E a Lizzy é bem mais bonita...

“É, eu sei. Você prefere as ruivas.” Ele riu, mas logo começou a tossir.

“Bem feito. Isso é o que dá rir da cara dos outros.” Ele respirou fundo algumas vezes e conseguiu parar.

“O pior é que eu peguei dela, cara. Se a mãe souber, nunca mais me deixa ir num encontro.”

“Como assim?”

“A Nathalie disse que tava com a garganta doendo, mas, dentro do cinema escuro, eu não me importei e beijei ela. Agora eu to assim. Mas valeu a pena. Cara, ela beija muito bem...” É sério que eu to ouvindo isso dele...?

“Tá. Me poupe dos detalhes.” Que se dane; é inveja SIM. Não preciso do meu irmão mais novo me lembrando que eu nunca beijei uma garota na vida. “De todo jeito, furou meu cinema.”

“Foi mal. Eu ia sem nenhum problema.” Fiz uma careta.

“Eu sei. Melhora.” Levantei e saí do quarto.

No outro dia, nós três chegamos com cara de poucos amigos. Cada um contou o seu próprio fiasco e nenhum teve qualquer ideia pra melhorar alguma coisa. A solução era abaixar a cabeça e aceitar a situação, mas nenhum de nós queria aceitar. A frustração de quase ter conseguido estava em nós três.

“Saco. Eu pensei que ia dar certo.” Até o Greg tava mais deprimido que o normal.

“Eu sei, cara. Também pensei.” Ele olhou pra Lizzy. “Que olheiras são essas, Lizzy?”

“Insônia. Fiquei até 3 da manhã pra terminar o trabalho de Aritmética, e depois mal dormi porque já tinha que vir pra aula. Tive até que pegar um pouco da maquiagem da mãe, mas parece que não funcionou.”

“Não aparece muito; só se olhar de perto... Mas... Parece que a gente não vai mesmo... Sai de cartaz amanhã...” Suspirei de frustração.

“Eu sei. Parece que não tem jeito.”

Mas aparentemente tinha. E as palavras saíram da boca da psicopata da Srta. Morello lá pro final da aula.

“Turma, amanhã eu não poderei vir dar aula. Eu vou a um enterro.” Um garoto no fundo da sala ergueu a mão.

“Quem morreu?”

“Minha irmã.” E porque você não parece estar triste? “O procedimento vocês já conhecem. Um substituto será enviado, mas é só por amanhã.”

Sabe aquele olhar que só seus melhores amigos entendem? Foi exatamente o olhar que nós três trocamos e o mesmo pensamento passou pelas nossas cabeças. Parece que a gente vai ver esse filme no final das contas...

O plano logo surgiu na minha cabeça e eu só tive que explicar pra eles depois da aula.

“Então, a ideia é a gente ir na hora da aula.”

“Cabular?”

“É, Greg. O substituto não conhece a gente, então não vai ter problema.” A Lizzy balançou a cabeça.

“Pode ser, mas eu queria fazer uma modificação.” Eu e o Greg perguntamos juntos.

“O quê?”

“A gente tem que vir pro colégio antes de ir pro cinema e voltar depois que sair de lá.” Franzi o cenho.

“Pra quê?”

“Por favor? Não importa onde a gente esteve desde que no começo e no final estejamos aqui. O meio não importa.” Acabei concordando.

“É, faz sentido. Tudo bem então. Fica mais fácil fingir que vai a um lugar se você realmente for.” Eles assentiram e nos separamos.

Eu nunca tinha matado aula pra ir ao cinema, então era uma sensação nova. E por mais que eu não me arrependesse nem por um segundo do que eu ia fazer na manhã seguinte, eu ainda era azarado o suficiente pra minha mãe olhar na minha cara e ver o plano todo escrito na minha testa. O Drew tava melhor, o que significava que agora ela tinha mais tempo pra prestar atenção em mim e na Tonya e eu não tava nem um pouco animado com isso. Mas finalmente a Tonya fez uma coisa boa pra mim, mesmo sem saber. Ela chamou a mãe pra ajudar na feira do livro na escola dela. Ótimo. A mãe se ocupa e eu fico em paz... Mas eu ainda me sentia um pouco culpado.

Meu trabalho no Doc’s não me ajudou a esquecer aquilo. Eu queria falar com a Lizzy pra ver se ela tirava aquela paranoia da minha cabeça, mas ela devia estar ocupada com o aniversário da mãe dela e com o Drew ainda passando muito tempo no quarto, era impossível. Fiz o máximo pra esconder minha cara de culpado da mãe quando cheguei e fui dormir o mais rápido que pude. Com sorte, amanhã dá tudo certo...

POV. LIZZY

Levantei e fiz tudo normalmente pros meus pais não desconfiarem. Por fora eu podia estar a Lizzy de sempre, mas por dentro eu estava louca de ansiedade. É que apesar de parecer - e à vezes realmente ser – rebelde, eu nunca tinha matado aula. Primeira vez igual a ansiedade. Legal descobrir isso...

Desci pra encontrar ele sentado na calçada, olhando pro lado oposto. Ao longe vi a figura da Tasha dobrar a esquina que ele olhava. Reprimi um suspiro, mas meu sorriso se desfez quase imediatamente. Para com isso! Você sabia que seria assim! Agora aguenta! Sacudi a cabeça e tentei pensar no filme; funcionou e eu me senti melhor.

“Bom dia.” Ele se virou rápido e sorriu quando me viu.

“Bom dia.” Vi ele se aproximar e beijar meu rosto. “Ansiosa?”

“Um pouco. Mas vai dar certo.”

“Vai.”

Fomos andando e, mal chegamos na parada, o ônibus chegou. Eu tava tão distraída que quando dei por mim, já tinha perguntado.

“Falou com a Tasha?” Ele me olhou, franzindo o cenho.

“Não. Quando eu saí pra te esperar ela já tava meio longe.” Mais uma vez não consegui fechar a boca e minha voz saiu, pingando escárnio.

“Ah, então você ficou só babando como um idiota.” Ele me encarou, surpreso com minha agressividade. Sua boca se abriu pra falar, mas ele pareceu pensar melhor e se endireitou no banco, olhando pra frente. Mesmo de perfil, consegui ver que ele tinha ficado magoado.

Idiota! Você disse que não ia demonstrar o que sentia! Para de atacar ele por ciúmes! Assim você vai acabar afastando ele! Recuperei meu juízo e fiz o mais sensato.

“Desculpa, eu não devia ter falado isso assim. Afinal, não é da minha conta..." Ouvi seu suspiro de frustração antes de sentir sua mão no meu queixo, me fazendo olhá-lo.

“O que você tem? Eu fiz alguma coisa?” Gentilmente tirei sua mão do meu queixo e abaixei os olhos.

“Não é nada. Só to um pouco estressada.” Senti ele pegar minha mão e entrelaçar os dedos nos meus.

“Calma.” Ele ergueu nossas mãos e beijou a minha. Meu corpo arrepiou levemente e eu ofeguei. Ele sorriu com a minha reação. “Vai dar certo.” Assenti e fomos o resto do caminho de mãos dadas e em silêncio.

Quando a gente chegou na escola, eu relaxei um pouco. O Greg já tava em frente aos nossos armários, andando de um lado pro outro. O Chris riu e resolveu implicar.

“A sua calma é tocante, Greg.” Ele parou e olhou pra gente.

“Eu to nervoso.” Chris fez cara de chocado enquanto guardava o livro no armário.

“Sério? Nem notei.” Nós rimos.

“Cala a boca, seu idiota. Eu passei a noite preocupado com a chamada.”

“A chamada? É sério? Esqueceu que substituto de um dia não faz chamada?” O Greg parou, encarando nós dois.

“É verdade... Droga! Me preocupei por nada.” Eu ri e guardei meus livros.

“Agora a gente só precisa fugir daqui.” Eles assentiram e ficamos esperando o sinal tocar. Eu tava nervosa, mas era melhor ficar calma.

A gente saiu e se escondeu na lanchonete até fecharem as portas. Essa era a parte fácil, entrar na volta seria o complicado.

Já na entrada do cinema, tivemos um pequeno problema.

“Três entradas para Os Caça Fantasmas.” O rapaz da bilheteria olhou estranho pro Chris, que pediu os ingressos, e depois pra mim e pro Greg.

“Vocês não deviam estar na escola?” Mas antes que eu pudesse pensar numa desculpa convincente, eis que o Chris me sai com essa...

“É feriado.” O rapaz encarou ele.

“Mesmo? Que feriado?”

“Dia Negro.” Ele falou com tanta firmeza que eu quase acreditei. Mas então o rapaz virou a atenção pra mim e pro Greg, afinal não éramos negros. Pro azar dele, minha resposta tava na ponta da língua.

“Meu pai era negro, então sou meio a meio.” Não era mentira de jeito nenhum. Mas o que surpreendeu foi a reação do Greg.

“Ela é minha irmã.” Tive que usar todo o meu autocontrole pra não olhar pra ele, porque ia estragar a mentira. Em vez disso olhei pro Chris, que tava de costas pro rapaz e me olhava tentando segurar o riso. O rapaz da bilheteria finalmente acreditou, nos deu os ingressos e nós entramos.

Verdade seja dita, o filme foi muito legal! A gente juntou o dinheiro que tinha sobrado e compramos uma pipoca grande – pra nós três não durou nem 15 minutos. Mas o filme tava tão bom que a gente nem notou. Porém a principal surpresa esperava a gente do lado de fora, na fila da próxima sessão.

“Chris? Lizzy? Greg?” A gente virou e deu de cara com... a Srta Morello??? Eu e o Chris paralisamos e o Greg perdeu o pouco de cor que tinha no rosto.

“O que a senhora tá fazendo aqui? Não ia pro enterro da sua irmã?” Tinha um homem negro com ela e eu percebi que era um encontro. Ele franziu o cenho pra ela quando eu falei.

“Sua irmã morreu?”

“Não, ela não morreu.” Ela virou pra olhar pra gente. “E vocês três, não deviam estar matando aula para vir ao cinema.” Olhei pro Chris quando ele riu com sarcasmo.

“A gente não devia? Acho que a senhora não tá com muita moral pra falar isso agora, não é? Matou a própria irmã pra vir ao cinema... Grande exemplo.” Ela olhou pra nós, sem graça.

“Não tive escolha; é o clássico do ano. E eu não podia pedir outra folga já que voltei de viagem há pouco tempo...” Rolei os olhos. Agora eu tenho a prova concreta: ela é louca! “Vocês já assistiram?” O Greg assentiu, recuperando a voz e a cor do rosto.

“Acabamos de sair.” Ela sorriu.

“É muito bom?” Eu e o Greg assentimos e sorrimos, mas o Chris bufou e se afastou. Dei tchau pra ela e segui ele; o Greg fez o mesmo.

“Chris?” Andei mais rápido e fiquei na frente dele, forçando-o a parar. “O que foi?” Ele rolou os olhos.

“Aquela hipócrita! Querendo dar lição de moral quando tá fazendo pior que a gente!” Acariciei seu rosto e ele olhou pra mim. Tão fofo emburrado... Mas eu prefiro quando tem aquele sorriso no rosto...

“Vai deixar ela estragar nosso dia?” Ele resmungou, contrariado.

“Não, tem razão. Deixa ela pra lá.” Ele pôs a mão sobre a minha e a puxou até sua boca, beijando a palma. Suspirei, sem tirar os olhos dele. Provavelmente, cansado de ser ignorado, o Greg pigarreou. Voltando a mim, separei minha mão da do Chris e ele lançou um olhar de morte ao Greg, mas ele ignorou.

“Vamos? A gente ainda tem que voltar pro colégio.” Concordamos e fomos.

Pra nossa surpresa – mais uma! – quando chegamos lá, as portas estavam destravadas, e saía música de dentro da escola. A gente se entreolhou, deu de ombros e entrou. Os corredores estavam vazios, o que era estranho, já que ainda faltavam 5 minutos pra acabar o intervalo. Eu tinha calculado muito bem a hora que a gente ia chegar. A música vinha do auditório e era levemente familiar pra mim.

Chegamos na porta aberta do auditório e tava todo mundo lá, cantando, e tinha um cara negro no palco que eu não reconheci, também cantando, mas... Chris.

“É o Verdine White! Do Earth, Wind & Fire!”

“Eu já ouvi a música, mas não conheço ele. Que bom que ele tá aqui; assim ninguém nota a gente.”

Entramos e ficamos encostados na parede dos fundos. Eu e o Greg ficamos meio que boiando, mas o Chris tava quase endoidando. Comecei a rir da cara dele. Mas pouco depois ele teve um verdadeiro motivo pra endoidar. A música acabou e o Verdine White começou a falar.

“E aí, galerinha! Eu soube que tem um garoto que é o único negro daqui. Ele veio hoje?” Todo mundo começou a procurar e o Chris olhou pra mim com os olhos arregalados; o cantor chamou de novo. “Ele veio?” Fiz sinal pra ele ir, mas ele não se mexeu. Num surto de impaciência, o Greg ergueu o braço do Chris e gritou.

“Aqui!” Todo mundo olhou pra eles.

“Vem cá, garoto!” Ele foi e eu sorri, observando.

Eu quase pude sentir o cheiro da inveja exalando de todo mundo. Mas era o dia de celebridade dele e eu mataria quem tentasse atrapalhar. Por precaução procurei o Caruzo no meio da multidão de alunos e encontrei ele do outro lado do auditório. Melhor assim... O Chris foi lá e ficou no palco com o Verdine até o final do show e ainda ganhou uma foto autografada. Sortudo... Quando terminou, ele veio andando na nossa direção e antes que ele nos alcançasse, eu cutuquei o Greg.

“Valeu.” Ele sorriu, entendendo o motivo.

“Acho que a gente pode se revezar ajudando.” Só tive tempo de sorrir antes do Chris alcançar a gente, com um sorriso que dava pra enxergar a quilômetros de distância.

POV. CHRIS

Dia muito louco! O filme foi melhor do que eu esperava e nem mesmo a sem noção da Srta. Morello azedou meu humor por muito tempo. Como se não bastasse ter ido assistir o filme, a sorte tinha pregado em mim e eu ainda conversei com o Verdine White por um bom tempo e ganhei uma foto autografada. Uma foto autografada do Verdine White!... Peraí! Eu to parecendo a Tonya com uma foto do Billy Ocean... Ok, Chris, para...

Mas apesar do meu dia ter sido ótimo, eu não senti vontade de espalhar pra todo mundo. Eu não gostava de mentir e não tava querendo chamar atenção pra mim, então decidi ficar na minha. Fiquei pianinho durante o jantar enquanto a mãe falava sobre como ‘convidaram ela a se retirar’ da feira do livro na escola do Drew e da Tonya. (“Eles é que não sabem organizar uma feira do livro!”) Segundo a Tonya, ela teve que implorar pra soltarem a mãe, porque chamaram a polícia pra prender ela. Segurei o riso e fiquei quieto ou ia sobrar pra mim.

Depois do jantar, todo mundo foi assistir TV enquanto a mãe organizava a cozinha – Milagre! Ela não mandou eu ajeitar... Mas eu tava tão distraído com a TV que mal ouvi quando ela falou comigo.

“Chris! Quantas vezes vou ter que dizer pra não deixar o casaco jogado em qualquer lugar, garoto?” Mas de repente ela chegou perto de mim com um papelzinho na mão. Gelei quando percebi que era o ingresso do cinema. Droga! Eu devia ter jogado fora! “De quem é isso aqui?” Ela tinha a cara de homicídio e para me safar eu tive que mentir.

“Não é meu.”

“E tava no seu casaco por quê?” Dei de ombros com a minha melhor cara de pau.

“Não sei.” Ela não acreditou e olhou o ingresso mais de perto. O Drew e a Tonya nem olhavam mais pra TV, apreciando o show; só o pai ainda assistia.

“09:17h?” O tom de voz dela baixou e eu senti o perigo. “Você matou aula pra ir ao cinema, garoto?!” Inutilmente tentei me defender.

“Eu fui pra escola!” Ela abriu a boca, mas o pai interrompeu.

“Não é a sua escola, Chris?” E era.

Uma repórter loira estava na frente da Corleone e ao lado dela tava o Verdine White.

“... os alunos da Escola Secundária Corleone receberam hoje a inesperada visita de um dos integrantes do grupo Earth, Wind & Fire, Verdine White, que realizou um show surpresa para os alunos.” Então ela passou o microfone pra ele.

“Foi muito bom fazer esse show pra galerinha. Conheci também o único garoto negro da escola, Chris. Muito legal, irmãozinho. Fica na paz.” Eu juro que tentei, mas não consegui reprimir meu sorriso de vitória. Tentando não parecer insolente, olhei pra mãe.

“Eu disse que tinha ido pra aula.” Levantei do sofá com a maior disposição do mundo. “Vou subir.” Ela ainda me olhava desconfiada, mas eu fiquei tranquilo; ela não tinha como descobrir.

Subi as escadas, acelerando o passo. Eu tenho que contar pra Lizzy como eu me safei dessa... Ri de leve enquanto entrava no quarto e chamava por ela.

***


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Notas finais do capítulo

Gente, fizeram uma entrevista comigo sobre a minha fanfic. Se vocês quiserem olhar e descobrir um pouco mais da minha pessoa...
O link está aqui: http://entrevistasespertas.blogspot.com.br/2014/01/fanfictions-uma-forma-de-independencia.html

Até a próxima... ^^
Quero saber o que vocês acharam ou se pelo menos vocês ainda estão aí...
Comentem, pf... ='.'=



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